O vento fraco bateu na janela da cozinha, mas não fez efeito, pois nenhum prestava atenção no clima – e sim no baixista com a grandiosa novidade.

“Perder nosso futuro? Como assim?” 2D esticou o rosto para observá-lo. “Esse é o nosso futuro...”

“Sim, mas quando você era criança, não tinha esse cabelo azul ou um vazio no lugar dos dois dentes, tinha, Faceache?” Sorriu de canto. “Lembro-me dos seus olhos, sabe...”

O pequeno corou e escondeu a face nos braços da robô, que o abraçou ainda mais. “Está dizendo que agora que somos crianças, nossas atitudes mudarão os próximos anos?” Noodle desceu da mesa, aproximando-se de Murdoc. “Impossível... Concordo com 2D-San. Russel-Kun, o que acha?” Olhou o afro-americano, porém este voltara a se lambuzar com a comida.

“Hum?” Suas orbes brancas fitaram os que ali estavam, a boca cheia de papa mostrava seu rosto em dúvida. “Desculpa, eu estou com a barriguinha cheia... Quero dormir...” Tombou a cabeça para um canto, passando a mão no saliente estômago, logo acabou caindo no sono. A guitarrista bateu a mão na testa.

“Pelo Satã, está certo, Murdoc...” Suspirou. “Russel-Kun está bem mudado... Acho que todos mudamos...!”

“Viu? Precisamos voltar ao normal... Estou trabalhando nisso, hoje à noite acho que dá certo... Del vai me ajudar.” Se espreguiçou e terminou a mamadeira com vodca, esticando os braços para Cyborg pegá-la.

“Calma...! Stuart dormiu!” Ela sorriu, apontando o azulado que agora chupava o dedo enquanto dormia tranquilamente. “Vou deixa-lo no quarto, mestre, depois volto para te pegar.” Andou tranquilamente, deixando Murdoc com uma cara abismada.

Noodle, no entanto, soltou um sorriso feliz e puxou Niccals. “Vamos pelo elevador, Murdoc-San, ainda podemos andar!” Segurou-o pela mão, entrelaçando seus dedos assim como fizera com 2D, deixando o baixista um pouco corado.

“Ei, ei, posso ir sozinho.” Cruzou os braços com um bico nos lábios, fazendo-a rir. “Vou arrumar as coisas, como sempre. Te encontro anoite, Noods.” Acenou, deixando-a um pouco abismada por seu jeito até que... Carinhoso. Estava acabando, seus dias de criança terminariam naquele mesmo dia. Tinha que curtir até a ultima vontade de brincar.

Mas, por incrível que pareça, em sua mente confusa seu desejo não era de correr. Seu coração pulou algumas vezes, ela subiu na ponta do pé e apertou o botão desejado para chegar ao quarto do homem.

Cyborg não estava mais ali, Stuart descansava em um sono profundo na cama. Noodle correu silenciosamente até lá, encostou seu rosto redondo e de bochechas fofas no colchão, somente seus olhos eram vistos em cima do objeto.

“Hey...!” Sussurrou, o som de sua voz parecia ainda mais baixa quando era barrada pelo cobertor. “2D-San! Acorda...!” As pálpebras da grande criança se abriram, ele se ajoelhou na cama e olhou para baixo.

“Pequena?” Estranhou. “O que está fazendo?” Seus fios azuis tombaram para o lado de seu corpo. A garota, ineditamente, apoiou suas mãos na borda de madeira da cama para ficar mais alta, seus lábios tocaram-se em alguns segundos.

“Desculpe!” Riu baixinho com a mão na boca, em um pulo conseguiu subir onde ele estava. “2D-San, você é muito fofo, não consegui resistir.” Deitou no travesseiro do homem, que continuava com os olhos arregalados.

“E-eu...” Tentou, embaraçado. Passou a mão pelo rosto, tinha um pequeno sorriso estampado ali, mas queria escondê-lo. Era muito, muito errado. “Por que fez isso, querida?” Perguntou, realmente sem saber o que pensar.

“Não sei... Acho que são as mudanças que Murdoc falou...” Franziu as sobrancelhas. “Acho que se a gente tivesse se encontrado crianças assim, teríamos ficado juntos. Mas nosso futuro mudaria...!” Fechou os olhos em um sorriso estranhamente triste, o que deixou-o sem graça.

“É...” Deitou com a cabeça no travesseiro. “Ainda estou com sono, acho que corri demais hoje. Vamos dormir um pouco?” Fitou seus olhos verdes, que observava-o com atenção e vibração. “O-o que foi?” Perguntou, incerto.

“Nada!” Ela cobriu-se com o lençol, soltando pequenas risadas. “Boa noite, 2D-San! Até jajá, quando formos voltar a ser adultos.” Abraçou-o, tão sorridente que Stuart mal pode esconder a própria conturbação nos lábios.

“Boa noite... Pequena.” A criança passou seus braços pela cintura da de cabelos roxos e fechou as pálpebras, antes mesmo de suspirar o sono já havia chegado.