Meia hora depois, estávamos sentados em uma pequena salinha que ficava logo ao lado do estúdio de gravação.

A sala era simples, porém não deixava de ser elegante. Quando eu fui gravar meu primeiro hit, a mesa de centro não era daquela cor e não tinha aquele grande vaso de azaléias, o que dava um ar de verão para o cômodo. Olhei para a parede que ficava à direita de onde estávamos. Era repleta de fotografias de L.A. Reid com os mais diversos artistas... E, sim, eu estava lá no meio.

Sentei-me em uma das poltronas vermelhas, percebendo que elas eram realmente confortáveis. Suspirei e coloquei um caderninho e uma caneta em cima da mesa. Olhei para Annie, que estava de costas para mim, observando cuidadosamente cada foto. Fiquei prestando atenção, tentando ver qual seria sua reação quando me enxergasse ali. Assim que ela botou os olhos em minha foto, Usher adentrou o lugar. "Droga!", pensei.

- Desculpem, crianças, eu tive alguns imprevistos, porém já estou aqui. Então, onde estamos? - ele perguntou, enquanto fazia um aperto de mão comigo e ia abraçar Annie. Por alguns momentos, queria estar em seu lugar.

- Oi, Usher. Ainda bem que você chegou. Por que você não escreve uma música comigo, ao invés de Justin? - ela apontou para mim, e eu balancei a cabeça, confuso. Usher deu uma risadinha e virou-se para mim, suspirando.

- O que você fez dessa vez, Justin? - abri a boca para explicar-me, porém ele levantou a mão, indicando que não queria ouvir minha voz - Quer saber? Esquece. Annie, mesmo que ele tenha, sei lá, atirado uma bomba atômica na sua casa, você tem que fazer isso com ele. Justin é famoso, todas as rádios  dariam de tudo para uma entrevista com ele, e isso irá nos ajudar bastante. Então, sem reclamar. Vamos lá.

Revirei os olhos e afundei-me na poltrona. Será que ela não percebia? Eu apenas queria voltar atrás, e reparar as coisas. Havia percebido que eu tinha sido um idiota. Agora, eu só precisava que ela aceitasse isso.

- Então, como vamos fazer isso? – ela disse enquanto Usher saía da sala, sentando-se na poltrona que ficava à minha frente, suspirando.

- Bem, como é que se escreve uma música? – Ironizei e senti o olhar enfurecido de Annie sobre mim. Fui um pouco grosso, admito. Talvez efeito da noite em claro que passei. Hm.

- Será que você pode colaborar comigo uma vez na vida, Justin? – Falou alto, e completamente irritada. – Eu sei que você não queria fazer isso, e te juro que eu também não. Sei muito bem compor sozinha.

Ela respirou fundo, e continuou:

- Então, por favor, colabora comigo. Eu quero mais que tudo essa carreira. E se for para atrapalhar, é melhor você tentar não se envolver mais nos meus assuntos.

Aquilo foi um balde de água fria. Balancei a cabeça, tentando processar as informações. Annie continuava me encarando, esperando alguma resposta.

- Tá. – Foi a única coisa que eu disse. Annie concentrou-se em seu caderno com capa florida, arrancando uma folha de lá rapidamente. Escreveu algumas coisas enquanto eu a observava. Annie estava tão cansada de guardar tudo para si, que resolveu falar o que estava sentindo ali.  Essa raiva toda era tudo culpa das idiotices que fiz com ela. Ponto pra você, hein Biebs.

Depois de minutos, estendeu o braço rapidamente sem olhar diretamente nos meus olhos, entregando-me a folha. Peguei rapidamente da sua mão, e ali estava duas estrofes prontas.

It feels like we've been out at sea

So back and forth, that's how it seems

And when I wanna talk you say to me

That if it's meant to be, it will be

So crazy is this thing we call love

And now that we've got it

We just can't give up

I'm reaching out for you

Got me out here in the water

And I

- Eu acho que está ótimo. – Admiti – Você é boa nisso.

[...]

Annie POV

Duas horas e meia.

Eu juro que não sei como consegui me controlar e bater naquele lindo rostinho.

Falar tudo aquilo foi bom para mim. Guardar coisas que você sente por muito tempo é sufocante. E falo isso por experiência própria.

De qualquer forma, o tempo que passamos juntos escrevendo a música foi suficiente para Justin me fazer rir e conversamos sobre coisas que interesse a nos dois. Deve ser por isso que às vezes, tenho vontade de odiar o Justin. Ele sempre vai ser agradável e adorável. É.

- Bom, acho que acabamos. – Sorriu deixando o violão de lado.

- Finalmente! Espero que Usher goste. – Levantei e me espreguicei. Minhas costas doíam agora.

No final das contas, a música se chamava Overboard. Bem minha cara, mesmo. Cantar algo com Justin, falando sobre um amor mal correspondido – ou não correspondido, no meu caso – era irônico.

Justin balançou a cabeça, concordando.

- Ele vai gostar.

Até que o celular de Justin tocou. Tateou os bolsos rapidamente, atendendo o mesmo.

- Oi, Sel.

Revirei os olhos. Claro.

- Não, eu estou no estúdio. - ouvi ele falar no telefone, e revirei os olhos, afundando-me na poltrona. - Eu sei que não te liguei, mas eu estava bem ocupado. - dei uma risadinha. Era como se Selena fosse a dona de Justin - Não, Sel. Fiz um dueto com a Annie. - ele deu uma risadinha e eu fiquei o encarando - Tá bem, amor. Então eu te ligo de novo mais tarde, tá bem? Te amo. Beijo. - ouvir aquilo fez meu coração palpitar, porém eu apenas balancei a cabeça e fingi que estava relendo a música, ao invés de ter escutado toda a conversa.

- Então... Quando vamos gravar? - eu perguntei, sem olhar para ele.

- Hoje mesmo. Daqui umas... três horas.

- Ah, tudo bem. Então vamos para casa e depois voltamos, certo?

- Errado. - ele sorriu e eu olhei para ele - Os produtores ainda vão ter que avaliar a letra da música, então vamos ter que ficar por aqui.

- Isso significa que nós vamos apodrecer nessa salinha durante três horas, não é?

- Ou isso, ou podemos ir em um shopping que fica aqui perto. Deve estar passando algum filme legal no cinema.

- Cinema? - eu balancei a cabeça, e logo levantei-me, pegando minha bolsa. - Tá, tudo bem. Mas vamos logo.

- Ótimo. Vai arrumando as coisas por aí. Eu vou entregar a letra pro Usher e nos encontramos lá embaixo, ok?

Não falei nada. Peguei minha bolsa e saí andando. Passei por Usher e entrei no elevador, sentando-me em um dos banquinhos da recepção. Só então, me toquei que eu estava indo para o cinema. Com Justin. E esse lugar era o palco de muitas cenas românticas, nas séries que eu via. Apenas balancei minha cabeça, afastando meus pensamentos. Eu apenas deveria fingir que me importava. Não só fingir - eu tinha que não dar a mínima. Ou então, eu criaria expectativas e quebraria a cara no final. Como acontecera tantas vezes comigo.

- Então, vamos? - olhei para cima e Justin estava lá. Apenas afirmei com a cabeça, e saímos do estúdio.

O céu estava carregado de nuvens e o tempo estava abafado, o que significava que uma tempestade estava por vir. Sem olhar para os lados, avancei para o asfalto, onde os carros passavam. Apenas ouvi uma buzina, perto o bastante para que Justin segurasse meu braço e me puxasse para trás.

- Seria bom se você olhasse para os lados, ok? Não queremos uma morte aqui. - ele piscou para mim, o que me fez sentir um frio na barriga. Sorri para ele, que entrelaçou seu braço no meu. - Não se solte de mim.

Atravessamos a rua e entramos no shopping. Vinte minutos depois, estávamos dentro da sala de cinema.

- Não acredito que vamos ver um filme de terror, Justin. - eu balancei a cabeça, e cruzei as pernas, o que fez Justin encará-las por alguns segundos - Ei, sobe o olhar, tá legal?

- Desculpa, eu só estava... - ele balançou a cabeça, e deu um meio sorriso - De qualquer jeito, se você sentir medo, pode me abraçar.

Senti minhas mãos começando a suar frio e a tremerem. As coloquei no braço da poltrona, e logo Justin segurou-as, o que me fez tremer ainda mais.

- Ou então, você pode apenas apertar a minha mão. - balancei a cabeça, confusa. Justin me deixava confusa. Em um dia, ele me humilhava e me chamava de fraca. No outro, ele segurava minha mão e dizia que estava arrependido. Eu não conseguia lidar com isso tudo.

Assim que os créditos finais do filme começaram a passar e as luzes acenderam-se, pude perceber que a mão de Justin ainda estava em cima da minha, o que me fez tirá-la de baixo da dele imediatamente. Ele deu um sorrisinho e começou a falar.

- Viu, não foi tão ruim assim. - ele tomou o último gole de seu refrigerante e aproximou-se de mim.

Eu mordi meu lábio inferior, e abri a boca para pronunciar alguma palavra, mas elas não saíram. Seus lábios encostaram-se em minha bochecha esquerda, e eu logo levantei-me e caminhei até a saída, o deixando para trás.

Assim que ele me alcançou, colocou minhas mãos em cima das suas, e percebeu que eu estava tremendo. Ele apenas sorriu, compreensivo, e abraçou-me de lado. Caminhamos até a rua, e como eu havia previsto, um vento forte e gelado atingiu nossos rostos, e as gotas da chuva logo caíram sobre nós.

- Está frio aqui fora. Pega. - então, pude ver ele tirando o casaco e o colocando em cima de mim. Balancei a cabeça, confusa, e sorri de lado.

- Não, Justin, pega seu casaco. Não precisa sentir frio por mim. - ele revirou os olhos e sorriu para mim.

- Eu estou bem. Não reclame. E, vem cá. Tenho que cuidar de você, ou é capaz de um caminhão vir e te arrastar. - dei uma risada, e ele me conduziu até a calçada.

- Ai, meu Deus, é o Justin! - pude ouvir uma menina gritar, com uma voz histérica. Olhei para o lado, e vi que um grupo de garotas estava correndo na nossa direção.

- Pelo jeito o que vai me arrastar são garotas histéricas. - dei um passo para trás, para que as meninas pudessem cercar Justin.

- Olá, meninas. - ele sorriu e abraçou cada uma, tirando fotos e tudo o mais.

- Você está namorando ela, Justin? - uma das meninas perguntou, e ele sorriu de lado. - O que aconteceu com a Selena?

- Não estamos namorando. Somos só amigos. E a Selena está bem, foi continuar a turnê dela. - as meninas foram abraçá-lo mais uma vez. - Bom, meninas, agora eu vou ter que ir embora. Foi ótimo conhecer vocês, mas estou trabalhando em uma música nova.

Depois de muitas lágrimas, risadas, abraços e fotos, finalmente pudemos voltar para o estúdio. Tirei o casaco de Justin, que agora estava encharcado, de cima de mim.

- Obrigada, Justin.

- Não me agradeça pelo casaco. Não fiz um grande esforço. - ele sorriu mais uma vez, e eu engoli em seco. Deus, como ele conseguia ser tão perfeito?

- Não estou agradecendo apenas pelo casaco. Por tudo. Por me ajudar a escrever a música, por aceitar fazer o dueto comigo, por tentar ajeitar as coisas comigo. Eu finalmente percebi que você realmente quer mudar. Você é um cara legal, Justin. Quebra corações, quando quer, mas lá no fundo, você é bom. Fico feliz de ter a oportunidade de te conhecer, sem obrigações. Sem o Chaz ou o Ryan falando para você que eu sou uma perdedora e te obrigando a me humilhar.

- Você também não precisa me agradecer por isso... É como se estivesse falando 'obrigada, Justin, por não me fazer chorar'. Não é algo que eu me orgulhe, então, não vou obrigar você a me agradecer. Eu percebi que o que eu fazia não era bom pra você, e nem mesmo pra mim. Então... sem problemas. - nós rimos, e logo Usher apareceu, atrás dele.

- Achei que a tela do cinema tivesse sugado vocês para dentro do filme. Vamos, ou não vai dar tempo de gravar.