Mal me despedi de Jaqque e Val, corri o máximo que consegui até avistar Frank sentado em um dos bancos na entrada. Olhei para a rua e notei que já estava completamente escuro. Me perguntei o quanto já havia perdido. Assim que Frank notou que eu estava me aproximando, para dizer melhor, correndo, me olhou surpreso. Ele me fitara de forma rápida da primeira vez, depois desviara o olhar para a revista que estava lendo. Mas depois, quando pareceu realmente notar que se tratava de mim, voltou o olhar para mim e arregalou um pouco seus olhos. Acho que ele quase não me reconhecera.

Cheguei até ele já ofegante, saira em disparada. Estava com os sapatos nas mãos e uma bolsa bege que Val deixara reservada para mim.

- Frank... Por favor, me leve para o teatro, agora! Perdi o horário e se não chegar lá à tempo, Claire me mata! - digo desesperada.

Frank se levantou e segurou meus braços, como se fizesse sinal para eu me acalmar. Seus olhos passeavam por mim, eu estava sentindo isso. Mas aquele não era o momento certo para elogios. Eu estava muito atrasada.

- Nina, calma. Meu motorista está aqui, eu estava só esperando você chegar. Também não havia notado que já era tão tarde. Mas onde é o teatro onde Claire vai se apresentar? - ele perguntou ainda olhando em meus olhos.

Foi então que me dei conta de que não sabia onde era. Claire possivelmente me falara uma vez ou outra, mas naquele momento, eu não fazia a mínima ideia de onde era. Era só o que me faltava!

- Eu... não... sei. - digo com uma vontade horrenda de chorar.

Frank franziu o cenho como se não conseguisse acreditar.

- Certo, mas pelo menos sabe qual peça ela vai encenar? - ele perguntou arrumando o cabelo.

- Na verdade é um musical, Sonhos de uma Noite de Verão. Uma adaptação de Shakespeare. - disse eu pensando que talvez ainda ouvesse uma saída.

- Menos mal. Agora vamos, Alfred deve saber onde é, ele gosta de programas assim. - Frank disse agarrando minha mão e me levando até o lado de fora, onde aquele mesmo carro que me trouxera, estava estacionado.

Assim que coloquei os pés do lado de fora daquele SPA, notei os efeitos de tudo o que Jaqque e Val fizeram comigo. Todos que estavam na rua me olhavam surpresos. Alguns cochichavam, outros apenas olhavam. Me perguntei se era daquele jeito que Frank se sentia. Eu mal conseguia pensar com tantas pessoas olhando para mim daquele jeito. Entramos no carro e agradeci por ele ter os vidros completamente escuros. Suspirei aliviada.

- A propósito, você está linda, Nina. É provavelmente a mulher mais linda que já vi. - Frank disse assim que o carro começou a andar.

Sorri para ele um tanto envergonhada e lhe dei um beijo de leve. Foi o suficiente para que seus lábios ficassem tingidos de vermelho, graças àquele batom que estava em meus lábios. Abri a pequena bolsa de mão e comecei a procurar algo de útil ali dentro, enquanto Frank conversava com seu motorista. Pelo que consegui entender, ele sabia onde era o teatro. Minha situação melhorara um pouco agora.

Só não conseguia entender como aquela pequena bolsa poderia guardar tanta coisa. Encontrei um batom vermelho, na mesm tonalidade que se encontrava em meus lábios. Um rímel pequeno, lenços, um pequeno pente e até mesmo absorvente. Achei isso incrível, pois se fosse minha obrigação pegar tudo o que precisaria, provavelmente esqueceria de algo importante. Peguei o batom e vi que, em sua tampa, havia um pequeno espelho, e isso facilitava na hora de passá-lo. Retoquei o que havia saído e o guardei de volta na bolsa.

Não havia pegado meu celular, e também não estava com relógio, mas tinha uma noção de que não era cedo. Poderíamos ter chegado antes, se não fosse por um congestionamento terrível. Praguejei mentalmente o caminho inteiro. Estava torcendo para que o ator que fosse interpretar Oberon, rei dos elfos, quebrasse a perna e a peça tivesse que ser transferida para outra data. Na verdade, qualquer coisa que acontecesse para que a peça se atrasasse seria bom para mim. Não queria que Claire se zangasse.

Assim que Alfred estacionou, sequer esperei Frank. Corri, agora já de sapatos, até o interior do teatro. Não me barraram na entrada, isso não era um bom sinal. Avistei muitas pessoas conversando do lado de fora. Não havia nem sinal de Peter ou Charlie. Vários cartazes anunciavam o musical, que por sinal era muito bom. Entrei no auditório e me deparei com minha amiga, de longe, conversando com alguém. Senti meu peito apertar, havia realmente perdido a estréia de Claire.

Caminhei com pesar até ela. Claire estava usando um roupão, estava com os olhos bem maqueados e cheios de brilho. Seus cabelo estava preso num coque todo enfeitado com flores. Ela provavelmente havia ficado linda de Titânia. Meus olhos começaram a acumular lágrimas assim que os olhos de Claire pararam em mim. Seus pequeno sorriso se desfez. Ela murmurou algo para o homem, que parecia ser o diretor, e cruzou os braços, como se estivesse esperando uma explicação.

Assim que cheguei perto dela, notei que Claire não me parecia nem um pouco feliz. Na verdade, ela me encarava de forma assustadora.

- Claire, me desculpa, eu... perdi o horário. Juro que eu realmente queria estar aqui, te ver arrasar em cima deste palco, mas sabe como eu sou, não é? Eu simplesmente cochilei por algum tempo e, quando me dei conta, já havia passado do horário. Espero que me perdoe, juro que não foi por querer. - digo tentando impedir minhas lágrimas de caírem. Mesmo porque, não poderia estragar aquela maquiagem que tanto custou para ser feita.

- Eu não entendo, Nina, juro que não entendo. Peter deixou um bilhete e você sabia o quanto isso era importante para mim. Onde foi que só chegou agora? Sabe o quanto seu irmão ficou preocupado quando viu que não tinha ninguém em casa? Se fosse sair, que saísse, mas pelo menos avisasse Peter. Charlie tentava acalmá-lo o tempo todo, mas não funcionou muito. E... - Claire pareceu querer continuar, mas apenas suspirou e abaixou a cabeça.

Eu a havia decepcionado, e muito. Me senti a pior pessoa do mundo. E justo com quem tenho que escorregar, justo com Claire. Justo ela que tanto me ajudou, e ainda ajuda. Por que tenho que ser assim? Me perguntava quando aprenderia à ter mais responsabilidade, e quando ficaria menos atrapalhada.

- Depois eu converso com Peter. Mas escute, Claire, Frank chegou de surpresa e me levou...

- Ah claro, Frank. Me esqueci que agora você tem um galã só para você. Posso não ser a pessoa mais correta do mundo, Nina, mas sei muito bem que primeiro vem a amizade, e depois outros sentimentos. Sinto muito que sair com Frank tenha sido melhor do que assistir minha peça. - Claire disse com rancor.

Aquilo atingiu meu coração como uma flecha. Eu havia mudado? Seria isso mesmo? Me perguntava se eu, Nina, estava me comportando de maneira diferente só por... Frank. Uma pequena lágrimas caiu, e eu não me preocupei em limpá-la. Mas Claire não sabia da história toda. Eu estava disposta à vê-la, realmente estava. Infelizmente, por discuido meu, eu perdera a hora. 

- Claire, por favor me escute... - tento dizer.

- Desculpa, Nina. Mas acho que não temos mais tempo, tem alguém esperando por você lá nos fundos. - ela disse se virando - Ah, e se eu fosse você, ficaria de olhos abertos, porque quem mais te ama, é aquele que você menos imagina. - dizendo isso, Claire subiu no palco e desapareceu me meio às cortinas.

Senti mais lágrimas encorrendo. Limpei algumas, tentando sempre não borrar minha maquiagem. Mas de que adiantava tar a maquiagem sempre perfeita se a minha vontade naquele momento era de chorar? Não queria ter que ficar sorrindo para todos e fingindo que estava feliz. Queria mesmo era me trancar em meu quarto e chorar até dormir. Me perguntei pela primeira vez se queria mesmo ir até aquela premiere idiota. Talvez fosse melhor voltar para casa e me desculpar com todos.

E ainda tinha aquilo que Claire havia me dito, "... se eu fosse você, ficaria de olhos abertos, porque quem mais te ama, é aquele que você menos imagina". Não sabia ao certo do que ela estava falando, mas sentia que estava perto de descobrir.

Já não havia quase ninguém no auditório, achei melhor sair logo dali e falar para Frank que quer queria ir para casa. Me virei e acabei esbarrando em alguém. Quando fui me desculpar, notei que esse alguém era conhecido. Até demais eu diria. Charlie estava muito bem arrumado. Usava um blaiser e uma camisa com dois botões desabotoados, o que lhe dava um toque informal. Não queria que ele descobrisse que Claire e eu havíamos brigado, então logo esbocei o melhor sorriso que consegui. 

Mas Charlie não disse nada, estava apenas me olhando. Senti meu rosto corar assim que notei que ele não conseguia desviar seu olhar de mim. Ele levava consigo um enorme buquê de flores, provavelmente para Claire. Me perguntei o porquê de também não conseguir me desviar de seu olhar. Eu queria me mexer, mas algo me impedia. Senti meu coração bater mais forte, e nem sabia porquê. De repente, só conseguia enxergar aqueles dois olhos castanhos que eu tanto conhecia. Abri a boca diversas vezes para dizer algo, mas nada saía. 

Mas por que? Por que, de repente, Charlie começou a exercer esse efeito sobre mim? Não sabia ao certo, mas sabia que, vê-lo lindo e arrumado daquele jeito me pareceu algo novo. Nunca o vi tão bonito.

- Você está... linda. - Charlie disse, ainda olhando em meus olhos - Não que você não seja linda, mas é que assim... toda arrumada e maquiada... Ficou bom. Você nunca se arruma tanto, nem se maquea tanto. Não que eu fique reparando, eu só... te olho de vez enquando e, caramba, moramos na mesma casa então não tem como eu não reparar... Hã...

Não me restou alternativa senão rir de Charlie. Ele estava corado, e todo atrapalhado. A cena foi fofa, pelo menos ele conseguiu me arrancar um sorriso.

- Obrigada, Charlie. - digo sorrindo novamente.

- Então, por que você não veio? - ele perguntou arrumando o cabelo.

- Longa história, quando chegármos em casa eu conto. - eu disse certa de que não iria mais para nenhum outro lugar.

- Mas e a premiere?

- Não vou mais. Briguei com Claire e, sinceramente, não estou com cabeça para isso.

- Não? Como não? Você passou a semana toda falando dessa bendita premiere, e agora diz que não vai? Nina, eu sei o quanto você quer ir. E sei que estará indo com Frank, o que quer dizer que sua noite pode não ser tão... ruim. - Charlie disse com tanta certeza que me senti um pouco mais animada.

- Mas Claire...

- Não liga pra Claire, sabe que ela tem seus ataques. Anda, corre lá, eu vi Frank  parado do lado de fora. E se divirta, Nina. - ele disse me dando um sorriso.

Com aquele pequeno gesto, senti que poderia sorrir também. E foi o que fiz. Sorri para Charlie da melhor forma possível. Ele não conseguiria imaginar o quanto estava agradecida. Me senti sortuda por ter alguém como Charlie do meu lado. Chego a pensar no que seria de mim se não o tivesse por perto. Pra mim, era como se já não fosse possível deixá-lo. 

- Obrigada, Charlie. Por tudo. - digo e logo em seguida lhe dou um beijo em seu rosto, deixando uma marca vermelha em sua bochecha esquerda.

Sorri uma última vez e subi, deixando Charlie parado em pleno auditório. Um pequeno sorriso escapou de meus lábios, me senti tão boba naquele momento. Mal sabia explicar o porquê de estar sorrindo. Charlie era incrível, só conseguia pensar isso. Meu segundo irmão.

Assim que saí do teatro, avistei Frank parado do lado de fora com uma touca verde que cobria toda sua cabeça. Achei que ele ficara engraçado, mas fora apenas para que as pessoas não pudessem identificá-lo. Encontrei com ele e seguimos, não me preocupei sequer de mencionar minha briga com Claire ou o encontro com Charlie.

E este, não sabia ao certo porquê, não saía da minha cabeça.