Always Attract escrita por Lena Portela


Capítulo 2
Capítulo 1 - E se me procurasse... eu fugiria.


Notas iniciais do capítulo

Oi again. Então, aqui está o primeiro capitulo. E para quem está se perguntando se a historia mudou, sim, eu mudei o enredo e encaixei melhor os personagens, mas a essência da historia é a mesma. Inclusive os personagens. Espero que gostem dessa nova verão. Não deixem de comentar, gente. Obrigada e até o próximo. :)



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Capitulo I

E se me procurasse... eu fugiria.

É engraçado observar como é contraditório o destino. Eu não deveria ter te conhecido. Você vê, éramos de mundos diferentes. No entanto, quando você errou a trilha que te levaria ao seu verdadeiro caminho e eu tropecei na trilha que me levava até o meu, criamos um caminho único. E nós caminharíamos juntos por ele. E você descobriria quem era. E eu descobriria que não era nada daquilo que pensava ser. E juntos, nos encontramos. E juntos, seriamos quem deveríamos ser.


– Estou preocupada com você. – disse a professora depois de me chamar ao final de sua aula e me contar que tinha algo a me dizerr.


Eu suspirei, sabia o porquê de toda essa preocupação. Ela atendia pelo nome de matemática. E eu era péssima nela. Havia conseguido alcançar a média com algum esforço durante os primeiros meses desse ano, a professora Verônica estava de olho em mim desde minhas primeiras notas. Eu sabia que não era marcação. Que ela só estava preocupada comigo e tudo mais. Só que é meio difícil você se lembrar disso no momento em que é chamada atenção.

Por não ter nada mais a dizer, eu apenas disse a verdade. – Eu sei professora, estou tentando recuperar matéria.

A professora se recostou em sua mesa e dobrou as mangas da blusa de seda azul clara. Ela era uma jovem bonita e elegante mulher de cabelos e olhos castanhos, lábios vermelhos e um ar de quem sabia muito da vida. Eu gostava dela. O que já era um avanço, já que eu odiava todas as minhas professoras de matemática justamente pela matéria elas ensinavam. Sabia que era injusto, infantil, mas às vezes você tem que fazer um pouco birra para não estourar. E esses dias eu tinha economizado em birra, estava no meu limite. – Não, você não vai. – Ela disse, sincera em sua opinião. Permaneci calada, meus dedos tremendo e uma vontade gritar gigante. Verônica suspirou. Desencostou-se de sua mesa e ficou de frente a mim, seus braços cruzados. E mesmo que eu estivesse com os olhos baixos saberia disso; a presença da professora era imponente como só poucas pessoas sabiam ser. Era o negócio que eu havia comentado antes, ela parecia saber muito da vida. – Suzanna, eu só quero te ajudar, você me entende?

Assenti.

– Eu sei. – disse baixo.

Verônica suspirou. – Olhe para mim. – Eu levantei a cabeça e encontrei seus olhos castanhos. Eles sempre foram tão sérios e respeitáveis, hoje carregavam uma parte gigante de simpatia, eu senti meus próprios olhos esquentarem. – O que está acontecendo?

Dei de ombros. – Nada demais, alguns problemas em casa. Vai passar.

Ela segurou meu ombro e sorriu um pouco. – Não vou te forçar a falar, mas saiba que sempre pode me contar qualquer coisa. – eu assenti novamente. – Ficará entre nós.

– Tudo bem.

Verônica me envolveu com um dos braços e caminhou comigo pela sala, catou minhas coisas em cima da carteira e as entregou para mim. Quando nós já estávamos na porta, o som dos saltos altos dela e o barulho abafado dos meus tênis allstar soando em acústico ficando para trás, ela me encarou. – Deixe os problemas de lado um pouquinho, - eu iria falar, ela me interrompeu. – você vai fazer isso se quiser passar. – quando eu não protestei, Verônica continuou. – Você não pode mais tirar uma nota vermelha, ou reprovará na matéria. Então sugiro que você vá até a sala do diretor e preencha uma ficha para que um dos auxiliares te ajude com isso, está bem?

Fiquei um pouco surpresa, mas acabei respondendo que sim. O grupo de auxiliares eram as últimas pessoas que passaram na minha cabeça quando pensei em meu problema com a matemática, embora o papel deles fosse semelhante ao de um professor particular. E agradeci internamente por Verônica me observar tanto. A vigilância dela havia me salvado do que provavelmente seria uma reprovação certa.

Despedi-me da professora de matemática e caminhei com minha bolsa nas costas. Eu era invisível, Suzanna Reverton, aluna do terceiro ano do ensino médio. Estudante do Instituto Lemoine, uma escola que ficava em uma cidade balneária chamada St. Louis, feita para alunos que tiravam boas notas ou vinham de uma família tradicional. O especial do Lemoine é que havia uma Universidade anexada bem ao lado do colégio, como uma junção das duas etapas da vida de um estudante. Eu era uma boa aluna, mas ainda vinha de uma família tradicional. Então eu era um termo único. Eu gostava de ser invisível. Gostava de ter poucos amigos e estar sozinha quase todas as horas da minha vida.

E embora isso fosse mudar depois de algum tempo, por agora, eu não entendia o porquê da popularidade e da variedade de amigos ser tão importante. O Lemoine tinha uma hierarquia diferente; ser popular não era o problema, nunca foi. O bom do Lemoine era quantos amigos você colecionava, quantas pessoas te conheciam. Se o calouro do primeiro ano soubesse seu nome, a menina do segundo desejasse um caso amoroso com você, e a loura do terceiro fosse sua namorada, você era alguém sortudo. Agora, se o faxineiro, o zelador, o porteiro, a diretora, os alunos do primeiro, segundo, terceiro e de quebra, alguns da faculdade pudesse descrever a cor de seus olhos ou do seu cabelo, meu bem, você era o nosso equivalente a popular.

Havia três garotos e duas garotas assim em todo Lemoine. Eles eram Kaio, Jack e Junior. Elas eram Dafne e Ana.

Ana era minha colega de classe. Dafne, não. Dafne era uma loura de gelo, de família nobre e um andar imperial ao qual fazia com que você se sentisse um lixo. Mais tarde descobriria que tinha muito mais a ver com ela do que nós duas se quer imaginávamos. Ainda que, ela continuaria a ser sempre o quê era: uma vaca. E isso era uma verdade universal.

Jack era conhecido por seu sorriso aberto, a simpatia estampada no rosto. Junior era o garoto por quem quase todas as meninas do Lemoine suspiravam.

Kaio, bem, Kaio Skyker era o garoto com fama de bad boy e mulherengo - apesar de Junior ser o príncipe encantado - que tinha um sorriso de anjo e olhos cor de âmbar. Ninguém resistia a ele. E eu desconfiava que o Skyker fosse o verdadeiro líder do rank de mais populares do Lemoine. Coisa que se você perguntasse para ele, o cara sorriria na sua cara. Eu não ia com a cara dele, ainda que não tivesse nada contra.

A essa altura, todo mundo já deve saber quem é o verdadeiro príncipe encantado da história, verdade?

...


– E você já sabe quem é? – Perguntou Lilian, minha melhor amiga, detrás do balcão do Candy Clube. Ela balançava seu rabo-de-cavalo ruivo para todos os lados enquanto servia agilmente os pedidos que lhe eram feitos.


Eu dei de ombros. – Não me importa quem seja contanto que seja bom. – acrescentei depois de pensar melhor. – Que seja milagroso, eu quis dizer.

Eu estava sentada em um banco alto do lado da frente do balcão observando Lilian trabalhar com meu copo de refrigerante nas mãos. O Candy Clube era o bar/café/restaurante mais famoso de St. Louis, ficava no centro da cidade, bem pertinho de toda a bagunça do transito e ao mesmo tempo, se você viesse do lado oposto, próximo do porto. O cheiro salgado se misturava ao de café e morango. Uma combinação estranhamente única que instantaneamente fazia você reconhecer o lugar. Já era o turno da tarde e daqui a alguns minutos eu encontraria meu professor particular de matemática, só estava fazendo hora no estabelecimento dos pais de Lilian, onde, na Lilianlândia significava a escravidão de toda tarde. Ao contrário de muitos outros adolescentes mimados do Lemoine, Lilian trabalhava se quisesse alguma coisa excedente do que os pais dela achavam ser necessário. O que significava quase tudo do que Lilian comprava, ela adorava bandinhas, sempre estava inventando uma. Era fã de tudo quanto é cantor e ator teen que você pudesse adivinhar.

– Não seja tão dramática, Suzy. – ela dizia enquanto anotava outro pedido. – É só questão de você esquecer que seus pais estão possivelmente se separando para sempre e que seu irmão esteja cada vez mais irritado com isso.

Eu levantei o meu refrigerante em um fingido brinde. – Obrigada por me lembrar do que eu já estava lembrando.

Lilian entregou o pedido a uma garota baixinha que nos olhava curiosa. – É só uma constatação, Suzy. – Ela colocou as mãos na cintura e tirou meu refrigerante de minhas mãos. Fez-me levantar e apontou para o relógio. – Você vai chegar atrasada. – Ela disse.

Eu bufei. – Como se eu estivesse ansiosa por isso.

Lilian beijou minha bochecha. – É por isso que eu estou te apressando.

E me empurrou porta a fora.

...


 

A biblioteca do Lemoine era uma das maiores e mais bem abastecidas bibliotecas do estado, tanto que a algum tempo recebera o nome de uma autora celebre: Clarisse Lispector. Coisa que eu achava ótima, já que era uma leitora ávida. Minhas melhores notas estavam nas ciências humanas, por isso, eu lia muito, e gostava de fazer isso. Os livros eram um lugar onde o impossível sempre teria uma brecha, a mentira ainda teria um pouco de verdade, vilões eram mocinhos e mocinhos, vilões.

Já conhecia a biblioteca de um jeito que só muitas idas solitárias até a aérea de clássicos poderia fazer, então quando cheguei, cinco minutos adiantada, apenas sorri para a bibliotecária e segui em diante. Os livros preenchendo minha visão, a luz fraca me fazendo relaxar, o cheiro dos livros me deixando feliz como muitas coisas não faziam esses dias, e um sorriso suave em meus lábios. Engraçado o que um lugar pode fazer com você.

Estava na sessão de poemas, então enfiei o rosto em de coletâneas de Rilke e perdi a noção do tempo. Eu estava lendo os primeiros versos de “Solidão”, adorando a minha amada solidão silenciosa quando a voz dele, rouca, tão perturbadora quanto tempestades no mar, me fez despertar do devaneio da leitura.

– Você deve ser a Suzy. – Ele disse. As linhas e letras que eram tudo que eu via ainda pouco se tornaram embaçadas e ilegíveis. A presença dele era tudo que preenchia meus sentidos, sua voz em meus ouvidos, seu ar em meus pulmões, sua áurea empurrando a minha. Ele era realmente sombrio como eu suspeitava, mas não exalava isso. Sua fama de bad boy nada tinha a ver com esse sentimento de opressão que vinha dele, não, era eu quem era muito observadora. Quem o encarasse e não realmente reparasse não poderia reconhecer esse peso, ele era todo simpatia e calor. Principalmente quando estendeu a mão grande de pele dourada em minha direção. – Eu sou Kaio...

– Sei quem você é. – Eu o cortei, desprezando a mão estendida. Afastando-me um passo para fora do circulo dele. Tentando ganhar espaço. Repirar meu próprio ar, um que não estivesse impregnado do perfume dele. – Todos nós sabemos.

Eu olhei para cima quando ouvi o seu riso. E lá estavam seus famosos olhos âmbar e sim, eram muito bonitos e não, não me diziam nada. Eles eram tão reveladores quanto os fios castanhos úmidos de seu cabelo caindo sobre o seus olhos; só me diziam que ele havia tomado banho á pouco. Ou seja, coisas obvias. – Eu só estava sendo educado, sabe, cidade pequena, velhos costumes.

Eu não sorri. Na verdade, bufei internamente. Havia jogado a sugesta para ver se ele seria humilde e ficaria envergonhado com o que disse e negaria com palavras simples, ou seria tão exibido a ponto de estar confortável com sua fama. Segunda opção, desgraçadamente. Mais um espaço desperdiçando no mundo. – Não precisa, - eu lhe disse dando mais um passo para trás. Preparando-me para dar as costas a ele. – eu não me ofendo com coisas rudes.

Ainda com o livro em mãos, virei e me preparei para ir embora. Consegui dar um passo. As mãos de Kaio dispararam e seguraram meu pulso, uma delas manteve o aperto, a outra segurou o livro que eu estava lendo até ele me interromper com seu perfume, sua voz rouca e seus olhos de mel.

Ele leu o titulo.

– Rilke. – Disse o nome do autor, o sotaque característico enrolando no “R”. – Isso é ficção cientifica ou romance?

Ignorei o “isso” e respondi, olhando propositalmente para os seus dedos aquecendo meu pulso. – Poesia. - Ele estava fazendo círculos em algumas cicatrizes finas de infância que eu tinha ali.

Ele me lançou um olhar confuso. – Nunca entendi poesia, - ele disse. – não entendo o porquê alguém escreve linhas de uma coisa que rima e não conta historia nenhuma. Apenas constatações do que já sabemos, quer dizer, o negocio trágico do amor todo mundo já conhece.

Iria dizer a ele que poesia foi feita para ser sentida quando me calei subitamente, eu não estava nem ai para explicar para ele. Meu professor particular já deveria estar por aqui a uma hora dessas, eu estava atrasada e não gostava disso. – Você pode me soltar?

Kaio pareceu não ter me ouvido e abriu o livro na página que eu estava lendo, ao qual ele havia marcado com polegar, segurando o livro de um jeito estranho. Foi então que ele leu, curiosamente a segunda estrofe do poema:

Cai como chuva nas horas ambíguas,

quando todas as vielas se voltam para a manhã

e quando os corpos, que nada encontraram,

desiludidos e tristes se separam;

e quando aqueles que se odeiam

têm de dormir juntos na mesma cama:

então, a solidão vai com os rios...

A voz de Kaio era clara e limpa, e ele recitou o poema de uma forma quase displicente. Fiquei calada por um momento, ninguém que não gostasse de poesia poderia soar tão natural. Ou ele era muito perfeito, ou ele não estava me contando alguma coisa. Descartei a perfeição. Essa droga não existia.

– Você pode me soltar? – eu pedi, pela enésima vez. O calor dos dedos dele estava percorrendo meus braços lentamente em uma sensação nada legal. Deus, eu queria distância dele.

Kaio continuou a olhar para o livro. – Solidão. - ele murmurou. Olhou para mim por entre as pálpebras cobertas de cílios longos, morenos e curvos. Então ele disse baixo: - Você não pediu “por favor”. – Acrescentou depois de um sorriso diante de meu silêncio. - Então, como estava dizendo antes: Sou Kaio, seu professor particular.

E eis ai, o momento perdido no tempo onde tudo começou.


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Notas finais do capítulo

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