Loki trancou a porta do seu quarto apressadamente. Sentia seu corpo inteiro tremer.

Deitando em sua cama agora ele mal conseguia se lembrar do que havia sido dito entre os dois.

Por um segundo não conseguiu se lembrar do motivo de ter ficado por tanto tempo sem ver Thor. Mas a realidade trouxe tudo à tona, obviamente.

Com sorte, esses três longos dias seriam tranquilos. Era só manter a calma e principalmente a distância, ele pensou.

Mas logo sentiu vontade de voltar na sala e bater em Thor, perguntar o por quê ele era tão insuportável. Tinha vontade de beijá-lo, de simplesmente esquecer tudo por alguns instantes e sentir seu toque sem se sentir traído ou traidor.

Seu celular tocou. Havia esquecido completamente de Frandal.

– Oie!

– Oi...tá chegando?

– Então, fiquei preso aqui na empresa. Só poderei ir amanhã, no final da tarde. Tá tudo bem?

– Tá sim.

– Então tá, vou entrar numa próxima reunião. Te ligo mais tarde.

– Ok. Até...

Loki andou de um lado para o outro, mas não sabia o que fazer. Tinha vontade de ir embora, não deveria ter vindo para início de conversa.

Teria que enfrentar a maiores de suas maiores fraquezas: Thor.

O tempo e a distância o fizeram de certa forma entender melhor o seu sentimento e o que havia acontecido. Sabia que Thor havia agido completamente errado, mas isso não o fez amá-lo menos.

Estava com Frandal a um bom tempo e havia aprendido a aceita-lo. Os dois se davam bem, mas não havia emoção ou entusiasmo. Não havia loucura, nem grandes planos. Era como se eles andassem em círculos. Em três anos de relacionamento eles haviam terminado algumas vezes e Loki já não sabia mais o que queria.

Sabia que uma hora ou outra teria que lidar com Thor, revê-lo. Respirou fundo quando sua mãe veio chama-lo para o almoço um tempo depois.

Chegando à mesa, avistou Odin e Thor sentados um de cada lado da mesa.

– Oi Loki! Não sabia que havia chegado! Como está, meu filho?

– Oi...estou bem e o senhor?

– Ótimo. E o Frandal?

– Está bem. Ele virá amanhã, à noite. – disse ele tentando não olhar para Thor que o encarava.

– Só amanhã? Bom, pelo menos ele virá, certo? Estou imensamente feliz de estar aqui com os meus filhos. E mais ainda porque um deles foi eleito o melhor aluno do ano.

A mãe de Loki comemorou e Thor perguntou:

– Uau, é sério? Poxa...meus parabéns!

– Obrigado. Não foi nada em especial, eu...

– Como assim, nada de especial? Thor, o diretor da faculdade ligou para nós nos parabenizando. Loki receberá um prêmio na cerimônia de formatura. Meu bebê... – disse a mãe coruja, sorrindo para o filho.

– Sim. Loki é um orgulho. Se tornou um homem inteligente, bom. Assim, como você Thor. Sou muito sortudo. – respondeu Odin segurando a mão de sua segunda esposa.

Loki olhou de relance para Thor que respondeu com um leve sorriso.

O restante do almoço foi tranquilo e repleto de memórias dos quarto sobre momentos inesquecíveis. Os quatro relembraram de momentos engraçados e em certo ponto apenas Loki riu da piada de Thor.

Quando todos terminaram, o mais novo disse:

– Eu lavo a louça. Sempre foi a minha especialidade...- disse Loki limpando-se com o guardanapo.

– Obrigado meu filho. Sua mãe e eu terminaremos a decoração. – respondeu Odin.

Loki saiu em direção à cozinha e Thor o acompanhou.

– Quer alguma ajuda? – perguntou enquanto via Loki ajeitar os pratos na pia e começar a lavá-los.

Loki deu de ombros e continuou a esfregar os pratos de maneira automática.

– Eu enxugo então...- respondeu ficando do lado de Loki que se afastou um pouco. – Parabéns pelo prêmio. Você merece...

Loki apenas sorriu e depois de alguns instantes respondeu:

– Nosso pai se vangloria mais do que eu. Faz sentido já que a maioria de nossos méritos são apenas conquistados por sermos obrigados pelo velho Odin.

– Verdade. – thor sorriu – Mas não é o seu caso. Você sempre foi ótimo na escola...

– Você...não. Nós não precisamos disso. Eu não quero forçar nada, não quero ouvir nada.

– Loki, por favor. Só olha para mim...- disse Thor virando-se para ele. O mais novo jogou os talheres na pia com toda a força e o encarou. – Me desculpe. Me desculpe por tê-lo feito sofrer, por deixá-lo no hotel por causa de uma crise de ciúmes idiota...me desculpe por ter desistido tão fácil...eu tentei entrar em contato com você. Droga, você sabe...você que não quis falar comigo.

– Não sabia que você fazia tanta questão. Afinal nem se despedir você foi capaz.

– Eu fui tão burro, Loki...quando voltei para casa fui conversar com Jane que era a única pessoa que poderia e conseguiria me ouvir.

– Oh, claro. Jane. E ela?

– Ela me disse o que eu já sabia. Que tinha sido burro.

– Sábios. Ok, Thor. Agradeço pela consideração. Três anos depois é melhor do que nunca...

– Eu tentei falar com você, Loki! Que merda...

– Eu também acho uma merda. – concordou o mais novo sem paciência.

– Eu sei que você deve me odiar. Eu me odeio. Só precisava te dizer isso. Não existem justificativas para o que eu fiz. E você querendo acreditar ou não, eu me culpo todos os dias pelo o que eu falei...

– Não foi o que você falou, Thor. Foi o que você me fez sentir...o jeito como você se livrou tão rápido de mim.

– Não! Loki, eu não queria me livrar de você! Eu....droga, você nunca errou? Nunca fez algo que se arrependesse? Eu não sou perfeito! Na época eu não conseguia acreditar que pudesse ser tão feliz! Que você sentia algo por mim...Loki, tudo se encaixava de uma maneira tão...completa. Eu não conhecia isso...eu me assustei. Fui covarde e te magoei...mas me magoei também! – disse o mais velho com seus olhos levemente marejados.

Loki o encarava sério. Por fim respondeu:

– Você escolheu o que era mais fácil, o que era mais cômodo e isso é compreensível. É da natureza humana preferir não se arriscar e ficar na mesmice de sempre ao tentar algo novo, que pode ser maravilhoso. O máximo que pode acontecer é você errar e aprender, Thor. O que não é normal, o que não é certo é você usar as pessoas. Você não podia simplesmente me descartar e mesmo assim o fez.

Os dois se olharam, Loki chorava silenciosamente.

– Me perdoe, Loki. Eu preciso ouvir que você não me odeia...– disse ele se aproximando.

– Você não o direito de exigir nada...

Thor o puxou pelo braço e segurou seu pescoço de maneira leve. Loki começou a chorar enquanto o mais velho o encarava e passava os dedos lentamente por sua garganta.

– Eu sei que não. Mas mesmo assim, exigo. Exigo porque eu sou egoísta e eu sofro sabendo que existe alguém que tem a honra de te tocar, de estar com você. Droga, Loki. Você superou tão rápido...

– Você não tem o direito de falar nada sobre o meu relacionamento.

– Eu sei, eu sei...- respondeu fechando os olhos.

– O que você fará? Me beijará a força e pedirá que eu espere você decidir o que quer, como da última vez? – questionou enquanto os dois se encaravam novamente – Quer saber o que eu sinto por você? Muita pena.

– Pena? Acho que é melhor do que ódio...mesmo assim não existe motivo para eu tentar beijá-lo. Mesmo querendo, não acredito que nesse caso irá adiantar...

Loki tirou com força as mãos de Thor e limpou rapidamente seu rosto. Suas lágrimas representavam o que realmente sentia e ele ficou com medo do mais velho perceber.

Thor não soube como reagir e apenas assistiu o mais novo se afastar nervoso da cozinha.