-       Kou-kun, espera, e-eu... – Miya tentava se explicar enquanto empurrava Yuuto de cima de si, aproveitando que ele havia se distraído.

Koichi estava se segurando para não voar em cima do garoto. Por mais que aquela cena o tivesse irritado, ele não queria partir para a violência.

-       Kou-kun – Yuuto começou, imitando a voz de Miya -, você nos atrapalhou. – Ele fez um biquinho.

-       Cale a boca! O que você estava fazendo com ela?

-       Não é óbvio? Eu estava prestes a beijá-la – Ele abriu um sorriso brincalhão. Ele se virou para Miya. – Ah, como eu estou com saudade do seu beijo.

-       Não fala isso, o Kou-kun vai acabar achando que...

-       Seu idiota!

Koichi partiu para cima de Yuuto, que rapidamente se levantou, desviando de Koichi e indo em direção à porta.

-       Não seja tão precipitado Koichi. Olha, eu já fui espancado uma vez por um cara bem mais durão que você, mas mesmo assim não pretendo ser espancado outra vez – Ele disse rindo, antes de sair corredor a fora.

Koichi correu atrás dele e Miya ficou ali, parada em cima da cama, ofegante, tentando entender tudo o que estava acontecendo. Não queria que Koichi descobrisse a verdade, mas tudo indicava que logo logo ele descobriria.

Já no quintal, Koichi ainda corria atrás de Yuuto, que ria enquanto fugia do outro. Finalmente Koichi conseguiu chegar perto o suficiente para que conseguisse agarrar o braço dele, que parou subitamente após ter seu braço preso, levando os dois ao chão. Koichi, que estava em cima de Yuuto, o olhava com o olhar irritado.

-       Cara, acho que a Miya não vai gostar nada de nos ver desse jeito – ele riu.

Sem conseguir mais se controlar, Koichi descarregou sua raiva em um soco na bochecha de Yuuto, que grunhiu, levando as mãos ao rosto. Koichi suspirou, se controlando e se jogou na grama, ao lado do garoto que agora rolava de dor.

-       Ai! – Yuuto reclamava. – Por que fez isso?

-       Sei lá – Koichi deu de ombros passando a mão pelos cabelos, ofegante por causa da corrida. – Não consegui me segurar.

-       Idiota.

-       Olha, eu ainda estou com muita raiva de você! Será que dá para me explicar o que aconteceu entre você e a Mi-chan?

-       Primeiro você me bate e depois pede explicações?! – Ele revirou os olhos. – Não vou falar nada também...

-       Então – Koichi começou a falar enquanto se levantava e puxava o outro pela gola da camisa, voltando para a casa -, você pelo menos vai lá em cima se desculpar.

Yuuto bufou enquanto era arrastado, mas mesmo assim não resistiu.

Ao chegar no quarto, Koichi viu que Miya ainda continuava ali, sentada na cama, olhando para o nada.

-       Voltamos – ele disse chamando a atenção de Miya, jogando Yuuto no chão e se sentando ao lado dele.

-       Ai! – Ele reclamou enquanto se sentava. – Não precisa dessa grosseria toda!

-       Precisa sim.

-       Não, realmente não precisa, seu...

-       Será que você poderia fazer o que eu pedi? – Ele fuzilou Yuuto com o olhar e depois olhou para a garota que os observava. – Mi-chan, o Yuuto quer pedir desculpas, não é?

-       Sabe, eu não preciso que você me diga o que fazer – ele revirou os olhos.

-       É claro que precisa, você é um...

-       É... – Miya começou a dizer, fazendo os dois a encararem. – Kou-kun, eu acho que você precisa de uma explicação, não é?

-       Mi-chan, não quero te forçar a nada. Se não quiser, não precisa falar.

-       Não, tudo bem, acho que você precisa saber.

-       Nossa, quanto drama – Yuuto revirou os olhos, se apoiando em suas mãos e inclinando o corpo para trás.

-       Cale a boca e me deixe falar – e essa foi a vez de Miya lhe lançar um olhar furioso.

-       Tudo bem – ele abaixou a cabeça.

Miya suspirou e voltou seu olhar para Koichi.

-       Bom, quando nos éramos menores, esse ai – ela apontou para Yuuto – foi passar férias na casa de alguns parentes, que por acaso moravam perto da minha casa. – Ela deu uma pausa. – Você se lembra do Toki-kun, não lembra? – Koichi assentiu com a cabeça e ela continuou a falar – Então, eu e ele fomos brincar na pracinha um dia e acabamos conhecendo o Yuuto, que começou a passar todos os dias brincando conosco. Quando... quando faltava apenas alguns dias para as férias acabarem ele me chamou para ir na casa dele.

Nesse momento Koichi olhou para Yuuto com um olhar assassino, fazendo-o encolher os ombros mas mesmo assim mordendo os lábios para não rir. Miya continuou assim que Koichi se virou para ela novamente.

-       Eu não vi nada de mais naquilo, então eu simplesmente aceitei. Mas foi depois que eu cheguei lá que percebi que não tinha sido uma boa idéia.

-       O que ele fez? – Koichi não conseguia mais esperar, queria saber logo.

-       Ele tentou me molestar – ela falou de uma vez, enquanto encarava o chão.

Koichi arregalou os olhos, tentando assimilar o que ela acabara de falar.

-       Ah, não diga molestar! Desse jeito parece até que eu sou um desses velhos pervertidos.

-       Mas é a verdade! – Miya revidou.

-       Você está exagerando.

-       Não estou. Você até colocou um pano na minha boca para que eu não gritasse!

-       Por que fez isso? – Koichi se intrometeu, com o tom de voz visivelmente irritado.

-       Olha, nós éramos crianças, foi besteira o que aconteceu...

-       Pode ter sido para você, mas eu realmente fiquei assustada.

-       Enfim, mesmo assim, nem deu tempo de fazer nada já que aquele senhor perfeito resolveu chegar bem na hora.

-       Ele não é tão perfeito como você pensa – Miya virou o rosto, com um olhar triste.

-       De quem estão falando? – Koichi perguntou, confuso.

-       Daquele idiota do Tokiya.

-       Você não tem o direito de falar assim dele – Miya o repreendeu.

-       Aquele cara quase me matou! Então acho que posso falar o quanto quiser.

-       Deixe de ser dramático, você bem que...

-       Ok ok – Koichi os interrompeu. – Vamos ao que interessa. Yuuto, peça desculpas para a Mi-chan.

-       Já disse que você não precisa me dizer o que fazer! – Ele suspirou. – Olha, desde que eu vi a Miya eu queria pedir desculpas.

-       Mas então por que você...

-       Por que eu a fiquei provocando? – Ele adivinhou e deu de ombros. – Não sei, eu estava num tédio de dar dó e achei que seria legal ver até aonde vocês me deixariam ir. Mas parece que algumas pessoas passaram dos limites – ele olhou para Koichi enquanto tocava em sua bochecha, que agora estava com um hematoma.

-       A culpa não é minha – Koichi se defendeu.

-       Você é um idiota – Miya revirou os olhos.

-       É, eu sei, mas – ele olhou nos olhos de Miya – me desculpa Miya, sério. Eu era uma pirralho naquela época e realmente não queria te fazer nenhum mal.

Miya o encarou por alguns segundos. Ele parecia estar arrependido mesmo. Pelo menos era o que ela esperava. Ele não era um garoto ruim, só não sabia muito bem quando parar com seus joguinhos.

-       Então... você me perdoa?

Nem tinha como dizer não com a carinha de “cachorrinho que caiu da mudança” que ele estava fazendo. Koichi apenas os observava quieto. Miya então suspirou e falou:

-       ‘Ta bom, eu te perdôo.

-       Sério? – Ele arregalou os olhos e se levantou, correndo até a cama e se jogando em cima de Miya. – Obrigado! Pensei que você iria me xingar e me mandar ir embora!

Miya tentava tirar Yuuto de cima de si, mas ele a agarrava com força, esfregando sua bochecha na dela. Ela não agüentou e acabou caindo na gargalhada junto com ele.

-       Ok, acho que já chega – Koichi se levantou, puxando Yuuto e o tirando de cima de sua namorada.

-       Estraga prazeres – ele revirou os olhos, se soltando das mãos de Koichi.

Eles ouviram batidas na porta e quando olharam para a mesma, viram a mãe de Koichi, com um sorriso divertido, encostada no batente da porta.

-       Posso saber o motivo das risadas?

-       Só estávamos acertando alguns assuntos pendentes – disse Yuuto com um grande sorriso nos lábios.

-       Yuuto-kun... – ela o olhou com os olhos arregalados e foi chegando mais perto. – O que aconteceu com sua bochecha?

-       Ah, é que... eu tropecei e acabei caindo de cara no chão, não é Koichi? – Ele estreitou os olhos, olhando para Koichi.

-       F-foi isso mesmo – ele afirmou um pouco nervoso, coçando a nuca.

-       Hm... Eu ia chamá-los para comer a torta, mas venha, vamos primeiro colocar gelo neste machucado.

Eles foram até a cozinha e depois que Aimi arranjou um gelo para Yuuto eles se sentaram na mesa. Assim que começaram a comer, Satsuki e Ringo entram pela porta, rindo de algum assunto alheio. Eles se juntaram aos outros e passaram um bom tempo ali batendo papo. Chegaram até a estranhar quando viram Miya, Koichi e Yuuto se dando tão bem já que no dia anterior era impossível não perceber os olhares nervosos que um lançava para o outro. Era bom vê-los assim, afinal eles podiam não perceber, mas os três se pareciam muito, sempre animados e com aquele sorriso contagiante no rosto. Seja o que for que os incomodava, parecia já ter sido resolvido.

Depois do café da tarde Yuuto foi para sua casa e os outros quatro passaram o resto da tarde vendo TV na sala.

-       Nem acredito que vocês já terão que ir embora amanhã – Aimi disse, acariciando os cabelos de Koichi, que estava sentado ao seu lado no sofá.

-       Pois é – Koichi falou, apoiando a cabeça no ombro da mãe. – Apesar de tudo, foi bom passar um tempo com vocês – ele olhou para Miya e sorriu, pegando um sua mão.

Miya retribuiu o sorriso. Aimi ficou confusa, mas mesmo assim resolveu deixar para lá. Só queria aproveitar o tempo com seus filhos.

De noite todos foram para seus quartos e assim que terminaram de se arrumarem para dormir, Miya e Ringo deitaram em suas camas e ficaram conversando sobre o dia que tiveram. O vento soprava forte lá fora, balançando as arvores. A noite estava agradável até que alguém inesperado chegou.

-       Boa noite garotas!

As duas pularam na cama com o susto e quando olharam na direção da voz viram Yuuto entrando pela janela.

-       Como subiu até aqui e o que está fazendo aqui? – Miya perguntou com a mão no coração enquanto tentava se recuperar do susto. Ringo nao estava muito diferente dela.

-       Eu vim me despedir de vocês – ele deu de ombros se sentando ao lado de Miya na cama.

-       Você não podia deixar para fazer isso amanhã? – Ringo perguntou, estreitando os olhos.

-       Na verdade não, amanhã eu vou sair bem cedo então só podia vir agora.

-       Então tchau! Pronto, agora já pode ir e nos deixar dormir – disse Ringo, lhe lançando um sorrisinho falso.

-       Garota invocada? Hm... Eu gosto de tipos assim.

Ele a olhar com um sorriso sedutor nos lábios, fazendo a garota o fuzilar com os olhos. Miya revirou os olhos e deu um tapa na nuca de Yuuto, fazendo-o soltar um murmúrio em protesto.

-       Ok, eu já estou indo – ele suspirou. – Miya, foi muito bom te ver e desculpa de novo por tudo que eu fiz – sorriu para e Miya e olhou para Ringo. – E Rin-chan...

Ela estreitou os olhos.

-       ... esquece, acho que eu não gostaria de arranjar encrenca com o Satsuki.

Ele fez uma careta e se virou novamente para Miya.

-       Quero que você entregue isso para o Koichi amanhã – ele disse, tirando um papel dobrado do bolso de trás da calça e lhe entregando.

-       Tudo bem – ela sorriu, pegando o papel.

Ele a olhou nos olhos e chegou mais perto, rapidamente roubando um selinho de Miya. Ela arregalou os olhos, surpresa, e antes que pudesse fazer alguma coisa ele já havia se levantado e ido em direção à janela novamente.

-       Até qualquer dia meninas! – Ele bateu continência e depois de mandar um beijo pulou da janela, soltando as gargalhadas contagiantes dele.

Miya estava mais surpresa do que irritada. Sabia que aquilo era somente uma brincadeira do garoto, mas mesmo assim não deixou de ficar corada. As duas olharam uma para a outra e também caíram na risada.

~

-       Bom dia, minha linda.

Miya acordou ouvindo a doce voz de Koichi invadir seus ouvidos. Abriu os olhos devagar e ao olhar para o lado, viu-o agachado ao lado de sua cama.

-       Bom dia – ela respondeu com um sorriso.

-       A kaa-chan está nos chamando para tomar café da manhã – ele disse após lhe dar um selinho.

Miya assentiu e os dois desceram as escadas abraçados.

Após o café da manhã, por algum motivo desconhecido, todos foram para o quintal passar o tempo conversando e até mesmo brincando. Ficaram ali até a hora do almoço e como não haviam preparado nada, resolveram sair para comer fora.

Assim que voltaram já estava na hora de arrumarem suas coisas para que fossem embora. Uma hora já havia se passado e todos estavam do lado de fora, colocando as bolsas no táxi e prontos para se despedirem.

-       Bom meninas, foi um prazer conhecer vocês e espero que voltem mais vezes – Masami falava enquanto abraçava as duas meninas.

-       Também foi um prazer conhecê-lo – as duas responderam com um sorriso, quando o abraçaram.

-       Awwn, meninas, vocês não sabem o quanto eu fico feliz em saber que tenho noras tão lindas! – Aimi pulou em cima das duas, abraçando-as ao menos tempo enquanto as duas riam e retribuíam.

-       Também fiquei feliz de saber que minha sogra não é como costumam descrever as sogras – Miya disse, arrancando risadas de todos.

Depois que se afastou das meninas, foi a vez dos meninos serem atacados pela mãe dramática.

-       Foi muito bom passar o final de semana com vocês e esperem, porque eu vou cobrar que venham me visitar mais vezes.

-       Pode cobrar mãe – Koichi disse retribuindo o abraço, assim como Satsuki.

Masami também se uniu aos três no abraço e assim que acabaram as recomendações que toda mãe faz, os quatro jovens entraram no táxi e foram rumo à casual mansão.

Durante a viajem, após alguns beijos trocados, Miya e Koichi acabaram adormecendo e Satsuki e Ringo foram conversando coisas alheias até chegarem em casa.

 Estacionaram na frente do grande local, pagaram o motorista, saíram do carro e Koichi saiu correndo porta a dentro. Os três começaram a rir da pressa do moreno. Miya acabou indo correndo atrás do namorado e Satsuki colocou o braço sobre os ombros de Ringo, entrando abraçado com ela.

Ao seguir Koichi, Miya foi até a cozinha, onde encontrou o garoto abraçado à sua avó. Ela correu, se juntando ao abraço com um enorme sorriso no rosto.

-       Vocês não sabem como eu senti saudade de vocês – a avó tentava falar entre o abraço.

-       Também sentimos saudades – Satsuki falou, entrando na cozinha e indo se juntar ao abraço junto com Ringo.

Passaram alguns segundos ali no abraço até que ouviram alguém gritando da porta da cozinha.

-       Aaaahh, vocês chegaram!

Haruna entrou na cozinha e logo começou a abraçar os quatro.

-       Finalmente!  - Shou disse, passando pela porta. – A Haru-chan não parava de reclamar no meu ouvido, dizendo que vocês estavam demorando.

-       Você só não calou a minha boca porque não quis – Haruna o olhou, lhe lançando um olhar sedutor.

-       Eu sabia que ele não conseguiria ficar longe de nós – Koichi falou, soltando uma gargalhada.

-       Também senti saudades, baixinho – Shou riu, puxando Koichi para um abraço e afagando seus cabelos.

Após terminarem com os abraços de boas vindas, a pedido de Haruna, eles começaram a contar sobre o final de semana que tiveram e foi ai que Miya se lembrou do papel que Yuuto havia mandado entregar para Koichi. Levou a mãos ao bolso traseiro de seu short e pegou o papel.

-       Kou-kun – ela começou a falar e todos a olharam – o Yuuto-kun me pediu para te entregar isso.

Ela esticou a mão para Koichi, que curioso, rapidamente pegou o papel e começou a desdobrá-lo.

“Yo Koichi!

Eu tive que sair cedo hoje, mas mesmo assim consegui encontrar a Miya e pedi para ela lhe entregar isso.

Enfim, só queria me desculpar de novo pelo que fiz com sua namorada. Realmente espero que você não me condene por isso.

Foi bom passar o final de semana com vocês. Espero ansiosamente pelo dia que iremos nos encontrar de novo.

xxYuuto

PS.: Os lábios da Miya são demais, mas use com moderação viu?! ;D”

-       Aquele idiota! Eu vou matá-lo! – Koichi falou irritado enquanto amassava o papel, fazendo os outros rirem.

-       Se acalme – Miya chegou mais perto, segurando o rosto do namorado para que ele a olhasse -, seja lá o que ele tenha dito, lembre-se de você me tem e ele não.

Todos cairam na risada. Koichi abriu um grande sorriso ao ouvir aquelas palavras e rapidamente selou aqueles lábios que ele tanto desejava.

Não importa o que aconteça, não importa quantos furacões passem por sua vida, sempre acharemos um lugar onde encontraremos uma família e poderemos chamar de lar-doce-lar.

xx JujuOtaku