- Espera, deixe-me ver se entendi, você vai com Frank para uma premiere de cinema. - Claire disse se levantando e começando à caminhar pelo quarto.

- Sim. - digo me ajeitando em minha cama.

- Ele quis te pagar um vestido lindo e caro e você recusou porque não quer depender dele financeiramente.  - ela continuou arqueando as sobrancelhas.

- Exatamente.

- E ainda travou quando as pegadas começaram a ficar mais quentes, Nina, o que você tem na cabeça? - Claire perguntou me acertando com um travesseiro - Tudo bem que você ainda deve estar meio assim pelo Lucas, mas como foi recusar um vestido caro?

Apenas ri. Depois que Frank saiu, Claire e Peter chegaram logo depois. Agora era ele quem a levava e buscava nos ensaios. Charlie continuava em seu quarto, ele não saíra de lá ainda. Pensei que Peter talvez pudesse convensê-lo à sair, mas fiquei um tanto preocupada caso ele não conseguisse. Estava com saudade de conversar com ele.

- Claire, a vida é mais do que vestidos caros, sabia? E outra, onde eu usaria um vestido chique? Mal vou em casamentos! - digo atirando o travesseiro de volta em minha amiga.

Claire revirou os olhos.

- Nina, se você continuar pensando assim, juro que vou acabar te dando uns tapas! E quando minha peça estrear, com que roupa você vai? Já pensou nisso? E é na semana que vem. Então pode tratar de arrumar um vestido lindo, porque não quero te ver lá de calça jeans e tênis! - Claire estava um tanto nervosa essa semana. Com a estréia de sua tão sonhada peça, ela estava ensaiando em dobro, só parava em casa de noite. Eu estava torcendo para que todo esse estresse pré-espetáculo passasse logo, afinal não queria que minha amiga continuasse naquele estado.

- Certo, Claire. Prometo que usarei uma roupa descente. - digo indo até ela e lhe dando um abraço.

- Você me dá nos nervos, Nina! - ela disse ainda abraçada comigo.

Claire poderia ser estressada e escandalosa, mas era com certeza a melhor amiga que eu poderia ter. Penso até que por sermos tão diferentes, é que nos damos tão bem. Eu estava feliz naquele dia. Primeiro a visita surpresa de Frank, e agora estava me sentindo mais leve depois dessa conversa de amiga com Claire. Sempre tínhamos conversas assim, para tirar o peso das costas de vez enquando. Ela me contou que andou pensando em conversar com Peter e perguntar se estavam namorando mesmo. Peter gostava de enrolar. Eu conhecia o irmão que tinha.

Disse para ela esperar mais um pouco. Eles estavam juntos à pouco mais de três semanas, de qualquer forma é sim pouco tempo. Assim como eu e Frank. Apesar de saírmos sempre, não sabia ao certo se era um namoro. Ele ainda não havia me pedido nada oficialmente. Mas eu gostava de sair com ele. Tomar sorvete, passear, e até fugir de alguns paparazzis, era tudo tão prazeroso. Nos divertíamos muito.

Mas tenho que confessar que, parte de mim, se sentia um tanto culpada. Não por mim, mas por Charlie. Eu sabia muito bem que minha relação com Frank afetava ele diretamente. Claire havia comentado o quanto Charlie andava quieto esses dias. Peter também estava achando estranho. E eu não conseguia evitar de me sentir mal por isso. Charlie sempre fora tão próximo de mim, e agora eu o magoo, mesmo que intencionalmente. Precisava conversar com ele.

Claire e eu fomos para a cozinha, atrás de algo para beliscármos. Afinal, já passara das dez da noite. Assim que entramos, vi Peter e Charlie conversando. Ambos com expressões relaxadas, pareciam estar rindo segundos antes. Eles nos olharam surpresos, parecia que não estavam esperando que estivéssemos acordadas.

- O que as moças estão fazendo fora da cama? - Peter perguntou indo até Claire e lhe dando um beijo no pescoço.

- Nina queria leite. - Claire disse olhando maliciosamente para meu irmão.

Revirei os olhos e notei que Charlie segurava a risada. Ele então se levantou da mesa e foi para o quintal. Tínhamos um velho banco que ficava lá, era uma bela paisagem, dava para se ter uma ótima vista da lua. O segui com os olhos enquanto pegava um pouco de leite da geladeira. Já que o tempo estava quente, não o esquentei, comecei a tomá-lo gelado mesmo. 

Resolvi deixar Claire e Peter sozinhos apartir do momento em que as melosidades e carinhos excessivos começaram. Pensei em ir me deitar, mas algo dentro de mim estava gritando, praticamente implorando para que eu caminhasse até o quintal e fosse conversar com Charlie. Meu coração, estranhamente, acelerou só de pensar em trocar palavras com ele novamente. Deixei meu copo na pia e sai da cozinha. O ar estava gelado, e meu pijama era curto, o que fez com que eu sentisse um pouco de frio. Mas não dei muita importância.

Charlie estava sentado naquele velho banco, parecia conscentrado no céu. E este, estava muito bonito nesta noite. Tinha uma enorme lua cheia iluminando o céu, só senti falta das estrelas. Por conta de toda poluição, é difícil vê-las por aqui. Caminhei lentamente e senti cócegas assim que meus pés descalços tocaram a grama. Charlie parecia estar longe. Fiquei tentada em dar um susto nele, mas não acho que ele aceitaria isso bem. Caminhei até alcançar o banco onde ele estava sentado. Charlie então virou o rosto e me fitou por um tempo. Não parecia zangado, nem triste. Na verdade, seu rosto não expressava sentimento algum.

- Charlie... Acho... Acho que nós dois temos que conversar. - digo sentindo meu rosto corar.

Ele então parou de fitar o céu e encarou o chão por alguns segundos. 

- Me desculpe. - foi apenas o que ele disse.

Senti algo pontiagudo acertar meu coração. Por que ele estava pedindo desculpas? Na verdade, sou eu quem deve fazer isso. Um nó havia começado à se formar em minha garganta, não sabia o que fazer nem o que dizer. As lágrimas começaram à se acumular em meus olhos.

- Me desculpe, Nina, por ter gritado com você naquele dia. Mas a verdade é que... Eu te invejo. Te invejo muito. Te invejo por essa sua coragem. Sei que, se fosse você no meu lugar, não hesitaria em seguir seus sonhos. Mas acontece que eu sou... covarde! E não consigo nem ao menos contar para meus pais sobre isso. Não sabe o quanto eu desejo ir para a Suiça. Só que esse sentimento, esse medo de fracassar e magoar meus pais, parece ser maior do que a minha vontade. Juro que não sei o que eu faço. - ele disse, só então levantando a cabeça e encarando meus olhos.

- Charlie, você tem um tempo ainda, certo? Pense com calma, porque você pode fazer snowboard como hobbie. Mas por que não conversa com seus pais antes de tomar qualquer decisão? - pergunto tentando conter minhas lágrimas.

Charlie então levou as mãos até seu rosto e o cobriu. Ele parecia chorar. E eu me senti impotente por não conseguir ajudá-lo. Sentei-me mais próxima dele e afaguei suas costas. Sim, ele estava chorando. Notei que estava mais rubro do que o normal. Eu sabia que ele, assim como Peter, odiava chorar na frente dos outros, principalmente de mulheres. 

- Não dá, Nina. Meu prazo é até amanhã. - ele disse com o rosto ainda coberto por suas mãos.

Senti meu coração apertar naquele momento. Charlie tinha menos de doze horas para tomar a decisão. Queria ajudá-lo, mas tinha medo de induzí-lo na decisão errada. Eu sabia o que faria se estivesse em seu lugar. Mas não estávamos falando de mim, e sim de Charlie. Encostei minha cabeça em seu ombro e, mesmo com algumas lágrimas teimando em cair, tentei manter-me calma. 

- E já sabe o que vai dizer? - perguntei.

Charlie então levantou o rosto e olhou para mim. Não sei ao certo se já havia passado por coisa pior, mas vê-lo com os olhos tristes e vermelhos, foi a pior cena que já vi em toda minha vida. Meu coração apertou e senti uma vontade imensa de abraçá-lo, confortá-lo, dizer que tudo ia ficar bem e fazer tudo ficar bem. Mas eu sabia que eu não conseguiria fazer tudo.

- Acho... Acho que sim. - Charlie disse desviando seus olhos dos meus.

Não o pressionei. Não queria saber de sua decisão, não naquele momento. Se ele quisesse falar, é claro que eu estaria ali para ouvir. Mas caso contrário, daria um tempo. 

- Bom, eu... acho melhor irmos dormir. - ele disse limpando o rosto com as mãos - E é bom voltar à falar com você, Nina. Eu sentia que ia pirar sem as suas trapalhadas. 

Após me dizer isso, Charlie me deu um beijo no rosto e se levantou. Imitei seu gesto, entrando primeiro em casa, para que ele não notasse o quanto eu ficara vermelha. Murmurei um boa noite e fui para meu quarto. Por sorte, Claire e Peter deram um tempo em suas noites de luxúria. Minha amiga acordava cedo todo dia, então precisava dormir bem à noite. E eu, claro, fiquei feliz por isso. Estava dificíl dormir na sala, já que eu e Charlie não estávamos nos falando.

Naquela noite, dormi tranquila. Fiquei aliviada por todo aquele estresse de Charlie ser apenas por sua viagem. Pelo menos, era isso o que eu pensava.