90 escrita por The Klown


Capítulo 3
Capítulo 2 - 11%


Notas iniciais do capítulo

Deixem Review ;D



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29 de Junho de 1987


                Jazz havia acabado de acordar.

                Do seu quarto, com as janelas abertas, um barulho de multidão era ouvida do lado de fora. Pena, era baixo demais para alcançar a janela. Afinal, tinha apenas sete anos.

                O seu quarto era um pouco bagunçado. O assoalho do chão estava apodrecendo, a madeira estava lentamente entrando em decomposição. Era nisso que dava o seu pai ter instalado manualmente o assoalho, a umidade estava penetrando na madeira. O seu guarda-roupa, acoplado na parede, estava no mesmo estado. A pequena cama na qual dormia estava toda bagunçada, pois estava sendo usada até o momento. Mas o pequeno Jazz não ligava para isso.

                Ainda com seu pijama listrado em branco e azul, abriu a porta do seu quarto. Correndo, foi ver o quarto dos pais. A cama de casal, enorme do ponto de vista do garoto, estava vazia. Deviam estar lá fora com a multidão.

                Desceu as escadas com baques a cada degrau. Cansado de tanto correr, com as suas pequenas pernas, saiu pela porta da frente, já aberta. Pelo jeito, o tumulto estava acontecendo na casa da frente.

                A casa da frente era enorme, se assemelhando a uma mansão. Nunca havia visto nenhum dos moradores de lá, embora seus pais dissessem que lá moravam a família Rain,a  mais poderosa e influente da região. Sabia que eles tinham um garoto da sua idade, embora nunca havia visto tal garoto. Ele sentia pena do tal, não tinha ninguém para brincar.

                Ao sair de casa, seus pais o viram. Sua mãe o pegou no colo, embora não desviasse a atenção da mansão a frente. Jazz começou a olhar.

Dois carros pretos estavam a frente da casa. Um era bem longo, lembrou a Jazz uma cobra. Estavam colocando duas toras de madeira polida nesse carro. “Tora polida”, era o que para Jazz um caixão parecia. Ele nunca havia presenciado a um funeral, não sabia o que era um caixão.

                De dentro da casa, saíram um homem de ar bruto, e um garoto da idade de Jazz. Devia ser Johnny, ele imaginou com razão. Johnny fora colocado no carro menor.

                “Para onde vão levá-lo?”, “Para algum orfanato chique”, “Ah”, Jazz ouvia sussurros de pessoas ao redor. Ao ouvir “orfanato”, ele sentiu pena. Sabia o que significava.

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25 de Abril de 1995

                Johnny estava bravo.

                Não fora ele que tinha quebrado a maldita sala do diretor! Só porque ele estava lá dentro não queria dizer necessariamente que foi ele que arrebentou tudo! Agora ele estava ali, naquela maldita sala, confinado.

                Johnny tinha quatorze anos, e estava vivendo naquele orfanato há oito, desde a inexplicável morte de seus pais. A polícia não conseguiu achar o assassino, embora tinham a autópsia dissera que fora por envenenamento alimentar, mas não conseguiram provar a culpa a nenhum cozinheiro ou criado, pois as provas eram escassas.

                Maldição. Aquela sala era um lixo. Feita para punir os malfeitores do orfanato, lembrava ao garoto uma cela de prisão. Era similar ao seu quarto, exceto pelo fato de não ter um colega de quarto, a pintura ser mal acabada, e não ter nada que o divertisse.

                Johnny não tinha muitos amigos no orfanato. Ele não era de se misturar com os outros garotos da sua idade, fora criado assim. As únicas pessoas que eram seus amigos era Hans Lins, seu colega de quarto, e Joseph Clancy, o faxineiro do orfanato.

                Lins era da sua altura, tinha cabelos castanhos médios e mal-cuidados, olhos avermelhados, e pele clara como folhas de papel. Era albino. Já Joseph era um senhor de idade, aparentando estar na casa dos sessenta anos. Tufos de cabelos grisalhos nas laterias da cabeça, e um óculos de aro de tartaruga enfeitavam seu rosto. Lhe era vagamente familiar, mas não se lembrava de onde o conhecia, antes do orfanato.

                Deitado na cama daquele “quarto”, ouviu uma batida na porta. Disse um seco “Entre”, e a porta de madeira polida abriu com um rangido, revelando Joseph do outro lado,com o uniforme cinzento e o esfregão em mãos.

                -Veio limpar? – perguntou o garoto
               
                -Por que mais estaria aqui?-respondeu o senhor, sorrindo.

                Johnny retribuiu o sorriso.

                -Então, fiquei sabendo que destruiu a sala do diretor, hein?- disse ele, rindo baixinho.
               
                -Não fui eu! Quando eu entrei já estava daquele jeito!  - retrucou o garoto, nervoso com a injustiça a qual fora submetido.

                -Hehe... seja quem for que fez aquilo, me deu um belo de um trabalho... – comentou o idoso.

                Joseph passou mais um tempo passando o esfregão pelo quarto. Quando terminou, olhou bem para o garoto. Talvez... estivesse na hora certa. Para revelar aquilo. Sim, seria oportuno.

                -Sabe, Johnny... eu sei que foi você que fez aquilo.

                -Mas... - começou

                -Deixe eu terminar – interrompeu ele – Foi você, eu sei. Você é que não sabe.

                Johnny mostrava completa ignorância sobre o que o velho dizia. Do que ele estava falando, afinal de contas?

                -Bem... – continuou Joseph – Você não é comum, garoto. De jeito nenhum. Você é... especial. Você tem um dom, e aquilo causou a destruição da sala do diretor.

                -Como assim?

                -Você pode fazer coisas com o seu cérebro, coisas que você próprio não sabe o quê. Por exemplo...

                Ele trancou a porta do quarto, abriu a janela (estavam no segundo andar), e jogou a chave de lá.

                -O que você fez?! Estamos presos!
     
                -Não, Johnny. Se concentre naquela porta.

                Obedecendo as ordens, ele se focou na porta polida a sua frente.

                -Agora, deseje que ela abra com toda a sua força de concentração. Você consegue.

                Ele tentou. Não estava resultando em nada. Impulsionado pelo faxineiro, continuou tentando, embora achasse aquilo uma perda de tempo, quando deviam estar pedindo ajuda de alguém.
               
                Até que, de súbito, a porta se abriu, revelando do outro lado... ninguém. Abrira sozinho.

                Ele estava maravilhado. Como ele conseguiu  abrir a porta usando apenas a concentração?

                -Como eu fiz isso, Joseph? – perguntou ele, aturdido.

                -Isso não é nada. É apenas 11% do que você consegue fazer – adicionou com um esgar.


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