Distância escrita por Ushio chan


Capítulo 17
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Eu ia postar só amanhã, mas me pediram pra postar hoje... Né, Ino-kun?



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Seguimos para uma velha árvore atrás da casa, uma grande, alta e cheia de galhos. Penduro-me em um deles e me balanço com as mãos até ter impulso par enroscar minhas pernas nele, ficando de cabeça para baixo e vendo meu cabelo roçar no chão. Desço do galho e observo que Mello já está longe do chão. Inicio uma escalada rápida, apoiando-me nos galhos e em falhas na grossa casca. Lembro-me que, quando era pequena, eu e Near costumávamos escalar árvores o tempo todo, quando o dia estava nublado ou ao cair da noite. Ficamos bons nisso com o tempo, embora ele geralmente prefira quebra cabeças. “Se não podemos resolver o quebra cabeças, então seremos meros perdedores”, essa era a frase que nos definia. Passávamos os dias de sol montando quebra cabeças no quarto de Near, em especial um mês antes da morte dos nossos pais, quando paramos de brigar e implicar um com o outro.

Chego até onde Mello está em um piscar de olhos, surpreendendo-o. Ao parar de escalar e ficar de pé encostada em um galho, paro para olhar em volta. Apesar da altura, ainda estamos em uma área de galhos grossos, de forma que podemos nos apoiar sem problemas. A folhagem densa cobre o lugar onde estamos, nos deixando escondidos de olhos alheios. É bom mesmo, porque não sei se podemos mesmo subir nas árvores do Wammy’s House. Já vi vários garotos pequenos subindo, mas não sei se Roger brigava com eles depois. Mello está num galho de frente para mim, mas se sentou. Sento-me também, encostando os joelhos no peito.

-         Kim?

-         Hm?

-         Lembra daquela tarde em que eu te pedi para matar aula comigo?

-         Como não? Quando penso nisso agora, percebo que foi o melhor dia da minha vida.

-         É mesmo.

-         Por que pensou nela agora?

-         Porque, esse momento, nós dois subindo em árvores por aí, ou andando em lugares do orfanato onde ninguém mais vai, ocasionalmente matando aulas, é exatamente igual a como costumava ser antes de começarmos a namorar. Concorda?

-         Sim. Às vezes eu sinto falta de fazer essas coisas. Era bom, não era?

-         Era. Eu quase te transformei em uma versão feminina de mim. – Rimos juntos.

-         Só faltou mesmo eu virar uma psicopata fora de controle e começar a bater em criancinhas.

-         Psicopata, é? – Seus braços são jogados ao meu redor, apertando-me contra ele. O abraço de Mello é um conforto, mas sei quando estou sendo atacada. Solto um gritinho agudo quando sinto que vamos cair, mas errei o cálculo, ainda estamos na árvore.

-         Mello, assim vamos cair! – Grito para ele.

-         Retire o que disse! – Ordena as garalhadas.

-         Ok, eu retiro, eu retiro! – Respondo, rindo também. O louro nos ajeita no galho e eu volto ao meu lugar anterior, sentando-me de frente para ele. Depois volta ao momento de intensa nostalgia.

-         Você gostava? De quando éramos só amigos?

-         Sim... Calma aí! Você não está terminando comigo, certo? – Assusto-me. Como poderei viver sem o meu Mihael? Desta vez nem poderei escutá-lo dizer que me ama! Sinto a histeria me dominar por um segundo antes de ouvir a resposta de Mello:

-         Claro que não! De onde tirou essa idéia?

-         Do jeito que você está falando...

-         Não, não, esqueça esta hipótese. – Pede.

-         Hai!

-         Enfim, eu também gostava. Mas, por causa dos meus sentimentos por você, era meio desconfortável. Eu me sentia meio idiota perto de você. Além disso, eu sempre tinha o impulso de gritar “Ei, você não está vendo que eu te amo?!” para você. Ainda assim, era bom. Mas não me arrependo de nada, falar com você sobre o que sentia foi a melhor coisa que eu já fiz.

-         Aquilo não pode ser exatamente chamado de “falar”, não é, Mello? Talvez o termo “atacar” seja o mais correto. – Sorrio de leve para ele.

-         Não começa, você me beijou de volta.

-         Sério?

-         Aham. Você ficou me puxando para baixo. E me beijando. Me pergunto se você já não gostava  de mim antes.

-         Provavelmente. Mas só me dei conta disso quando vi aquilo.

-         Foi tão horrível assim para você?

-         Aham. Eu não sei explicar. Imagine se você me visse beijando outro garoto, como se sentiria? – Mello une as sobrancelhas, concentrando-se e tentando imaginar uma cena que jamais irá acontecer.

-         Não sei. Meio... Morto. Como se alguém tivesse me esburacado a murros de dentro para fora.

-         Exato. Hm... Tudo bem se mudarmos de assunto?

-         Por favor.

-         Deixe-me pensar... Ei, não é bom que possamos ser infantis e brincalhões como costumávamos ser? Sei lá, eu me sinto mais... Segura assim.

-         É. Devíamos fazer isso com mais freqüência, subir em árvores, ou matar aula, ou qualquer outra coisa. Isso é bom para conversar. É uma boa relação, na minha opinião.

-         Hai. É saudável. Agora eu entendo o que dizem sobre todo bom namoro começar com uma grande amizade.

-         É... Certamente. Um casal é, basicamente, um par de dois melhores amigos com alguns sentimentos a mais... E alguns benefícios também.

-         Como quais? – Pergunto, me aproximando dele.

-         Este aqui. – Mello se aproxima também, deitando-se sobre mim e me abraçando com força, mas mantendo alguma distância. Passo meus braços ao redor de suas costas, prendendo-o firmemente contra mim. Nossos lábios quase se tocam, mas ainda não. Nossas respirações ruidosas e descompassadas tomam o ar em volta, a cena sendo oculta pela copa da árvore.

-         Mello... Me beije. – Imploro. Lentamente, seus lábios descem de encontro aos meus, pressionando-os de leve em um selinho. Ele continua assim por muito tempo, mas por fim eu começo a mover meus lábios, abrindo minha boca e contornando seus lábios com minha língua. Minhas unhas acariciam as costas do louro, algo que aprendi que ele gosta muito. Sua boca se abre, a língua invadindo a minha enquanto nossos lábios dançam sem coreografia ou ritmo. Só interrompemos o beijo quando Mello e eu nos desequilibramos e ele teve de soltar uma das mãos para se segurar na árvore, impedindo nossa queda.

-         Senti saudades, Snowdrop. Mais do que imagina. Eu te amo.

-         Eu te amo, meu louro psicopata. Também senti saudades. – Beijo-o novamente, desta vez me assegurando de que não haverá falta de equilíbrio. Depois ele volta a se ajeitar em seu galho, mantendo-me em meu colo. Ficamos assim durante cerca de meia hora, calados, sem querer estragar o momento perfeito.

-         Kim?

-         Mello?

-         Vamos sair amanhã?

-         Yoshi. Para onde?

-         Qualquer lugar. Não importa. Decidimos amanhã mesmo. Tudo bem?

-         Hai. Amanhã decidimos isso. – Depois lembro de uma promessa que fiz a mim mesma há pouco. – Near! Prometi que passaria o resto do dia com ele! Preciso ir, Mello. Gomenasai.

-         Tudo bem. Eu estou mesmo com o dever atrasado... – Mente, jogando o cabelo para trás com os dedos e sorrindo. Beijo-o uma última vez antes de sair de sua colo e descer pelos galhos até achar um ponto seguro para pular até o chão e sair correndo de volta para a casa.

Limpo os pés no tapete escuro da entrada e sigo em frente pelo largo corredor até o ponto no qual ele se subdivide em dois, um lado indo para o refeitório e outro para as escadas e para a sala de Roger. Subo pelos degraus de madeira, que rangem sob meus pés. Subo até o terceiro andar, chegando ao quarto de meu irmão. Abro a porta sem bater dessa vez, encontrando... Nada. Meu irmão não está no quarto.

-         Ne-Ne? – Chamo, mas ninguém responde. Vasculho o quarto, procurando no banheiro, dentro do box, debaixo da cama e dentro do armário. É, ele realmente não está aqui. Talvez esteja no quarto de Leila.  

Desço um andar, seguindo pelo corredor até o quarto da ruiva. Bato na porta e é Marilyn quem abre. Pergunto a ela sobre meu irmão, mas ela não sabe. A pequena ruiva também aparece na porta, mas diz que não viu Near desde aquela hora no jardim. Agradeço e vou procurar em meu quarto, onde estão Ushio e Ino, deitados de bruços na cama dela enquanto escutam música e fazem o dever. Novamente pergunto por Near e nada. O quarto de Iris e Matt também está vazio.

Isso está começando a me deixar nervosa. Muito nervosa. Aonde está meu irmão?! Não está no refeitório, ou no jardim da frente. Sigo pelos corredores da casa, perguntando por ele para cada pessoa que passa por mim.

-         Linda! Linda! Você viu o meu irmão? – Pergunto para a loura quando passo por ela.

-         Vi. Ele foi para a sala de brinquedos há mais ou menos uma hora. – A sala de brinquedos! Como não pensei nisso?!

-         Arigatou gozaimashite, Linda!

-         Hm... Eu falo inglês e espanhol e um pouco de francês, japonês não.

-         Muito obrigada. – Traduzo para ela.

-         Ah. De nada. – Mal a escuto enquanto saio correndo para o salão ao lado do refeitório, encontrando, por fim, meu irmãozinho montando um enorme castelo de dados.

-         Oi, Ne-Ne. – Digo ao me aproximar dele.

-         Onee-chan! Achei que passaria o dia com o Mello.

-         Não. Vim ficar um pouco com você, se quiser. Posso te ajudar?

-         Sente-se. – Convida. Agacho-me ao lado dele e pego alguns dados para começar a fazer uma das torres do castelo. Adoro fazer coisas que estimulam minha paciência. Quando finalmente termino a torre, passo para outra. Near está fazendo a enorme muralha do castelo. – Onee-chan! – Grita de repente. – Não pise aí! – Olho para baixo e vejo um robô exatamente onde ia colocar meu joelho, engatinhando até o outro lado do castelo para terminar a muralha de lá.

-         OH! Gomenasai, Near! – Digo, puxando o robô preferido de Near e mantendo-o seguro em minha mão enquanto sento do outro lado do castelo e dou inicio a muralha de três, isso mesmo, três camadas de dados. Mas é bom fazer algo que teste minha paciência e perfeccionismo.

Terminamos o castelo e observamos o resultado de nosso trabalho.

-         Quantos dados tem aí? – Pergunto.

-         5000. É todo o estoque de dados do Wammy’s House, fora alguns que eu tirei de jogos, mas tem o mesmo tamanho e peso que os outros.

-         Uau. É o recorde?

-         Não sei. Está com o seu celular aí? Tire uma foto! – Obedeço-o, puxando o aparelho de meu bolso e pedindo que um menino tire uma foto nossa com o castelo. – Depois passe  para o computador e faça uma copia para mim, por favor.

-         Sim, farei isso. Quero uma também. – Sorrio para ele. – E agora? O que fazemos com isso? Não quero derrubar!

-         Vai cair uma hora ou outra. E, já que fomos nós que construímos, é melhor que sejamos nós a derrubar. – Near me consola, pegando um dado no meio da construção. Imito-o, pegando um dado do lado oposto. – No três? – Faço que sim e contamos juntos.

-         Um, dois, três! – E juntos puxamos os dados, derrubando tudo. Observo a cena enquanto abraço os ombros de Near.

-         Há um bom tempo não fazemos nada juntos, não é?

-         É. Por que será? – Diz com um toque de sarcasmo na voz.

-         Pare com isso, baka! – Brinco. – Parece um dos meus pesadelos!

-         Desculpe, onee-chan! Não foi intencional. – Near me abraça pela cintura, deitando a cabeça em meu ombro.

-         Tudo bem, Ne-Ne. Hm... Amanhã eu vou sair, mas bem que podíamos passar o sábado juntos. Tudo bem?

-         Isso seria ótimo, onee-chan. – Abraço meu irmãozinho.

-         Que bom. Quer fazer o que agora?

-         Podemos montar aquele quebra cabeças que você me deu no meu aniversário? Eu prometi a mim mesmo que só montaria com você. Aí você foi pro Japão e, agora, ele está guardado no armário. – Fico um pouco emocionada com a declaração de Near, mas não digo nada.

-         Hai. Seria ótimo mesmo. Vamos? – Ofereço-lhe minha mão e seguimos escada acima para o quarto.

Chegamos lá em cima e Near abre o armário. Os quebra-cabeças ainda fechados ou já abertos tomam boa parte do espaço que não tem gavetas. Robôs tomam várias prateleiras e, em sua escrivaninha, há uma série de bonecos. Aproximo-me deles, observando que foram feitos pelo próprio Near. L está sendo representado por um bonequinho de cabelos bagunçados e azuis e com olheiras negras sublinhando os olhos escuros. BB é igual a ele, mas o cabelo está arrumado e os olhos são vermelhos. Tem o Matt, que está segurando um PSP, Íris tem cabelos longos e usa um vestido. Há ele próprio, com os olhos eternamente frios escondendo sua infantilidade interior. Mello parece bem antipático, mas reparei que os bonecos de meu irmão foram organizados na ordem de pessoas que ele mais gosta no orfanato e Mello não está longe do boneco de Near. Sorrio ao ver uma boneca baixinha representando Leila, que está bem ao lado de meu irmão. Pergunto-me onde eu estou. Aparentemente, em lugar nenhum. Isso me machuca um pouco. Por que até Ushio e Ino estão aqui e eu não? Eu sou a irmã do Near. Será possível que minha ida o magoou tanto a ponto de ele querer esquecer que eu um dia existi?

-         Ah, você os achou. – Near ri. Viro-me para ele, vendo que conseguiu tirar a grande caixa do meio das outras.

-         São muito bonitinhos, Ne-chan! – Digo sorrindo para ele.

-         Eu, sinceramente, prefiro o apelido “Ne-Ne” a esse. E obrigado, onee-chan. Hm... Você está debaixo do meu travesseiro, se estiver se perguntando. – Então eu entendi exatamente o contrário do que ele quis dizer me tirando de perto dos outros bonequinhos. Ele não quis me afastar dele, mas me deixar o mais perto o possível. Sorrio ainda mais.

-         Eu posso ver?

-         Claro. – Aproximo-me de sua cama e afasto um pouco o travesseiro branco. Aqui estou eu, meus cabelos pintados de branco bem longos, a roupa pintada em mim é o uniforme do Wammy’s House. A boneca que me representa é mais bonita que os outros, o rosto é mais parecido com o estilo mangá e menos com outro desenho, sendo que foi realmente pintado na boneca, e não colado como nos outros.

-         É... É linda, Near.

-         Eu queria que se parecesse mais com você. Assim pareceria que você estava mais perto de mim, eu pensei. Mas me enganei, onee-chan. Não dá para substituir você.

-         Ne-Ne... – Digo, as lágrimas subindo aos olhos e, depois, escorrendo. – Ne-Ne... Eu... Argh, vem aqui. – Peço, estendendo os braços para abraçá-lo. Meu irmão se joga sobre mim, derrubando-me na cama, e se encaixa em meu corpo, abraçando-me. Sento-me no colchão, aninhando-o em meu colo. – Eu senti tantas saudades, Ne-Ne.

-         Eu também, onee-chan. – soluça, o rosto escondido em minha blusa. Beijo seu cabelo branco e espesso, inspirando o cheiro infantil e doce. – Eu te amo, Kim.

-         Eu também te amo, irmãozinho. – Digo, forçando o resto das lágrimas a secarem antes de caírem. Por fim, quando Near se acalma, nos afastamos um do outro.

-         Ei, vamos montar logo aquele quebra cabeças?

-         Vamos.

Descemos da cama e Near joga as pecinhas no chão. Desviramos e separamos as peças dos cantos. Near liga o cronômetro e nós dois ligamos nossos cérebros. Como dizíamos, “se não podemos resolver o quebra cabeças, então seremos meros perdedores”.

Nossas mãos voam de peça em peça, testando-as e, normalmente, encaixando-as. Primeiro a moldura, depois o meio. Pouco a pouco, uma foto nossa se forma diante dos nossos olhos. Eu e Near sorrindo em uma imagem de 5000 peças. Por fim chegamos a última peça, a qual faço questão que meu irmão encaixe. Uma peça que completa o robô que Nate River segurava na foto. Meu irmão para o cronômetro. Exatamente uma hora e meia. Pois é, tivemos várias tardes de sol para nos especializarmos na montagem de quebra-cabeças, até mesmo em Londres, onde quase só chove.

Olho para o relógio. Já é hora de ir jantar.

Descemos para o refeitório, onde Matt e Mello já se encontram. Pegamos a comida e vamos sentar com eles.

-         Se divertiram? – Mello pergunta.

-         Sim. Montamos um quebra-cabeças. – Digo.

-         E um castelo de dados. – Completa meu irmãozinho todo animado, como uma criança em um dia de natal.

-         Nerds. – Matt comenta.

-         Muito. Nós jogamos videogame a tarde inteira. Íris precisou fazer a lição. – Mello conta.

-         Achei que você fosse fazer o dever.

-         Er... Eu fiz, mas não a tarde inteira, entende? Seria um saco.

-         Hai. Nem o segundo melhor do Wammy’s gosta de fazer a lição. – Rio.

-         Nem o primeiro do Wammy’s House gosta. – Corrige Near. – Aliás, nem o L deve gostar de fazer a lição. Certamente não gostaria.

Assim a noite prosseguiu. Como costumava ser no orfanato.


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Notas finais do capítulo

É isso. FIcou maior do que o outro. Provavelmente não posto amanhã e talvez não poste DEPOIS de amanhã, já que acho que esgotei minha criatividade nesse capítulo e amanhã vou ao oculista...
Hihi.
Nossa, estou vendo Another agora... Morrendo de medo.
Bem, gostaram?
Deixem reviews, amores!