Entre Céu & Mar escrita por Tassi Turna


Capítulo 22
Hank descobre tudo




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–O raio x não apontou nenhuma fratura. Você sofreu apenas algumas escoriações.

Enfim Evellyn ouvira algo bom, mesmo não se tratando de nenhuma novidade.

–Eu disse que não quebrei nada. Não era necessário me trazer aqui. –Ela disse a Kate, que ainda estava com o olhar indagador.

–Sempre é bom ter certeza –Foi o que disse em sua defesa.

–Você tem certeza de que está bem? –Erick quis se certificar.

Evellyn virou-se para olhá-lo. Notou que ele não conseguia encará-la. Era a consciência pesada atacando novamente.

–Estou sim. Obrigada por ter me ajudado, Erick. –Ela disse timidamente.

–Se me dão licença, eu preciso falar com Ágata. –Erick disse, retirando-se.

Evellyn observou de longe Erick indo ao encontro de Ágata. Pela janela, ela pôde notar o sorriso no rosto da irmã ao abraçá-lo finalmente. Eles ficaram assim por um bom tempo, fazendo a consciência de Evellyn pesar ainda mais. Mais uma vez ela havia atrapalhado. Aquilo não era justo com a sua irmã. Até agora não entendera muito bem por que tinha feito aquilo. Ela geralmente fazia coisas sem pensar em momentos de crise.

Erick nunca mais falaria com ela, e com toda a razão. Ela percebeu que ele não se sentia à vontade perto dela. Não mais. E ela o admirava por isso. Não iria estragar a felicidade da irmã, não mais. Aquilo não iria se repetir novamente.

Foi a mesma coisa que ela disse da primeira vez.

–Evellyn? Evellyn? Acho que já está na hora de você me esclarecer essa história. –Kate a tirou de seus devaneios.

–O quê? –Ela se fazia de desentendida.

–Não se faça de sonsa. –Kate a lançou um olhar indagador. –Você pulou de um carro? Como assim? De quem era o carro? Quem estava lá? E por que diabos você iria pular de um carro? Já não existem esportes radicais?

A voz alterada de Kate que revelava preocupação fez a cabeça de Evellyn quase explodir de dor.

–Kate, Kate. Eu, eu vou explicar. –Evellyn disse, convencida de entregar logo Trina. Talvez agora tivesse mesmo um pouco de paz. E, se antes ela não duvidava do seu envolvimento no assassinato, agora tinha quase certeza.

–Okay, pode começar. E sem omitir nenhum detalhe.

Kate cruzou os braços à espera de uma explicação convincente para o estado de sua sobrinha.

–Tudo bem. Eu estava voltando da casa de Hank a pé, quando Trina apareceu de repente. Ela disse que tinha algo importante para me dizer. Eu hesitei, mas ela insistiu tanto que acabei cedendo. Ela entrou em uma rua desconhecida, e estava dirigindo muito rápido. Rápido até para mim. Nós começamos a discutir, e ela perdeu a direção. Eu vi que o carro ia bater, então abri a porta e pulei. Depois que rolei no asfalto não sei onde ela foi parar. Só me lembro de quando Erick me encontrou e... –Evellyn hesitou por um instante, lembrando-se do que aconteceu depois. Kate era a pessoa mais compreensiva que ela conhecia, mas contar aquilo era demais. –Bem, eu vim para cá. Desnecessariamente estou num hospital. –Ela acrescentou.

Kate parecia estar completamente aborrecida, e em nenhum momento de sua vida Evellyn a vira assim, tão irritada.

–Eu avisei para tomar cuidado com ela. –Kate advertiu mais preocupada que irritada.

–Desculpe Kate. Eu sei que fui uma idiota.

–Não se preocupe querida. Pelo menos temos mais algo para acrescentar na ficha criminal dela. Eu vou falar com a polícia agora mesmo. –Kate disse, levantando-se.

Evellyn sentia-se mais tranquila agora. Manter Trina longe dela lhe entregava de volta uma paz. A única coisa que não estava tranquila era o seu celular que não parava de vibrar. Evellyn rapidamente sacou-o para ver quem lhe importunava num momento como aquele.

Quase deixou o telefone cair quando viu as dezenas de mensagens de Trina.

–Você quer mais alguma coisa, Eve? –Kate hesitou antes de sair da sala, enquanto Evellyn abria a mensagem misteriosa.

A maioria se tratava de pedido de desculpas, mas ao passar das mensagens Trina foi perdendo a esperança, até apelar para sua última carta na manga. Evellyn teve um sobressalto quando viu a foto. Trina havia fotografado ela e Erick.

Trina: O que sua irmã iria achar do quão próxima você é do namorado dela? Eve, querida, eu realmente não quero fazer isso, mas depende apenas de você. Você não quis me ouvir. Fez tudo ficar mais difícil! Já sabe o que fazer. Beijos, e melhoras. Eu realmente não quis te machucar. :*

P.S: Eu realmente nunca pensei que você seria capaz de fazer isso com a sua irmã. Mas, a foto está aí e eu não posso fugir dos fatos.

Numa velocidade incrivelmente rápida tudo havia se tornado uma pela porcaria. E ela pensou que nada seria tão ruim. Que nada! “Nada é tão ruim que não possa piorar.”

–Eve, querida? Está tudo bem? Você ficou pálida de repente. –Kate disse, observando a expressão de terror no rosto da sobrinha.

–Kate... Kate! –Evellyn gritou pela tia.

Kate assustou-se com a grito da sobrinha assim, tão de repente. Mas correu para ver o que estava acontecendo com ela.

–Evellyn, o que aconteceu? Você está suando frio! –Ela disse, acariciando as suas mãos gélidas.

Evellyn deu mais uma olhada para sua irmã e Erick. Eles se beijavam agora. Não, ela não podia deixar que aquilo acontecesse. Ela merecia ser feliz, e mesmo se soubesse do que aconteceu, uma foto seria a coisa mais horrível.

–Não entregue a Trina, Kate! Por favor, não dê queixa a polícia! É tudo que eu te peço!

–Mas por que, Evellyn? Por que está a defendendo? Pensei que também queria isso! –Kate já não entendia mais nada. Era bem do feitio de Evellyn confundir sua mente.

–Por favor, Kate. Tudo, menos isso. Foi um acidente! Trina não seria louca o bastante para colocar em risco a vida dela junto com a minha!

–Em 1º lugar: ela seria, e é sim. E em 2º lugar: Ela está de ameaçando? Evellyn, se ela está te ameaçando você tem que contar para mim! Não pode ter medo dela!

–Não estou com medo, Kate! –Ela mentiu. –Estou dizendo a verdade! Foi um acidente! Eu não quero mais problemas! Por favor, por tudo que é mais sagrado, não a entregue para a polícia! –Evellyn chorava de nervosismo, e mais uma vez sentiu suas feridas arderem ao entrarem em contato com o gosto salgado de suas lágrimas.

–Calma, querida, calma. –Kate disse dessa vez com a voz mansa. Ela afagou suas lágrimas. –Estou achando essa história muito suspeita, mas, vou respeitar sua vontade. Porém, que eu vou demiti-la isso eu farei, e não há drama no mundo que me faça mudar de ideia!

Evellyn ficou preocupada por um instante. Seria o necessário? Será que Trina vai enviar a foto mesmo assim? Talvez ela reconhecesse o seu esforço, e visse que não tinha como fazer mais nada.

–Está bem, Kate. Muito obrigada. –Evellyn disse enfim. Não poderia fazer mais nada. Ficaria suspeito demais, e ela sabia bem que não era fácil enganar Kate.

Connor deveria ser mesmo um profissional na arte de enganar.

–Está mais calma agora?

Ela assentiu.

–Precisa de mais alguma coisa?

Ela negou.

–Okay, então vamos. Hora de voltar para casa. Tenho que demitir uma pessoa. –Kate disse, em tom zombeteiro. Ela sempre conseguia estar de bom humor, até numa situação daquelas.

Evellyn e Kate foram ao encontro de Ágata e Erick, que ainda mantinham-se envolvidos.

–Finalmente pararam de se beijar, hein. Dava para ouvir os ‘smaks’ lá dentro. –Kate disse, fazendo Ágata enrubescer. Erick apenas riu.

–É bom vê-la de novo, Kate. –Ele disse, cumprimentando-a. Kate contribuiu.

–Evellyn, você está melhor? –Ágata quis saber, e o tom de preocupação em sua voz deixou Evellyn totalmente desconcertada.

–Sim, eu estou. Foram apenas algumas escoriações. Eu avisei que não tinha quebrado nada.

–Ainda bem. –Ágata disse, parecendo aliviada.

–Bom, agora chega de papo. Vamos para casa. Erick, você vem conosco? –Kate perguntou balançando as chaves feito criança.

Meio relutante, Erick acabou por aceitar a carona. Durante o trajeto nem ele e nem Evellyn ao menos se olharam, enquanto que Ágata segurava sua mão durante o tempo todo.

–É aqui. Valeu pela carona, Kate. –Ele disse, saindo.

–Erick! Espere aí! –Ágata o chamou.

Erick recostou-se à janela do carro, atendendo ao pedido de Ágata.

–O que foi? –Ele quis saber.

–Está tudo bem mesmo?

–Está sim. Por que não estaria?

–Sei lá, você está estranho desde que nos encontramos... –Ágata disse parecendo suspeitar de alguma coisa.

–Não é nada demais. Só estou cansado da viagem. Desculpe se estive distraído. Depois nós compensamos o tempo perdido. –Erick disse, torcendo para que Ágata não suspeitasse de mais nada.

–Está bem. –Ágata concordou, abrindo o sorriso que ele queria ver.

Erick se foi e mais uma vez nem ele e nem Evellyn ao menos se olharam. Nem sequer se despediram. Até mesmo Ágata achou o comportamento dos dois estranho. Justo eles que eram tão amigos. Algo mais havia acontecido, e ela não fazia ideia do que poderia ser.

*****

Assim que ficou sabendo do acidente, Hank correu para casa de Evellyn a fim de saber notícias suas. Encontrá-la toda machucada não aliviou nem um pouco sua preocupação.

–Eu estou bem, Hank. –Ela repetia novamente, mas ele não se dava por satisfeito.

–Bem? Parece que você passou num ralador. O que aconteceu?

–Depois que eu saí de sua casa, Trina me encontrou. Disse que tinha algo muito importante para me contar.

–Era a teoria dela. Só pode ser. –Hank interferiu.

–Eu acabei entrando no carro. Nós começamos a discutir, e ela estava dirigindo muito rápido. Foi um acidente, Hank. Acabou. –Ela disse, fazendo toda a força que tinha para não demonstrar o seu medo.

–A culpa é minha. Eu fiquei enchendo a sua cabeça com aquelas coisas que descobri. Trina não é confiável, Eve. –Hank dizia arrependido, mas Evellyn conhecia aquele olhar. Ele não vai parar até encontrar todas as respostas que quer.

–Hank, fique longe dela. Por favor.–Ela lhe suplicou.

–Mas...

–Mas nada, Hank. Você mesmo disse que ela não é confiável. Olha o que aconteceu comigo. Não quero que aconteça o mesmo com você. Ou até pior,

–Eu sei me virar sozinho, Eve.

–Hank, não faça isso. –Agora o temor de Evellyn era por duas coisas. Primeiramente, bem óbvio, o medo de que acontecesse algo com Hank. O segundo, e até um pouco egoísta, era o medo de Trina lhe mostrar a foto.

Mas ela havia feito o que Trina queria, não é mesmo? Porém isso não impediu Kate de demiti-la. Será que não fora o necessário? Será que ela lhe mostrará a foto mesmo assim?

Evellyn não sabia ao certo o que fazer, como quase sempre. A única coisa que poderia fazer era manter Hank o quanto longe possível de Trina. Isso se ele lhe desse ouvidos.

A conversa dos dois foi logo interrompida por Kate, que adentrava a sala numa procura incessante por sua bolsa.

–Está aqui, Kate. –Evellyn lhe deu a bolsa.

–Ah, Evellyn querida. Prestativa até machucada. –Kate brincou. -Oh, Hank está aqui. Então estou lhe deixando em boas mãos. Juízo os dois, hein. –Ela disse antes de ir embora.

O assunto Trina estava mais do que encerrado entre os dois. Porém, Evellyn não sabia ao certo se Hank havia aceitado ou não.

Os dois optaram por não dizer mais nada sobre Trina, ou o acidente, ou qualquer coisa do tipo, e ficaram lá, a apreciar a companhia do outro.

*****

Foi bem rápido encontrar uma substituta para Trina. A empresa era bem rica, e muitos almejavam uma vaga lá dentro. Ironicamente, as proprietárias pouco se importavam. Liderar uma empresa não era o sonho de Evellyn, de Ágata e muito menos de Kate. Mas agora não era a hora certa para abandonar o barco.

–Muito obrigada por me aceitar aqui! –Pauline cumprimentou Kate assim que chegou à empresa para o seu primeiro dia de trabalho.

–Por nada, Pauline. Ágata me falou muito bem de você. Agora venha conhecer a empresa. –Kate disse, caminhando por entre os corredores e salas.

Aquela imagem de pessoas de gravata não enchia os olhos de Kate. Por outro lado, Pauline estava impressionada com o lugar.

–Esta aqui é a sua sala agora. –Kate disse, apontando para a antiga sala de Trina. –A antiga funcionária ainda está tirando suas coisas do lugar, apenas aguarde um pouco.

–Sim, sim. Muitíssimo obrigada! –Pauline dizia, com os olhos brilhando de felicidade.

–Vejo que gostou mesmo do emprego. –Kate comentou ao perceber a felicidade de Pauline.

–E você não gostaria?

Kate riu.

–Claro que não. Nunca fui chegada a escritórios, e ao mundo das empresas e ações. É como se fosse uma prisão. E eu nasci para ser livre e perambular por aí. –Kate disse, mergulhando em memórias felizes do tempo onde a cada ano ela estava num país diferente.

Trina abriu a porta da sua antiga sala carregando várias pastas e caixas, tirando Kate de seus devaneios nostálgicos.

–Como está Evellyn? –Trina disse com uma preocupação que pareceu quase ofensiva para Kate.

–Ela está ótima, agora que está longe de você. –Kate respondeu sem dó de parecer rude.

Sem hesitar, Pauline entrou para a sua nova sala. Não queria ouvir o assunto das duas, ainda mais se tratando de Evellyn. Trina já ia se afastando quando foi barrada por Kate novamente.

–Escuta aqui. Só estou deixando você partir assim por causa de Evellyn. Seja lá o que você usou para ameaçá-la, é melhor que destrua logo. Por que se eu souber que você a machucou, eu acabo com você. –Kate sussurrou em seus ouvidos aquela ameaça.

–Acho que não sou eu que a machuquei de verdade. –Essas foram suas últimas palavras antes de sair daquela empresa. Mas ela voltaria, ah, ela tinha certeza disso.

*****

Esta é a minha sala.

Era o principal pensamento da ambiciosa Pauline, que girava os olhos para cada canto da sala. Nunca havia encontrado uma amizade com tantos benefícios como a de Ágata. Para a sua felicidade estar completa só faltava-lhe uma coisa. Mas ela iria conseguir.

Ela sempre conseguia.

Apesar de ser uma sala bonita, ainda carecia de alguns detalhes. Estava crua, a não ser por uma pequena pasta, à primeira vista insignificante, pairada sob a antiga mesa de Trina. Ela se esquecera.

Movida pela curiosidade aguçada, Pauline abriu a pasta. Havia algumas fotos. Ela pegou uma delas.

E ficou boquiaberta.

Minutos se passaram e ela continuou boquiaberta.

Era muito para processar ver o seu irmão beijando a sua cunhada, que vinha a ser a namorada de Hank e sua grande inimiga. Evellyn? Quem diria.

–Ai, irmãozinho querido. Você não faz ideia do quanto eu te amo, pequeno galanteador. –Ela murmurou, sem desgrudar os olhos da foto, já tendo vários planos em mente para se aproveitar do pequeno “bônus” do primeiro dia.

*****

As feridas ao redor do corpo de Evellyn já haviam cicatrizado, mas as feridas que o remorso lhe causara ainda doía como uma facada. Hank esteve ao seu lado durante todos aqueles dias, cuidando dela com todo o carinho, e isso aumentava ainda mais a sua culpa. Vivia assustada com o que Trina poderia fazer. Ela ainda tinha a foto, e podia muito bem continuar a chantageá-la. Pensou em dizer a ela que havia contado tudo a Hank, mas ela poderia querer comprovar.

A menos que ela contasse a ele a verdade.

Aquela ideia de início parecia absurda. Quais palavras ela poderia usar para confessar uma traição sem parecer uma traição? Hank poderia nunca a perdoar. Seria pior viver com a consciência pesada ou viver com o ódio de Hank?

Mas pensando bem, ela não iria conseguir omitir aquilo por muito tempo. Trina não é confiável. E, se ele vai descobrir, que seja por ela.

Seria bem fácil se ela fosse corajosa.

Evellyn cansou de pensar tanto. Não era de seu feitio. Ela estava em frente à casa de Hank e agora era tarde demais para voltar atrás. Não ia aceitar ser fantoche de alguém.

Uma tempestade parecia estar a caminho, a julgar pelas nuvens espessas que atrapalhavam a beleza das estrelas. Mas quando Hank a recebeu com aquele sorriso convidativo, ela quase acreditou que estava num lindo dia de céu azul.

–Olha só para você! Está pálida de novo! –Hank disse, observando a ausência das escoriações. –Agora posso beijá-la sem machucar. –Ele disse, puxando-a para um beijo.

Por um momento ela quase se esqueceu do motivo pelo qual estava lá. Ela tinha que se manter séria, e preparada para a reação de Hank.

–Preciso te contar uma coisa. –Ela foi direto ao ponto.

O sorriso de Hank logo desapareceu e deu lugar a um rosto sério, como que a tentar adivinhar o que ela queria lhe dizer. Evellyn não comentou nada, mas naquele momento ele parecia muito com o pai.

–Okay, vamos entrar.

Evellyn surpreendeu-se com a presença da mãe de Hank na sala. Geralmente quando ela ia lá seus pais não estavam em casa. Mas ela parecia não notar a sua presença. Estava quase imóvel sentada em uma velha poltrona a separar diversas cartas e envelopes. Olhando assim de relance Evellyn poderia jurar que ela fazia parte da mobília da casa.

Talvez fosse mesmo, pois seu marido dava-lhe o mesmo valor daquela poltrona.

Hank foi para a cozinha e Evellyn o seguiu. Estava mais do que claro que o que ela tinha para lhe contar era algo para se dizer a sós.

–Então, o que você quer me contar? –Hank parecia tranquilo.

Evellyn respirou fundo, procurando em todo o acervo de seu vocabulário as melhores palavras para dizer aquilo.

–Antes de eu te contar, você tem que me prometer que vai manter a calma, e pensar bem no que fazer okay?

–Ai meu Deus! Você está grávida!? –Hank quase caiu da cadeira.

–Não, claro que não! Que horror! Não é isso! –Evellyn disse, fazendo cara enojada só de pensar na ideia. Ela não levava jeito com crianças, e aos 16 anos mal podia tomar conta de si mesma, que dirá de um filho?

–Então o que é? Você está me assustando! –Hank não aguentava mais o enrolamento.

–Por favor, Hank. Fique calmo. Eu, eu não sei qual será a sua reação, e provavelmente você não vai querer olhar na minha cara por um bom tempo. Não sei se vou suportar isso, mas é ainda pior do que viver com alguém me ameaçando.

–Tem a ver com Trina? Ela está te ameaçando?

Evellyn fez que sim com a cabeça.

–Eu sabia! Aquela vadia...

–É por isso que eu vou te contar. Claro, não é justo que eu continue com você como se isso não tivesse acontecido. Mas não vai acontecer novamente, eu juro!

–Evellyn, por favor, pode ir direto ao ponto. Eu não sou um vulcão em atividade. –Hank disse, dessa vez pegando na sua mão e a calma presente no seu olhar deixou-a mais a vontade.

Talvez ele a perdoasse. Pessoas cometem vários erros.

–Então, eu estou muito envergonhada em ter de confessar isso, mas, desde aquele incidente com Pauline, ou um pouco antes disso... –Ela começou, porém fora interrompida pela presença da mãe de Hank e seu semblante sempre taciturno.

–Filho, chegou este envelope para você. –Ela disse, estendendo-lhe um envelope médio que parecia quase vazio.

–Para mim? –Ele disse, estranhando-o. Quase nunca recebia algo, mas sempre era algo surpreendente.

–Foi mal. Você quer continuar? –Ele disse, já abrindo o envelope. Evellyn podia sentir a curiosidade dentro dele.

–Não, eu falo depois. Abre. Parece ser importante. –Ela disse, e rapidamente ele começou a abrir.

O conteúdo intrigante do envelope constava em um pequeno bilhete e algumas fotos. Ele pegou primeiramente o bilhete:

“Acho que você iria gostar de saber o quão próxima é a relação da sua namorada com o cunhado dela. Pode me agradecer depois”. –P

O envelope não tinha remetente, mas nem precisava. Aquilo só podia ser coisa de uma pessoa: Pauline. Ele então pegou a foto, curioso para saber o que de ruim ela poderia trazer para sua vida.

Hank deixou o envelope cair, tamanho foi o choque. E aquela foi a primeira vez que Evellyn o viu pálido.

–Hank? Hank? O que foi? –Ela queria saber, mas palavra nenhuma saía de sua boca. A cor pálida logo foi dando lugar a um tom vermelho. Seus olhos esbugalhados tinham um brilho estranho, de ódio. Ela estava equivocada ou aquele brilho era o princípio de uma lágrima?

–Hank? Me diz, o que houve? Por que você está assim?

Hank enfim desviou o olhar da foto e pôs-se a fuzilar Evellyn. Ela não pôde evitar ficar assustada. Hank parecia estar possuído.

–O que houve? Você ainda pergunta? É isso que houve! Olha só! –Enfim ele disse algo, gritando com ela de uma forma que nunca na sua vida ouviu dele. Hank esfregou a foto com toda a força da mesa, e então Evellyn entendeu tudo.

O brilho no olhar dele era um misto de coisas. Um misto de raiva, ódio, decepção, traição, tristeza. E tudo isso contribuía para o princípio das lágrimas. E ela sabia muito bem porque ele não deixava que elas escorressem livres.

É porque ela não merecia nem mesmo as suas lágrimas.

–Hank, eu posso explicar...

–Explicar o que, Evellyn? A foto já explicou tudo! Como pôde? Nem falo só de mim, mas ela é sua irmã! Como pôde?!

–Hank, eu ia te contar..

–Contar? Acha mesmo que eu vou acreditar que você iria me contar? Então foi isso que você tanto temia que Trina revelasse?

–Hank, eu sinto muito...

–Sente nada! Você é incapaz de sentir alguma coisa! Eu não sei mais quem você é, Evellyn!

–Hank...

–E eu pensei, realmente pensei que você era uma pessoa incrível, apenas mal interpretada. Agora vejo que foi eu quem te interpretou mal. Eu não acredito que me envolvi tanto com você, a ponto de am.... –Ele hesitou por um momento. Confessar-lhe aquilo tornaria tudo mais humilhante.

–Hank, por favor, me escute...

–Cala a boca! –Ele gritou num momento de raiva, levantando as mãos. Evellyn automaticamente se esquivou. Ela realmente acreditou que ele ia lhe agredir.

Mas Hank foi recuperando a razão, abaixando as mãos e respirando fundo. Por mais que estivesse irritado, ele nunca faria isso com mulher alguma.

Mesmo que ela tenha destruído seu coração.

–Vai embora. Por favor. –Ele enfim disse, mais calmo. Podia sentir a respiração forte de Evellyn no seu rosto. Podia sentir suas lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Mas não conseguiu fitá-la.

–Hank... –Foi sua última tentativa, entre suspiros.

–Vá embora, Evellyn! –Ele foi mais firme dessa vez, fazendo-a aceitar que não adiantava mais nada. Estava tudo acabado.

Assim que Evellyn deixou a cozinha, Hank explodiu toda a sua raiva, chutando e socando tudo que lhe aparecesse pela frente. Era inacreditável! Havia tomado tanto cuidado para não magoá-la, e ela o pagou com isso. Pela primeira vez ele se permitiu chorar e xingar.

Movida pelo barulho sua mãe apareceu novamente. Observou sua cozinha toda destruída, e o seu filho que parecia um caco. Seu olhar de reprovação era direcionado para os dois.

–Sinto muito pelo que quer que tenha acontecido, mas é melhor arrumar tudo isso antes que o seu pai chegue. Aí sim você terá motivo para chorar. –Foram suas únicas palavras antes de sair da sala e mergulhar novamente na sua poltrona de melancolia.

–Muito obrigado pela consideração! –Ele gritou, mas já esperava por isso. Uma cozinha estragada era mais importante que ele.

Ele tinha que fugir daquela realidade ou então iria explodir novamente. Abriu a geladeira e surrupiou toda a bebida que conseguiu encontrar, e correu para o quarto onde as drogas o esperavam. Tudo para viajar para outro mundo, onde podia fingir que nada daquilo era real.

*****

Evellyn correu para o carro desmanchando-se em lágrimas. Ela esteve tão perto de falar! Deveria ter o impedido de abrir o envelope enquanto ainda teve tempo. Mas como ela ia adivinhar? Poderia ter sido bem mais fácil.

Por um momento sua mente que parecia sempre querer machucá-la ainda mais lembrou-se cada momento seu com ele. O dia em que se conheceram, o primeiro beijo que não fora tão belo assim, os vários encontros, e claro, aquele dia inesquecível na praia, quando enfim se tornaram mais íntimos. Como ela pôde ter sido capaz de estragar tudo aquilo?

As palavras de Hank eram duras, mas não injustas. Ele merecia ouvir aquilo, afinal de contas. Como pôde ser tão idiota ao confiar em Trina? Agora tudo estava uma perfeita porcaria. Ela estava sozinha. Talvez aquele fosse seu destino. Sempre magoar as pessoas que amava, porque ela não pode fazer nada certo, nada bom.

Como seria tudo agora?

Algo dentro dela dizia que seria como a tempestade que começava com toda a sua fúria. Talvez uma das piores que já presenciou. Era o que ela sentia por dentro. Uma grande tempestade. E não havia previsão para céu azul.


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Notas finais do capítulo

Fãs de Hankellyn antes de me colocarem no posto de megera, perdoem-me! Mas quero chegar perto da realidade, e ela não é nada bonita! Fiquem calmos, toda tempestade tem seu fim. Talvez ela continue por mais alguns capítulos, mas não será o dilúvio. Uma hora passará.
Então? O que acharam? Não esqueçam de comentar!



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