Depois que desci, mal pude conter a vontade de nem ter saído...

Ah, desculpe! Mal me apresentei... Sou Larissa, tenho 23 anos, trabalho com estágio de enfermagem. Sou ligada à família, e já estava louca de saudade dos “meus pais”... Eles vivem nos Estados Unidos, numa casa grande e agradável, diferente dos vizinhos.

Quando eu chegava em minha antiga casa, Francis, meu gato, logo percebia minha eminente exaustão. Mal conseguia me manter em pé, de tanto cansaço.

Minha casa não era um luxo, mas era decente. Na época fiz questão de comprar uma com um quarto só. Mas decidi ir para apartamento. E obviamente, levei Francis. Mas em questão da minha exaustão, não mudava muito em relação ao apartamento... Eu chegava sempre exausta, como cheguei nesta sexta.

Tomei meu banho, lavei o cabelo, e simplesmente quis dormir e não pensar no meu psicopata... No meu Lucas...

Um mês depois...

Continuo no estágio, as estou de férias para os Estados Unidos, ver meus “pais”. Eu nasci lá, mas com apenas 4 anos, perdi meus pais num acidente de incêndio... Eles morreram para me salvar... Tento não me sentir culpada, mas me sinto, e isso só torna cada dia mais difícil levantar com este peso nas costas...

Meus atuais pais, ou tutores, como preferir, foram sempre bem compreensivos, apesar de sempre passarem a mão na minha cabeça, e jogar a culpa no fato de meus pais terem morrido, me fazendo assim, meio mimada... E eu realmente tive que aprender na marra. E talvez seja por isso, que eu seja meio desconfiada...

Eu já estava entrando no avião para os Estados Unidos, quando decidi reparar nos passageiros. Havia um casal entusiasmado até demais... Alguns jovens... Outro casal, com dois filhos, um casal – bem bagunceiros, por sinal -... E um moço em especial, vestido à preto. Sapatos, camisa, boné... Tudo preto!

Eu sentava logo atrás dele, e percebi que ele se mantinha entretido no seu celular, sem falar uma palavra. Em meio de tudo isto, decidi tirar um cochilo... E como sempre, em milésimos de segundo, ainda pensava naqueles verdes olhos... Mas acabei desistindo.

Enquanto eu ia em direção à aeromoça, que alias estava no seu sétimo sono, houve uma turbulência no avião, que me fez querer me equilibrar a qualquer modo, e quando finalmente vi que era inútil tal tentativa, desisti de tentar enquanto já caía.

_O que é isto? – indagou o homem de preto.

Quando finalmente olhei para a região de sua face, logo pensei: “Não é possível!”, aquele olhar... Ele voltava a me encarar, e ele logo evidenciou se lembrar de mim, pelo sorriso irônico que implantou em seu rosto. Eu podia quase sentir sua adrenalina subir.

Enquanto eu encarava, ainda fora de mim, me sentia numa espécie de atmosfera diferente, como a daquele dia... Mas veio ainda mais intensa e eletrizante... Enquanto minhas bochechas coravam.

_Hei! Senhora! – exclamou a aeromoça dorminhoca – Saia daí!
Enquanto eu me levantava, não tirava meu olhar do dele... Caça... Caçador... Tudo havia voltado!

Eu estava numa mistura de passada, chocada, apavorada, e eletrizada! Tudo tinha voltado... Ele tinha voltado!

Me sentei com uma cautela surpreendente... Quando tentei o olhar, ele ainda estava ali, inexpressível... Focado em seu celular. Mas eu tinha escutado sua voz, que por mais que me arda admitir... Encaixava com seu suposto perfil...

_Se é que te interessa – gelei – me chamo Lucas... – me disse irônico.

Eu estava certa, haha!

_ Prazer... – disse seca refreando totalmente meu suposto interesse... Ãhn? Interesse?!

_Aposto que o prazer foi todo seu – riu, se referindo a hora que caí no seu colo.

Preferi não responder, e me manter impenetrável.

Percebi que ele queria se virar me encararia (atacaria) em modo direto?! Um ataque frontal?! Que ousadia!

_Ou você é tímida – disse parecendo ser o dono da situação – ou quer se fazer de indiferente...

Me mantive na mesma.

_Nem sei seu nome... – disse agora arrumando aqueles cabelos castanhos, o que ressaltava sua pele, que ressaltava seus olhos de...

_Realmente, não interessa... – falei seca – Ou realmente te interessa?! – disse irônica.

_Percebi você me olhando no ônibus.

_Que eu saiba você que me encarou...

_Ok, ok... – me cortou – Você me chamou atenção só isso...

Talvez eu fosse finalmente conhecer mais a fundo meu lindo psicopata... Me senti confusa, mas eu realmente queria aquilo... Saber o que ele pensava...

_Mas acho, que pelos motivos errados – disse me medindo, e depois se virando, sorrindo ironicamente.

CABUM! Minhas esperanças caíam no chão, mas eu bem que poderia ficar sentida com aquilo, mas além de não querer dar este gostinho a ele, eu não queria desistir... Não nesta altura do campeonato!

Então quis um tempo... Abaixar minha adrenalina um pouco... E peguei meu MP3, para ouvir umas músicas... Novamente FALL OUT BOYS: DANCE, DANCE.

Enquanto ouvia pensava como tudo aquilo era louco... Eu mal o conhecia, mas já... O queria tanto...

_Com licença? – disse tentando parecer modesto, e se mudando para a cadeira ao lado da minha.

Olhei friamente.

_Toma. – disse irônico... Aquilo era...?! Não acredito.

_O que faz com ele? – disse perplexa.

_ Precisava saber mais sobre você... – disse sorrindo.

_Como você... Como você pôde? – respirei – É o meu celular!! – disse indignada.

_Você nem deu falta... – riu – Mas acalme-se... Você é pacata demais para...

Ouve-se um barulho imenso, e as luzes se apagam por alguns instantes. Senti particularmente algo caindo em cima de mim... Será que...?!

Quando a turbulência passou, ele estava extremamente próximo de mim, com somente suas mãos na parede lhe sustentando, sem touca, eu podia ver claramente seus verdes olhos... Estávamos assustados, ele debruçado em mim, praticamente... Sorria irônico... Mas não conseguia esconder o quanto também gostava da situação... Não conseguia esconder seu envolvimento... E eu? Recusando-me inconscientemente de respirar.