Eu praticamente corria. Uma sensação de claustrofobia me cercava e eu mal conseguia respirar.  Só preciso chegar em casa e tudo ficará bem, pensei respirando com dificuldade. 

Quando cheguei, levei alguns minutos pra conseguir abrir a porta porque minhas mãos trêmulas mal conseguiam segurar as chaves. Minha vizinha, Dana apareceu e olhou pra mim como se eu fosse louco. Ela era morena, com o cabelo curto e uma voz que me irritava mais do que qualquer coisa no mundo. Vendo minha expressão achei que iria falar alguma coisa e eu não podia permitir que isso acontecesse, dei a ela o meu melhor sorriso forçado e entrei no meu lar doce lar.

Coloquei as chaves na estante que ficava perto da porta, aumentei o aquecedor e fui até a cozinha. A louça ainda estava sem lavar e a pia estava cheia, suspirei. Não seria agora que eu iria cuidar disso, nem pensar. Abri a geladeira colocando as garrafas de cerveja e deixando uma pra mim ja ir bebendo. Esfreguei os olhos, como se tentasse ver com clareza - tudo parecia tão fora de foco. 

Caminhei lentamente até a sala, liguei o som em um volume considerável e coloquei Green Day pra tocar sentando no chão, bebendo e balançando a cabeça conforme a música. No segundo cd, eu ja tinha tomado 5 garrafas, no terceiro, eu ja nem ouvia mais o que era cantado, só ficava uma batida de fundo. Tentei levantar e tudo estava rodando, eu mal conseguia ficar em pé. 

Comecei a rir, era tão engraçado. Opa, pra esse lado não, pensei rindo. Ri, ri, ri tão alto que ouvi Dana gritar mandando-me calar a boca. Mas eu não tava nem ai, gargalhei sem parar.

Era uma risada vazia, porque eu não achava graça. Era apenas efeito do álcool. Mas eu queria aproveitar, porque mesmo sem controle, eu sabia que esse efeito era temporário e eu queria me perder, queria ficar fora de mim.... porque dentro, dentro estava uma bagunça e tudo estava caindo aos pedaços. 

***

Eu sabia que era tarde da manhã porque o sol ja invadia minha janela, mas eu me recusava a levantar. Não queria ter que lidar com o que aconteceu ontem, muito menos com a ressaca. Tentei adiar o máximo possível, mas eu sabia que uma hora eu iria ter que encarar. 

Abri os olhos e estranhei não ver o teto do meu quarto...Levantei, ficando sentado e percebi que minha cabeça latejava. Eu estava na sala, tinha dormido no chão e ai, minhas costas também doiam. A vontade de voltar ao sono profundo mesmo no chão frio da sala, era tentadora mas eu sabia que não podia: tinha que seguir em frente.

Mas de onde eu tiraria forças?