Cheguei no hospital com as emoções a flor da pele. Eu estava feliz por ele estar se recuperando, mas não podia mostrar nada disso a ninguém, por motivos bem claros. Procurei minha mãe, e achei ela na sala de espera, sorridente como nunca. Senti alguma coisa diferente quando olhei nos olhos dela. Todo aquele remorço de ter me apaixonado pelo Harry, e tudo mais... Tudo aquilo, sumiu. Não sei porque, eu só sentia que eu devia seguir meu coração, e seja la o que tivesse que acontecer, que acontecesse. E, me sentia ainda mais aliviada quando ela me abraçou e me pediu pra ir correndo ver ele. 

                  Claro que ela não sabia de nada, só estava pedindo por causa da história da nossa linda "amizade". E foi o que eu fiz. Entrei no quarto e seus lindos olhos verdes estavam abertos, e mesmo com a mascara de oxigiênio, pude perceber um sorriso brotando em seus lábios. E além de sorrisos nos meus, também haviam lagrimas. 

 - Fico feliz que você tenha vindo... -ele falava com dificuldade, mas... não importava. Ele estava ali. E bem. Quase bem. 

 - Fico feliz que você esteja bem. Olha, Harry... Ta tudo muito complicado. Quer dizer, sempre foi. É que agora ta um pouquinho mais. E, seria tão bom se as coisas fizessem sentido. Só pra variar. 

 -É. Mas vamos deixar pra brigar quando eu puder falar direito, ta certo? 

 -Você não leva nada a sério mesmo, não é? O assunto é sério. 

 -Eu sei... Por isso mesmo, só senta aqui do meu lado e me da a mão pra eu poder ficar melhor mais rapido. 

           E no meu lugar, quem recusaria a um pedido daquele? Mesmo com o rosto meio ralado, ele parecia ainda mais irresistível. Me sentei e dei a mão pra ele. Ficamos ali um tempão enquanto eu sussurrava aquela musica do Ramones "I love you", torcendo pra que ele não entendesse a melodia, ou podia entregar muita coisa.  Acho que tava tão chato, que ele caiu no sono, e eu também. 

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          Acordei com os raios solares invadindo o quarto, e me forçando a abrir os olhos. Eu não acredito que tinha dormido tanto assim, e ainda por cima, de mãos dadas com o Harry... Será que alguém tinha visto? Será que a minha MÃE tinha visto? Eu sei que eu decidi não  me arrepender, e nem tentar esconder esse sentimento, mas, ainda era cedo demais pra contar tudo pra ela. Ainda mais assim, do nada. Se fosse eu, me sentiria traida. E com toda razão. Coloquei a mão do Harry, cuidadosamente sobre a perna dele, dei um beijo na sua testa e sai. Perguntei pra uma enfermeira que estava entrando no quarto se ela tinha visto minha mãe. Ela respondeu que ela tinha ido pra casa descansar. 

          Certo. Eu ia pra casa e ia contar tudo pra dela. Ah, eu e essas minhas decisões que eu nunca tomo de verdade. Não sei o que acontece, eu travo. Perco a coragem na hora H. Mas, eu tinha que tentar. 

          Me imaginei chegando em casa, encontrando minha mãe furiosa por ter visto que eu dormi de mãos dadas com o harry, me xingando de vagabunda, dizendo que eu não merecia nada que ela tinha feito por mim, que eu era uma traidora, e o diabo a quatro. Mas nada disso aconteceu. Eu cheguei e ela estava sentada, segurando uma xicara de chá, e pensativa. Olhando pro nada, que nem percebeu que eu ja tinha chegado. Fui andando até ela lentamente. Respirando cada vez mais fundo, e devagar.  

  -Mãe...

  -Acho que temos muito o que conversar, né Carol? 

          Eu ja tinha a sensação de que não seria uma conversa boa, nem amigável, como as conversas costumava ser com a minha mãe. Falariamos sobre o que eu estava tomando coragem pra falar, e disso eu tinha certeza. Fechei os olhos e tentei lembrar de tudo o que eu tinha sentido ontem com o Harry, e tentei imaginar que o que eu sentia por ele, naquele momento, era maior do que qualquer coisa. E eu ia enfrentar isso. De frente, de cabeça erguida.