– Ana, você não tem mais nada pra dizer? – insistia Ryan, tocando no ponto fraco de Ana. A jovem, ainda em estado de choque, decidiu responder todo o interrogatório de uma vez.

– Naquele momento que eu vi você beijando a Thaís, eu estava indo te contar que estava grávida de você, Thomas. Naquela semana eu tinha passado mal e fui parar no hospital, recebendo o resultado dos exames. Mas quando vi você e Thaís se beijando, eu realmente achei que estava sendo traída, então não queria que você ficasse comigo só pelo fato de eu ter um filho seu, então resolvi não contar a ninguém sobre isso. Conheci Patrícia, que procurava um antigo amor do Gabriel, que é o filho dela. Ele sempre me amou, mas eu sempre o vi como amigo, mas me ofereceu um grande apoio e quis casar comigo, criando a Lúcia como se fosse filha dele. Lógico que ela sabe que não é, mas o ama como se fosse pai dela.

- Então a Lúcia, aquela garotinha...

- Sim, Thomas. Ela é sua filha. Só você que foi um bestalhão quadrado mesmo pra não perceber isso. Até eu percebi. – afirmava Ryan, revirando os olhos. Se estivessem em outra situação, Thomas teria lhe socado a cara.

- Quando pretendia me contar?

- Isso é uma coisa que a própria Ana devia ter dito. Nós não temos que nos intrometer na vida pessoal dela. E, se você perceber, de um jeito ou de outro, ela teve bons motivos para agir dessa forma.

- E, como nós ficamos agora?

...

Gabriel, após um grito de Camila chamando a sua atenção, despertou e voltou para si, depois de tantas reflexões em seu turbilhão de lembranças e pensamentos sobre toda sua vida.

- Camila, eu não sei o que dizer... É melhor a gente se afastar um do outro. Tá tudo tão bem assim. Justo agora que estou casado com a Ana e achei que estivesse amando ela. Não é justo...

Gabriel se levantou, enquanto Camila, aos prantos, se dirigia ao toalete do local. Bianca, ao escutar seu alto choro, pois o toalete era próximo ao local onde estavam, seguiu a amiga.

- Ei, ei. Fica calma. – e abraçou fortemente Camila. – Agora me conta. O que aconteceu?

- O Gabriel... Ele acabou, de um certo modo, falando que ainda sente alguma coisa por mim mas que não pode sequer pensar nisso porque tá casado e comprometido com a Ana. Você sabe o quanto eu sofri quando aquele casamento aconteceu, não sabe?

...

Todos se assustaram com os gritos de Camila, que corria debulhando-se em lágrimas para o toalete. Bianca foi ver o que estava acontecendo.

- Thomas, o que aconteceu foi passado. Não tenho motivo nenhum pra ter raiva de vocês, mas... Por favor, não vamos mexer no que agora já aconteceu, por favor.

Ana, levantando-se calmamente e caminhando na direção da mesa que se encontrava antes, deixou Ryan, Thomas e Clarice boquiabertos com sua reação. Thomas também tinha se levantado para ir atrás da amada, mas o irmão segurou seu braço.

- Por hoje não, aposto que ela está bem chocada com tudo isso. Outro dia, quando os dois estiverem de cabeça fria, você vai atrás dela.

Ana, chorando, encontrou Gabriel, o abraçando fortemente. Este também tinha vontade de chorar, mas conseguiu se controlar, abraçando a esposa.

- O que houve, querida?

- Vamos para casa, por favor. Eu imploro. Depois eu te conto tudo o que tá acontecendo.

...

Prontos para dormir, Ana e Gabriel sentaram-se na cama de casal, cada um em seu lado. Após se cobrirem, um deitou para cada lado, sem saber que o outro também fazia a mesma coisa.

- Vou tentar amá-la ao máximo possível. Esse casamento aconteceu, não foi de brincadeira, portanto vai ter que durar. Pelo bem da Lúcia. – pensava Gabriel, cerrando os olhos, dormindo.

- Eu preciso continuar amando ele. Não posso deixar o Thomas invadir a minha vida desse jeito. O que vai ser da Lúcia se isso acontecer?

No dia seguinte, que era um domingo, Ana fez de tudo para não ficar em casa. Decidiu passear com Lúcia e Patrícia em um parque de diversões.

O dia bastante recheado de rodas-gigantes, montanhas-russas, trens fantasmas, aviões, carrosséis, tiro ao alvo, minhocão, escorregador e muitos outros brinquedos que marcaram aquele domingo, como geralmente costuma ser tediosamente tedioso.

Ana e Gabriel nem se falaram direito naquele dia. Um estranhava a atitude do outro, porém, não contestaram e foram juntos se deitar, novamente um virando para cada lado.

No dia seguinte, uma segunda-feira, após Gabriel retornar do trabalho, Ana decidiu acabar com todo aquele mistério e chamou o marido para o quarto.

- Gabriel, o que tá acontecendo? Você tá agindo muito estranho comigo ultimamente... – e acariciou o rosto do jovem, completando a frase. – Eu fiz alguma coisa de errado?

- Não, você não fez nada. É tudo culpa minha. Tá legal, eu vou abrir o jogo. Pensei que fosse uma coisa boba, mas não é. Foi uma coisa que mexeu comigo. Um... Um antigo amor da minha juventude apareceu e tá mexendo muito comigo, mas eu prometo que vou esquecer tudo. Você não merece isso, Ana. Nem você nem a Lúcia!

Ana, por um instante, arregalou os olhos e ficou boquiaberta, pois o marido sentia exatamente o que ela estava sentindo, mas não tinha coragem de assumir para si mesma.

- Gabriel... Eu... eu estou sentindo a mesma coisa. Sei exatamente o que você está passando, mas, por favor, já que você já contou uma parte, termina de contar. Vamos terminar isso logo.

- A Camila foi uma amiga minha na faculdade. A gente até ficou por um tempo, mas aí eu conheci a Susana, que mexeu de verdade comigo, e a gente se casou. Depois ela morreu e eu não fiquei com mais ninguém, até me casar com você. Bem, resumidamente, é isso. Agora diga para mim o que tanto te atormenta, pois percebo isso pelo seu olhar.

- O Thomas, o pai biológico da Lúcia, ele tá morando aqui na cidade e é o irmão dessa Camila. Eu descobri que nossa separação no passado foi tudo uma armação e nenhum de nós teve culpa. Ele não me traía como eu achava que tinha me traído e eu não tinha abandonado ele do nada como ele tinha pensado que eu tinha feito.

Após terminar de contar tudo sobre Thomas e sobre o que havia acontecido em sua vida, ambos ficaram um bom tempo em silêncio. Gabriel quebrou esse silêncio.

- Então... acabou?

Ana, sem responder, abraçou fortemente aquele que tinha se tornado seu companheiro por muitos anos e se transformado, de certo modo, em uma das pessoas mais importantes de sua vida.

- Obrigada por tudo, Gabriel. O que aconteceu entre a gente jamais será esquecido!