O clima em casa estava estranho. Peter apenas tomava café, Claire ia ensaiar apenas mais tarde, já que seu papel já estava quase todo pronto. Charlie mal havia tocado na comida. E pelas suas olheiras, deduzi que não havia dormido nada noite passada. E eu? Bem, primeiro acordei atrasada e apenas troquei de roupa. Comi o mais rápido que pude e fui pegar meu ônibus para a faculdade. No caminho, revisei minha bolsa para ter certeza de que não havia me esquecido de nada. Como já tinha arrumado a bolsa antes de ir viajar, estava tudo ali.

O ônibus estava lotado, então tive que me contentar em ir de pé. Eu estava com sono, para ser sincera. Aquela história de "seguir seu sonho" havia mexido comigo. E, por alguma razão, eu não conseguia parar de pensar sobre o assunto. Durante todo o percurso, me perguntava como seria meu primeiro dia. E como seria no dia em que eu me formasse.

Não demorou muito para que o ônibus parasse. Desci e contemplei minha nova faculdade. Era grande, e parecia ser cara, para pessoas, ao contrário de mim, que pagavam a mensalidade. Arrumei a bolsa em meu ombro e passei pelo enorme portão prateado. Haviam muitas pessoas em volta, conversando, rindo, isso queria dizer que a aula ainda não havia começado. Estava um tanto nervosa, não conhecia ninguém e nunca fui boa em fazer amigos. Provavelmente ficaria boa parte do primeiro semestre sozinha.

Adentrei naquele enorme lugar e procurei pela secretaria. Assim que passei por uma janela espelhada, notei o quanto meu cabelo estava terrível. Devo ter me esquecido de penteá-lo. Dei uma leve ajeitada com as mãos e segui. Assim que encontrei a secretaria, entrei e peguei meus horários com uma moça de cabelos castanhos que parecia ser simpática. Olhando os papéis, vi que minha sala ficava no bloco C, número 18. 

Depois de tanto rodar pela escola, encontrei a sala. Para minha sorte, o professor havia acabado de chegar. Sentei-me na única cadeira vaga da primeira fileira e ali fiquei até a aula acabar. Já no primeiro dia, tínhamos muita coisa. Coisas que eu nunca poderia imaginar. Claro, para ser uma arquiteta, era primeiro ter alguma noção de engenharia. Meu dia se resumiu a isso. Apenas aulas de introdução. As pessoas pareciam ser legais, apesar de não terem me dirigido uma palavra sequer. 

Senti que meu dia passou rápido no final. Peguei vários livros na biblioteca para poder estudar mais tarde. Infelizmente, assim que peguei todos os livros, notei que não estava com vontade nenhuma de ler aquilo. Apesar de sempre ter me esforçado bastante, naquele dia não estava com a mínima vontade de ler. Não livros sobre arquitetura.

- Se quiser um conselho, o livro "Arquitetura e Grécia antiga", é muito bom. - uma voz doce disse por trás de mim.

Me virei rapidamente e dei de cara com uma garota de cabelos e olhos castanhos. Me recordava dela vagamente. Talvez fôssemos da mesma sala. Ela usava uma saia xadrez, uma blusinha branca, e um casaco por cima. Ao contrário de mim, estava elegante. Eu havia vestido calça, tênis e uma camisa xadrez de flanela. Seu cabelo estava perfeitamente liso, e ela tinha pouca maquiagem no rosto. Não quero nem comentar o estado que meu rosto se encontrava. A garota me pareceu ser uma boa pessoa.

- Hã... Obrigada. - digo dando um sorriso de leve.

- Somos da mesma sala, certo? Meu nome é Melissa. - a garota disse estendendo a mão.

- Meu nome é Nina. - digo apertando sua mão de leve.

Melissa sorriu e logo soltou minha mão. Ela também parecia estar pegando livros para estudo. 

- Você não é daqui, é? - ela me perguntou arrumando dois livros que estavam em seus braços.

- Não, eu vim de Centerville, Texas.

- Já devo ter ouvido falar. 

Nossa conversa se resumiu apenas à isso. Assim que peguei todos os livros, me despedi de Melissa e corri até alcançar o pátio. Precisa correr, senão perderia o ônibus. Assim que estava quase saindo, senti meu celular vibrar. O peguei rapidamente e vi que era uma mensagem de Claire.

"Não vou ensaiar hoje, então teremos o dia todo para escolher seu vestido"

Respondi:

"Estou saindo da faculdade"

Nesses poucos segundos que fiquei com os olhos presos no celular. Meu ônibus chegou, pegou as pessoas que precisava pegar, e saiu. Só me dei conta disso quando o vi longe. "Merda!" xinguei mentalmente. Não daria para voltar para casa à pé, era muito longe. E eu não podia ligar para Peter vir me buscar, ele com certeza estava trabalhando. E não tinha como Charlie vir também, já que só tínhamos um carro.

Por que essas coisas tendem sempre à acontecer comigo? Passei as mãos nos cabelos tentando me acalmar. 

- Será que alguém precisa de uma carona? - uma voz grave sussurrou em meu ouvido.

Me virei rapidamente e dei de cara com um homem de boné dos Yankees que eu conhecia bem. Usava também óculos escuros para, provavelmente, não atiçar as várias garotas que estava ao nosso redor. Tenho que confessar que Frank me deu um pequeno susto, mas fiquei feliz ao vê-lo.

- O que está fazendo aqui? - perguntei olhando em volta, tentando ver se alguém o reconhecera.

- Vim buscar você. Na verdade, acho que no fundo sabia que você perderia o ônibus. - ele disse dando risada.

Lhe dei um leve soco em seu ombro. Frank apenas deu mais risada e me puxou pela cintura. Mas eu o interrompi assim que seus lábios quase tocaram os meus.

- Aqui não, não quer me deixar mal logo no primeiro dia, não é? - digo rindo.

Frank deu um sorriso e me puxou pela mão. Corremos até uma das ruas mais afastadas. Ele me levou até um carro vermelho que estava estacionado próximo dali. Me perguntei quantos carros ele tinha. 

- Vamos, tenho que buscar uma coisa. - Frank disse abrindo a porta para mim.

- Que coisa? - pergunto antes de entrar no carro.

Frank deu a volta pelo carro e entrou, e se sentou no banco do motorista. 

- Você vai ver. - disse e me deu um selinho.

Assenti e coloquei o cinto. Não sabia para onde Frank estava me levando, mas não me preocupei muito com isso. Apenas encostei a cabeça na janela do carro e fiquei observando a paisagem. Até notar que meus olhos pareciam pesar mais do que normalmente pesavam. Eu lutava para mantê-los abertos, mas o sono estava cada vez maior. Assim, logo me dei por vencida e os fechei, caindo num sono minutos depois.

Só acordei quando senti algo me meu pescoço. Fazia cócegas, e estava muito bom. Abri os olhos devagar e notei que era Frank beijando meu pescoço. Assim que ele viu que eu havia acordado, deu um sorriso e me beijou nos lábios.

- Finalmente acordou, Bela Adormecida. - ele disse rindo e me dando mais um beijo.

Apenas deu risada e segurei seus cabelos, não o deixando escapar. Eu ainda estava sentada no banco do passageiro, e Frank estava sentado de lado no banco do motorista. Me perguntei o quanto aquela posição estava desconfortável para ele. Mas como ele não estava reclamando, quem era eu para reclamar? Apenas aprofundei o beijo e senti suas mãos tocarem minha cintura. Apesar do pouco tempo que ficamos longe um do outro, eu estava com saudade. Saudade do seu toque, do seu beijo, saudade de Frank.

Meu coração acelerou e senti meu rosto esquentar assim que uma de suas mãos tocou minha coxa. Eu queria tirá-la dali, mas algo me impediu. Na verdade, ela poderia ficar ali, e eu não ligaria. De beijo romântico e apaixonado, fomos para o beijo quente e cheio de paixão. Cada vez mais rápido, eu sentia Frank investir em mim com sua língua. E eu estava amando aquilo. Vez ou outra, eu mordi seu lábio inferior. E, pelo que podia ver, Frank também estava amando. 

Em um ato inesperado, o empurrei e ele se sentou de volta no banco. Sentei-me se seu colo logo depois. Frank me lançou um sorriso malicioso e voltou à me beijar tão rápido quanto me beijara antes. Eu não sabia o que estava fazendo direito, mas aquilo estava ficando cada vez melhor. Suas mãos agora acariciavam minhas coxas e vez ou outra minha bunda. Isso me causava sérios arrepios. 

Em todo o tempo que passei namorando com Lucas, nunca senti anda do tipo. Meu corpo nunca se comportou daquela maneira. Nos beijávamos cada vez com mais paixão. Frank tinha um dos braços enlaçados em minha cintura, enquanto o outro ainda estava em minha coxa. Mal conseguia respirar, o ar já estava me faltando faz tempo.

Nos separamos ofegantes, assim que já não era mais possível prender a respiração. Minha respiração estava muito alterada, assim como as batidas de meu coração. 

- D-Desculpa. - digo saindo de seu colo.

Sentei-me novamente em meu lugar e estendi minhas mãos, elas tremiam mais do que as mãos de uma velhinha. Fiquei um tanto envergonhada com o que acabara de acontecer.

- Não tem que se desculpar, sabe disso. - Frank disse tirando uma mecha de cabelo de meu rosto. 

Infelizmente, em minha cabeça é claro que eu teria de me desculpar. Eu praticamente o ataquei. Deus sabe o que teria acontecido aqui dentro caso eu não parasse para respirar um pouco.

Olhei para o chão e me deparei com meu celular ali jogado. Me perguntei como ele tinha ido parar ali embaixo. O peguei e fui checar as horas. Quase infartei quando vi que já havia passado das quatro.

- Droga, esqueci que tinha combinado de sair com Claire! Pode me levar para casa? - perguntei voltando-me para Frank.

Ele assentiu e ligou o carro.

Coloquei o cinto e nos dirigimos até minha casa. O caminho foi silêncioso. Frank apenas me perguntou coisas como "Como foi o primeiro dia?" ou "Já fez algum amigo?", mas não passou disso. Estava com medo de Claire ficar brava. Afinal, sai da faculdade as duas, e já passara das quatro. Eu estava cerca de duas horas atrasada. 

Até que chegamos rápido, em comparação com outros dias. Depois de meia hora já estava em casa. Desci correndo do carro e fui rapidamente até a porta. Esqueci até de Frank. Mas este, parecia ter algo importante para mim.

- Nina - ele gritou quando eu estava quase na porta da entrada - Tenho uma coisa para você.

Voltei alguns passos e o assisti tirar uma caixa branca retangular do porta malas. Dei um leve sorriso, mesmo ressentida, pois sabia o que era aquilo.

Frank caminhou até mim com a caixa nas mãos e, quando ficou perto de mim, me entregou esta.

- Sei que disse que não queria, mas eu não resisti. Acho que você será a dama mais deslumbrante da noite. Te pego aqui no domingo, as nove. - ele disse e me deu um selinho.

- Frank, eu... - tentei argumentar algo, mas no fundo estava feliz com aquele gesto - Obrigada, não sei o que dizer.

Frank riu.

- Pode dizer: obrigada Frank lindo sedução, eu me contento com isso. 

Dei risada e o puxei para um último beijo. Este fora rápido porque, de alguma maneira, eu sentia que estava sendo vigiada. E estar sendo vigiada quer dizer que Peter provavelmente estava espiando pela janela. 

- Nos vemos domingo, então? - ele disse enquanto se afastava.

- Sim, nos vemos domingo. - digo com um sorriso enorme no rosto.

Frank sorriu e correu de volta para o carro. E eu, continuei parada do lado de fora de minha casa com um sorriso no rosto. Não demorou muito, escuto uma voz conhecida gritando para mim.

- Nina, onde foi que você se meteu? Desde as duas eu estou aqui te esperando. Sabe como eu fiquei preocupada? Fiquei pensando no que poderia ter acontecido, e você não tem noção de quantas coisas ruins passaram em minha cabeça! - Claire disse enquanto saía pela porta e parava em minha frente - Que caixa é essa?

Dei risada e a abri. Fiquei maravilhada com o que nela estava guardado. Não consegui ver o modelo direito, mas me parecia ser um vestido curto. Era azul marinho todo brilhante. Era com certeza o vestido mais lindo que eu já vira. Frank acertara em cheio.

- Frank... Frank... Ele é incrível! - praticamente berrei tampando novamente a caixa.

Claire mal se aguentou de emoção também. Deu um outro berro e me abraçou. Ficamos pulando abraçadas como duas loucas, até que Peter apareceu na porta. Ele deve ter levado um susto com a nossa gritaria.

- Por Deus, como vocês podem fazer tanto barulho? - ele exclamou parado junto ao batente da porta.

- Você não reclama do barulho quando estamos só nós dois entre quatro paredes. - Claire diz fazendo meu irmão ficar vermelho. 

Peter, como pareceu não querer mais ficar constrangido, entrou. 

- Então, como foi o primeiro dia? - Claire perguntou enquanto me puxava para dentro.

- Foi bom, mas um pouco tedioso.

- E para onde Frank te levou?

Esta pergunta fez com que meu rosto começasse a pegar fogo. Mordi o lábios inferior tentando não demonstrar tanto nervosismo, mas Claire logo entendeu o que aconteceu. Ou o que poderia ter acontecido. minha amiga me puxou pela mão e corremos até nosso quarto. Passei correndo pela sala e vi que Charlie estava assistindo TV. Fiquei feliz por ele finalmente ter saído de seu quarto.

Depois de contar para Claire tudo o que havia acontecido, esta quase infartou. Quase não acreditei que tive uns amassos quentes com meu quase namorado. Quase porque ele nunca fizera o pedido oficial, mas eu sabia que Frank me considerava, assim como eu considerava a ele, como alguém muito mais íntima do que um amigo. E, a partir de hoje, sentia que iríamos ficar cada vez mais íntimos.