Quando me entregaram minha câmera, joguei-a dentro de uma gaveta. Não queria ver aquilo nunca mais.

No enterro vieram várias pessoas. Antigos amigos de Tetsuya, professores, vizinhos e parente deles.

Todos já haviam ido embora, só havia sobrado eu e sua mãe, encarando o tumulo do jovem garoto sem dizer nada. O que havia para dizer? Tetsuya havia morrido.

Por fim, a mãe dele colocou as mãos em meus ombros e disse.

- Ele está melhor agora. Sem sofrimento, sem febre e sem cansaço – disse e eu assenti, uma lágrima cortando meu rosto. Já havia chorado tanto que nem havia notado. – Eu tinha um convite para fazer a você, ontem. Achei que seria uma boa forma de celebrar, mas... – sua voz falhou.

- Convite? – perguntei rouco.

- Queria chama-lo para morar com a gente – disse a senhora. – Se quiser, eu ainda desejo sua companhia.

- A senhora não quer ficar sozinha naquela casa, não é? – perguntei docemente e ela assentiu. – É claro que irei, obrigado pelo convite.

- Oh, Mana – disse me abraçando e desmanchando em prantos. – Quando eu te vi pela primeira vez fiquei tão feliz! Eu sabia que Tetsuya estava envolvendo-se com pessoas erradas... E ele de repente me aparece com você, uma pessoa tão boa. Eu não iria querer ninguém melhor para meu filho. Você acabou sendo como um filho para mim também, Mana!

A forma como ela falava, fazia-me acreditar que ela sabia que Tetsuya e eu não éramos apenas amigos. Aquela senhora tinha um coração muito bom, Tetsuya também tinha aquele coração, apesar de ser um pouco bruto.

Algumas semanas depois da minha mudança, eu finalmente mandei revelar as ultimas fotos do álbum. A mãe de Tetsuya só queria duas: A primeira e a ultima.

A primeira porque foi a vez em que, de todas as fotos, ele estava melhor, pois era a mais antiga. E a ultima, porque segunda ela, ele estava radiante. Sua ultima grande atuação.

Comecei a passar dias olhando as fotos e rindo comigo mesmo lembrando de cada momento. Nós não tínhamos ficado juntos por muito tempo, mas foi tempo suficiente para termos a felicidade de uma vida inteira.

Tetsuya havia sido uma nuvem negra, disso eu não tinha duvida alguma, nunca tive. Ele apareceu devagar, mudando, destruindo e mudando tudo. Não media consequências. Não se deixava contrariar. Mas aquela nuvem negra não havia deixado somente devastação. Uma boa parte de mim estava devastada, sim, mas ele também havia trago consigo a esperança. A esperança de dias melhores dos que eram antes dela passar, porque quando você destrói algo, pode fazer algo melhor no lugar. É escolha sua. Se ficar pior, não será culpa da nuvem que passou.

Eu gostava de Tetsuya justamente por ele ser uma nuvem negra. Nuvens brancas passam tão depressa, e são tão parecidas... Você nem percebe elas. Mas nuvens negras são diferentes. Elas passam e deixam sua marca. E ele foi assim, não simplesmente passou por minha vida, ele mudou ela.

Por isso que eu era tão apegado àquelas fotografias, pelo resto da minha vida eu me lembrei daquela nuvem negra.

Não importa para onde Tetsuya foi, de lá ele com certeza deve ter se sentido satisfeito quando eu entrei em uma faculdade de fotografia. Eu estava cuidando de sua mãe e não estava jogando fora o tratamento que ele havia feito em mim, para me fazer mudar.

Eu somente não consegui me apaixonar de novo. Agarrei-me as lembranças dele pelo resto da minha vida e não me arrependi nem um pouco disto.

Eu sabia que como uma nuvem, eu sabia que ele não iria voltar. Mas isso não me fazia deixar de amá-lo.

Ele era meu Kurokumo, afinal.

E toda vez que eu olhava para o céu, eu lembrava daquela musica “Até o final do dia, se nós pudermos ficar sem fazer nada”.