“Que horas são? Onde você está? Eu sinto sua falta mais do que qualquer coisa.” Jet Lag, Simple Plan feat. Natasha Bedingfield.

Bettie era uma garotinha adorável. Desde que chegara ela não parou de falar, me contava da escola, dos amigos, da loja de doces que abriu na esquina. Gemma ria com ela e concordava, falando de como era delicioso os pirulitos da Hello Kitty lançado para o Halloween. Kathy trabalhava de segunda a sexta, então nas férias, Gemma cuidava de Bettie das onze as seis. Porem, com a minha chegada, ela havia conseguido férias também e estaria todos os dias em casa planejando algo para nós. Eu sorria animada e Gemma fazia piadas de como meu sorriso parecia que ia explodir minhas bochechas. Ela era divertida, sempre tinha um tópico bom para conversar, mesmo Bettie tornando isso impossível. Elas decidiram me mostrar a casa enquanto Kathy fazia o jantar. A sala onde estávamos era grande. Tinha uma lareira, televisão de plasma, um sofá e uma poltrona com uma mesa de centro e um tapete sob a mesma. O local era bem iluminado e colorido por vasos de flores em um aparador e alguns porta-retratos com fotos de Bettie quando menor e de Kathy com minha mãe. A cozinha possuía armários de madeira azuis claros e uma porta de correr de vidro aonde podia ver o quintal – que elas me deixaram para mostrar outro dia devido ao frio que fazia e eu estava sem casaco. Elas me arrastaram para o andar de cima aonde me mostraram o quarto de Kathy, o banheiro e o quarto de Bettie que era adorável, diga-se de passagem. Então pularam animadamente corredor afora ate a porta branca que dava ao meu quarto. As paredes tinham um tom de creme, o piso de madeira escura e os moveis eram brancos. Em uma das paredes, uma enorme cômoda que caberia todas as minhas roupas e ainda sobrariam gavetas. O quarto era iluminado por alguns abajures brancos e um lustre que caia em cascata sobre nossa cabeça.

– O que você achou? – perguntou Gemma me olhando com sobrancelhas arqueadas.

– É lindo.

– Eu disse a Kathy que você iria adorar, mas ela estava super insegura. – me sentei na cama alisando o lençol listrado com um pouco de relevo, adorara a textura e a maciez – Quando você vai para Londres?

– No começo de setembro, quando o primeiro semestre começar e as férias acabarem. Mas devo vir para cá nos finais de semana.

– Duvido muito. Depois que você conhecer Londres não vai mais querer sair de lá. – sorri me levantando e observando mais uma vez o quarto.

– Quem mora aqui? – me debrucei na janela aberta, meu rosto ardeu devido ao frio. As casas eram próximas, a janela vizinha estava trancada com as cortinhas brancas fechadas.

– É a minha casa, mas meu quarto da para o quintal dos fundos. Essa janela é do meu irmão, mas ele quase nunca esta.

– Meu noivo. – disse Bettie, fazendo Gemma rir – Eu e Harry vamos casar.

– Sim, vocês vão. – ela sorriu e saiu correndo em direção ao corredor – Bettie sempre amou meu irmão, ele sempre foi muito doce com ela. – explicou – Mas ele mora em Londres desde dois mil e dez. Vem nos visitar uma vez ou outra. Era para ele ter vindo passar essas férias, mas ele não apareceu. – ela veio ao meu lado e olhou pela janela.

– Você sente falta dele?

– Oh não! Principalmente daquela sua mania de perambular pelado pela casa. – ela balançou a cabeça e começou a gargalhar.

Descemos novamente as escadas. Na cozinha, Bettie girava pelos lados balançando seus cabelos avermelhados, eles pareciam estar em chamas e cortavam o ar com leveza. Kathy arrumava a mesa de jantar de madeira que possuía cinco cadeiras. Gemma se despediu e disse que nos encontraríamos no almoço amanha, aonde eu conheceria sua mãe e seu padrasto. Ela jogou beijos no ar e saiu correndo para casa após a terceira ligação de sua mãe para avisar que ela perderia o jantar se não fosse imediatamente para casa. Fui servida com espaguete e, mesmo sem fome, comi por educação. Apenas mordisquei uma almôndega e comi um pouco do espaguete com um molho que estava delicioso. Ao acabar, abri minha mala e tirei de lá uma vasilha pequena lotada de brigadeiros com formas rosa e bastante granulado. Bettie devorava tudo de uma vez, melando sua blusa de moletom da GAP infantil e deixando Kathy furiosa. Nos despedimos e cada um foi se trocar para dormir. Coloquei meu pijama e me enfiei de baixo das cobertas junto ao meu celular e comecei tentar a fazer ligações internacionais. Depois de algumas tentativas falhas, Carol atendeu.

– Alô? – disse em português com uma voz sonolenta e rouca. Sorri.

– Esta muito quente ai?

– Lucy? – ela despertou.

– Te acordei?

– Sim, mas não importa. O que você esta fazendo?

– Estou deitada. Aqui esta muito frio, meus pés estão congelando.

– E como é a Inglaterra?

– Se você quer saber sobre o London Eye, o Big Ben e Mcfly eu sinto te informar, mas tudo o que tenho em Holmes Chapel é uma bela doceria na esquina e talvez um Dunkin Donuts.

– Você esta odiando? – ouvi o som da coberta se mexer como se ela se revirasse na cama.

– Não. Cheshire é adorável. Calmo com pessoas amáveis. Estou com medo de chegar a Londres e me ver dentro da série Skins.

– Se você achar alguém como o Tony me avisa que eu corro para ai.

– Pode deixar. – rimos – Eu fiz uma amiga. O nome dela é Gemma e ela é a vizinha. Têm uns vinte anos, eu acho.

– Gemma? Tipo, de ovo? – ela começou a gargalhar.

– Não faça graça dela. Sei que esta com ciúmes, mas você esta longe e eu preciso de uma menina para conversar.

– Você não pode desabafar com sua tia ou sua prima de sete anos?

– Não. E agora eu preciso desligar se quiser guardar créditos, essas ligações vão gastar uma fortuna.

– Eu sei, mas daremos um jeito.

– Tudo bem. Te ligo em breve.

– Boa noite. – desliguei a ligação e coloquei o celular de lado.