As Blue As Love Can Be escrita por Menta


Capítulo 15
Azul


Notas iniciais do capítulo

E então... Chegamos ao fim. "Eu não pedirei para que não chorem, pois nem todo o pranto é um mal." - Dizia Gandalf. Hahahah!
Queridos, eu agradeço DE VERDADE por todos que acompanharam a minha fic, que escrevi com tanto carinho e afinco. Acredito que agora eu mesma criei um "Petyr Baelish", ou ao menos uma forma de ver um personagem, agora familiar para mim. Mesmo que Martin nos reserve algo diferente, este Petyr da minha fic é nosso, como imaginamos. =)
MUITO OBRIGADA POR TUDO!



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"Agora, por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada..."

Machado de Assis, Dom Casmurro.



Tudo sucedera como planejara.




Sansa, surpreendentemente, desempenhou muito bem seu papel quando ambos maquinaram para incriminar Marillion. A menina, apesar de tão pura, era esperta o suficiente para saber como sobreviver. Pudera, sobrevivera dois anos em meio às cobras de Porto Real, sem ninguém para protegê-la...



Ela conhecera alguns Senhores de Vale, e, Petyr pôde reparar em seus olhares para a menina desabrochada em moça, eles desejavam-na. Apesar de metidos a grandes senhores de linhagem nobre, os hipócritas ainda assim ansiavam pelos prazeres da carne da suposta Alayne Stone. Não pôde conter os ciúmes de sua falsa filha bastarda, mas não de uma maneira paternal. Ela era dele, e qualquer um que ousasse pensar em tirá-la de si, gerava reaçao de grande ira em seu ser. Mindinho, entretanto, apenas disfarçava seu ódio, como sempre fizera com todos os seus verdadeiros sentimentos, por toda a sua vida.



O tempo chegava em que deveria fazer seu movimento definitivo para conquistar a confiança dos vassalos dignos do Vale. Havia conquistado a confiança de Lyn Corbray, mas não seria o suficiente. Precisava de uma aliança.



Pensava em usar Sansa, casando-a com Harry, mas era algo complicado, por conta dos sentimentos que sentia por ela. Não suportaria que mais algum austero e frio senhor lhe tomasse alguma mulher que era cara, deixando-o mais uma vez, rejeitado e sozinho.



Ainda mais a memória viva dos encantos da beleza de Cat.



Mas, de qualquer forma, Petyr sabia que seria necessário lutar contra tais impulsos. De nada lhe serviriam, e apenas atrapalhariam seus planos, sempre tão bem delineados, levando-o a triunfar em seus objetivos.



Mas não seria o coração de Sansa a maior de todas as conquistas?


 


O tempo passara, e Petyr postergava o momento em que deveria deixar o Ninho da Águia, para conferenciar, desta vez definitivamente, com os Senhores do Vale. Eles pressionavam-no, cortavam-lhe os suprimentos e exigiam a presença de Lorde Robert.


Petyr sabia não haver motivos racionais para não deixar o Ninho da Águia de antemão, mas era inevitável.



O dia do nome de Sansa estava chegando, o dia mais belo do ano, em que ela faria catorze anos de Donzela. Não poderia passá-lo longe dela, embora fosse o mais correto a se fazer.



Na verdade, poderia... Mas não queria.



Descobrira a data de nascimento da linda moça quando estudara os papéis trazidos pela comitiva de Ned Stark na viagem de Porto Real, há dois anos atrás, quando o mesmo ainda era Mão. Ciumento e rancoroso, Petyr aproveitara para conhecer mais sobre o "rival", estudando sua linhagem e descendentes.



E quem diria que, anos depois, ainda lembraria-se com carinho do dia do nome de sua nova Catelyn...



Quando chegou a tão esperada data, Petyr reparou em como a jovem moça parecia taciturna e sorumbática. Sansa aparentava estar alheia a tudo, e, Petyr, para não criar desconfianças, agira como se fosse apenas um outro dia qualquer.



Porém, após o almoço, Petyr chamou-a para passearem pelos jardins. A menina aceitou, sem muita emoção.



Saíram aos jardins, e o tempo era frio e hostil. Nevava, e a luz do sol era ofuscada por nuvens sombrias. Indigno do dia de seu nome. Mas levarei-a acima das nuvens.



– Como está se sentindo no Vale, Alayne? Feliz com seu prometido? - Petyr sorria casualmente, como se falassem de algo trivial.



– Ah... Claro, senhor. Muitíssimo. São todos tão gentis e... - Ela subitamente parou de falar, seus lindos olhos das lagoas apaixonantes de cerúleo focados em dois animais estranhamente amarrados em uma árvore. Eram mulas treinadas para as subidas das montanhas do Vale, capazes de aguentar as trilhas íngremes e o forte frio sempre presente.



– O... O que significa isso, senhor Petyr? - Sansa olhou-o sem entender, seu lindo e meigo rostinho em uma faceta adoravelmente perplexa, e Petyr segurou-se para não tomá-la em seus braços, enchendo-a de beijos e carinhos.



– Uma surpresa que preparei-te. Espero que goste. - Petyr sorriu para ela, divertido.



– Ah... Por algum motivo em especial? - Sansa não compreendia. Provavelmente não conseguia imaginar como ele saberia do dia de seu nome.



– Por todos os motivos em especial. - Petyr disse, sorrindo alegremente. Por você.



Ajudou-a a montar em sua mula, educadamente, e não pôde reparar em como suas compridas saias estavam firmes nas suas pernas deliciosamente desenhadas. Subiu os olhos e depois fixou-os em seus glúteos, que, prensados contra a pele do animal, estavam levemente empinados. Deliciosa.



Meneou a cabeça ligeiramente, para espantar os pensamentos sexuais inoportunos, e dirigiu-se a sua montaria.



Seguiram por trilhas pouco usadas até o extremo leste do Ninho da Águia. Petyr avisara a menina que seria uma trilha de aproximadamente quatro horas, e que poderiam parar quando ela estivesse cansada.



Entretanto, Sansa não mostrava sinais de cansaço ou fraqueza, ou até mesmo frio, sendo banhada pela neve que caía lânguida e sonhadoramente sobre o Vale. Ela, na verdade, não mostrava emoção alguma.



Petyr começou a se preocupar, mas, findada a trilha, ele mesmo amarrou as mulas a uma árvore morta, de galhos retorcidos.



Levara Sansa até um dos pontos mais altos do Vale, perdendo apenas para as famosas lágrimas de Alyssa, as quais não poderiam ser acessadas por ser algum que não voasse. Será que Lysa chegou lá? Pensou ele, repleto de malícia.



O lugar em que agora estavam era uma pequena clareira no topo de um cume montanhoso, onde não mais nevava. Era tão alto que os olhos perdiam-se no horizonte infinito, que a vista não alcançava. Chegaram tão alto que deixaram as nuvens para trás. Por baixo deles, o mundo estendiam-se. Acima, apenas a infinitude cerúlea do céu de outono, que, porém, não era mais profunda nem mais bela do que o encantamento dos olhos de Sansa.



Pronto, querida. Todo o azul do mundo... Para o meu azul.



– Gostou do presente? Feliz dia de seu nome, Sansa. Foram 14 anos bem vividos, acredito eu. Tornou-se uma moça tão linda e tão inteligente. Sua mãe estaria orgulhosa. - Sorriu solícito e carinhoso para ela.



– Ah... Mu-muito obrigada, senhor... Nem sei o que dizer-lhe para agradecer. Sansa olhava embasbacada para todas as direções. Eram tantas possibilidades, tantas visões diferentes. Petyr aproximou-se dela, rindo consigo mesmo de sua expressão repleta de meiguice, e segurou gentilmente em sua mão.



– Olhe. - Apontou ao Norte. - Se encarar na direção onde aponto, ali, além do traço do litoral, estão as Três Irmãs, e, depois delas, o Norte. Seguindo essa mesma rota, chegaria-se a Winterfell. Não está tão longe, não acha, querida? - Ele sorriu-lhe cheio de carinho. Minha Cat. Nunca mais vou te deixar partir.



Sansa seguiu a direção apontada para Petyr, ficando de costas para ele. Ficou por um tempo encarando o horizonte, até que o homem notou algo estranho. Os ombros de Sansa começaram a sacudir levemente, e seu corpo estremecia, fragilizado.



Preocupado, Petyr aproximou-se dela e tocou seus ombros. Sansa teve uma reação inesperada.



A menina desviou-se com violência dele e pôs-se a esbravejar, sua voz esganiçada. - Por quê? - Petyr via grossas lágrimas formando-se nos cantos dos mais lindos olhos de todo o mundo.



– Alayne... O quê? O que houve, querida? - Petyr tentou aproximar-se, mas ela desviou outra vez.



– O que foi que eu fiz para você? O que eu fiz para o mundo? - Sansa parecia descontrolada, as lágrimas caindo grossas pelo seu rosto maravilhoso. Não... Não faça isso... Petyr sentia seu coração rachar em mil pedaços.



– Não compreendo, querida. Acalme-se, tudo vai ficar bem, conte para mim o que aconteceu... - Sansa interrompeu-o.



– Chega. Eu me esforço para sobreviver, esforço-me para condizer às suas mentiras, mas, quando finalmente me acostumo a elas, a viver uma vida que não é minha, você me traz neste, neste lugar, e faz questão de me lembrar de tudo o que perdi. Não tenho mais irmãos. Não tenho um lar. Não tenho um pai. Não tenho uma mãe. Não há uma pessoa sequer no mundo que tenha afeição por mim, ou alguém em quem eu posso confiar... Alguém que eu possa amar. - Sansa chorava, ferida, tão desamparada e linda, de derreter o mais frio coração...



– Não diga isso. Fere-me profundamente. Você sabe da minha afeição por ti... - Petyr tentou se aproximar, e dessa vez ela não recuou.



Sansa parou de chorar e olhou-o profundamente. - Não ouse dizer que me ama. Não minta até mesmo nisso.



Petyr sentiu como se transpassassem a carne de seu coração com um punhal de aço valiriano.



Completamente aturdido com a reação da garota, que agora desamarrava sua mula para voltar ao Ninho da Águia, Petyr ficou ali, parado, até que reparou que ela montara e dirigia-se trilha abaixo.



Seguiu-a, ambos silenciosos, e ele, extremamente ferido. Marcado. Como jamais imaginara que poderia voltar a sentir-se.



Por que enganara-se pensando que a menina confiava nele? Por que motivo a moça confiaria nele, se tudo o que fizera para ela fora de acordo com seus próprios interesses? Arriscara-se, era verdade, mas nada que ele não soubesse ser capaz de reagir. Quando ela estivera sofrendo em Porto Real, o que fizera ele? Absolutamente nada. Para proteger seu pai da morte, o que ele fizera? Nada.



Para proteger sua mãe do horrendo destino que a aguardava... Fora impotente. Inútil.



E assim, apesar de todas as conquistas, objetivos e sucessos realizados em vida, Petyr sentiu-se, naquele momento, como se fosse novamente o mesmo garotinho apaixonado e impotente perante seu próprio amor, maior do que ele, maior do que sua amada, maior do que o mundo. O garotinho que duelara contra um homem muito mais velho e experiente, e, obviamente, perdera.



O garotinho que acreditara em canções, que fingia ser o Príncipe das Libélulas de sua Princesa Cat em Pedravelha, mas que, mesmo após tantos anos, percebia em seu íntimo... Se recusava a aprender que a vida não era uma canção.



O garotinho que, cego em seu amor tão infinito quanto o azul do céu, fora capaz de confundir a filha de sua amada com sua Catelyn.



Sansa não era Catelyn, nem jamais seria, não importava o quanto quisesse que fosse diferente. Perdera Catelyn, dessa vez definitivamente, e nada mudaria isso.



Naquele momento, Petyr lembrou-se de Catelyn virando-se para ele, os cabelos rubros dançando perfeitamente com seu movimento gracioso, ornamentados pela coroa de pétalas em flores. Sua risada melodiosa enchendo os terrenos de Pedravelha, e de seus olhos, os olhos que fizeram-no descobrir o amor, talvez o único bem que sempre houvera em si...



E o qual não conseguira jamais usufruir. E, mesmo após sua morte, mesmo após tê-la perdido para sempre, ele sabia jamais ser capaz de se separar.



Porque seu amor era ele. Eram uma só entidade. Era ele, que não era Mindinho, nem Lorde Baelish, tampouco Senhor do Vale. Ele era Petyr Baelish, o menino solitário e irremediavelmente romântico que sempre amara, que sempre amaria a sua Catelyn Tully.



A sua Cat.
 




Quando chegaram ao Castelo, não trocaram palavra alguma. Petyr subiu ao seu quarto e, completamente tomado pela tristeza, deixou-se desabar em seu pranto. Engasgara-o enquanto desceram por toda a trilha e agora, finalmente, ele o liberava, correndo livre como um rio por sua face. Sentou-se a uma cadeira senhorial, descansando o rosto que chorava em seus braços. Soluçava, pois sabia que ninguém iria ouvir.




Não tenho salvação...



Foi então que, quase como se respondesse suas preces, Petyr o viu, disposto displicentemente por sobre a mesa em que descansava os braços.



Um pequeno, delicado e frágil tecido, agora machucado pelos anos como seu coração apaixonado, ainda permitia-se ver, costurado na caligrafia daquela que fora seu único e eterno amor:



"Príncipe das Libélulas"



Petyr tomou o lenço nas mãos e secou o rosto, depois abraçou-o junto ao peito. Seu coração, apertado, agora tranquilizava-se levemente, pouco a pouco... Quase sentia a presença angelical de Cat sussurrar aos seus ouvidos que tudo ficaria bem.



– Obrigado, Cat... - Sussurrou, deitou o rosto nos braços e deixou-se levar ao mundo dos sonhos.




***

Mais tarde, naquela noite, Petyr chamara Sansa aos seus aposentos. Como eram pai e filha, não seria estranho que vez ou outra conferenciassem em seus quartos.

Mas, de qualquer forma, não tratava-se de nenhum interesse malicioso. Pelo contrário.

Petyr planejara congratulá-la por lembrar-lhe de como deveriam manter melhor o disfarce; afinal, levá-la para a trilha no dia de seu nome não era condizente com Alayne Stone, e ela precisava desempenhar o papel o melhor que pudesse, praticamente acreditando que era verdade. Além disso, buscava voltar as suas graças desculpando-se pela falta de tato, e fazer-lhe um agrado, talvez dando-lhe outro tejo de prata para unir suas roupas, como o que ele utilizava, ou algum vestido. Talvez até mesmo proporia que ela escolhesse o presente a ganhar.

Quando Sansa chegou às suas câmaras, Petyr fez uma revência formal, ao que ela retribuiu-lhe elegantemente.

Vestia-se com um vestido azul e vermelho da Casa Tully, ironicamente, e seus cabelos, agora deixando transparecer levemente o rubro, escondido pela tintura castanha que havia neles, pendiam compridos pelos seus ombros e costas. Linda, esplêndida em sua juventude...
...Mas não é e jamais será Cat, por mais que eu ferrenhamente deseje e implore.

Petyr fez menção de começar a falar, mas Sansa já havia aberto seus lindos lábios, em um esboço de fala também. Educadamente, Petyr disse-lhe para que lhe dissesse o que queria dizer antes.

– Ah... Senhor... Eu estou muito envergonhada pelo que fiz hoje. - Sansa olhou para baixo, contrita.

Petyr levantou seu queixo com o dedo indicador, o azul de seus olhos novamente encarando os seus. Assim é sempre melhor.

– Não se preocupe. Eu errei também. Não foi uma boa ideia. - Petyr segurou em suas mãos, e reparou que ela trazia uma espécie de tecido. - O que é isto, senhora? - Sorriu, curioso.

– Isto... Isto é o meu presente para o senhor. - Sansa corou. - Um pedido de desculpas pela forma como me comportei. Bordei o seu tejo na borda. Pensei que, como o senhor gosta de usar esses tecidos transpassados, que pudesse usá-lo, se não o achasse indigno do senhor... Pode até mesmo usá-lo como um grande lenço, se preferir. Pode dobrá-lo, veja. - Sansa entregou o tecido a Petyr. Era azul claro, com uma fina borda vermelha bordada por ela, e um tejo de prata tecido por suas delicadas mãozinhas.

O coração de Petyr foi subitamente tomado por um calor indescritível. Um anjo. Um anjo que desceu dos céus para iluminar meus dias. Sentiu o pranto subir-lhe a garganta, completamente levado por suas emoções.

Deu as costas rapidamente para Sansa, e recostou-se na bancada da varanda. Controlando-se o melhor que podia para não chorar da feliz e belíssima coincidência, Petyr ficou parado por um tempo, respirando e acalmando-se.

Quando voltou-se para ela, vira que seu esforço fora em vão. Seus olhinhos lindos e maravilhosos encaravam-no com uma expressão culpada, como se houvesse agido mal.
Petyr não se conteve; andou a passos largos até Sansa e tomou-a em seus braços, abraçando-a com força. Quando soltou-a, ela olhava-o sem entender.

Petyr, finalmente, depois de anos, sorria verdadeiramente. Ele sentia seus olhos curvarem-se junto do mais sincero sorriso que lembrava-se de dar, totalmente dirigido para ela, a menina que, apesar de tão parecida com Cat, não era ela. Era Sansa.

E conquistara também espaço em seu ferido coração.

Passou os dedos carinhosamente pelo rosto dela, e depois segurou-o com as duas mãos, beijando-a na testa. - Obrigado. Você, Sansa, é o meu maior presente. Não faz ideia. - Abraçou-a firme em seus braços de novo, sentindo que nunca mais iria largar.

Para sua surpresa e alegria, Sansa, fragilmente, retribuiu seu abraço, silenciosa.

Quando ele enfim soltou-a, Sansa estava corada e portava um sorriso tímido.

– Senhor, fui muito ingrata. - Ela começou a falar, mas Petyr interrompeu-lhe.

Colocou um dedo sobre seus lábios, encarou a profundidade do único azul que importava no mundo e disse-lhe: - Me chame de Petyr. Por favor. Ao menos por hoje, Sansa, vamos ser sinceros um com o outro.

Ela baixou o rosto, mas Petyr levantou-o delicadamente, o que fez ela rir. Petyr riu também, deliciado com sua graça.

– Senhor... Er, hã, Petyr. O senhor fica muito galante com esse sorriso. - Sorriu-lhe educadamente.

– E apenas você fez ele surgir. Meus sorrisos são todos para você, Sansa. - Petyr quase sentia uma incomum dor no canto dos olhos, devido a seus sorriso verdadeiros.

– Obrigada, é muito gentil. Não sei se mereço isso.

– Merece muito mais do que isso. Sansa, eu pedirei que me perdoe, mas compreenderei se não conseguir fazê-lo.

Também pedirei que acredite em tudo o que eu lhe disser esta noite, pois pretendo apenas dizer-lhe a verdade, que você deveria saber há muito tempo. - Petyr olhou-a profundamente, tomado de afeição por aquela linda menina a sua frente. Não Cat, e sim, Sansa.

A menina encarou-o preocupada. - Não me prolongarei muito.

– Provavelmente a senhora já ouviu, não só de mim, a respeito de meu amor por sua mãe. Quando eu era muito novo, meu pai enviou-me dos Dedos para Correrrio. Pretendia que eu fosse criado por seu senhor Hoster Tully, o que, para ele, era uma grande honra. Eu, o menino que era, não queria ir para longe do amor de meus pais, mesmo que significasse uma vida melhor.

– Afinal, que vida seria melhor que estar perto de quem amamos? A senhora mesma lembrou-me desta importante verdade hoje. - Sansa baixou os olhos, envergonhada. - Olhe para mim, por favor. - Petyr pediu em tom suplicante. Ela rapidamente voltou os olhos, aparentemente tocada por seu tom de voz emotivo.

– Mas eu era apenas um garoto, e nada sabia da vida. Lembra-se de quando lhe disse que a vida não era uma canção? Disse-lhe por experiência própria. - Petyr deu-lhe um sorriso triste, enquanto tocava seus cabelos. A menina fechou os olhos, aparentemente tocada.

– Fui criado junto a sua mãe, Lysa e seu tio Edmure. Sei que não quer lembrar-se dela, mas Sansa, acredite, eu sempre tentei esquecer aqueles que me foram caros no passado. Não esquecemos daqueles que amamos, por mais que tentemos. Se tivermos amado-os de verdade. - Ela olhou-o interessada. - Não quero entristecê-la, mas quero que conheça-me, e possa entender, porque, de fato, você é muito cara para mim. - Segurou o rosto dela carinhosamente. Sansa corou e afirmou com a cabeça.

– Desde muito menino, sempre fui chegado à sua mãe. Tínhamos uma conexão incrível; divertíamo-nos muito, éramos cúmplices e confidentes; ela era a única em toda Correrrio que tratava-me como se fosse um igual, não um pobretão aproveitador e oportunista. Apenas com ela eu me sentia a vontade, sentia que eu poderia ser eu... Sentia-me amado.

– Os anos passaram, e crescemos. Sua mãe foi prometida a Brandon Stark, que teria sido seu pai, mas teve um destino mais triste. Antes de ele morrer nas mãos de Aerys, entretanto, eu desafiei-o para um duelo. E foi assim que aprendi, mais firmemente do que nunca, que a vida nãe é uma canção. - Sansa fez uma expressão chocada e atenta.
– Desafiei-o pela mão de sua mãe. Ele aceitou, mas Cat ficara magoada. Queria que eu desistisse da ideia, porque ela tinha mais juízo do que eu, ou, falando em outras palavras, também nunca tivesse me amado. - Petyr deu um sorriso de cortar o coração com a lembrança, e ele reparou que a menina ficara emocionada.

– Enquanto eu estupidamente depositava minhas esperanças de garoto em algo que jamais poderia dar certo, Brandon cortou-me com sua espada daqui - Petyr pegou a mão direita de Sansa, trêmula e delicada, e depositou-a em seu ombro direito. - Até aqui. - Desceu a mão da menina até suas costelas esquerdas. - Ele levou Cat, e deixou-me sozinho com uma cicatriz. - Enquanto as mãozinhas de Sansa passaram pela sua antiga cicatriz, representação maior de toda sua tristeza, ele finalmente sentia-se mais leve, como se a carne tivesse, finalmente, sido restaurada. Estava, enfim, em paz.

Sansa agora lacrimejava. - Não chore por mim, querida. Eu não mereço. - Secou as lágrimas de Sansa delicadamente com o tecido que ela lhe dera.

– Depois disso, acabei sendo expulso de Correrrio. Brandon morreu, e Cat passou para as mãos de Ned Stark. Em uma desesperada tentativa, tentei enviar-lhe uma carta em que me declarava, e pedia que reconsiderasse seu segundo casamento. Cat nunca respondeu-me, e você sabe o que ela decidiu. - Deu um sorriso amargo.

– Lysa, entretanto, era apaixonada por mim. Sua tia sempre fora louca, e invejava Cat. Não quero machucá-la com isso, mas era verdade. Lysa sempre fora apaixonada por mim, e, em uma época, cheguei a estimá-la muito, mas nunca senti nenhum sentimento amoroso por mulher alguma além de Cat. Nem se muito tentasse. - Deu um sorriso tristemente doce para Sansa, que agora segurava suas mãos, emocionada.

Petyr ajoelhou-se na frente de Sansa, que estava sentada a uma cadeira senhorial de seus aposentos. Encarou seu rosto de baixo, seus olhos firmes no seu azul, e estranhamente reconfortados por isso. Nunca fora tão sincero com alguém em vida, exceto Cat, e sentia uma estranha e angelical paz tomar conta de todo o seu ser.

– Tentei amá-la. Mas, meu rancor por Lysa era grande demais. Nunca consegui amá-la. Mas ela me ajudou muito; subi grandes degraus na sociedade graças a ela.

– O tempo passou, e tornei-me Mestre da Moeda. Seu pai veio à Corte, e sua mãe veio procurá-lo. - Sansa espantou-se. - Sim, você nunca soube disso. Seus pais preferiram que sua mãe não a visse, nem a sua irmã, para protegê-las. Foi a última vez que a vi. E, mesmo depois de tantos anos, não consegui negar a mim mesmo: ainda amava-a.

Sansa agora chorava. Talvez pela mãe, pelo pai, pela tia... Ou, até mesmo por Petyr. A vida era triste, e, mesmo se bela, acabava por ser melancólica. Onde estavam os finais felizes de contos de fadas? Petyr também já fizera a si mesmo tal pergunta.

Petyr secou suas lágrimas novamente. - Tentei de todas as formas proteger sua mãe durante a guerra, mesmo de longe. Para a nossa imensa tristeza, não fui bem sucedido. Mas, apesar disso, consegui protegê-la. E peço perdão por tudo que sofreu em que pude ter responsabilidade. Não quero jamais vê-la ferida, muito menos por minha causa.

– Salvou-me, senhor... - Sansa soluçava. - Eu sou... Muito grata... - O coração de Petyr apertava.

Ele segurou em suas mãos, e, olhando firme e docemente em seus olhos, disse-lhe:

– Não, Sansa. Salvou-me. Foi você, e apenas você, que me salvou. - Beijou suas mãos.

Ele foi até a mesa onde dispusera seu antigo lenço. Pegou-o, ajoelhou-se novamente na frente de Sansa, beijou suas mãos e disse-lhe:

– Eu sempre amei sua mãe. Sempre amarei. Não sou um bom homem, e estou ciente disso. Mas jamais duvidei de meus sentimentos por ela. O que não significa que você também não esteja em meu coração. - Seu olhar tornou-se mais quente. Sansa corou.

– Você é muito importante para mim, Sansa. A pessoa mais importante do mundo. E eu sempre irei protegê-la, enquanto estiver vivo. Este é o meu maior objetivo. E a minha maior conquista. - Levantou-se e beijou sua testa.

– Fico lisonjeada, sen... Petyr. - Sansa sorriu-lhe, os olhos lacrimejantes, mas mais calmos.

– Gostaria de dar-lhe seu verdadeiro presente agora, Sansa. - Entregou-lhe o lenço que Cat lhe dera há muitos anos atrás, seu maior tesouro em vida, antes de Sansa.

– "Príncipe das Libélulas"? Como o da canção de Pedravelha? - Sansa olhava o lenço quase puído, surpresa.

– Precisamente. Este lenço foi o meu maior tesouro em vida. Isto é, antes de você chegar. - Sorriu para ela, verdadeiramente. Sansa ruborizou-se, e continuou estudando o lenço, sorrindo agradecida.

– Eu e Cat viajamos para lá uma vez. Brincamos, corremos, e eu fiz para ela uma coroa de flores para usar no cabelo.

– Como a Princesa Jenny? Petyr, isso é tão... Romântico. - Sansa suspirou, emocionada.

Ele sorriu. - Brincamos que eu era seu Príncipe, e ela, minha Princesa Cat. Foi neste dia que tomei consciência de meus verdadeiros sentimentos por ela. A lembrança deste dia é uma das memórias mais queridas que guardo. - Sorriu tristemente. - Este lenço secou muitas lágrimas, Sansa. Era o símbolo concreto de meu amor por sua mãe, e tão triste quanto ele sempre fora. Guarde-o com carinho.

Petyr abaixou-se e deu-lhe um beijo na testa, e, desta vez, Sansa não recuou. - Você me lembra tanto sua mãe. Espero que me perdoe por isso. E por, talvez, acabar por amá-la... Não por ser Cat, mas por ser quem é. - Sansa estava aturdida. Suas maçãs do rosto vermelhas, e seus olhos, aqueles olhos do amor cerúleo repletos de surpresa e, quem sabe... Petyr abaixou-se e beijou-a, e, desta vez, Sansa retribuiu-lhe.

E, assim, com os lábios entrelaçados com aquela que era sua única fonte de azul no mundo, Petyr sabia qual seria seu futuro.

Estava destinado a cuidar para que, embora o inverno estivesse chegando, o outono nunca mais desaparecesse do mundo. O outono que se disfarçava em camadas de tinta preta, e máscaras para esconder sua dor.

– Você conhece a canção "Estações do Meu Amor", Sansa? - Sorriu-lhe, mais feliz do que lembrava já ter se sentido, e finalmente em paz.

– Sim. - Ela sorriu-lhe brevemente.

– Cante-a para mim.

Sansa pôs-se a cantar, a melodia de sua voz mais linda do que o canto mais afinado dos pássaros-das-cem-línguas. Quando chegou o verso que mais importava para Petyr, ele colocou os dedos na boca da garota, e ele mesmo pôs-se a cantar:

"Eu amei uma donzela linda como o outono, com o pôr-do-sol nos seus cabelos..."

FIM


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Ficaria muito feliz se quisessem recomendar a fic, haha! =)