Datherine Forever escrita por Martina Santarosa


Capítulo 15
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Oie gente! Feliz ano novo!!
Aqui mais um capítulo! Espero que gostem!
Ah, dedicando esse capítulo a Baby Pierce Salvatore que ficou me incentivando a continuar e a minha amiga Luiza Fernanda que me ajudou a ter ideias pro capítulo!



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Ligo o chuveiro e um jato gelado atinge minhas costas com força. Reclamo baixinho mas permaneço ali parada, a  água aquecendo lentamente até o banheiro todo estar tomado por uma espeça camada de vapor. Não me mexi, esperando que o banho quente relaxasse meus músculos doloridos de estresse. Estava cansada, irritada e de ressaca. Pela primeira vez em muito tempo não sinto aquela guerra dentro de mim. Sinto apenas raiva, e isso esmaga qualquer outro sentimento que se passe por mim.

Sempre tive um temperamento irritadiço e rancoroso, e como vampira isso se amplificou em proporções épicas, fazendo que minhas crises de raiva chegassem a durar décadas e que eu me vingasse dos jeitos mais cruéis que consegui pensar.

Encho minha mão com um shampoo que há no banheiro de Klaus e enquanto esfrego o cabelo um cheiro delicioso invade minhas narinas e inalo profundamente, me deleitando e quase relaxando. Procuro a embalagem. É de maçãs argentinas, meu preferido. Como ele sabia? Jogo a cabeça em baixo do chuveiro enxaguando aquilo rapidamente. Não quero correr o risco de ter qualquer pensamento gentil em relação a Klaus.

Termino o banho sem me demorar muito e ao sair praguejo ao tentar encontrar uma roupa e me dar conta de que não estou em “meu” quarto. Me enrolo em um roupão pendurado na porta. Tem o cheiro de Klaus. Em poucos segundos já estou em meus aposentos e me livro da roupa dele, a sensação gostosa do tecido macio em minha pele recém-lavada já estava me perturbando.

Escolho uma calça preta, uma bota de salto e uma blusa justa azul-marinho. Pacientemente seco meu cabelo e ajeito os cachos. Me encaro no espelho e dou um sorriso satisfeito. Gosto do que vejo, e por um momento uma revelação pesada e estranha faz com que eu tombe a cabeça para o lado e examine a imagem do espelho. Já faz tanto tempo que não me sinto bem comigo mesma que nem me lembro a ultima vez que meu reflexo me agradou.

Giro em meus calcanhares e começo a caminhar pela casa. Reparo e gravo todas as câmeras de segurança e tento achar possíveis saídas. Eventualmente encontro algum segurança por certos cômodos. Tenho que admitir que em alguns momentos me sinto perdida, até que acho a porta que dá para o escritório de Klaus. Giro a maçaneta. Trancado. Um guarda surge na extremidade do corredor e me encara descaradamente. Tem um rádio no ouvido e uma arma na cintura, com certeza carregada com balas de madeira. Reviro os olhos mentalmente. Mesmo estando apaixonado por mim, tenho certeza que Klaus me mataria se saísse de mais da linha. Aquele bastardo nunca vai realmente saber o que é amar.

E você sabe? Me assusto com o pensamento idiota.

Continuo minha busca e encontro uma escada para o subsolo que ainda não conheço. Desço com cautela os degraus, e quando adentro no local as luzes se acendem automaticamente, revelando duas fileiras compridas de carros de luxo estacionados lado a lado no pátio, com uma grande rampa que leva a um portão ao fundo. A minha direita um tipo de cofre onde deduzi estarem guardadas as chaves e o controle do portão. Ao me aproximar noto que a chave para destrancar o cofre é uma gota de sangue. Franzo o cenho, já listando mentalmente o que devo fazer e pensando em um plano.

Damon!

O nome me vem tão alto e forte que encolho o corpo como se tivessem acabado de grita-lo em meu ouvido. Tinha evitado pensar nisso desde que acordei essa tarde, ocupando todo o meu tempo com a crescente raiva de Klaus e um plano para sair daqui, mas, sim, tenho ele, e por mais que não sinta aquele mar de sentimentos balançando e criando altas ondas dentro de mim, sei que não posso deixa-lo para trás, pois essas emoções não desapareceram, estão apenas encobertas por uma espeça nevoa de raiva e frustração, e quando essa nevoa se dissolver e tudo vier a tona, o arrependimento de tê-lo deixado vai ser a gota d’agua, irá acabar de vez comigo.  O problema é que não sei como encara-lo, o que fazer com essa situação ou como lidar com o que houve na noite passada.

Ah, noite passada... Bem, antes do final trágico, posso dizer que foi incrível, inesperadamente mágica. Quando iria imaginar que aquela conexão ainda existia entre nós? Mordo o lábio para tentar conter o largo sorriso que preenche minha expressão, contagiando meus olhos e corando minhas bochechas assim que começo a me lembrar dos beijos, do corpo dele sobre o meu, das carícias...

E então consequentemente minhas lembranças pousam com a leveza de uma pancada sob os gritos de dor e a voz entrecortada dele me mandando em bora, e no mesmo instante meu sangue ferve de raiva e deixo que um longo suspiro de frustração escorra de meus lábios. A vida simplesmente não é justa, e mesmo sabendo disso a muito tempo não consigo evitar de ficar transtornada toda vez que me deparo com esse fato.

Deixo a garagem e decido falar com Damon, mas sem tocar no assunto da noite passada. Poucos segundos depois já estou no comprido e estreito corredor que leva que leva ao quarto dele. Há quatro quartos, que suponho serem exatamente iguais, todos na extremidade desse corredor, e não há nenhuma janela ou saída próxima. Me apresso, pois a falta de espaço e a iluminação muito forte, do tipo que te faz serrar os olhos, com luzes em um tom estranho, como um violeta, me deixam tonta e asfixiada. Percebo que, com todo o nervosismo de ontem, mal notei esses detalhes berrantes.

Damon está sentado na cama. A cabeça baixa e uma bolça de sangue meio tomada nas mãos. Mentalmente suspiro, e por um segundo me parece que é tudo o que venho fazendo. Mesmo estando irritada me permito um minuto para admirar aquela beleza estonteante que se projeta a minha frente.

– Aqui pode ser muito entediante às vezes. Quase me faz sentir saudades das torturas – a voz dele é baixa e clara, e me recosto na porta fechada atrás de mim, sorrindo com malicia.

– Bem, podemos dar um jeito nisso se você quiser – ele levanta o rosto e encara meu sorriso. Aponto levemente com a cabeça em direção ao corredor. – Posso buscar alguns chicotes e algemas, se você quiser – dou de ombros, como se estivesse sugerindo o que preparar para o almoço.

Ele me lança um delicioso sorriso de lado, curvando os lábios de uma maneira teatral e sexy que me faz querer pular em cima dele e desmaiar ao mesmo tempo. Mas tão rápido como vem o sorriso se desfaz, sendo substituído por uma estranha expressão. Culpa?

– Katherine, – ele fita o chão mais uma vez, a cabeça levemente pendendo, e enquanto ele expira ruidosamente eu prendo a respiração – sobre a noite passada...

– Oooou – o interrompo, prolongando o “ou” até silencia-lo. Não quero falar sobre a noite passada. Não quero correr o risco de vir a sentir a dor que me corroeu durante toda a madrugada, quando finalmente desmaiei na cama, após ter bebido tanto que as lágrimas em meu travesseiro tinham gosto de vodca. Não, definitivamente não quero recordar, então me foco em meus novos objetivos. – Podemos arranjar um jeito de sair daqui, assim você não ficaria entediado.

Sorrio, mas meus olhos não acompanham o movimento. Tento andar pelo quarto, mas é muito pequeno, impedindo que eu faça algum esforço significativos, então paro na frente da cama e cruzo os braços.

– Bem, acho que sei como podemos sair. Há uma garagem, tudo o que precisamos é de uma interrupção nas câmeras de segurança e uma amostra se sangue de Klaus – Damon agora está atento, me encarando com aquela expressão que já conheço tão bem, aquela que usa quando está armando um plano. De um lugar fundo do meu cérebro uma voz insistente e melodiosa sussurra que pela primeira vez esse olhar trabalha em conjunto ao meu, não contra mim, e me controlo para não sorrir.

– E é claro que isso você consegue, agora que vocês dois são tão íntimos – o comentário sarcástico me assusta, pois nunca me passou pela cabeça que ele soubesse algo sobre Klaus e eu, e parte de mim se sente encolhida e envergonhada. Quebrei meus princípios, literalmente dormi com o inimigo, e por mais estupida que a ideia possa ser, sinto como se de alguma maneira tivesse traído Damon.

– Então a única coisa com a qual temos que realmente nos preocupar é com o fato de você estar hipnotizado – decido ignorar seu comentário e a parte magoada do meu coração e me agarrar aos fatos concretos, ao que não me machucam. – O que ele disse exatamente quando te hipnotizou? Talvez tenha uma brecha, algum jeito de te tirarmos desse lugar...

– Eu posso sair – ele lança de repente, revirando os olhos para a minha expressão perdida. – Ele não me hipnotizou para não sair desse quarto ou da casa. Não estou exatamente preso aqui. Não desse jeito pelo menos.

– O que? – A confusão se instala no meu cérebro já perturbado, acabando de vez com o pouco de sanidade que me restava. – Você não foi hipnotizado? – Ele nega com a cabeça. – Então, ontem a noite... – me interrompo, lembrando a mim mesma que não devo seguir por esse caminho. – Então porque não sai? – Agora estou indignada.

– Bem, ele não podia usar a hipnose, meu corpo estava cheio de verbena depois das torturas, e acho que ele nem pensou nisso antes, provavelmente estava certo que ia me matar. Na verdade, não sei ainda porque não matou – ele me lança um olhar furtivo, porém intenso, e sou obrigada a encarar minhas botas até que ele volte a desviar o olhar pelo resto do quarto. – Então ele me deixou nesse lugar, sem meu anel – ele balança a mão onde deveria estar o anel de lápis-lazúli. – As luzes desse corredor emitem raios ultravioletas muito fortes, capazes de fritar em vampiro em pouco tempo. E, não sei se você notou, mas é um corredor muito comprido!

Sei que não deveria, que o que estamos discutindo é realmente serio, mas jogo minha cabeça para trás e rio. Uma risada alta, comprida, nervosa, triste. Lágrimas pesadas e quentes se formam no canto dos meus olhos, e limpo com as costas da mão à medida que escorrem por meu rosto. Damon me olha quieto, com uma expressão divertida no rosto, um fascínio velado, e simplesmente não consigo parar de rir. Tenho medo que se tentar parar, a gargalhada se transforme em soluços.

Depois que minha barriga dói tanto que tenho que me curvar sobre mim mesma e abraça-la para evitar a cólica, encaro Damon, com a expressão mais seria que consigo formar.

– Bem, você não foi hipnotizado... – Não sei entender ser isso é bom ou ruim. Respiro fundo. – Isso já é um começo, facilita as coisas. Vamos achar um jeito, em breve – sorrio, tentando ser positiva, mas nunca fui boa com isso, em dizer “vai ficar tudo bem” sabendo que não vai. Então desisto e caminho até a porta.

– Eu não fui hipnotizado dessa vez.

A voz dele me atravessa, como um raio de luz branca. Algo que dói, mas trás esperanças. Quando acordei hoje tive certeza que ele estava hipnotizado, que ele ter me rejeitado foi apenas efeito da compulsão de Klaus. E por um minuto, eu quase quebrei. Ele não podia usar a hipnose. Damon não me queria, havia se arrependido. Mas a ultima frase me aquece, faz com que meu corpo se vire automaticamente e meus olhos grudem nos dele.

– Quando eu fui trazido aqui, na tarde antes de você me encontrar, Klaus passou horas me torturando e falando sobre você. No começo não entendi, mas ele estava obcecado, louco de ciúmes. E foi ai que me hipnotizou – fecho os olhos. Aquelas palavras são quase tão boas quanto os beijos. Sempre tive a estupida mania de me apaixonar por palavras mais do que por pessoas. Ouço quando ele se levanta, sinto-o se aproximar. – Eu achei idiota, um monte de besteira sem sentido. Eu te odeie por um momento – ele está tão perto, as palavras em meu ouvido, e tudo que posso fazer é me agarrar a elas, pois mesmo que doam, são tudo que eu tenho. – Era por sua culpa que eu estava sendo torturado, mesmo sem entender por que.

Caminho para trás, sem coragem de abrir os olhos, com medo do que possa encontrar. Damon me acompanha, se mantendo a milímetros de mim, dificultando minha respiração.

– Mas agora... – os dedos dele suavemente contornam os traços do meu rosto. – Ah, Katherine... Eu sei o jogo que você está jogando. Eu já vi antes, já participei – mordo o lábio. As palavras começam a se embaralhar, me sinto tonta e não tenho mais certeza do que estou ouvindo. – E o pior de tudo, é que você me faz querer jogar de novo. Mesmo já tendo provado todos os efeitos colaterais, as sequelas pós-traumáticas. E, meu deus, nunca pensei que fosse dizer isso, mas eu entendo o Klaus. É esse efeito que você causa nos homens, é isso que você causa em mim.

Sinto que minhas pernas vão falhar. Sinto toda a energia se esvair de meu corpo e se tornar um campo de contenção em volta de nós, nos prendendo ali, apenas eu, Damon e aquelas palavras suspensas no ar. Não preciso de mais nada. Noto que ainda prendo a respiração, mas temo que se eu me mexer, mesmo que por um segundo se quer, esse momento se parta, despenque no chão como um estrondo.

– E, sabe – ele continua sussurrando em meu ouvido, provocando choques em minha coluna – acho que eu devo me sentir grato a Klaus.

Hesitamos, os dois ao mesmo tempo. Acho que ele espera minha reação, mas não entendo, não quero entender o que ele diz.

– Assim eu não caio em tentação, e não corro o risco de ter você se infiltrando lentamente nos meus pensamentos de novo – o tom dele é divertido, e sei que aquele momento acabou. Bem, provavelmente não tenha nem existido, mas eu senti aquela conexão. Talvez estivesse tão desesperada para que acontecesse que eu a criei sozinha, apenas uma ilusão.

Abro os olhos e fito aquele olhar que tanto me fascina. Me sinto como quando era humana e eu e minha irmã deitávamos no campo atrás de nossa casa para olhar o céu, que no inverno era de um azul tão límpido e pálido que me hipnotizava, me fazia sentir como se fosse apenas esticar o braço e começar a nadar, um mar se estendendo até o horizonte sobre nossas cabeças.

– Nunca se deve confiar em uma vadia egocêntrica, certo? – Ele revira os olhos dando de ombros, um sorriso sarcástico nos lábios. Provavelmente pronunciar aquelas palavras deveriam fazer com que eu me sentisse mal, mas de alguma maneira estou tão entorpecida pela raiva remanescente e pela desilusão que minhas palavras soam distantes, sem muita importância.

Mas então tudo volta a brilhar com um simples movimento. Damon se aproxima e sela nossos lábios em um beijo rápido, rápido de mais até para que meu coração processe. Ele não se afasta, nos separando apenas o suficiente para que possa sussurrar em minha boca.

– É, não se deve, mas eu estou confiando. E sei que não vou me decepcionar.


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Notas finais do capítulo

Ah, esse foi mais fofinho, não foi?
Bem, espero reviews, vi essa frase em uma nota de uma fic e achei muito legal:
"Ministério da saúde adverte:
A Falta de review faz autores entrarem em depressão e pode leva-los a parar ou até mesmo excluir suas historias . Então colaborem."
xoxo