– Ei, acorda!

– Hã? – o menino respondeu, ainda sonolento.

– Se liga menino, se o professor te pega... – avisou Beatrice.

– Alvo Potter. - a voz de Neville Longbottom interrompeu a conversa dos dois - Quero fique depois da aula para conversamos.

Que ótimo. Tinha acabado de descobrir que tinha dormido na aula e agora tinha que ficar depois da aula. “Como a aula de Herbologia é chata.” Esse era o único pensamento de Alvo, debruçado na carteira, com os olhos quase fechados. Odiava aquela matéria. Mas aquele professor adorava todas aquelas plantas e suas características.

Falava com uma emoção tão grande, como se sentisse tudo o que ensinava e, claramente, sentia prazer em estar naquele trabalho. Gesticulava e sorria, sempre empolgado e feliz. Além de simpático, ele era também muito bonito, o que o tornava parte da conversa de muitas meninas, que suspiravam por ele.

Mais que isso, Alvo sabia que ele havia lutado com seu pai na Batalha de Hogwarts, e com isso, fora condecorado e titulado Defensor de Hogwarts. No seu peito, usava um distintivo com o brasão da escola, com duas varinhas cruzadas ao fundo e seu nome inscrito: Neville Longbottom.

Pareceu ao menino que, após a bronca, o tempo passou muito mais devagar que normalmente. Como sempre, as aulas mais chatas são aquelas que mais demoram a passar. Mas por fim acabou.

– A gente se vê depois. – falou Beatrice, indo embora junto com Rosa Weasley. – Boa sorte!

– Valeu.

Alvo respirou fundo e se aproximou da mesa do professor, que estava mexendo em alguns papéis, de costas para ele.

– Sente-se – disse, ainda virado.

Potter puxou uma cadeira e sentou-se. O outro se virou e o olhou nos olhos:

– Sr. Potter, não é a primeira vez que você dorme na minha aula. E suas notas não estão tão boas. Me preocupo com sua situação. Como professor, me sinto mal por ver um aluno não ir bem em minha disciplina.

– Desculpe-me, professor Longbottom, mas é que...

– Neville, por favor.

– Neville, é que Herbologia não é minha matéria preferida.

– Tudo bem, mas deixe-me dizer uma coisa: quando eu tinha sua idade, eu odiava a aula de voo. Eu era horrível, pode perguntar para o seu pai. Mas aquela era uma matéria obrigatória e, para estar onde estou hoje, tive que passar por ela. Apesar de você não gostar de Herbologia, você tem que aprender, queira você ou não.

– Sim, senhor.

– Espero que preste mais atenção nas próximas aulas, sr. Potter. E... há ainda outro assunto que gostaria de tratar com o senhor.

Agora Alvo estava surpreso.

– Diga, professor.

– Ouvi falar que mostrou exímia habilidade com a varinha outro dia desses e que está sendo treinado por Verminon.

– Sim, é verdade. Apesar de ainda não saber porque tenho essas “habilidades”.

– Este é o ponto que gostaria de chegar. – o professor continuava olhando-o no fundo dos olhos. – Acontece que fiquei interessado na sua situação e estou curioso para saber de onde vem esse poder. Se importaria se lhe pedisse algumas coisas suas e lhe fizesse algumas perguntas?

– Não... senhor – respondeu o menino, ainda hesitando.

– Pois bem, eu quer... – o som da porta se abrindo fez com que a atenção dos dois se voltasse para a mulher parada ali.

– Oh, Neville, me desculpe. Não sabia que estava com um aluno. Eu venho mais tarde. – a mulher se desculpou.

– Tudo bem, Corha, pode falar. – ele sorriu.

– Ah, tudo bem. Eu estava na Torre de Astronomia, dando aulas para os meus alunos. Só que depois da aula, percebi que alguns objetos meus desapareceram e... eu queria saber se podia me ajudar a encontrá-los. – ela disse. – Gosto da sua companhia. – agora estava um pouco vermelha. Era jovem, quase da mesma idade que Neville e como todos, achava ele bonito e gostava de estar com ele.

– Só tenho que resolver alguns assuntos, mas logo eu vou te ajudar. – ele piscou para ela.

– Obrigada. – “Ele piscou pra mim”, ela pensou. – Estarei te esperando na sala dos Professores. Até logo.

Ela ia sair da sala, mas então seu corpo ficou rígido. Os olhos se viraram para as janelas e as fitaram de um modo amedrontador. A boca se abriu e as palavras saíram, mas dessa vez, com uma voz que não era dela:

“A paz chegou ao fim e um inimigo antigo voltará.

Dessa vez, seus objetivos se realizarão,

E um mundo em caos será conquistado.

Logo esse inimigo morrerá e outro tomará seu lugar.

Mais forte e mais poderoso reinará,

E apenas um herdeiro poderá contra outro herdeiro lutar.”

Os olhos voltaram ao normal e o corpo também. Mesmo assim, os dois ainda continuavam olhando para a mulher boquiabertos.

– O que foi? – vendo que eles não responderam a mulher ficou ainda mais vermelha com os dois a olhando, e saiu logo da sala.

– O qu-u-e foi i-s-s-so? – gaguejou Alvo.

Neville fechou a boca e fechou os olhos. Ao abrir, ainda via um Alvo chocado na sua frente.

– Temo, sr. Potter, que presenciamos uma profecia.

– E porque teme?

– Não a ouviu? Um antigo inimigo voltará. O mundo em caos. Todas essas referências me fazem lembrar da profecia de seu pai, Alvo, e, como todos sabem, a profecia dele não trouxe boas coisas para o mundo.

– Alguma ideia do que ela significa?

– Ainda está tudo muito embaçado, mas algumas partes podem ser deduzidas. Um inimigo antigo voltará. Meu primeiro pensamento foi Voldemort, mas ele foi destruído, e, até onde eu sei, é impossível voltar dos mortos.

– E quanto ao resto?

– O mundo em caos? Parece difícil de acreditar. Nosso ministro está indo tão bem e as coisas estão cada vez melhores. E quanto ao resto não tenho nenhuma ideia. – ele olhou no relógio. - Agora, vá pra aula. Tomei tempo demais seu. Ah, não conte a ninguém sobre a profecia. As pessoas se assustam facilmente. Vou informar Minerva do que aconteceu.

O menino saiu junto com o professor e foi para a aula de Defesa contra as Artes das Trevas. No tempo livre,foi à biblioteca. Sabia que Rosa estava lá, ela sempre gostou de ler e aprender mais, diziam que haviam puxado sua mãe, Hermione.

– Oi, Rosa. – ele cumprimentou. – Onde estão os outros?

– Oi, Alvo. Henry disse que logo viria e Beatrice está em alguma prateleira por aí. Por quê?

– Tenho que falar uma coisa pra vocês. Mas tem que ser com todo mundo junto. Vou procurar ela.

Depois de encontrá-la, eles se reuniram em uma mesa e ficaram conversando até Henry chegar. O grifinório se sentou também. Alvo ficou pálido. Falar da profecia lhe dava um pouco medo. Não sabia direito por que, mas não se sentia bem.

– Alvo, você está bem? – perguntou Beatrice, sempre preocupada.

– Sim... só um pouco preocupado. Olha, o que vou falar pra vocês é algo que não pode ser contado pra ninguém, mas pra ninguém mesmo. Vocês prometem não contar nada?

Os outros fizeram suas promessas. Alvo contou-lhes a profecia e as conclusões do professor Neville. Henry fez uma cara de espanto, se assustava facilmente. Rosa ficou pensativa, analisando as palavras. Os quatro discutiram sobre o significado:

– Bom, o que temos é o seguinte: um inimigo voltará, ele conquistará o mundo, que vai estar em caos. Esse inimigo vai morrer e seu lugar será ocupado por outro. E além disso, tem dois herdeiros no meio. – Rosa disse.

– Eu acho que um desses herdeiros é o outro inimigo, o que vai tomar o lugar do primeiro. Então, até agora, temos três pessoas envolvidas na história: o inimigo antigo, o outro inimigo, e um herdeiro. – Henry deduziu. – A questão é: quem são eles?

– É isso que temos que descobrir. – respondeu Beatrice. Ela olhou para Alvo, que estava quieto. – Alvo, você está bem?

– Estou, só estou com sono e cansado. Toda essa história de profecia me assusta um pouco. Acho que preciso descansar.

– Não se preocupe, Alvo. Algumas profecias demoram anos para se cumprirem. Talvez nem vejamos ela acontecer. – Rosa o acalmou.

Ele a olhou no fundo dos olhos:

– Espero que esteja certa.

Mas, no fundo, ele sabia que ela não estava.