Eu poderia muito bem ter sido egoísta e ignorado as ameaças de Linda, mas eu não conseguiria e não queria interferir ainda mais na vida de Gerard. Ele sempre foi meu anjo da guarda, e não merecia ter a vida arruinada por alguém como eu. Lembro-me de cada detalhe do dia em que decidi ir falar com ele, eu daria tudo para não ter passado por aquilo, foi o pior dia da minha vida.

Liguei para ele ás 8 da noite e pedi para que fosse me ver, pois precisávamos conversar. O esperei do outro lado da rua, na pequena ponte de madeira que havia ali. Com muito esforço consegui conter minhas lágrimas pouco antes de vê-lo chegar, mas como eu já esperava, ele percebeu que eu havia chorado e quis saber o motivo... Conhecia-me tão bem, sinceramente não sei como consegui convencê-lo com uma mentira tão idiota.

– Como não podemos nos ver mais Frankie? Eu... Eu... Por quê? - lembro exatamente de ver seus olhos lacrimejando, o verde esmeralda perdendo cada vez mais o brilho. Fiquei de costas para ele, olhando a água calma no pequeno rio. Se continuasse olhando-o, iria perder o controle e desabar em lágrimas nos seus braços. Inventei qualquer coisa, disse estar cansado do ciúme de Gerard. Ele era realmente muito possessivo, mas eu gostava. Gostava do fato de saber que alguém se preocupava, sentir que era importante para alguém...

Consegui o convencer de que não queria mais vê-lo e pela primeira vez o vi chorar. Nesse momento pensei no quão egoísta eu havia sido aquele tempo todo, por fazer Gerard negligenciar os próprios problemas para cuidar dos meus. Nunca o ofereci um ombro amigo, estava sempre preocupado demais em tirar a dor de peito, nunca havia parado pra pensar que ele também poderia precisar de mim. Pensando nisso, tomei fôlego para dar ênfase às palavras que saíram dolorosamente de minha garganta, pedindo a Gerard que não me procurasse mais, que eu ficaria melhor sem ele. Mas a verdade é que ele ficaria melhor sem mim.

Abri os olhos, percebendo a dor na coluna por ainda estar sobre o chão do banheiro. Não sei dizer quando as lembranças se tornaram sonho, ou quanto tempo dormi. Segundo a luz que vinha da pequena janela, já estava escurecendo.

Apenas me levantei e encarei meu reflexo no espelho. Deprimente. Não era só o meu rosto que estava horrível, minha vida estava muito pior, por dentro eu estava ainda mais deplorável. Olhei os cortes em meus braços, o sangue já seco formava cascas.

As palavras de Linda invadiram novamente minha cabeça, todas as brigas, as ofensas, os cortes, misturados a lembranças de momentos com Gerard flutuavam dentro de meu cérebro de forma quase solida. Eu estava enlouquecendo, os cortes já não eram mais suficientes. Só duas coisas poderiam me salvar agora: Os braços de Gerard, ou a morte.