Nova Iorque. Eu mal podia acreditar que estávamos indo para Nova Iorque. Como a maioria das garotas da minha idade, viajar para longe de casa é um sonho. E o meu foi realizado graças ao meu irmão e o amigo dele. Meu nome é Nina Donnovan, tenho 17 anos e estou em um avião à alguns minutos da cidade das oportunidades. Nasci e cresci no Texas, com meus pais e meu irmão Peter. Mas, desde cedo, eu sentia que aquele lugar não era pra mim. Era como se eu tivesse sido trazida por extraterrestres para aquele lugar. As casas eram simples, e as pessoas não ligavam para ir ou não para a faculdade. Mas eu era diferente. Meu sonho era ser arquiteta, e, assim como meu irmão, eu queria correr atrás dele. Peter mora em Nova Iorque desde os 17 anos, já está lá à dois anos com seu amigo Charlie. Ambos fazem medicina.

Assim que a aeromoça avisou que o avião estava prestes a pousar, sorri animadamente para minha amiga Claire. Ela iria morar comigo, com Peter e Charlie. Somos amigas desde que tenho 12 anos. Claire é o completo oposto de mim, acho que é por isso que nos damos tão bem. Ela é mais alta do que eu, tem cabelos escuros e dois olhos lindos. Tenho inveja de seus olhos azuis. Meus olhos são castanhos e, dependendo do dia, parecem ser de um tom mel. Meu cabelo é castanho, quase loiro, mas odeio quando as pessoas teimam em dizer que sou loira. Claire sonha em ser atriz. Ela veio para Nova Iorque comigo somente para tentar conseguir esse sonho.

Sentimos o avião pousar. Eu mal cabia dentro de mim de tanta felicidade. Olhei pela pequena janela e tive uma vista privilegiada da pista. A cidade era enorme, agradeci por Peter e Charlie estarem nos esperando. Eu não os via há mais de dois anos. Estava morrendo de saudade do meu maninho. E estava com saudade de Charlie também. Ele praticamente morava em casa, então me acostumei com ele. É quase como se eu tivesse dois irmãos mais velhos. Peguei minha bolsa e Claire já estava de pé, esperando as ordens para sair.

– Seu irmão está nos esperando, né? - ela perguntou.

Assenti. Claire nunca comentara nada, mas eu sempre soube que ela tinha uma queda por Peter. E, tenho que admitir, meu irmão é mesmo muito bonito. Eu via o modo como ela o olhava. Peter sempre foi meio lerdo, então creio que não reparara nisso. Mas Claire era linda, e eles estarão vivendo na mesma casa nos próximos anos, seria difícil se não rolasse alguma coisa. E eu ficaria mais do que feliz se minha melhor amiga se tornar minha cunhada.

– Vamos, vamos encontrar Peter e Charlie. - digo assim que saímos do avião.

Claire riu e corremos para dentro. Era um lugar imenso. Muito claro e iluminado. Fiquei maravilhada com tudo aquilo. Para duas caipiras que nunca saíam de casa, aquele lugar mais parecia um museu. Estávamos atentas a todos os detalhes. As pessoas se divertiam com o modo que nossos olhos brilhavam naquele lugar. Estava tão distraída com tudo aquilo, que me esqueci que tinha que procurar meu irmão. Só me lembrei à partir do momento que meu celular vibrou. Olhei no identificador e vi que meu maninho pareceu estar com saudades de mim.

– Alô? - digo calmamente.

– Alô dona Nina, esqueceu que o combinado era: você liga para mim assim que chegarem no aeroporto? - Peter perguntou.

Dei risada de sua preocupação.

– Mas como você...

– Se vire. - ele disse me interrompendo.

Dei meia volta e avistei, um tanto afastado, um moço loiro que eu conhecia bem. Peter não se parece comigo, temos apenas alguns traços parecidos, mas não nos reconhecem como irmãos. Assim que o vi, cutuquei Claire, e corri até ele. Peter não parecia estar com tanta pressa. Apenas caminhou até mim. Quando cheguei perto, pulei lhe dando um abraço. Nós brigávamos, mas éramos unidos. Lembro de uma vez que meus pais brigaram feio. Fora a primeira vez que os vi discutindo. Era um motivo fútil, mas eu me assustei. Devia ter uns 8 anos. Peter e eu não dormimos naquela noite. Ele trouxe jujubas e ficamos conversando pelo resto da noite. Comer jujubas me acalmam, sempre foi assim.

Soltei-me de meu irmão. Ele tinha aquele mesmo belo sorriso de sempre.

– Sentiu muito a minha falta? - pergunto rindo.

Peter bagunça meu cabelo e diz:

– Claro, não tinha ninguém para eu enfadar. Sabe como o Charlie é, ele é pavil curto.

Olhei para o lado e vi Claire corada. Ela provavelmente não pensava que meu irmão pudesse estar tão mudado. Não digo mudado, mas sim crescido. Ele amadurecera em dois anos. Peter não hesitou e lhe deu abraço. Claire pareceu querer recusar, mas lhe deu alguns tapinhas em suas costas.

Achei aquela cena engraçada, porque, assim que Peter a soltou, ele também estava com as bochechas vermelhas. Meu mano estaria, secretamente, apaixonado por minha melhor amiga? Pelo visto eu teria um trabalhinho para fazer. Sim, eu iria juntas aqueles dois. Não importando o quanto eles fossem cabeça dura, eu iria dar um jeito. Eu sempre dou um jeito.

Agora, tanto Peter quanto Claire, pareciam estar desconfortáveis. Não vi outra solução senão rir daquela cena.

– É assim então? Chega sem avisar, não me ve, e ainda fica tirando sarro do meu melhor amigo? - uma voz que veio de trás de mim disse.

Achei a voz familiar, mas, ao me virar, dei de cara com um moço lindo. Ele era estranhamente familiar. Seu cabelo loiro estava penteado para o lado, deixando-o charmosamente arrumadinho. Seus olhos castanhos foram o que lhe entregou. Eu os reconheci mesmo depois de dois anos. Mas Charlie estava diferente, assim como Peter. Porém, Charlie mudara mais. Ao invés do antigo cabelo raspado, tinha agora um cabelo bem penteado. E, apesar de ainda ter o mesmo rostinho de bebê, me parecia mais adulto do que há dois anos atrás. Ele tinha um sorriso lindo. Só notei que o encarava de boca aberta alguns segundos depois. Senti meu rosto corar. Encarei o chão, sorrindo, por alguns segundos, para esperar a vermelhidão de meu rosto passar.

Quando voltei meu olhar para Charlie, ele me olhava curioso.

– Então, como foi a viagem? - ele perguntou me abraçando.

Deus, de onde vieram aqueles braços? Me perguntei assim que ele me abraçou. Minha lembrança de Charlie não era mais do que um garoto magrela que vivia em minha casa.

– Foi boa. - digo apenas.

Me voltei para Peter e Claire e vi que eles conversavam animadamente. Fiquei feliz por eles.

– Quer apostar quanto que, em menos de duas semanas, esses dois estão juntos? - Charlie disse ao pé do meu ouvido.

Dei risada. Ele, como tudo bom amigo, sempre gostou de aprontar para cima de Peter.

– Apostado - digo estendendo a minha mão.

Charlie a apertou de maneira firme. O que me surpreendeu novamente. Desde quando Charlie havia ficado tão... sedutor? Sexy? Lindo desse jeito? Bom, acho que todos os itens.

– Vamos buscar o resto das malas de vocês? - Peter nos interrompeu.

Claire e eu assentimos. Ele e Charlie foram procurar nossa bagagem enquanto nós explorávamos o aeroporto. Tanto gente indo e vindo. Era quase impossível de se saber quantas histórias poderiam estar ali. Cada um vivendo a sua vida. E era isso o que eu e minha amiga estávamos fazendo. Ainda estávamos em Janeiro, então as aulas ainda não começaríam. Minha faculdade era ótima, uma das melhores da cidade. E Claire havia se matriculado em um curso de teatro, que geralmente encaminhava seus melhores alunos para teatros famosos como a Broadway. Minha amiga cantava muito bem, sabia que ela se daria bem.

– Nina, vou procurar um banheiro, você vem também? - Claire disse tirando-me de meus pensamentos.

Não estava com vontade de ir ao banheiro, queria mesmo era continuar a olhar aquele lugar incrível.

– Não, obrigada amiga. Vou ficar por aqui esperando por você.

Assim que eu disse isso, Claire se virou e foi procurar um banheiro.

Continuei a olhar aquele lugar imenso. Sem me dar conta, acabei me afastando um pouco do lugar onde eu deveria estar esperando por Claire. Só então notei que estava perdida. Isso é o que dá quando uma caipira vai para um lugar novo! Me xinguei mentalmente. Eu fora estúpida o bastante para me perder, justo em meu primeiro dia. Olhei de um lado para outro à procura de algum rosto conhecido. Infelizmente, não consegui encontrar nenhum.

Tentei refazer meu caminho, mas já não lembrava mais por onde tinha vindo. Estava prestes à entrar em desespero quando bato em alguma coisa e caio sentada no chão. Dei graças a Deus por estar de calça e não de vestido. Mas aquilo não era uma coisa, e sim alguém. Um moço novo de roupas informais estava ajoelhado no chão pegando alguns papéis que ali estavam. "Burra!" disse para mim mesma. Me recuperei e fui até ele, o ajudando a pegar aquelas folhas espalhadas.