Capítulo 21

Decisões

Léo saiu da casa de Alicia às pressas, não queria ver aquilo nem por mais um segundo. Discou rápido um número em seu celular enquanto entrava no carro.

- Chefe, me desculpa, mas aconteceu um imprevisto – ele disse assim que o homem atendeu.

- Leonardo, eu não vou aceitar falhas!

- Alicia está morta – o fotógrafo disse com ma voz vacilante – Ela deixou um recado para uma amiga, talvez essa pessoa seja a próxima vítima, tenho que avisá-la.

- Suas ordens são para voltar para a editora! – disse o chefe – Eu vou ligar para a polícia e...

- Me desculpe chefe, mas eu preciso fazer isso – desligou o celular sem nem mesmo se despedir e se dirigiu para sua casa.

Alicia havia lhe contado no dia anterior que tinha ouvido uma conversa na casa de Selene e Alexia. Elas tinha ido para um baile na França, mas não se lembrava do nome da cidade! Lembrava-se apenas que o nome era parecido com pedra... Rocha.

Ligou o computador quase se matando pela demora, parecia que tudo trabalhava contra si. As pesquisas no google não davam resultado, ao que parecia “rocha” não combinava com “França”.

- Ai que inferno! – gritou para si mesmo.

Sem querer, clicou em “home” no seu navegador, e foi para a página inicial do UOL onde, por ironia do destino, lá estava nas “últimas notícias”: “Baile de Aniversário hoje em La Rochelle!”.

- Só pode ser brincadeira – ele disse com os olhos arregalados e clicando no link.

“Emmus Cosidini, considerado um dos homens mais ricos da França e descendente de uma longa linhagem de príncipes faz aniversário hoje. O baile é realizado em sua morada em La Rochelle e é fechado para amigos...”.

Léo nem leu o resto da notícia, voou para seu carro sem nem ao menos fazer as malas e foi para o aeroporto.

- La Rochelle – ele disse para a atendente.

- Não temos voos diretos, vai ter que ir para Paris primeiro e depois para qualquer outro lugar. – disse a moça.

- Que seja, quando sai o próximo voo?

- Daqui a duas horas.

- Ah não!

La Rochelle, França.

- Bill... Bill? – Mel chamava, mas ele parecia não ouvir – Bill... BILL!!

O grito o fez despertar de seu devaneio. Sacudiu a cabeça levemente e olhou em volta.

- O que... O que aconteceu? – ele perguntou estranhando o fato de que todos na mesa de café da manhã o olhavam com estranheza.

- Nós que te perguntamos isso – disse Gustav – Por um instante pareceu que você estava em outro mundo.

- É maninho, não faz mais isso, me deu o maior susto – disse Tom.

- Mas eu... Eu vi um...

- Bill, você deve ter dormido – Selene interrompeu.

- Mas de olhos abertos? – Mel disse com cara de ponto de interrogação.

- É Melissa, isso acontece muito – Alexia disse com os dentes cerrados.

- Selene e Alexia tem razão – disse Vincent – Talvez Bill precise dormir por mais algum tempo – o vampiro continuou com uma expressão do tipo “não questione, me obedeça” que o vocalista prontamente entendeu.

- Talvez... Ainda é cedo – Bill disse levantando-se.

- Tem certeza que está tudo bem? – Tom perguntou preocupado.

- Sim, só estou ficando com um pouco de dor de cabeça...

Selene acompanhou Bill até o quarto mantendo uma distância considerável. A vampira parecia muito compenetrada em seus pensamentos e não percebeu quando pararam na frente da porta do quarto dele.

- Você sabe, não é? – Bill perguntou tirando-a de seus pensamentos.

- Acho que sim – Sel respondeu – Mas não tenho certeza. De qualquer modo a sua estadia aqui vai servir para te desenvolver.

- Como assim me desenvolver?

- Entre – ela disse abrindo a porta do quarto ao lado que era o seu.

Bill obedeceu e observou-a fechar a porta, trancando-a em seguida, depois ela foi até a janela e abriu. Selene suspirou e ergueu os olhos para ele.

- Sente-se – ela disse apontando para a cama – Você sabe o que você é e que isso te deu certos poderes, certo? – perguntou vendo-o assentir – Quando um Puro convive muito com vampiros, ele começa a apresentar outras habilidades... Habilidades cada vez mais parecidas com as de um vampiro... É uma forma que você tem de equilibrar forças com o inimigo, é uma reação natural do seu organismo.

- Que tipo de habilidades?

- Os seus cinco sentidos estarão mais aguçados, sua sensibilidade aumentará, poderá percorrer grandes distâncias em segundos, poderá pular de grandes alturas ou escalar prédios altíssimos e... Se em algum outro lugar acontecer algo que pode te afetar, você pode visualizar.

- Como aconteceu agora.

- Creio que sim. Você está se desenvolvendo muito rápido, Bill. Não imaginei que isso pudesse acontecer. Alguns levam até mesmo anos para conseguir. Faz uma semana e meia desde que você descobriu o que é e convive com vampiros, é uma velocidade incrível. E é bom que saiba que... A partir de agora você terá o mínimo de contato possível comigo. – foi difícil para ela dizer aquilo. Tinha se apegado muito ao artista.

- Mas... Por que? – ele parecia triste.

- Seu cheiro vai ficar mais forte enquanto se desenvolve, e eu não sei se posso aguentar. E se eu beber o seu sangue... Eu morro... De novo, só que dessa vez eu não volto.

- Como assim? Não estou entendendo.

- Eu sou uma criatura das trevas. Eu sou o mal. Você representa tudo de bom e puro, você é um anjo. Eu seria consumida caso sugasse o seu sangue, ainda mais agora que você vai atingir seu ponto máximo de poder.

Ficaram em silêncio por algum tempo. Bill tentando colocar tudo no lugar e Selene de cabeça baixa respirando pausadamente.

- Eu... Acho melhor eu ir para o meu quarto – Bill disse com a voz falha.

- Sim, é melhor... Vou falar com Emmus agora e qualquer coisa a mais que você sinta, fale para as gêmeas ou para o Vince... Eles darão um jeito.

- OK... – ele disse girando a chave e saindo do quarto.

Mal Bill tinha saído do quarto, Selene se atirou na cama e abraçou o travesseiro deixando que lágrimas tintas o manchassem.

Quando chegou ao seu quarto, Bill encontrou outro vampiro.

- Teve algo que ela esqueceu de me falar? – o puro perguntou com ar de cansado.

- Não – Vince respondeu levantando-se – Mas ela esqueceu de te perguntar o que você viu.

Bill subiu em sua cama e abraçou suas pernas fitando o chão.

- Vi uma parede manchada de sangue, estava escrito “Alexia, ele está chegando”. Tinha uma moça ruiva caída no chão, eu não vi o rosto dela.

- Mas quem ia querer algo com a Alexia? – Vince perguntou piscando várias vezes.

- Não com a Alexia em si... – Bill murmurou – Creio que é a quem ela está ligada... Meu irmão...

- Klaus!! – o vampiro gritou – Ele está vindo pra cá? Mas como ele sabe onde estamos?

- Eu não sei Vincent! Eu só vi isso! – Bill estava prestes a perder o controle.

- Já chega Vince – Ariel apareceu na porta – Ele precisa descansar.

O vampiro assentiu e saiu do quarto.

- Vai ficar tudo bem – disse Ariel chegando perto de Bill e abraçando-o ternamente – Estão seguros aqui. Se isso te deixar mais tranquilo eu coloco você e o seu irmão no mesmo quarto – ela sorriu.

- Obrigado Ariel – ele respondeu verdadeiramente grato.

- De nada – ela sorriu mais uma vez e deu um beijo na testa do garoto – Agora descanse – completou saindo do quarto e fechando a porta.

Ariel agia como uma verdadeira mãe, e pela primeira vez desde que tinha se descoberto como Puro, Bill sentiu paz.

Vários vampiros estavam reunidos na mesma sala que outrora tinham usado para se reunirem em boas vindas, mas dessa vez o assunto era outro.

- Onde está Elena? – Emmus perguntou.

- Senhor ela está um pouco indisposta – disse Alexia – Não se preocupe que as decisões tomadas aqui serão passadas a ela.

- O que nos preocupa agora é o desenvolvimento do Puro – disse Meganie – Ele precisa ser treinado.

- Bobagem, Luísa Isabel! – disse um vampiro ruivo – Os outros não precisaram!

- Os outros tiveram os caçadores para guiá-los. Este aqui não tem, ele só tem a nós – Meg rebateu.

- Eu acho desnecessário proteger o Puro, caso Elena e Alexandra não tivessem contado a ele e nem perseguido-o, ele poderia viver normalmente hoje. – disse uma vampira loira.

- Mas por sorte nós o fizemos – disse Alexia – Caso contrário ele e o irmão estariam mortos.

- É importante que ele seja instruído – disse Mel – Ser reconhecido apenas pelo olhar pode trazer muitos problemas, e se ele não souber de tudo, ele pode morrer. Ainda mais sendo um artista famoso.

- Mas eu espero... – disse um vampiro loiro, o mesmo que sentou ao lado de Selene na outra vez – Que nossa querida Elena não esteja emocionalmente envolvida... Sabe, é muito estranho que ela tenha ficado “indisposta” no mesmo dia em que o Puro apresentou as novas habilidades.

- Grã Duquesa Elena Pavlovna Romanova – o criado anunciou.

- Pode parar de destilar o seu veneno agora, Victor – a vampira entrou falando – Se eu estivesse envolvida emocionalmente com um Puro eu teria contrariado as ordens do Emmus e o mataria. Mas ainda assim – ela continuou chegando bem perto do vampiro – Espero que você não tenha problemas com ele. Ele é minha responsabilidade, entendeu? Mantenha suas presas dentro da boca.

- Mas é claro, meu amor! – Victor respondeu com um sorriso irônico – Não encostarei um dedo sequer nele.

- Já chega! – Emmus parou com aquela provocação mútua – Seja bem vinda Elena, por favor, sente-se.

Selene obedeceu.

- Continuando... – disse a mesma vampira loira de antes – Porque proteger alguém que pode acabar conosco facilmente? A espécie dele até foi usada como uma arma contra nós!

- Águas passadas, Kallisto, águas passadas – Emmus a repreendeu – Não se prendam ao passado, temos que evoluir a nossa mentalidade juntamente com a tecnologia, senão ficamos para trás.

- Bill não é capaz de matar uma mosca – disse Selene – Ele é pacifista, não é risco para nós.

- Correção: Não é um risco para você – disse Kallisto.

- Errado, é um risco maior para mim do que para todos vocês – disse Elena, deixando alguns muito confusos.

- Eu sou da opinião de que ele deve ser treinado – disse um moreno.

Aquilo foi colocado em votação. 70% foram a favor, 25% contra e 5% preferiu não opinar.

- Está decidido então – disse Emmus – Ele vai ser treinado. Quem o fará.

- Senhor, eu me sentiria honrado – disse Vincent.

- Tudo bem. Vocês que conviveram com ele por todo esse tempo, em quanto tempo acham que ele estará pronto?

- Ele aprende muito depressa – disse Selene - Não precisará mais do que algumas semanas.

O espanto foi geral. Alguns vampiros demoravam até vinte anos para estarem completamente prontos, e agora do nada aparece um Puro que fica pronto em semanas?

- Eu sou testemunha – disse Melanie – Eu, minha irmã e Vincent convivemos com ele por um período bem menor do que Elena e Alexia, e já testemunhamos que por vezes ele age como um rapaz com séculos de idade.

- Apesar de tudo ser novo para ele – disse Vincent – Ele pensa rápido e analisa todos os lados de uma moeda para tomar uma decisão que pudemos ver que foi a mais sábia. E ele tem uma sagacidade surpreendente e também é muito solidário. Eu sei que ficará pronto bem mais rápido do que a maioria de nós ficou.

- E acima de tudo – disse Alexia – Ele mantém a calma até mesmo em momentos que a maioria das pessoas entrariam em pânico. No dia em que tentei atacá-lo, ele não saia da frente do irmão. Estava pouco se lixando para o que eu faria com ele, ele queria proteger o irmão.

- E no dia em que o Tom foi atacado ele não entrou em pânico e confiou em mim para resgatar o irmão. – disse Meganie

- Sem dúvidas é um garoto especial... Bom, veremos – Emmus finalizou a reunião e todos se dispersaram.

- Sel... – Alexia correu até a amiga – Aquilo que você disse para o Victor é verdade?

- Não seja tola, Alexia. Eu nunca ia conseguir matar o Bill, por mais que eu quisesse.

- Então você...

- Não quero falar sobre isso.