Um Dia Tudo Muda

Capítulo 2

          - Sim, meu anjo? – Bella olhou pelo espelho retrovisor para ver melhor a sua pequena. Tão linda.

         - Eu no quelo mais... Fazê ballet. – Elisa sussurrou, com medo da reação da mãe. Mas não havia motivo para isso.

         Bella ficou surpresa com o que Elisa disse.

         - Mas por quê? – Você dança tão bem!

         - Não danço não. Eu sô muito dee-sas-tra-da. – Bella sorriu da maneira como Elisa falava a palavra pausadamente, para que saísse certo.

          - Não se desmereça meu anjo. Mas se você não quer mais fazer as aulas, tudo bem. – Bella compreendia a filha, também não gostava – quando criança – de ballet, por não ter, digamos assim, um senso melhor de equilíbrio.

          - Mas... Eu posso fazê piano no luga de ballet? – Elisa perguntou, agora mais aliviada. Mas não tinha o por que de ter medo da reação da mãe, Elisa só tinha medo de magoar ela.

          Ah, era nisso que ela queria chegar.

          Edward tocava piano, e isso fez com que Elisa se interessasse.

          Elisa já sabia algumas poucas notas, por isso queria ter aulas.

          - Claro. – Bella sorriu, imaginando sua filha em frente a um piano. – Podíamos pedir para o seu pai lhe ensinar.

          - Eu quelia que fosse sulpleza... – Elisa disse.

          Bella voltou sua atenção para o espelho retrovisor, e viu o sorriso de sua filha, fazendo com que seu rostinho brilhasse.

          - Você me ajuda mamãe? – Elisa perguntou.

          - É claro meu amor! – Bella sorriu, olhando a filha de vez em quando pelo espelho retrovisor.

          - Obrigada mamãe. Você é a melho mamãe do mundo todinhooo. – Ela disse feliz, não só pela mãe ajudá-la, mas pela mãe ser tão especial e importante, que Elisa – mesmo tão pequena – não conseguia imaginar sua vida sem Bella, sem a mamãe. E Bella também não conseguia ver sua vida sem sua anjinha, e aquele pensamento fez com que ela se arrepiasse.

          O sinal estava vermelho, e foi só o tempo dela parar o carro e dizer:

           - E você é a melhor filha do mundo.

          E um caminhão em alta velocidade, que se chocou com o tucson dela, arrastando literalmente este, que se chocou fortemente com outros carros, fazendo com que caísse em alta velocidade, na ribanceira ali próxima.

          Foi um barulho estrondoso, que não deu tempo de se apavorar. E foi ai que a dor excruciante veio. Mas os gritos não se formaram dentro do carro, era como se a escuridão, às impedissem de gritar.

          O carro onde Bella e Elisa estavam capotou inúmeras vezes, até parar, no meio da ribanceira. Mas isso tudo foi o suficiente para deixar o carro destruído. A parte de trás, onde a pequena Elisa estava, ficou esmagada, projetando a menina para frente com tanta pressão, que esta ainda não recobrará a consciência.

          Só se ouvia respirações pesadas, mais precisamente, duas. Duas respirações pesadas, e fracas.

          Bella recobrou a consciência perdida – por isso que os gritos não vieram – e sentia uma forte dor em toda parte de seu corpo, desde a cabeça, até a perna direita, onde doía mais.

          O que tinha acontecido? Ela se perguntava mentalmente, mas Bella não precisava de uma resposta verbalizada, ela viu a sua frente os estilhaços do vidro, e percebeu, ainda com a visão turva, que seu carro estava menor, em outras palavras, achatado, principalmente a parte de trás... A parte de trás.

           Elisa. Ela pensou, fazendo com a dor em seu corpo, se tornasse insignificante referente à dor em seu coração. Não era nem parecida com o pesar que Bella estava sentindo quando saiu de casa, era mil vezes pior.

            Bella começou a tremer, com medo do que podia ver, se ela tentasse olhar para trás.

            O carro estava de cabeça para baixo, então foi difícil ela achar o botão que destravava o seu cinto, até que ela ouviu a voz que precisava ouvir, a voz de sinos de sua filha.

              - Ma-mãe? – Foi só um simples sussurro, mas Elisa sentia dor até em falar. Ela estava assustada e com medo. Assim como Bella queria ouvir sua filha, Elisa também queria ouvi-la, ouvir sua mãe.

             - Meu anjo. Mamãe está aqui. – Bella disse, tentando fazer com que sua voz transpassasse calma, mas não surtiu resultado algum.

            - Mamãe... – Elisa chorava agora. – Tá duendo muito. – Ela passou a mãozinha na nuca onde doía mais, e sentiu algo molhado, era sangue. Sangue que não só vinha da nuca...

            Ouvir aquilo de Elisa, que sua pequena estava sofrendo, fez com que Bella desabasse. Bella agüentaria sua dor calada, mas a de sua filha, ouvi-la chorando, estava sendo ainda mais doloroso.

            - Filha. A ajuda vai chegar. Vai ficar tudo bem. – Era o que Bella queria acreditar, mas ela não sabia onde estava sua bolsa, para pegar seu celular. E se ninguém se importasse com o que tinha acontecido, e não chamasse por ajuda? Bella não queria pensar nisso, mas era impossível não pensar nessa possibilidade. – Você tem que me prometer que vai ficar acordada com a mamãe. – Bella pediu, sentindo seus olhos começarem a ficar cheio de lágrimas.

            E o silêncio se instaurou, só se ouvia a respiração de Bella. Elisa estava perdendo as forças, se entregando a escuridão, onde ela sentia que não havia dor.

           - Elisa... Elisa... – Bella gritava o nome da filha, e não tinha resposta.

            Bella conseguiu se virar no banco de seu carro, com muita força, e viu sua pequena Elisa, que ainda estava presa ao cinto de segurança da cadeirinha, com o pescoçinho para o lado, e Bella viu, viu o sangue que escorria da cabeça de Elisa.

            A dor era tão grande. Bella não podia perder a sua anjinha, ela não podia.

            Ela tentou se soltar – desesperada – do cinto, vendo que sua filha precisava de ajuda. Mas ela não conseguia. Não sabia se era por causa da tremedeira... Mas na verdade, o cinto estava emperrado, impedindo que Bella saísse. Impedindo que Bella ajudasse a sua filha.

            E de repente, depois de tanto esforço, a escuridão tomou Bella...