Considerando que metade (ou será mais?) dos casamentos acaba em divórcio, quanto tempo costuma durar uma típica união?

O problema não é matemático: eu realmente gostaria de saber. Aposto em menos de oito anos. Convenhamos, não existe felicidade e amor suficiente que faça um casal projetar para a vida real aquelas irritantes cenas de comercial de margarina. Aquelas em que o casalzinho esbanja beleza e sorri até o limite do possível. É como se fizesse uma reverência à “viva a vida perfeita! Viva a margarina!”.

Patético. Ou seria triste? Isso não existe.

É um tipo de felicidade abominável. Cinco anos juntos e os dois indivíduos – então mais “indivíduo” do que nunca – mal conversam. Sequer notam detalhes: os oitocentos gramas arduamente perdidos ao abrir mão do leite com chocolate e da torrada com requeijão pela manhã, o corte de cabelo pesquisado durante semanas nas revistas de moda européia, a lingerie nova que, apesar de comprada na feira do fim de semana, poderia facilmente se passar por uma Victoria’s Secret.

Parece não fazer a menor diferença.

É justamente aí que começa outro capítulo da história: Assumindo ou disfarçando, um dos dois está mesmo à procura de um participante mais jovem para seu próprio comercial. Melhor ainda se for uma loira de cabelos sedosos, olhos verdes e, claro, mais durinha do que você.

Pronto. Já estou pensando mais uma vez na possibilidade de Ângelo ter me deixado por causa de outra. Cinco anos interrompidos por um fantasma que atormenta meus pensamentos, desde aquela tarde fria de segunda-feira.

“Eu só quero ficar sozinho”, ele dizia. “Você é feia, gorda, burra e insuportável”, eu entendia. Pensei em levantar-me do sofá, ali na nossa sala de TV, e destilar o veneno: “tem um inquilino morando dentro de mim e você também é responsável por isso”.

Filhos sempre trazem aquela esperança melancólica de serem os salvadores das relações que perecem com o tempo ou, pior, são como o choro sem cor de um amor que deixa de ser desesperado de beleza para se tornar uma lágrima frágil.

Desisti da empreitada. Nem poderia ser diferente, afinal aquilo seria uma mentira e eu não queria me transformar numa protagonista de novela mexicana. Ele só queria ficar sozinho, afinal. Porque eu era feia, gorda, burra e insuportável.