Rejeição escrita por slytherina


Capítulo 1
Capítulo 1: A caixa


Notas iniciais do capítulo

Fanfiction baseada em filme de terror da década de 80. Um dos personagens principais chama-se Pinhead (cabeça de alfinete). Como eu já havia escrito a fic com o aportuguesamento da palavra, resolvi não alterá-la.



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Agradeço a Dri Lioncourt (Fanfiction.net) que betou este texto.



Ela estava sentada no chão, no canto mais escuro da sala. O chão nunca lhe parecera mais frio. Já era noite. Ela não havia percebido que escurecera tanto. Começara a chorar durante o dia. Procurara um cantinho sossegado para poder chorar à vontade, sem ter que dar satisfações da sua vida a ninguém. Sentia seu rosto, olhos e garganta inchados. Toda vez que parecia que o choro ia estancar, lembrava-se dele, e então tudo recomeçava. Via o rosto dele na sua frente. Via os seus ombros largos. Via sua cabeleira loira. Sentia aqueles olhos azuis, frios como gelo. Sentia o próprio coração pesado, ocupando mais espaço que o habitual em seu peito. O seu tórax parecia que comprimia o pobre coração, não lhe dando espaço para chorar também.



As lágrimas secaram. Ela levantou-se e foi até seu quarto. Abriu a gaveta da cômoda, e de lá tirou uma pequena caixa metálica, com incrustações elaboradas, em um rico arabesco. Os desenhos tinham um toque oriental. De alguma forma, era como se já tivesse visto antes aquele delicado objeto. Lembrou-se de onde o encontrara. Estava nos pertences do homem morto. Um homem comum, vítima de latrocínio. Na sua profissão era muito comum encontrar esse tipo de cadáver. Ela trabalhava como recepcionista no Instituto de Medicina Legal. A polícia trouxera uma pequena mochila achada junto ao cadáver. Sua carteira sumira. Mas a pequena caixa metálica estava lá. Como um pequeno troféu abandonado ao lado do corpo do campeão.



Ninguém tivera idéia do que significava aquele objeto. Sabiam apenas que era bonito e antigo. Talvez valioso. O que não justificava ter sido deixado para trás. Sebastiana sabia de uma coisa, aquela pequena caixa a amedrontava. E ao mesmo tempo fascinava. Imaginou qual sua origem e que relação poderia ter com a morte do defunto. Por isso, escondida do seu chefe, pegou-a ilegalmente e levou-a para sua casa. Guardou-a em sua cômoda. Isso já estava lá há algumas semanas. Sebastiana sempre se lembrava dela, mas não tinha tempo para debruçar-se sobre o assunto. Por causa de Álvaro. Ele lhe tomara o coração de assalto. Não lhe dera um minuto de paz, desde que o conhecera.



Ele era o motivo da sua recente crise de choro. Após uma semana de intensa paixão e sonhos de amor, decidira romper com ela. Pelo motivo mais fútil de todos. Assim parecia a ela. A família dele não a aceitara. Eram esnobes, arrogantes, pomposos e pretensiosos. Achavam-se melhores do que o resto da humanidade. Ou pelo menos se achavam melhores do que ela. Não havia como lutar contra essa barreira, pois ele parecia compartilhar o pensamento de seus pais. Como se após uma semana que a conhecera e amara, tivesse sofrido lavagem cerebral. Ela não entendia como o amor dele era tão frágil e volúvel. Ela não aceitava o fim de seus sonhos mais preciosos e valiosos. Ela podia não valer nada, como dizia a família dele, mas os seus sentimentos e o seu coração valiam mais do que as estrelas do universo.



Sebastiana pegou a pequena caixa e levou-a até a cozinha. Sentou-se na cadeira da mesinha, colocou o objeto prateado sobre ela. Lembrou-se de sua mãe que morava no nordeste. Ela lhe diria “É feio roubar dos outros. Mais feio ainda roubar de mortos”. Seu pai que já morrera, seria mais pragmático. Ele com certeza lhe diria “Quanto será que isso custa? Como é usado deve custar metade do valor”. A família de Álvaro com certeza valorizariam esse pequeno objeto. Diriam tratar-se de uma relíquia chinesa, ou italiana. A não ser que a recebessem das mãos dela, Sebastiana. Aí diriam que era falsificado e contrabandeado do Paraguai. Álvaro diria apenas que era um objeto digno da beleza dela. Pelo menos era o que ele diria antes de ser influenciado pela família dele. Agora com certeza, ele chamaria a polícia para dar queixa de um roubo.



Sebastiana pegou a pequena caixa oriental e a observou na altura dos olhos. Percebeu que seguia um padrão e tinha pequenos encaixes, mal visíveis na distância. Era como um pequeno quebra-cabeça. Ela então com a curiosidade aguçada, rodou a caixa metálica, no seu eixo até desfazer o encaixe. Rodou mais uma vez para estabelecer um novo desenho de arabesco. Então a caixa pareceu adquirir vida. Uma espécie de energia incandescente fluía dela. Sebastiana colocou-a de volta na mesa, imaginando se aquele não era um brinquedinho movido a bateria. Um facho de luminosidade partiu da caixa metálica, e ela passou a mover-se em torno do seu próprio eixo, abrindo suas paredes e deixando ver uma pequena mais potente fonte de luz.



Estranhamente por contraste com a luz da caixa, as luzes da cozinha, e Sebastiana teve a impressão que todas as luzes da sua casa, se apagaram. Tudo ficou sombrio e silencioso. Apenas o pequeno objeto oriental parecia conter toda a luz naquele ambiente. Sebastiana sentiu um arrepio. Sua cozinha tornara-se gelada. Teve medo pela primeira vez, de estar sozinha naquela casa. Achou que com certeza houvera um apagão na sua rua, e por isso estava no escuro. E com certeza ainda, deveria ter deixado alguma janela aberta, e por isso estava tão frio. De qualquer forma, não queria ficar ali. Queria sair para a rua, encontrar pessoas, amigas ou desconhecidas, que lhe tirassem aquela sensação de estar sozinha no mundo. Ou de estar morta. Os arrepios se intensificaram. Estranhou o frio. Ainda estavam no outono, não era para estar tão frio assim.



Então o ambiente foi iluminando-se devagarzinho. Ela pensou “a energia está fraca”. Ela ouviu então um ruído abafado e ritmado, como se alguém se arrastasse. Ficou de pé e olhou para trás. Não havia nada. Olhou para os dois lados e também não havia nada. Resolveu sair da cozinha e ir para seu quarto. Estava apavorada, mas tentava controlar-se. Embora houvesse luz, não conseguia divisar bem os objetos e móveis daquele recinto. Com exceção da mesinha com o quebra-cabeças chinês, e da cadeira em que estivera sentada, tudo estava na penumbra. E era até mesmo difícil dizer com certeza que estava na sua casa. Pensou em achar uma vela ou uma lanterna, mas ela não conseguia divisar os móveis.



Deu alguns passos para longe da fonte de luz sobre a mesa, em direção ao que ela achava que fosse a sala. Mais alguns passos e o ambiente ficou mais gelado. Foi então que ela o viu. Ficou paralisada de terror. Não conseguia pensar, nem andar, nem falar. Sabia apenas que aquele homem não deveria estar em sua casa. Ele tinha olhos leitosos, frios, sem emoção. “Sua cabeça... Oh meu Deus... Sua cabeça está coberta de… alfinetes. Um maldito punk invadiu a minha casa, e eu estou aqui, sem ação. Sem conseguir me defender. Sem saber o que dizer ou fazer. Corra sua desgraçada. Salve sua vida”. Apesar do pânico, Sebastiana não saiu do lugar. Permaneceu lá com a expressão totalmente horrorizada. Tentando balbuciar “socorro”.



O cabeça de alfinetes veio então em sua direção. Estava vestido com uma longa batina estilizada. Cheio de tachinhas e cintos de fivelas. Ela achou que aquela roupa era de borracha líquida. Já havia visto alguns performáticos sexuais usando roupas parecidas com aquilo. De repente um pensamento a aterrorizou ainda mais: “E se ele for um maníaco sexual? O que será de mim?” A roupa do cabeça de alfinetes arrastava no chão quando ele andava, produzindo o som que ela ouvira antes. Sebastiana concentrou-se o mais que pôde para conseguir falar alguma coisa, e conseguiu isso: “Por favor, não me machuque. Pode levar o que quiser, mas não me faça mal. Por favor”. Era muito pouco. Ela queria gritar e sair correndo, mas suas pernas ainda estavam bambas pelo pânico que sentia.



Então ele falou. Sua voz não era natural. Parecia que ela o escutava na sua mente. Ela não vira sua boca se mexer, mas tinha certeza que o ouvira. Ele lhe dissera: ”Eu não vim por você Sebastiana. Você veio a mim. Há alguém querendo acertar contas com você”. Sem perceber e sem controle sobre o que estava fazendo, Sebastiana perguntou: “Quem quer acertar contas comigo”? Ao que cabeça de alfinetes respondeu: “Ele”. Na mesma hora Sebastiana virou-se para trás e viu a cena mais assustadora de toda a sua vida, até agora.



O cadáver dono da caixa de quebra-cabeças chinês estava em pé na outra extremidade daquele recinto. Nu, com o tórax e o abdome costurados. A boca roxa. Os olhos inchados e com um halo escuro em volta deles. No seu peito três buracos com halo negro e fumegante, drenavam uma secreção esverdeada. O defunto revivido abriu a boca e dela caíram bolas de algodão cheirando a formol. O pus que escorria de suas feridas do peito, desciam pelo seu peito e barriga, passando por suas pernas até o chão de sua cozinha.



Sebastiana queria gritar até não poder mais. Mas estava paralisada. Os fios da costura do corpo do cadáver começaram a soltar-se, fazendo com que a ferida se abrisse uma vez mais. Suas costelas ficaram expostas, e no lugar onde deveria haver um coração, não havia nada. Os fios de costura da barriga também se desfizeram. Suas entranhas se desenrolaram e caíram como cordas no chão. Seu estômago abriu-se e deixou escorrer uma gosma preta e podre, que fazia fumacinha por onde passava. O cadáver começou a aproximar-se dela.



Nessa hora Sebastiana conseguiu gritar. Sentiu a vida voltar a suas pernas e braços. Virou-se e procurou uma rota de fuga. Passou por portas fechadas. Abriu-as o mais rápido que pôde. Poderia jurar que estava arrombando portas trancadas. Corria mais rápido do que maratonistas. Viu escadas e escolheu descer. Como elas pareciam intermináveis, resolveu subir de volta. Aquela escalada não tinha fim. Resolveu sair da escada e tentar pular uma janela para livrar-se daquele prédio. Entrou em salas conhecidas, sem viva alma. Procurou por janelas. Não as achou. Viu uma luminosidade no fim do corredor. Correu para ela como se fora sua salvação. Vinha de um recinto familiar. Ao adentrá-lo deparou-se com um cadáver de pé com as tripas expostas.



Ela percebeu que não havia saído do lugar, apenas sua mente tentara fugir. Permaneceu parada gritando a plenos pulmões.




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Notas finais do capítulo

Esta fic eu havia postado no Fanfiction.net. Resolvi postar aqui também porque o Nyah é mais dinâmico, e assim posso dar continuidade a fic.



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