When It Comes To The Truth escrita por Angie Di Salvatore


Capítulo 2
Game on, bitches


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo, deu trabalho viu u-u haha boa leitura



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61 anos depois

  O segundo dia de aula no Colégio Rosewood Day contava com um céu límpido e ideal para que Megan estivesse usando seu vestido longo colorido e sua sapatilha bege. O cabelo, preso em um coque frouxo no alto da cabeça, dava a impressão de que ela iria logo pôr a mão em massa - isso porque ela pintava, e muito bem. Com todos os clubes artísticos que têm o caráter mais rebelde em seu currículo, ela gostava de falar com todos, mesmo que de uma forma educada e um pouco distante, algumas vezes.

  Andou pelos corredores até a secretaria para pegar os horários, e ao passar pelas portas duplas ela viu Amy, filha de uma das amigas de sua mãe. Amy era baixa e gordinha, e tinha os cabelos longos caindo como uma cascata de cachos ruivos pelos ombros. Era uma aluna excelente e também era bem simpática, mas era mais conhecida por ser extremamente certinha. Tanto que o namorado dela, Alex, pediu formalmente sua mão ao Sr. e à Sra. Cavanaugh e ninguém via mais do que mãos dadas ou beijinhos discretos vindos dos dois.

  - Eu vim pegar os meus horários. – disse Amy, colocando a mão direita no cotovelo de seu braço esquerdo.

  A mulher de óculos grandes e redondos tateou a gaveta à procura da letra A. Diferentemente do que deveria ser, as coisas estavam embaralhadas. Alguns papéis espalhados e amassados rondavam a gaveta, até que finalmente pegou um papel dobrado e entregou a Amy, junto com uma lista de atividades extracurriculares que poderia realizar.

  - Também vim pegar os meus horários. – Megan interrompeu. Logo, a confusão começou novamente, a mulher se desesperara mais uma vez. Olhou para Amy e acenou – Oi Amy.

  Ela virou de costas e ergueu um pouco a cabeça para trás, se aproximando da porta.

  - Oi. – falou apressada – Preciso ir.

Saiu da recepção direto para o banco onde seu namorado, Alex, estava esperando para levá-la para a primeira aula. Ele pegou o rosto rechonchudinho dela e lhe deu um beijo de leve. Andaram de mãos dadas, ela com o rosto um pouco corado, até a aula de matemática avançada. Ele a beijou e começou a passar a mão pela sua cintura. Foi quando ela o repreendeu.

- Ei, garotão. Está bom, ok? Te vejo depois da aula.

Quando ela se sentou e a professora chegou o celular apitou – mas ela decidiu deixar para depois; afinal de contas, era o segundo dia de aula e poderia esperar.

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Enquanto isso, na frente da escola, uma grupo de alunos se diferenciava dos demais pelas roupas mais descontraídas, com AllStars e basqueteiras. Dianna, com uma bermuda de pano e uma blusa estilo nadador, amarrava o AllStar branco enquanto ria de uma piada feita por Nathaniel. Ele ria discretamente e a olhava com um olhar curioso.

- Então, vocês pretendem participar do próximo torneio? – perguntou Haley, uma garota ruiva cheia de sardas, que praticava skate – Nem pensem em passar esse, vai ser fantástico!

- Deixar passar? Não é muito a nossa cara. – disse Dianna, rindo – Claro que a gente está dentro. E para ganhar – disse, dando um empurrão no ombro do amigo. Ele se desequilibrou e em seguida pegou a mão dela e forjou uma mordida, que não aconteceu, pois ela tirou a mão. Ele se desequilibrou mais uma vez, quase caindo em cima dela – Está esquecendo as coisas, Haley? – e riu. A amiga ficou sem graça, mas logo cedeu e riu junto.

Sentiu algo vibrar dentro de sua mochila. Tirou o IPhone e desbloqueou. Uma mensagem nova, remetente desconhecido.

“Esquecer. Está aí uma coisa que vem sendo muito útil para você. É bom que continue assim, não acha?”

Dianna olhou para os lados, mas tudo parecia normal. Apagou a mensagem e tentou acreditar que era uma pegadinha dos calouros. Mas ela sabia do que a mensagem se tratava, e sabia mais ainda que calouro nenhum tinha aquela informação.

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Violet passava pelo portão principal com o IPod ligado no máximo com Starships. Mandy pulou em suas costas e desatou a rir, brincando com o cabelo roxo da amiga.

- Sério, você é uma gênia. – ela disse, analisando as mechas longas – Retiro completamente o que eu disse. Roxo escuro é definitivamente melhor do que um simples lilás e o cabelo todo ficou muito mais estiloso do que se fossem simples mechas.

- Eu falei, não falei? Afinal de contas, sou eu que sei das coisas por aqui.

- É... pior é que é. – um silêncio constrangedor se seguiu, cortado pelo súbito gritinho de empolgação vindo de Mandy – E o meu? O que você acha que eu devo fazer? Minha mãe está completamente disposta a ouvir o que eu tenho a dizer sobre ele. Sei lá, que tal rosa?

- Rosa? Clichê, clichê, clichê.

- Drama, drama, drama.

- Haha, você sabe que sim. Acho que você precisa de alguma coisa mais normal. Pinta de preto, vai ficar bem melhor do que louro. Nada contra seu cabelo, claro.

As duas riram, andando até a aula de história. Quando chegaram, Violet viu Dianna sentada na primeira cadeira, com o amigo pendurado do lado, e acenou rápido. Era uma garota bem descontraída, mas gostava de coisas ao ar livre, enquanto ela preferia o conforto de casa. Não se falavam muito, mas tinham feito alguns trabalhos juntas. Passou rápido por ela e se sentou no meio da sala com Mandy.

- Você está totalmente certa. Não sei o que eu faria sem você. Preto é a minha cor.

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Damian deixou Megan na aula de teatro, com um beijo de despedida. Ele era um ótimo namorado, claro, mas tinha alguma coisa que a estava deixando desconfortável. Deixou o assunto de lado e se sentou, esperando o professor maluco que logo chegaria com algum tipo de vestido indiano completamente sem noção. Era alto e magro e usava óculos fundo de garrava, e quando passou pela porta esbanjava um sorriso que tomava metade do seu rosto.

- Muito bom dia! Espero que estejam dispostos, porque hoje não vai ter nada de atividades. Vamos conversar, abertamente, sobre o resto do nosso ano. – olhou em volta e seus olhos pararam em Megan – Mas olhem só quem nos deu o ar da graça. Faltar o primeiro dia, Srta. Vaughan? Algum tipo de tradição?

- Mais ou menos, professor. Mas vamos aos tópicos.

- Bem lembrado. – pegou um classificador que estava acima de sua mesa e retirou alguns papéis – Vamos trabalhar nos clássicos este ano. Decidimos fazer uma peça que valerá pontos em teatro e literatura. O Sr. Turner concordou em fazer um trabalho conjunto. Vai, como é de costume, ser apresentada no final do ano e será baseada em alguma das obras de Oscar Wilde. Por isso, recebemos hoje um novo integrante da turma, Jensen Mitchell.

Todos na sala começaram a procurar pelo rosto desconhecido que se levantaria para se apresentar como o tal de Jensen, e não perceberam que ninguém ia se levantar até que um garoto alto, de cabelo loiro-escuro e olhos grandes e verdes – que estavam maiores ainda, assim como sua respiração estava acelerada uma vez que ele claramente estivera correndo – entrou na sala e fez uma reverência antiquada para o professor, zombando descaradamente da cara dele.

- E...hm... Esse é o Sr. Mitchell.

Como se não estivessem se referindo a ele, Jensen caminhou calmamente pela sala e se sentou ao lado de Megan, para onde ele olhou e soltou um riso safado, articulando com a boca as palavras bom dia, milady. Ela revirou os olhos e se concentrou no professor, que começara a falar sobre A Megera Domada.

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 Quando o sinal bateu, Amy foi dirigiu-se até uma mesa em um dos cantos do refeitório. Abriu a bolsa e pegou o Samsung Note, que ainda apitava devido à mensagem pendente.

“Vamos deixar o garotão fazer o seu trabalho. Não gosto da Amy fresca. Sou muito mais a Amy bêbada.”

A reação foi automática; olhou ao redor, com a respiração se tornando irregular. Não é possível. Ela nunca ficara bêbada, exceto... Mas aquele dia foi enterrado, e por isso ela tinha acabado de voltar, depois de um ano inteiro em Vancouver: para esquecer. Ficou tão atormentada que o celular quase caiu. Voltou a guarda-lo e pegou o suco de melancia, mas não sentiu vontade de beber. A garganta estava seca, mas ideia de alguma coisa descer já dava ânsias. Era melhor assim, de qualquer forma. Quanto menos ela comesse, mais cedo perderia os quilos que tanto repudiava.

O som de vozes superando as demais chamou sua atenção. Nathaniel e Damian se encaravam, e um silêncio mortal se seguiu. Quem o quebrou foi Nathaniel.

- E aí? Está esperando o quê? Retire o que disse.

- Se toca, garoto – Damian respondeu com um meio sorriso convencido.

- Só retire o que disse, cara. Já não foi suficiente ter derramado refrigerante na garota ontem? Tudo tem limites.

- Vai ter o limite que eu disser que tem.

- Quem você acha que é? A realeza? As coisas não funcionam assim.

- E você? É o namoradinho dela, é isso?

Nathaniel lançou um olhar de esguelha para Dianna e deu um sorriso sem graça, como quem se desculpa. Foi possível ler em seus lábios a simples palavra que deveria ter mudado o rumo das coisas, Não.

- Retire. O que. Você. Disse.

- A menina é uma pequena babaca, qual é. Uma boyband cheia de gays? Eu devia ter queimado aquela camiseta, não simplesmente derramado suco.

- Não creio que você possa dizer o que é aceitável, não é? Até onde eu sei, ela pode muito bem gostar do que ela quiser sem ser julgada. E isso é assunto velho.

- Tá dizendo que eu sou ignorante?

- Longe de mim.

- Você não sabe com quem está lidando.

- Ei, cara. É só retirar o que disse. E não me culpe se a carapuça serviu. Eu sequer pensei na possibilidade de utilizar tal termo agora.

Damian fez uma cara de interrogação que foi logo mascarada por desafio. Ele não costumava agir assim, mas ninguém sabe o que as férias podem fazer com uma pessoa. Ele deu um empurrão em Nathaniel, que acertou o punho direito na cara dele, o fazendo cair. Murmurou alguma coisa como “da próxima vez você retira o que disse e mantém todos os dentes dentro da boca” e saiu da cantina com as mãos nos bolsos.

Violet estava com o rosto encostado nas mãos, torcendo para que ninguém fosse suspenso por ter brigado em pleno refeitório, um pedido que era um abuso e tanto da sorte. Quando alguém era suspenso as pessoas surtavam e os corredores ficavam intransitáveis. Ela não gostava nem um pouco de aglomerações. Ouviu o celular começar a lançar no ar o clássico som do The Sims e arrastou a mão até a mochila para pegá-lo. Abriu a caixa de mensagens e congelou instantaneamente.

“Acho que Damian está com a garota errada. São mais parecidos do que jamais suspeitei. Os dois têm seus pontos fortes: ele fala cara a cara, mas você consegue fazer melhor.

P.S.: Pense assim: pelo menos alguém ainda está disposto a defender os mais fracos.”

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Damian foi levantado pelos amigos do time de futebol e foi levado até um banco na frente da escola, onde todos queriam saber quando ele delataria o “escroto” do refeitório.

- E o quê? Dizer que o babaca me atingiu em cheio? Tô fora. Deixa para lá, na próxima eu não vou ser tão bonzinho.

Nem mesmo o barulho atordoado das vozes dos alunos fez com que os passos de Megan não ecoassem. Ela segurava alguns papéis, os mesmos com os quais bateu com toda a força no ombro de Damian.

 - Qual é o seu problema? – ela gritou – É idiota ou o quê?

Ele encarou-a.

- O que foi agora? – Megan revirou os olhos. Damian pode escutar seus amigos prendendo o riso, virou-se para eles – E vocês? Ainda estão aqui por quê?

Os garotos se retiraram, trocando olhares e murmúrios.

- Às vezes eu me pergunto por que comecei a namorar com você.

- Vai me dizer o que eu fiz ou terei de advinhar?

- Acho que você sabe do que estou falando. As notícias correm. Peça desculpas para Nathaniel. E para a garota, principalmente.

- Vai ficar do lado daqueles dois ao invés de ficar do lado do seu namorado?

- Lado? Lado? Quantos anos você tem, Damian, seis? Eu vou ficar do lado do que me é certo. Do que vai de acordo com o que eu acredito, mas não sei se você é capaz de entender essa parte. Não parece que acredita em nada nesse momento.

- Acredito que estou certo.

- Não, você quer estar certo porque fez merda e não quer admitir. Onde estão os seus valores? Bullying? – acrescentou, com nojo – Podia jurar que você era mais do que isso. Mas me enganei.

- Ei, ei. É um surto de TPM, é isso? Se for assim, prefiro esperar que passe.

- Nossa, vai ser mais difícil do que parece. É tão difícil entender que você errou e eu não vou acobertar isso só porque estou com você?

- Mas deveria, sabe.

- Não, não deveria. Estou cansada de fingir que eu venho amadurecendo e você continua na mesma. Está na hora de tomar uma atitude, está começando a parecer um babaca.

- Está me chamando de babaca?

- Estou dizendo que você está quase lá.

- Eu... caralho. Eu não sabia que você ia levar isso tão a sério.

- Eu não sei o que seria de você se não se importasse comigo. Porque claramente não se importa com mais ninguém, e de vez em quando vai precisar de algum juízo emprestado. É bom pedir desculpas logo, à garota principalmente. De preferência, compre o novo CD daqueles garotos e dê junto, ou sei lá. Não consigo pensar em nada que vá fazer com que ela te perdoe depois de ter sido humilhada no primeiro dia de aula dela.

- Menos, ok? Vou pagar uma raspadinha para ela, mas não vou disseminar a cultura-lixo.

- Oh, céus! – ela disse, levando as mãos para o ar e dando meia volta. Ele tentou gritar o nome dela, mas ficar com ele depois de uma briga não era o tipo de coisa que ela fazia. Não nesse caso. Se sentou em um dos bancos no corredor e esperou que o intervalo terminasse, ou que a terra a engolisse. O que viesse primeiro.

Ele tinha se superado dessa vez. Trotes bobos são comuns durante o colegial, mas a pobre garota não tinha tido nem chance. Era três anos mais nova que eles, e estava tão de bem com a vida que quando estava lá, toda molhada, mal parecia ter percebido o refrigerante que lhe escorria pelos cabelos.

O sinal de quinze minutos tocou e ela resolveu não esperar mais. Entrou na aula de literatura. Além dela, apenas Amy, Violet e Dianna estavam na sala, cada uma em um canto. Como já era previsto, o nome Oscar Wilde estava escrito em letras graúdas na lousa. Estava claro que cada uma queria um momento sozinha, mas escolheram o lugar errado. Megan se dirigiu para a última cadeira do outro lado da sala e estava se sentando quando ouviu Paradise tocando na sua mochila. Uma música vintage, mas incrível. Pegou o celular com pressa e desativou o aviso de nova mensagem. Pegou o caderno logo, mas não sabia que não seria capaz de escrever ou prestar atenção em nada durante a aula.

“Todos nós fazemos merda sem querer admitir. Hora de socializar; junte-se às vadias. Vamos ver quem se rende primeiro.”

-A 


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Notas finais do capítulo

Deu muito trabalho², reviews -qn KKKK.