POV: Malu

-...

-O que? Você não fez isso, fez? – perguntei ao meu pai.

-Ah... – ele tentou falar, mas fechou a boca, sem saber o que dizer.

-ISSO! – comemorei, mas parei assim que vi o olhar que Marcela estava lançando para mim. Então murmurei: - O que foi?

     Ela balançou a cabeça, indicando a mãe dela. Atena lançava um olhar curioso para Poseidon. Poderia ser motivo de comemoração novamente, mas eu percebi que estava ficando muito parecida com a Afrodite, e isso não é uma coisa boa quando você quer ser uma semideusa legal que não é odiada pelos outros deuses. Principalmente por Ártemis. Afinal, ela é praticamente a encarnação do feminismo e eu acho isso bem legal.

-Você se separou da Anfitrinite? – perguntou Atena, esquecendo a raiva que sentira anteriormente para demonstrar sua descrença com o que acabara de compreender.

-Nós... nós demos um tempo – disse Poseidon, indiferente. – Mas não faz muita diferença; nós não ficávamos muito tempo juntos. Só éramos obrigados a nos aturar quando íamos resolver problemas de guerra e planejamentos do tipo.

      Meros mortais devem se perguntar: “Mas eles não dormem juntos? Afinal, são casados!”. Aí eu digo: “Você ainda não entendeu que os três grandes (Zeus e Poseidon, para ser mais exata) adoram passar as noites com mortais, se é que vocês me entendem...”.

     Tá, papai começou a falar em grego antigo muito rápido e eu estava com uma preguiça danada para traduzir tudo aquilo e, pelo visto, Marcela também, porque nós saímos de fininho e fomos em direção ao Palácio dos deuses. Marcela teve alguma ideia que realmente não me interessava. Peguei meu celular e entrei no Tumblr (sim, tem internet em todo o Olimpo).

     Em algum momento – imagino – eu ia bater de cara em alguma coisa, pois a Marcela agarrou meu braço e me puxou para o lado bruscamente. Ergui o olhar do celular por causa do susto e percebi que eu ia bater direto com Hermes, que parecia ter uma mensagem urgente.

-Oi, Hermes – o cumprimentei e voltei minha atenção ao celular.

-Oi...ah... a gente se fala depois, tenho uma mensagem para entregar... – ouvi um barulho de passos e a voz dele sumiu.

     Apenas ignorei por um tempo, até perceber que Marcela não estava falando, então olhei para ela para checar, mas eu estava sozinha! Que Bitch! Ela não tem o direito de me deixar...

-Hey, Malu! Olha só o que eu consegui!

     Olhei para o outro lado e vi a Marcela sacudindo uma carteira.

-Uma carteira nova. E... – ela revirou os olhos.

-Não é a carteira nova. É o que tem nela. Olha. – Dentro da carteira havia várias notas de cem dólares (eu não tenho certeza de quanto) e vários cartões brilhantes.

-Onde você arranjou isso? Não me diga que está desistindo da escola e virando ladra! Sério! Eu sei que você não gosta, mas não precisa... – ela colocou a mão direita sobre o rosto e sacudiu a cabeça, como quem desaprova. – Tá, o que foi?

-Eu disse ao Hermes que ele não havia sido gentil comigo durante o nosso encontro, na parte que ele me agarrou...

-Mas você correspondeu e... – ela me cortou, como se eu não houvesse falado nada.

-...então eu merecia uma recompensa. E mencionei que eu devia ter algumas das habilidades dele já que fugi do palácio da Afrodite, para não passar por Spa – eu tossi, para indicar que ela não havia feito sozinha, mas ela me ignorou – e que, como semideusas com pais tendo rolos, nós precisávamos de algum apoio material, já que Poseidon é muito pão duro e o máximo que ele dá para os filhos é um dólar feito de areia e a Atena está muito ocupada com toda sua sabedoria, sem se importar com o material, precisávamos de ajuda, até porque não temos como nos manter aqui e...

-TÁ! JÁ ENTENDI! E o que ele disse? – eu não estava mais aguentando a Marcela tagarelar.

-Ele ficou estressado que nem você e me entregou essa carteira resmungando algo como “Mulheres! Não interessa o que digam, todas se parecem com Afrodite...”.

Suspirei.

-Certo. E o que vamos fazer com isso? – perguntei, revirando os olhos.

-Vamos fazer compras! – comemorou ela.

     Eu pensei por um instante. Àquela hora, a Afrodite já estaria nos procurando.

-Sem a Afrodite? – ela confirmou.

-Tudo bem – concordei e fomos para o elevador. Ela dando pulinhos e eu saindo do Tumblr.

     O elevador desceu e eu não prestei atenção na música. Era melhor para a minha vida.

     Quando chegamos ao térreo, foi estranho. Havia algumas pessoas por lá. Empresários e esse povinho que vai para o Empire State por motivos humanos. Imagino que eles estranharam ao ver duas adolescentes saírem de um dos elevadores com roupas casuais e irem ao recepcionista – que, por acaso, ficou vermelho quando nos reconheceu -, mas não nos atacou quando dissemos que estávamos “morando” no Olimpo com a Dite, e coisa e tal, e tal e coisa, e ele disse que éramos bem-vindas a voltar...

-...se vocês aparecerem com um desses tais deuses. – virou-se e resmungou para si mesmo algo como “crianças!”.

     Eu disse a Marcela que resolveríamos isso depois e saímos do Hall do prédio. Estava um dia ensolarado, mas não muito quente. Pegamos um táxi para a Times Square. De lá, íamos a pé, passear por New York e comprar roupas novas e livros e bolsas, sapatos... Enfim. Ia ser MUITO legal!

...

-Eu não vou entrar aí – falei batendo o pé.

-Mas Malu, nós... – Marcela tentou me convencer.

-Não adianta – cortei-a -, pode ir, mas eu vou para algum lugar descente.

Ela revirou os olhos.

-A Victoria’s Secret É um lugar descente. E famoso. E eu provavelmente nunca vou ter a chance de entrar aí com dinheiro suficiente para comprar algo útil!

     Suspirei.

-Não vamos comprar nada para mim! Eu só vou te acompanhar aí, depois vamos a lojas boas de VERDADE!

-Tá, tudo bem – ela resmungou, mas eu tive a impressão de vê-la sorrir quando me segurou pelos ombros e me guiou para a loja.