Miku pov.:

Meu tio nos observava do andar de cima. Ele sempre nos olha com um olhar apetitoso e lambe os beiços velhos e gordurentos.

Sinto arrepios. Aquele velho nos dá medo.

Sento me em um dos muitos montes pelo extenso gramado. Fico de olhos fechados por um tempo porque sei que o velho continua lá. Ele sempre está lá.

Abro os olhos.

Olho minhas três irmãs. Luka, Lily e Rin. Todas com vestidos enormes e rodados. Eu já rasgara o meu. Deixara um simples vestido, nada pomposo, nada extravagante.

Sinto o ódio pelo velho. Tenho a absoluta certeza que ele também olhava minha mãe quando ela era pequena. Novamente, arrepios.

As três brincam de alguma coisa que é formal demais para mim. E tudo é formal demais para mim.

Inocentes. A inocência delas me faz amadurecer.

Elas brincam até o anoitecer enquanto eu escalo árvores. Múrmuros de desaprovação vem de Marthita, nossa empregada. Estou longe, mas tenho certeza do que ela fala “Não sei como Isabelle teve essa menina. Ela é tão diferente, tão boba. E não parece uma menina!” Dou risadas em cima da árvore.

Corro os olhos pela janela e vejo que meu tio não está mais lá. Apenas a nova namorada dele. Elas são mais tolas que ele. Acham que conseguem matar o velho. Isso é impossível. E pode acreditar, eu já tentei.

Marthita nos chama e somos obrigadas a entrar, nos lavar, e nos vestir para dormir. Sem janta. Por minha causa.

E por causa da tentativa de assassinato número 341.

Luka, Lily e Rin falam coisas, como Marthita diria? Coisa de garota enquanto eu tento dormir. Não posso cantarolar, pois isso viola a regra número 1 da mansão de Richard. Nada de canto. Ou de algum barulho com ritmo.

Viu? Tenho motivos o suficiente para querer mata-lo.

Mando-as se calarem e viro-me para o lado. Não consigo dormir. Uma música se passa por minha cabeça.

Levanto e olho pela grande janela.

Quando o vejo percebo que Marthita terá sua comprovação de que sou menina.