Katy.

Estava em frente à sua casa, a mesma casa onde eu morei por cinco anos.

Flashback onn

– Bom dia. São vocês três as nossas novas moradoras?

Ouvi a voz de minha mãe na sala. Não queria descer, conhecer as pessoas que iriam tirar a casa onde eu, minha mãe e minha irmã havíamos reconstruído nossa vida. Mas a curiosidade falou mais alto e eu desci as escadas.

Uma mulher de cabelos compridos e escuros estava de costas para mim. Minha mãe. No sofá em sua frente, havia uma mulher de cabelos escuros e curtos que conversava sorrindo com minha mãe. No tapete, uma garota de mais ou menos cinco anos brincava de boneca. Então notei, no canto do sofá, uma garota quieta com um livro. De vez em quando, ela ria de algo que minha mãe ou a dela dizia.

Estava voltando par o quarto quando sem querer tropecei. Olhei para a sala e nenhuma delas percebeu. Suspirei aliviado, mas a garota me viu. Minha mãe acompanhou seu olhar e sorriu.

– Ah Harry, vem cá!

Sem saída, fui até lá, irritado por minha falta de atenção e pela garota ter me visto e sentei ao lado de minha mãe.

– Esse é um dos meus filhos que te falei, Harry – Ela disse para a mulher. Então se virou para mim – Onde está Gemma?

– Saiu com o namorado – murmurei baixo. Minha mãe riu.

– Adolescentes. Só pensam em namorar e sair.

Vi a garota do livro levantar os olhos ao que disse minha mãe e vi que ela tinha os olhos castanhos mais escuros que já vi.

– Não acho – disse ela, e percebi que ela falava com força de vontade, se defendendo. Queria saber se era assim sempre – Cada adolescente tem um jeito. Talvez Gemma goste de sair e namorar, mas eu tenho uma amiga que praticamente se recusa a sair de casa.

Eu ri, mas minha mãe e a mulher pareciam espantadas.

– Katy – disse a mulher, dura – Tenha modos – A tal Katy deu de ombros.

– Ela vai se dar muito bem com Harry.

Murmurou minha mãe. Revirei os olhos.

– Harry saindo da sala.

Subi para o meu quarto e deitei na cama. Adormeci.

***

Acordei com o barulho de alguém no quarto. Levantei e vi a garota do livro, a tal Katy.

– O que você está fazendo aqui?

Ela me olhou, dando de ombros.

– Sua mãe pediu que eu subisse. Entre elas e você, acho que prefiro você. E quando vi que você estava dormindo, aproveitei pra ler meu livro em paz.

– Você é sempre tão chata? – Perguntei. Ela revirou os olhos.

– Eu não quero me mudar pra cá, mas é isso ou perder a chance de fazer meu curso na universidade que eu quero.

– Curso de que? – Perguntei curioso como sempre.

– Jornalismo.

Sorri para ela e comentei:

– Jornalismo é legal.

–Ela sorriu, e não parecia mais tão chata.

– E você? – Perguntou.

– Eu sou legal.

Comentei, rindo. Ela bateu em meu ombro.

– Idiota. O que você quer estudar?

– Não sei. Música ou direito, talvez.

– Gosto de música – ela comentou – mas não sei se gostaria de estudar. Já direito eu não gosto. Acho advogados chatos.

Gargalhei, e ela sorriu tímida.

– Amigos?

Perguntei, estendendo a mão. Ela olhou por segundos e apertou.

– Amigos.

Flashback Off

Isso foi há quatro anos. Descobri na semana seguinte que eu tinha uma nova colega de classe.

Flashback Onn

Cheguei na escola após conversar com Gemma sobre as novas moradoras de nossa antiga casa, e ela disse que pareciam simpáticas.

– Talvez – eu disse – mas a mulher parecia muito brava.

Na escola, vi os característicos cabelos castanhos e o livro no colo. Cheguei perto dela, mas ela não me notou.

– Caham – pigarreei. Ela ergueu os olhos e sorriu.

– Ah, olha quem está ai! O garoto advogado! Lembrou de mim?

Eu ri alto e assenti.

– Lembrei. Como esquecer a garota do livro?

– Katy. Meu nome é Katy – ela reclamou. Eu ri.

– Okay garota do livro. Te chamo de Katy se me chamar de Harry.

– Okay garoto advogado.

Nós rimos e fomos para a aula.

Flashback Off

Então Katy virou minha melhor amiga. Lembro quando contei sobre meu sonho de cantar.

Flashback Onn

Estávamos eu e Katy novamente num campo perto de sua casa, que um dia foi minha. O campo era extenso e não parecia ter tamanho, e como eu, ela gostava de vir aqui. Era nosso lugar.

– Já ouviu falar do The X-Factor? – Perguntei.

– Já, por que? – Ela perguntou.

– Eu queria participar.

Ela ficou em silêncio até que disse:

– Você ia passar. Você sabe, no teste.

– Acha mesmo?

Estávamos deitados embaixo de uma árvore (nem um pouco clichê) e ela me olhou, sorrindo.

– Claro. Eu super te apoiaria.

Flashback Off

No ano seguinte, fui até lá, mas desisti. Então fui no outro ano. Katy não pode ir comigo, mas conversávamos todo dia. Minha mãe ria de mim, falando coisas como “E vocês se odiaram no começo” ou “Agora não se desgrudam mais né?”. Eu ignorava, mas achava muito engraçado. E então eu passei.

Flashback Onn

– Harry!

Ouvi o grito de Katherine pelo computador, com uma voz chorosa porém rindo. Corri para a webcam e vi Katherine rindo, com o rosto molhado de lágrimas.

– Katy! O que houve?

– Você passou! – Ela gritou – Você passou, eu sabia, mas não acreditei, e você passou, e eu queria estar ai pra te dar um abraço, e eu não posso, e eu não...

– Calma Katy! – Eu disse, rindo – É, eu passei. Também queria estar com você... Mas a gente vai se ver logo ok?

Ela assentiu, sorrindo.

– Fez amigos? – Ela perguntou. Pensei.

– Fiz – comentei – Conheci um dos meninos que estava lá. Acho que o nome dele é Louis. Ele passou?

Ela parou pra pensar, até assentir.

– Passou. Louis Tomlinson, dezoito anos. Fez amizade com um cara dois anos mais velho?

Eu ri e assenti.

– Gosto de pessoas mais velhas – Falei, piscando. Ouvi alguém chamá-la e ela me olhou apreensiva.

– Preciso ir Hazz. Parabéns, você foi incrível.

– Tudo bem, vai lá. Obrigada Kat – Ela sorriu.

– Boa noite Hazz.

– Boa noite.

Ela ficou off.

Flashback Off

Voltei para casa no dia seguinte, mas não vi Katy. No dia seguinte, fui embora, para a casa do X-Factor. Lembro quando fiquei ali por um tempo até descobrir que não ia passar. Eu estava indo embora, voltando para Holmes Chapel, quando me chamaram. Os jurados me aguardavam.

Flashback Onn

(N/A: Eu não lembro dessa parte décor, então eu inventei, ok?)

– Meninos, meninas.

Começou Simon. Eu estava apreensivo ao lado de mais quatro meninos e, do outro lado, cinco meninas.

– Decidimos que vocês têm potencial demais para ser desperdiçado, e resolvemos juntar vocês em grupos. Assim, não vão sair do X-Factor.

Olhei para os meninos ao meu lado, sorrindo. Começamos a sorrir um para o outro e a pular, e quando nos acalmamos Simon continuou.

– Vocês podem ficar fora uma semana para se conhecerem na casa de algum de vocês. Boa sorte.

Começamos a sorrir e eu não acreditava na sorte que eu tinha. Kat ficaria orgulhosa.

– Então...

– Começou o de cabelo castanho e olhos azuis. Louis.

– Vamos começar nos apresentando, que tal? – Disse o de cabelo castanho e olhos igualmente castanhos.

– Não fale assim, parece que estamos na escola – Disse o loiro. O de cabelo preto e Louis deram risada. Acompanhei-os. O de cabelo castanho emburrou.

– Eu gosto da escola, ok? – nós rimos, e ele disse – Enfim, meu nome é Liam.

– Sou Louis.

– Niall – Disse o loiro.

– Harry – eu disse, sorrindo.

– Zayn – disse o de cabelo preto, timidamente.

– Onde vamos ficar? – Perguntou Niall.

– Tenho algo como uma casa de campo lá em Holmes. Podemos ficar lá.

Os meninos assentiram e eu sorri. Estava louco para contar para Katy.

Flashback Off

Mas Kat não entrou naquele dia. Nem no outro. Só fui conseguir falar com Kat uma semana depois.

Flashback Onn

– Kat?

Chamei-a pelo skype e ela, ao me ver, olhou para a porta apreensiva.

– Ah, oi Hazz. Parabéns, eu soube que está num grupo.

Sorri. Ela não havia parado de assistir.

– Eles são legais?

Ela perguntou. Assenti com a cabeça.

– São. Eu cai com aquele Louis, lembra? Você viu?

Ela sorriu fraco e assentiu – Vi.

Olhei apreensivo para ela, olhando os detalhes que não tinha percebido. Ela estava com olheiras, quando mostrava a mão parecia fraca e estava pálida. Mas o que eu notava era o corte bem perto do olho.

– Kat, o que aconteceu com você? Está pálida... E o que é esse corte no olhou?

Sua mão foi automaticamente ao corte e ela gemeu. O corte era recente.

– Preciso ir Harry. Até mais.

Ela saiu. E a confusão se estampou em meu rosto.

Flashback Off

O tempo passou e ela não entrou. Eu perdi contato com minha princesa naquela semana e na semana seguinte, fui com os meninos para Holmes Chapel.

Flashback Onn

– Bom, é aqui.

Eu disse, sorrindo. Minha mãe me viu e veio atrás de mim.

– HARRY!

– MÃE!

Ela me abraçou e disse:

– Vai me apresentar aos seus amigos? – Eu ri.

– Galera – eu disse para os meninos – Essa é minha mãe, Anne. Mãe, esses são Louis, Niall, Liam e Zayn.

– Prazer – ela disse, sorrindo.

Eles a adoraram. Minha mãe realmente tinha carisma. Quando eles foram ver os quartos, perguntei:

– E Kat? – Ela me olhou triste.

– Precisamos conversar.

Sentamos na sala e ela começou.

– Ela teve um problema em casa. A mãe era fumante e bebi, e quando você saiu, Silly teve um acidente...

Silly era a irmã mais nova de Kat. Se houve um acidente...

– Ela está bem – disse minha mãe, rapidamente – mas a mãe dela se desesperou. Saiu para beber e quando voltou... Kat não saiu ilesa.

O corte. A mãe dela havia feito isso?

– Ela fez isso por três dias, até Silly ficar bem. Mas Silly está num orfanato e a mãe, num centro de reabilitação.

– E Kat? – Perguntei novamente.

– Se recusa a sair de casa. Diz que não vai sair.

Quem saiu fui eu. Fui correndo até minha velha casa, trancada. Mas eu morei lá e sabia como entrar. Em uma falha do portão, entrei e sai correndo para o quarto de Katy.

– Katy-K? – Murmurei.

No chão, encolhida, estava minha menina, minha doce e inocente Katy. Ela levantou o rosto. Tinha vários cortes no rosto e seus olhos estavam vermelhos como seus lábios.

– H-Harry? É v-você?

Corri abraçá-la. Sim, era eu. E eu iria ficar ali.

– Sim, sou eu, linda. Eu voltei Kat, e não vou te deixar.

– Ela queria me matar Harry – ela disse, chorando.

– Eu sei, eu sei – eu disse – mas pra você melhorar, precisamos de um médico.

– Eu não sinto a dor física – ela disse, fungando – só a dor psicológica, e você consegue me curar disso.

Eu sorri fraco. Ah Katy.

– Então onde está machucada fisicamente? Eu só quero saber.

– Eu tudo... O corpo... – Ela disse, soluçando.

– Katy, eu posso... posso ver?

Não pense que sou malicioso. Eu queria o bem dela, e ela sabia disso. Então não questionou e fez o que eu pedi, tirando a blusa e a calça.

O que vi me deu ódio. O rosto dela tinha três cicatrizes perto dos olhos, ela tinha um corte no nariz, um na bochecha e um corte nos lábios, que ainda tinham sangue.

A barriga estava vermelha, como se alguém tivesse batido repetidas vezes no mesmo lugar. As pernas pareciam raladas e fracas. Seus olhos, vermelhos de choro.

– Ah Katy... Eu preciso te levar num médico. Por favor.

Ela assentiu levemente. Cobri-a com uma toalha e sai de casa. Levei-a no médico, que disse que ela precisava de alguém, estava traumatizada e ficaria no hospital. Prometi a ela que explicaria tudo aos meus amigos e voltaria logo. Ela deixou e fui.

Flashback Off

Expliquei tudo a eles. Nos dias que se passaram, eu ia atrás dela, e ela sorria ao me ver. Então chegou o dia de ir.

Flashback Onn

Eu estava no hospital com Kat, segurando sua mão e contando que voltaria no programa no dia seguinte.

– Você vai embora de novo? – Perguntou com voz fraca.

– Tenho que ir. Mas você sabe que eu volto – respondi – além do mais, esse sempre foi o meu sonho.

Ela sorriu e apertou minha mão. Sem forças, respondeu:

– Eu sei. Vai seguir seu sonho Hazz, eu não quero te impedir. E não esqueça que estarei aqui, torcendo por você.

Eu sorri, e não pude evitar. Me inclinei e toquei levemente seus lábios com os meus. Foi um simples selinho, mas eu sabia que havia significado muito tanto pra mim quanto pra ela.

– Me deixe orgulhosa Harry – ela disse, sorrindo.

– Não vou te decepcionar – Prometi. Então, fui embora.

Flashback Off

Eu não a decepcionei. Posso não ter ganhado, mas eu consegui a fama. Eu e os meninos criamos o One Direction e conseguimos a fama pelo mundo. Kat me mandava cartas regularmente até o ano passado, quando ela parou repentinamente. Não entendi, mas não tive tempo de visitá-la. Depois de ela parar, mandei mais três cartas à ela. Nenhuma foi respondida. E então eu voltei à Holmes para ficar mais um mês. E então eu entendi o que aconteceu.

Flashback Onn

– Mãe? – Ela apareceu na porta.

– Harold!

Ela me abraçou feliz e logo Gemma chegou. Ela me abraçou e ficamos os três na calçada, num reencontro.

– Como vão as coisas Hazz? E os meninos, as fãs, os shows? – Eu ri da preocupação de minha mãe.

– Tudo ótimo. Os meninos estão bem e a fama também. Mas e a Katy? Ela parou de manter contato.

Ela ficou séria e percebi que queria evitar o assunto. Eu não ia deixar. Precisava saber o que era.

– Mãe, você não pode esconder. Eu preciso saber.

Minha mãe ficou quieta e eu percebi que ela segurava as lágrimas. Gemma suspirou.

– Houve um acidente com Kat e a casa dela Hazzy.

Não. Ela estava bem. Tinha que estar.

– Ela disse pra entregar essa carta quando te encontrasse.

Ela me entregou uma carta. Eu apenas segurei.

– O que houve? O que aconteceu exatamente?

Gemma me olhou nos olhos. Eu via seus olhos verdes tão parecidos com os meus.

– Ninguém sabe. Parece que a casa pegou fogo, mas o quarto dela ficou intacto. Ainda assim, ela foi encontrada morta no quarto.

Eu fechei os olhos. Minha Kat. Aquela garota do livro que eu achei tão irritante, a garota que virou minha melhor amiga, a garota que torceu por mim, a garota que eu beijei, a garota por quem me apaixonei. Katherine.

– Eu... Eu volto depois.

Sai correndo sem esperar resposta, a carta de Kat na mão. Meus pés me guiaram até uma casa de dois andares, em estilo moderno e quase destruída. Cinza, sem algumas janelas e uma porta. A casa de Kat.

Flashback Off

Eu entrei, claro. E falando nisso, nunca entre numa casa que pegou fogo e a garota que você amou morava.

Flashback Onn

Passei a porta quebrada. Os móveis queimados, a sala destruída. Lembrei-me de meus anos gastos naquela casa e senti uma lágrima descer pelo meu rosto. Subi as escadas.

O segundo andar, diferente do primeiro, quase não estava queimado. Mas as portas estavam, como se alguém houvesse ateado fogo apenas nas portas. Abri o quarto de Kat.

A decoração não havia mudado, mas o quarto estava uma desordem. Seus pôsteres do Slipknot, Queen, Pink Floyd e Iron Maden estavam no chão. Na parede, apenas um pôster do Guns e seu quadro continuavam. Eu sabia o quão importante era aquele quadro para Kat, pois era um retrato nosso. Minha, dela e de Silly no parque, e era um desenho. Ela, uma ótima desenhista, fez o desenho a partir da foto que minha mãe havia tirado. Estava perfeito. A cama, com lençóis escuros e o travesseiro preto e vermelho escrito “Vampires bites. I do too!” estava desarrumada e cheia de fuligem. A cabeceira da cama tinha uma vela apagada e um livro. O armário tinha portar abertas e as coisas esparramadas pelo chão. Peguei o livro.

– “O Filho de Netuno” – senti uma lágrima descer de meus olhos e peguei o papel sobre o livro – “Nota: Começar a ler amanhã”.

Eu não queria acreditar que Kat não havia conseguido ler o livro. Ela amava tanto a coleção...

– Ah Katy...

Eu cai no chão, em cima de um pôster do Pink Floyd e de uma blusa vermelha. Comecei a chorar, aquilo não era justo. Levantei, peguei o livro e sai correndo.

Sai da casa de Kat, a carta dela ainda em minhas mãos. Joguei a carta no chão enquanto eu andava e ela abriu. Vi o papel sair voando e ir em direção ao infinito. Voltei a correr.

Em casa, larguei o livro em meu quarto e desabei. As lembranças me assombravam. Resolvi dormir, mas fui assombrado por pesadelos com Kat.Então ouvi uma voz me dizer “Vá até lá. A casa lhe dará paz”.

Pode parecer loucura – ouvir uma voz no meio da noite em seus sonhos mandando você ir para o lugar onde seus pesadelos começaram – mas eu fui. Calcei meu tênis e sai de casa, em direção a Katy.

Flashback Off

E aqui estou. Olhando a casa. E eu me sinto em paz.