P.O.V Gillian Maxt 

Sobrenome estranho, para uma garota estranha. É o que digo quando me chamam pelo sobrenome... Maxt, que pra sua humilde informação se pronuncia Mértiez. Sábado... Como a semana passou tão rápido? Aliás, realmente jurei que a semana se pareceria com um século depois de mandar meu vídeo pra Brad Stand.

Balancei a cabeça me focando na professora de dança que me chamava: Odeio dançar, mais uma prova que sou a pessoa do contra. Sempre odeio tudo que as pessoas gostam tipo café, chocolate, frango... Essas coisas, aí.

— Sim, Senhorita Megan? – Rodopiei. Pude então dar de cara com seus olhos castanhos claros. Megan sempre dá um jeito de implicar comigo, as pessoas sempre dão... Aliás, é estranho aqui na Austrália alguém ter cabelos ruivos que vão até a cintura, pele branca como a neve e olhos azuis... Ou talvez Megan não goste de mim, porque já falei mal dela e tal ouviu.

— Estou te chamando há meia hora Maxt. – Maxt, era como se fosse meu apelido... Aliás, porque as pessoas insistiam tanto em me chamar daquele jeito? Calma Gill, calma! — Sua mãe te ligou, quer que vá embora mais cedo. – Meus olhinhos se arregalaram.

— Sério? Ai dude, obrigada mãe! – Sai correndo em direção á minha bolsa, que se encontrava no final da pequena sala. Não agüentava mais ouvir aquela música irritante! Odeio música eletrônica... Ah, eu odeio tanta coisa! Acho que é por isso que nunca fiz amizades, me desculpe pela próxima coisa que vou dizer, mas: Eu odeio pessoas. Não, vamos reformular a frase... Eu odeio a pessoas que conheço menos minha mãe e meu pai. Acho tão sem graça, acho que por eu estudar em uma dar mais ricas e blá blá blá escolas da Austrália, acabo que cercada por gente sem o que viver que apenas passa o dia inteiro no shopping fazendo malditas compras. 

Joguei a bolsa sobre os ombros e como ainda tenho minha educação, eu pedi licença para Megan. Assim que foi concedida, sai em disparada a porta empurrando-a com as costas. Ajeitei os fones e coloquei pra tocar alguma música qualquer... A única coisa que não odeio e que todos amam: Música. Ser cantora é meu sonho de consumo, desde que me entendo por gente. Dei alguns passos rápidos e depois comecei a caminhar lentamente... Porque será que eu estava indo embora mais cedo? Parei voluntariamente de andar.

Que eu me lembre, ultimamente não tenho feito nada de errado. Notas boas, cabelo penteado, postura correta, fiz tudo que minha mãe mandou, visitas a vovó, educação com meus primos, dividir meu computador com meu irmão... Bem tudo confere. Ontem mesmo fiz minha mais recente visita a vovó, gosto de ir lá. Sempre que me dá uma saudade dela, pego a minha bicicleta, aviso minha mãe e saio. Ela mora do outro lado da cidade, claro... Mas nada que me impeça de ir a casa dela ver o por do sol. Aliás, minha avó é tão sortuda que tem a melhor vista do por do sol do mundo inteiro!

Ok, eu não fiz nada de errado, então o que diabos minha mãe quer comigo? Voltei a andar, com passos pequenos, porém rápidos. Sou curiosa, confesso. Aliás, acho que sou a pessoa mais curiosa do universo... Gosto disso. É alguma coisa que pelo menos faço melhor do que os outros: Ser curiosa. Porque em média sou 99,9% desastrada, manhosa, chata, implicante... Acho que ser curiosa não é um defeito, acho que na verdade todos são curiosos por si só. Só que eu sou mais. Acho que mereço um prêmio.

— Oi, mãe! – Como sei que papai não está em casa posso me tacar no sofá, já que não tenho liberdade pra fazer isso quando ele está. Meu pai é empresário, e sempre que para em casa (raridade) vê defeito em tudo... Às vezes isso me irrita. Mas, gosto de cobranças... Acho que me ajudam a dar sempre o meu melhor.

Alguma coisa está errada em casa: Um barulho de risada vem do escritório do meu pai e o cheiro de chocolate está invadindo minhas narinas. Não é todo dia que minha mãe faz bolo de chocolate, aliás, eu não como, ela está sempre de dieta e não possuo irmãos. Levantei-me em um pulo do sofá e me dirigi às escadas de vidro. Minha casa tem três andares, é bem espaçosa... Mas o ruim é que apenas três dos doze quartos são ocupados, mas ao mesmo tempo isso é bom. Sobra um espaço enorme, para mim. Mesmo meu lugar preferido sendo o sótão... Calma, o meu não é como aqueles de filme de terror, na verdade nosso sótão foi transformado em uma sala de arte. Adoro aquele lugar!

Subi as escadas pulando de dois em dois degraus, e fui em direção ao escritório... Nem preciso dizer que meu queixo foi ao chão né?

Cabelos dourados e ralos, olhos verdes e profundos, sorriso encantador, covinhas perfeitas: Brad Stand? Sério?

Será que estou com sorte pelo menos uma vez na vida?