POV Madge

O dia da ceifa… Um dia desesperante para uns e para outros um dia vantajoso… Bem, pelo menos era vantajoso para o Capitol.
Na minha opinião, aquilo são apenas jogos estúpidos que servem para alimentar o ego dos egoístas habitantes do Capitol.
Todos os anos, fico com um tremendo medo de ser a escolhida. Não me agrada nada ter de ser representante nestes estúpidos jogos.
Sr. Undersee: Filha, já está pronta?
Me olhei uma última vez no espelho e vi uma Madge diferente. Com um fino vestido branco com uma fita rosa. Vestido que antes pertencera a minha falecida tia, Maysilee Donner.
Madge: Sim pai, já estou descendo.
Quando cheguei ao andar de baixo da casa. Meu pai me esperava ao lado da porta de saída.
Sr. Undersee: Você está linda filha.
Um sorriso forçado escapou-me dos lábios. Como se fosse isso que me preocupava… Naquele momento eu só pensava naquela maldita colheita.
Sr. Undersee: Não pense nisso filha. É praticamente impossível você ser escolhida. As probabilidades com certeza estão do seu lado.
Um som estridente interrompe a nossa conversa. Olhei para trás e reparei que minha mãe tinha deixado cair um copo com água.
Sra. Undersee: Maysilee?
Eu já sabia o que isso significava. Mais um dos ataques histéricos de minha mãe.
Madge: Mãe por favor, sou, eu, a sua filha, a Madge.
Ela correu para me abraçar.
Sra. Undersee: Não a deixe ir querido. Ela não pode ir para a arena novamente. É demasiado perigoso. Não deixe minha irmã morrer.
Tentei me desfazer do abraço, mas foi quase impossível. Ela não me largava por nada.
As criadas apareceram, e levaram-na dali. Certamente levaram ela para o seu quarto e agora iam drogar ela para descansar.
Sr. Undersee: Filha, agora preciso ir. Logo encontramo-nos?
Madge: Claro que sim. Mesmo que quisesse faltar, não podia.
Depois de meu pai sair, subi novamente para o quarto para tocar piano.
Não consegui tocar nada decente. Eu não estava concentrada na música, mas sim na colheita. Mesmo que eu não seja a escolhida, alguma adolescente inocente será. E é isso que me atormenta…
Fui interrompida de meus pensamentos quando ouvi o som da campainha. Desci rapidamente para abrir a porta. Assim que a abro vejo duas caras conhecidas. A minha única amiga, Katniss Everdeen, que anda no mesmo ano de escola que eu. E o seu inseparável melhor amigo Gale Hawthorne. Se bem os conheço, vêm vender morangos.
Madge: Oi.
Katniss: Oi Madge. Quer comprar?
Disse apontando para os morangos.
Madge: Claro que sim.
Enquanto procurava pelo dinheiro, me senti vigiada. Gale me observava.
Gale: Bonito vestido.
Olho para Gale tentando perceber se recebi um elogio genuíno ou se ele está a ser irónico. Bom, o vestido realmente é bonito, mas é algo que não usara no meu dia a dia.
Madge: Bem, se for para o Capitol quero estar bonita, não?
Gale não respondeu logo. Percebi que ele tentava perceber se estava sendo irónica ou se estava falando sério. Depois me olhou novamente de baixo a cima, a parou no meu alfinete.
Gale: Até parece que você será escolhida. Quantos registos você tem? Uns cinco? Eu já tinha seis aos doze anos.
Katniss: A culpa não é dela!
Gale: Não, ninguém tem culpa. É apenas a vida.
Baixei o rosto para não ter que olhar para Gale. Gale sempre fora frio comigo, talvez por ser filha dor perfeito e porque não sofro o que eles sofrem. Mas quer ele queira, quer não, o meu nome está incluído, e posso ser uma das escolhidas, e lá na arena, a minha posição social não me serviria de nada.
Madge: Aqui está o dinheiro para os morangos. Boa sorte Katniss.
Katniss: Você também.
Entrei novamente em casa, e andei até à cozinha para me deliciar com meus morangos.
Na verdade, comer morangos, foi o momento mais alto do meu dia. Vendo bem, talvez seja a última vez que coma morangos. Se for para o Capitol… O que não vai acontecer.
Guardei os restantes morangos para meus pais e me dirigi ao quarto de minha mãe. Esta dormia profundamente, sem nenhuma noção do que se passava em seu redor.
Andei até ela e segurei sua mão.
Madge: Eu amo muito você mãe.
Mesmo sabendo que ela não iria ouvir, eu precisava de dizer isso. Olhei o relógio, e vi que era horas de partir. Beijei o rosto de minha mãe, antes de sair.
O caminho foi curto. Preferia que tivesse demorado mais tempo. Logo que cheguei até às filas me pediram para marcar a minha impressão digital o que doeu, dado que eles precisaram picar meu dedo.
Depois fui até o lugar onde estavam as raparigas da minha idade.
Não sabia que sofria de claustrofobia, até estar no meio daquela multidão de garotas. Eu conseguia sentir o medo de todas.
Olhei de relance e vi Katniss que me lançou um olhar tranquilizador.
No palco, a sempre exagerada Effie Trinket, inicio o mesmo discurso de todos os anos, nada emotivo, da história dos Jogos Vorazes. Ao lado de Effie estava meu pai, representado o distrito 12 como prefeito, e do outro lado, o velho bêbado Haymitch Abernathy, o único tributo vivo do distrito, e agora o treinador dos tributos escolhidos para representar o distrito 12. Coitados daqueles que passavam por Haymitch. O que um velho bêbado poderá fazer para ajudar os tributos? Porém sempre tive um respeito disfarçado por Haymitch. Ele com certeza, fora um grande amigo de minha tia Maysilee.
Finalmente, Effie terminou com aquele discurso idiota.
Effie: Vamos começar com a escolha dos novos tributos. Como sempre, primeiro as meninas.
Effie começou com o mesmo suspense de sempre. E aquilo está me matando. Porque ela não tira logo o nome. Como se tivesse ouvido, Effie retirou o nome.
Effie: Madge Undersee.
O meu mundo ruiu quando ouvi aquelas palavras saídas da boca de Effie Trinket.
As raparigas do meu grupo começaram a se desviar de mim para darem espaço para avançar. Como não podia fugir, o meu único remédio foi avançar. Senti uma mão pegar a minha, e quando olhei para trás vi Katniss assustada. Por momentos fiquei segura, com o calor dela a segurar a minha mão.
Katniss: Madge, não sei o que dizer. Eu nunca… Era quase impossível…
Um soldado da paz agarrou-me e eu tive que me separar de Katniss. Com esse pequeno gesto, toda a pouca segurança que sentia foi substituída por pânico. Estava quase em cima do palco e não sabia com reagir quando estivesse lá em cima. Finalmente, consegui chegar lá em cima.
Effie: Mmm, parece que temos aqui a filha do prefeito.
Prefeito… Olhei para trás e vi meu pai sentado ao lado de Haymitch, e a sua expressão mostrava um grande alarme. Depois pensei em minha mãe. Como ela iria reagir? Ela irá aguentar?
Effie me puxou pelo braço e sussurrou:
Effie: Olhe para a frente querida.
Quando finalmente olhei novamente para a frente, vi que toda a multidão olhava pra mim com pena. Todos sabiam que eu não ia sobreviver. E ficavam com pena, por saber que a amável filha do perfeito iria morrer.
Effie: Agora vamos aos garotos.
Effie retirou um dos nomes e mais uma vez fez um pouco de suspense.
Effie: O nome do tributo masculino que representará o distrito 12 é… Gale Hawthorne.