Fairy Tail! Aratana Densetsu! escrita por Maya


Capítulo 58
Um Lugar para Voltar


Notas iniciais do capítulo

Yo minna-san! Aqui começa enfim o quarto e penúltimo arco antes do time-skip: Battle of the Fairies Arc! Sua música tema será I Wish, a décima abertura de FT
Quero agradecer novamente pelos comentários que vocês deram na OVA. Tentarei trazer mais para diverti-los :D
Aproveitem o capítulo!



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–... Então você não é uma maga?

A Mestra Mayumi quase perdia o ar com o espanto. A história de Hana servira para silenciar toda a Lamia Scale. Apenas Lothos e Shuichi não se surpreenderam; Misaki, por outro lado, continuava olhando para a amiga de queixo caído.

– Não, Mestra – disse Hana, a voz saindo tão baixo quanto um suspiro. – Sou uma farsa.

– Hana... Eu entendo os seus motivos para fazer isso. Mas por mais que isso me doa, eu não posso manter em uma guilda de magos uma maga falsa.

A garota assentiu.

– Já esperava por isso, senhora.

– Que bom que compreende. Por favor, Shuichi...

O rapaz se apressou em pegar o removedor. Hana puxou a manga da camisa para deixar sua marca à vista.

– Conte comigo para o que precisar – sussurrou Shuichi enquanto pressionava o item sobre a marca roxa de Hana. – Estarei sempre à disposição.

– Você é a última pessoa de quem esperaria ouvir isso.

Shuichi esboçou um meio sorriso e pousou a mão sobre a cabeça de Hana.

– Você sempre será minha irmãzinha de consideração.

A garota abriu um sorriso radiante e o abraçou. Assim que se afastaram, Misaki a esperava de braços cruzados para sua despedida.

– Eu ainda não consigo aceitar o fato de você ter me escondido essa história por todos esses anos. Mas... – Ele abriu os braços. – Eu aceito menos ainda a ideia de você ter que sair da guilda.

Hana pulou em cima do ruivo e o mesmo a recebeu com um abraço protetor, seguido de um beijo carinhoso em sua cabeça.

– Vai fazer falta aqui, baixinha.

– Eu sei.

Os dois riram e Misaki a soltou. Lothos já estava ao seu lado. Seus olhos estavam marejados, e a expressão, triste. Ela não hesitou em puxar a menor para um abraço apertado.

– Mesmo que eu tenha dito para você fazer isso... Desejei que esse dia nunca chegasse.

– Infelizmente, eu te respeito demais para ignorar um conselho seu – brincou Hana.

– Eu não ficaria brava se me desrespeitasse só uma vez.

Hana se afastou um pouco para poder encarar Lothos.

– Já te disse que não queria mais esconder esse segredo. E de qualquer forma, como eu poderia desrespeitar a pessoa que mais admiro?

Lothos se surpreendeu. E então, deixou as lágrimas escaparem e abraçou a amiga com mais força.

– Por favor, Lothos-chan, isso não combina com você. – disse Hana. Seus olhos também começavam a marejar.

– E por acaso você acha que me importo?

Elas permaneceram abraçadas pelo que pareceu uma eternidade. Finalmente, Hana se soltou dos braços da veterana e fez um reverência em direção ao resto da guilda.

– Mestra Mayumi, pessoal, obrigado pelo carinho e pela hospitalidade. Eu nunca esquecerei do que fizeram por mim. Sentirei falta da Lamia.

– Tente não sumir, mocinha – disse a Mestra.

Hana respondeu com um sorriso e, com a despedida de todos os seus antigos companheiros de guilda, saiu do prédio da Lamia Scale.

–--

Bastaram apenas alguns minutos de caminhada para Hana parar. Sua atenção foi voltada para Issei, que a observava apoiado a uma árvore. Hana foi até ele.

– Então você é uma grande mentirosa, não é?

– O que você quer aqui?

– É um alívio para mim, na verdade. Fiquei muito tempo imaginando como não pude drenar sua magia quando toquei sua testa com minha mão esquerda.

– O que você quer aqui? – Ela repetiu.

Issei olhou para a garota. Hana sabia que deveria estar sentindo medo, raiva ou qualquer outra coisa, mas estava surpreendentemente calma.

– Você... É interessante. Na falta de poder mágico, luta com artes marciais. Está sendo separada das pessoas por não ser uma maga como elas. Você é como eu.

O vilão estendeu a mão.

– Venha para o meu lado. Juntos, poderemos acabar com todos os magos desse mundo.

Hana o encarou. Depois olhou para sua mão e começou a rir. Issei arqueou uma sobrancelha.

– Qual a graça?

– Não sei por que o pessoal tem tanto medo disso. Você é patético.

–... O quê?

– Eu não sou como você, Issei. Fui eu mesma quem decidi revelar a verdade e sair da guilda. E apesar disso, meus amigos não vão me abandonar. Além do mais, você nunca vai conseguir me levar para o caminho do mal.

Mesmo assim, ela apertou sua mão.

– Mas eu vou com você – disse Hana. – Porque você também me interessa.

E quero impedir que acabe com a vida de meus amigos e a sua própria, pensou. Hana sentia que por trás daquela máscara de frieza havia um garoto solitário esperando que alguém o livrasse de seu tormento. E ela queria ser essa pessoa, queria tirar Issei das trevas e impedir que ele destruísse a si mesmo. Porque... Havia algo nele que realmente a interessava.

Mas não falou nada disso; apenas voltou a caminhar enquanto puxava o rapaz.

– Vamos lá, parceiro!

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Um mês depois

–---------

– Tem certeza disso? – Perguntou Nick.

– Tenho. Obrigado por virem, pessoal – agradeceu Ace.

– Qual é! Os Fairy Knights não se unem só para missões – disse Luke.

Nesse mês que se passou após a missão das Light Guilds, Ace pensou muito e enfim tomou coragem para visitar seus pais. Seus companheiros do time Fairy Knights se ofereceram para acompanhá-lo até lá, e o Dragon Slayer ficou aliviado; seria bem mais fácil fazer isso com seus amigos ao seu lado.

– Vou sozinho a partir daqui. Valeu, pessoal – disse Ace.

– Estaremos te esperando aqui – falou Yume.

O Dragneel agradeceu com um sorriso e avançou sozinho em direção a casa em que crescera. Lentamente, ergueu o punho e bateu na porta de madeira. Segundos depois, a maçaneta girou e o rosto de uma mulher apareceu no vão da porta.

Seus cabelos compridos e repicados eram rosados, e seus olhos tinham cor de chocolate. A pele era clara e um grande sorriso se estendia em seu rosto. Ace não pensou que sua tia Jade Dragneel estivesse ali, muito menos que o recebesse com tanta alegria.

A mulher abriu totalmente a porta e saiu para abraçar o sobrinho.

– Pensei que nunca mais voltaria – ela disse.

– Também pensei – respondeu o rapaz. – Tia... Meus pais estão em casa?

A mulher se afastou. O sorriso em seu rosto brilhava ainda mais.

– Sim. Eles estão doidos pra te ver.

– Ah... Como é?

Jade segurou a mão do sobrinho e o puxou para dentro de casa. Ace fechou a porta ao entrar. Imediatamente, o aroma de seu antigo lar invadiu suas narinas e as lembranças vieram à sua mente. Não parecia que havia se passado alguns meses desde sua saída de casa, e sim anos.

A casa era bem modesta, e toda a decoração continuava do mesmo jeito de sempre. Na sala havia um sofá para duas pessoas e duas poltronas voltadas para a lareira – a qual Ace já ligara quando pequeno apenas para matar a fome. Na cozinha ficava a porta que levava à varanda, na qual Natsu e Lucy passaram seus últimos minutos. Subindo as escadas encontravam-se duas portas: uma para o quarto dos gêmeos e outra para o quarto de seus pais. Ace ficou tentado em entrar em seu velho quarto, mas sua tia continuou puxando-o para onde seus progenitores estavam.

O rapaz perdeu o ar quando Jade abriu a porta do quarto. Aaron e Katie Dragneel se viraram imediatamente e sorriram ao ver o filho. Mesmo não entendendo, Ace suspirou de alívio e sorriu também.

Mesmo que ainda tivessem faixas até no rosto, era possível ver os traços dos dois. Seu pai tinha cabelos loiros curtos, agora despenteados, e olhos da cor de chocolate e pele levemente mais amorenada que a da irmã. Herdara de Natsu o sorriso enorme, o qual Ace ficava feliz em ver depois de tanto tempo pensando que os pais não gostariam de tê-lo de volta.

Sua mãe tinha os cabelos prateados batendo nos ombros e olhos negros. A pele era clara, embora tivesse as bochechas rosadas. O sorriso que esboçava era mais singelo, mas o rapaz ainda podia ver o brilho em seus olhos.

– Bem vindo de volta, Ace – disse Aaron.

Katie levou as mãos ao rosto. Seus olhos estavam marejados de emoção.

– Meu filho...

Ainda sem acreditar, o rapaz entrou. O quarto dos pais também continuava igual: a cama de casal ao lado de um criado mudo, a cômoda no lado oposto e várias fotos da família sobre ela. Ali podia-se ver os rostos de Natsu e Lucy quando jovens e na velhice, os gêmeos quando eram bebês, diversas fotos de sua infância, fotos do casamento de Aaron e Katie... O quarto em si era como um baú de memórias.

E então tornou a olhar para os pais. Eles mantinham os sorrisos em seus rostos. Era verdade; estavam mesmo felizes em vê-lo. Ace se sentiu aliviado por realmente não ser um sonho.

– Pai, mãe... Estou de volta.

Aos prantos, sua progenitora se levantou para abraçá-lo. Seu pai a acompanhou para um abraço coletivo. Mesmo depois de meses eles continuavam com aquelas ataduras... O que Jet teria feito com eles?

– Vocês não deviam estar com raiva de mim?

– Não. Jet nos explicou tudo – disse Katie. – Perdão, Ace. Não devíamos ter feito aquilo com você.

Por essa ele não esperava. Quando Jet disse que ficaria de olho em seus pais, não pensou que ele fosse falar com eles, muito menos confessar a culpa. Pensando bem... Era de se esperar. Jet mostrara um real arrependimento naquele dia.

– E o que vocês fizeram com ele? – Indagou Ace.

– O perdoamos. Não podíamos repetir o erro que cometemos ao expulsar você de casa – respondeu Aaron. – Mas ele não quis voltar. Foi embora sem dizer para onde ia.

O Dragon Slayer sorriu.

– Aposto que ele está mais perto do que vocês imaginam.

E os três continuaram abraçados por um tempo indeterminado. Talvez tivesse passado segundos, minutos, horas... Não importava. O importante era que os Dragneel estavam juntos novamente.

–--

Quando Ace saiu de casa, a manhã já chegava ao fim. Seus amigos continuavam lá, cada um usando seus próprios métodos para matar o tempo: Yume e Nadeshiko conversavam e riam sob a sombra de uma árvore. Enquanto isso, Luke e Nick, carregados respectivamente por Lucky e Neko, realizavam uma espécie de treino aéreo.

Os seis pararam imediatamente o que estavam fazendo ao ver Ace. Os Exceeds deixaram os rapazes no chão e Lucky voou para o ombro de seu dono.

– Demorou um bocado, Ace! – Exclamou Luke. – Tô morrendo de fome...

– Por que você acha que eu demorei? Estava tendo o melhor almoço da minha vida!

– E nem para chamar seus amigos? Seu...

– E então, Ace – disse Yume enquanto segurava um revoltado Luke pela gola da camisa. – Como foi lá?

– Foi ótimo. Conto tudo quando chegarmos na guilda.

– Então vamos logo – disse Nick. – Estou ficando com fome também.

– Neko também! – Exclamou o próprio. – Preciso de um salmão.

– É melhor você comer o salmão do que tentar paquerar a Kay com ele – provocou Lucky.

– Eu não te perguntei nada, Lucky!

– Mas ele tem razão, Neko-kun – concordou Nadeshiko.

– Até você, Nadeshiko-sama...

Observando-os pela janela, Jade não tirava o sorriso nostálgico do rosto. Seu irmão estava ao seu lado, passando pela mente as mesmas lembranças que ela.

– Fairy Tail... Então Ace realmente foi pra lá, afinal – disse Aaron. – Fico feliz. O Igneel devia estar aqui para ver como ele cresceu em poucos meses.

Lá embaixo, enquanto caminhava, Ace dizia o que tinha comido em seu delicioso almoço. Ao seu lado, Luke reclamava. Eles acabaram por bater as testas uma na outra, o ruivo convidando o amigo para uma briga. Yume segurou as cabeças dos dois por trás e as chocou. Ambos reclamaram. Nick e Nadeshiko mantinham sorrisos amarelos nos rostos enquanto Neko continuava dizendo a Lucky que conseguiria conquistar Kay antes dele.

– Aqueles três me lembram papai, tio Gray e tia Erza – disse a de cabelos rosas.

– Vai ver os atuais membros da Fairy Tail continuam carregando os espíritos dos antigos – falou seu irmão.

Katie se aproximou e segurou a mão do marido.

– Se for assim, ele ficará bem. Não há com o que nos preocupar.

– Sim... A Fairy Tail acolhe qualquer mago do bem que queira entrar para a família.

Aaron passou a mão livre pelo braço. Embaixo da atadura havia sua velha marca das fadas na cor vermelha.

– Já faz tanto tempo e ainda sinto falta daquele lugar.

– Eu também – disse Jade, contemplando sua marca amarela no pulso.

– Passamos bons momentos lá – falou Katie. Sua marca roxa no ombro também era coberta pela atadura.

– Talvez a gente possa passar por lá qualquer dia, ver como Ace está indo... E talvez até ressuscitar o Time Silver Flame – sugeriu Aaron.

– É uma boa ideia. Mas antes disso vocês têm que se recuperar, então voltem para a cama – mandou a mulher de cabelos rosados.

O loiro obedeceu a contragosto. Apenas sua esposa continuou olhando para a janela, mas agora, ao invés de observar seu filho, ela olhava emocionada para as árvores ao redor da casa. Jade percebeu e seguiu seu olhar.

Jet percebeu que estava sendo visto e tornou a se esconder.

. . .

– Chegamos, senhoritas.– disse o condutor da carroça.

– Obrigada, senhor.

Felicity entregou o dinheiro ao homem e, ao lado de Mortis e Yui, desceu da carroça. Seu coração bateu mais rápido quando a garota olhou para a cidade a sua frente.

Lá estava ela, de volta a Veronica. De volta a sua terra natal.

– Tem certeza disso? – Perguntou Yui.

– Sim. Mas vocês não precisavam ter vindo. Não é nenhuma missão ou algo do tipo...

– Nós não estamos aqui como o time Demon Angels – interveio Mortis. – Estamos aqui como suas amigas.

Felicity sorriu para elas.

– Ótimo! Então, vamos acabar logo com isso para voltar a tempo de ver a batalha do Nick-kun e o Yuri! – Disse ela.

E assim, a garota deu o primeiro passo.

Era estranho... Nesses sete anos que se passaram, Fel se esqueceu completamente de como era o lugar onde nascera, como eram as pessoas lá, tudo. Mas bastou dar alguns passos e olhar ao redor para tudo voltar a sua mente. Lembrou-se de onde era sua ficava e como ela era, de como as pessoas agiam, as tradições, os hábitos... Era como se nunca tivesse saído de lá.

Em uma banca de frutas perto dali, uma senhora de idade observava o trio. A usuária da Nature Magic notou e a mulher desviou o olhar para atender ao cliente que chegava. A garota sorriu.

– Magda-san.

– Quem?

– Ela. – Fel apontou para a senhora. – Magda-san foi a única pessoa que não me rejeitou por ser uma maga. Ela passou anos em Fiore, onde aprendeu a gostar dos magos e da magia. E também sempre amou as flores, então eu era sua queridinha. – A garota sorriu ainda mais com a lembrança. – Espero que ainda se lembre de mim.

Mortis deu um tapinha em seu ombro.

– Tenho certeza de que se lembra.

Felicity assentiu e foi até a banca, agora sem mais clientes a vista. Magda percebeu a aproximação do grupo e cerrou os olhos. Fel vacilou um pouco, mas logo recuperou o ânimo ao ver um sorriso doce brotando no rosto da velha senhora.

– Felicity – ela a reconheceu. – É você mesmo, não é?

Magda saiu da banca e abriu os braços. A garota não hesitou em se jogar neles.

– Você se lembra mesmo de mim...

– Como eu poderia esquecer? Você é e sempre será a neta que eu nunca tive.

Fel abraçou a avó de consideração com mais força. Nem se preocupou em enxugar os olhos.

Ainda demorou um minuto para as duas se afastarem.

– Você está tão bonita. Onde esteve durante todos esses anos? Como está? – Indagou a senhora.

– Estou ótima. Fui adotada por um casal de magos quando saí daqui, e desde então moro na cidade de Magnolia, em Fiore. E também entrei em uma guilda. Já ouviu falar da Fairy Tail?

– A guilda mais encrenqueira daquele país? Até o povo daqui conhece – riu Magda.

– Essa mesma. – Felicity abriu um sorriso amarelo. – Mas eu estou feliz lá. É meu novo lar.

– Que bom que está feliz. Mas... Os moradores de Veronica ainda não aceitam bem a magia.

Felicity nem se desapontou, muito menos se surpreendeu; já esperava por isso. Sabia que era quase impossível as pessoas de seu país passarem a aceitar os magos tão facilmente. Como esperava, caberia a ela mudar a cabeça de todos eles.

– Eu já esperava por isso, Magda-san. Sabe como estão meus pais desde que eu saí daqui?

Magda não sorriu e nem deu sua risada alegre que costumava dar antes de dar boas notícias. Apenas disse secamente:

– É melhor você mesma ir vê-los.

A senhora soltou a mão da garota de cabelos prateados. Esta nem esperou sua protetora terminar de dizer que eles moravam no mesmo lugar de sempre para correr até sua velha casa. Yui e Mortis a seguiram, gritando para a amiga esperar.

Fel não esperou, e minutos depois se encontravam diante do portão que levava a casa da família Kunoa. Ela esperou alguns instantes para recuperar o fôlego e a atravessou o portão. Suas amigas se postaram ao seu lado enquanto a garota batia na porta.

Não demorou muito tempo para ser atendida. Um homem de cabelos prateados e olhos azuis abriu a porta. Já ia perguntar o que ela queria quando reconheceu a visitante.

Felicity quase avançou para abraçar o pai, mas se conteve. O tom de Magda deixou-a preocupada com a reação que seus progenitores teriam, e não queria ser rejeitada. Não de novo.

Mas quem tomou a frente no abraço foi seu pai. Fel se surpreendeu demais para conseguir conter o choro.

Otou-san...

– Nunca mais desapareça assim.

Fel apenas enterrou o rosto no ombro do pai sem se importar de molhar sua camisa.

– Stephen? Quem está...

Felicity só ergueu o rosto para ver a expressão de espanto no rosto da mãe. E então,o espanto se transformou em felicidade na forma de um grande e trêmulo sorriso de emoção.

Realmente, ela se esquecera de uma coisa: dona Magda era uma brincalhona de primeira.

– Ela voltou, Rosimere. – A garota nunca pensou que um dia ouviria a voz do pai embargada de choro. – Ela voltou mesmo.

Rosimere deixou a bandeja com xícaras de chá que carregava cair para se juntar ao abraço. E de repente Fel se viu rindo de alegria, o que fez suas lágrimas sumirem completamente.

–--

– Então foi por isso que você sumiu?

Felicity estava na sala de sua casa sentada no sofá maior entre Mortis e Yui, e de frente para seus pais. Sobre a mesa de centro entre eles estava uma bandeja com um bule de chá que tinha acabado de ser feito novamente.

– Sim, pai.

Ela acabara de contar o motivo de ter fugido de casa e agora aproveitava o silêncio dos pais para olhar ao redor. A casa continuava do mesmo jeito de sempre: bem limpa e arrumada por sua mãe, e com várias flores e retratos espalhados. A única diferença que ela podia perceber era a foto maior sobre a lareira: lá estavam Rosimere e Stephen Kunoa, a mulher segurando a bebê Felicity no colo. Acima dela havia uma foto de todos os seus parentes reunidos, e seu pai segurava uma foto da pequena Felicity. No canto estavam os dizeres: “Quando nos encontramos novamente, estaremos todos reunidos”.

– Mas como você viveu nesses sete anos? – Indagou sua mãe.

– Eu fui adotada por um casal de magos, e desde então passei a viver na Fairy Tail – respondeu Fel. – É uma guilda de magos muito conhecida em Fiore. Vocês devem conhecer.

– Sim... É impossível não ouvir falar dessa guilda – disse seu pai. – Mas você está realmente feliz com esse tipo de gente?

– Pai, a Fairy Tail é meu lar agora. Ninguém jamais me rejeitou lá por eu ser quem eu sou.

Stephen e Rosimere trocaram olhares nervosos. Por um tempo, ninguém soube o que dizer. Então Felicity olhou novamente para a foto de seus parentes.

– Os Kunoa nunca foram um bom exemplo de família unida. Mas parece que vocês consertaram isso, não é?

– Você está certa – respondeu Stephen. – Nós nos unimos por você.

Felicity continuou olhando fixamente para a foto.

– No seu aniversário de dez anos, você disse que desejou uma família mais unida antes de soprar as velas – recordou Rosimere. – Nós não demos muita importância na hora, mas... Quando você fugiu, achamos que esse fosse o motivo. Que você estava infeliz com a própria família. Então, todos nos juntamos. Por você.

– Nunca perdemos a fé de que um dia você voltaria, mesmo com tantas pessoas dizendo que já devia estar morta. E quando voltasse, queríamos que visse que seu desejo foi realizado.

Enfim, Fel sorriu.

– Eu nunca pensei que um dia veria uma foto assim aqui em casa. – Ela olhou para os pais. – Mas se vocês sempre acreditaram que eu estava viva, por que não me procuraram?

– Não tínhamos como pagar uma equipe de busca ou algo do tipo, e ninguém aqui em Verônica se ofereceu para procurar uma “maguinha suja – explicou sua mãe. – E os nossos parentes também não tinham condições de viajar para outros territórios. Os únicos daqui que realmente quiseram buscá-la foram a dona Magda, mas a idade não lhe permitia muito esforço... E Clive.

Clive. Por um breve instante, esse nome pareceu levemente familiar para Felicity. E então ela se lembrou, e imediatamente sentiu vergonha por ter se esquecido de seu amigo de infância.

– Foi ele quem manteve nossas esperanças acesas. Sem a insistência de Clive, acho que já teríamos desistido há muito tempo.

Yui cutucou Fel com o cotovelo.

– Quem é esse? – Murmurou.

– Clive Simons – ela respondeu.

Ainda sem entender, Yui olhou para Mortis. Esta apenas deu de ombros.

A usuária da Nature Magic conheceu Clive quando ambos tinham cinco anos, na escolinha. Desde então, eles se tornaram inseparáveis. Passavam dias inteiros conversando e brincando juntos. Os moradores de Verônica – inclusive os pais das crianças – chegavam a comentar sobre o quanto eram amigos e como formariam um belo casal quando crescessem.

Mas então Felicity descobriu sua magia, e todos a rejeitaram. Clive permaneceu ao seu lado. Ele dizia que ela devia ficar tranquila, pois eles fariam o povo de Veronica aceitar os magos. Clive só se afastou dela quando seus pais começaram a fazer de tudo para separá-lo dela. Fel não aguentou a barra sem o melhor amigo e acabou fugindo.

Só quando a garota saiu de suas lembranças é que percebeu que os pais estavam de cabeça baixa. Ela não entendeu de início, até seu pai começar a falar.

– Nos perdoe, minha filha. Nós devíamos tê-la apoiado, mas... Só agimos como nossos vizinhos queriam e a rejeitamos.

Em nenhum momento nesses sete anos, Fel conseguiu perdoar os pais por tê-la deixado de lado só por ser uma maga. Mas agora era diferente.Ela podia ver o quanto estavam arrependidos. Podia ver o que fizeram por ela. Agora podia enfim perdoá-los.

– Águas passadas, pai. Está tudo bem.

Stephen e Rosimere ergueram os rostos surpresos para a filha.

– Vamos, não fiquem tão espantados – ela disse um pouco sem graça. – Realmente, não houve um dia que eu consegui pensar em perdoar vocês desde que eu cheguei na Fairy Tail. Mas foi lá que eu reuni forças para vir até aqui, compreendê-los desculpá-los pelo que fizeram. Além disso... Se vocês não tivessem me rejeitado, eu não teria fugido. Ou seja, eu não teria conhecido o pessoal da Fairy Tail. Não conseguido melhores amigas – Fel apontou para Yui e Mortis –, não teria conhecido pessoas e magias incríveis, não teria aprendido várias coisas, e não teria... – Ela corou antes que pudesse terminar a frase.

– Não teria achado um amor – concluiu Mortis.

– Mortis! – Felicity ficou mais vermelha ainda. – Mas enfim... Acho que na verdade eu tenho que agradecer a vocês por permitirem que eu encontrasse meu verdadeiro lar.

– Então você vai voltar para Fiore?

– Vou, mãe. Todos estão me esperando lá.

– Fel-chan, cuidado!

Felicity olhou para Yui e logo seguiu seu olhar até a janela. Teve poucos segundos para se abaixar enquanto uma pedra lançada por um de seus vizinhos atravessasse a sala.

– Saia daí, maga!

– Você não é bem vinda aqui!

– Vá embora antes que destrua nosso país!

– Como ousa voltar?!

De uma hora para outra, aparentemente todos os outros moradores estavam do lado de fora da casa dos Kunoa. A maga em questão ficou paralisada enquanto seus pais e amigas se levantavam.

– Deixem nossa filha em paz! – Gritou Stephen.

– Ela não fará mal a vocês! Nossa filha é do bem! – Gritou Rosimere.

Mais pedras atiradas, mais batidas violentas na porta. Parecia um pesadelo. Se tinha uma coisa que Fel preferiria não se lembrar ao voltar para casa era do medo que sentia de seus próprios vizinhos, das ameaças de alguns e dos olhares rancorosos de outros. A garota precisava estar sempre grudada em Magda para não correr mais riscos. Viver isso de novo...

– Seus desgraçados! – Exclamou Mortis. – Eu vou dar um jeito em vocês! Take Over...

– Mortis, não – a de cabelos prateados conseguiu dizer. – Você só vai piorar as coisas.

– Mas nós temos que fazer alguma coisa! – Retrucou Yui.

– Se os atacarmos com magia, eles só ficarão com ainda mais raiva! Deixem pra lá. – Felicity se levantou. – Tem uma saída nos fundos; vamos fugir. Não é como se isso fosse totalmente novo pra mim.

Porém, antes que ela mesma pudesse correr para a saída, um grito vindo do lado de fora a fez parar.

– Deixem ela em paz!

O grito também fez os cidadãos revoltados pararem por um instante. Um rapaz girava seu bastão para abrir espaço entre a multidão. Seus olhos vermelhos escuros e chamativos eram o bastante para Fel reconhecê-lo.

Nesses sete anos, a garota se esqueceu de tudo sobre Veronica. Infelizmente isso incluía Clive. Mas ele não se esqueceu; a prova disso era como ele lutava com seus vizinhos para chegar até a casa dos Kunoa. Para ajudar sua amiga.

– Clive! – Felicity gritou ao se aproximar da janela.

– Fel! – Ele gritou em resposta. – Você está um pouco atrasada, sabia?

A garota riu.

– Eu sei!

– Mas tudo bem! É bom tê-la de volta!

Bastou um instante de distração para Clive receber uma pancada na cabeça e a situação ficar ainda mais descontrolada.

Imediatamente, a maga saiu de casa e foi correndo socorrer o amigo. Yui e Mortis a seguiram para protegê-la dos mais violentos. Não conseguiram; um dos homens estendeu o braço e a puxou pelo cabelo.

– Você tem que dar o fora daqui, menina! Ninguém te quer aqui!

– Não me importa! Vocês podem me odiar o quanto quiserem, mas não envolvam Clive nisso!

Antes que o homem pudesse reagir, uma rajada de água o atingiu no rosto e o obrigou a soltar Fel. Esta nem se preocupou em dar um bronca em Yui. Foi logo correndo para ajudar Clive a se levantar.

– Você está bem?

– Só um pouco zonzo – respondeu o rapaz. – Mas estou bem. Não se preocupe...

Ele teria sido mais convincente se não estivesse prestes a desabar sobre Felicity e se não tivesse um fio de sangue na parte de trás de sua cabeça.

– Olhem só! Essas duas também são magas! – Gritou um homem enquanto segurava Mortis e Yui.O braço demoníaco transformado com o Take Over de Mortis já voltava ao normal depois de ela ter atacado alguns cidadãos.

Era a gota d’água. Seus amigos só queriam ajudá-la. Por que estavam sendo condenados por causa disso? Não; Fel não podia deixar isso continuar acontecendo por sua causa.

– Parem com isso agora! – Ela gritou com toda a força que conseguiu reunir.

Para sua surpresa, funcionou. Todos se calaram para prestar atenção na garota.

– A magia é do bem. Por que é tão difícil pra vocês aceitarem isso?

– Qual é! Ninguém pode negar que a magia já causou muita destruição! – Revidou um homem alto e musculoso.

– Não estou negando isso; é verdade que muito magos já usaram suas magias para trazer o mal. Mas eu, minhas amigas e muitos outros magos incríveis que eu conheço usam sua força para proteger a todos – não importa se são magos ou não. Todos vocês precisam acreditar que a magia muitas vezes é usada para o bem. Precisam parar de condenar tos dos os magos do mundo.

A multidão ficou tão quieta que por um momento Fel achou que tinha conseguido convencer a todos. Engano o seu.

– E como você pode provar que sua magia não é do mal? – Indagou uma mulher.

A garota suspirou, impaciente.

– Me digam: uma magia tão bela pode ser do mal?

Então, ela estendeu os braços para cima. Círculos mágicos surgiram sobre as casas ao redor e em algumas partes de terra vazias na rua. Nas casas brotaram as mais belas flores; na rua, magníficas árvores para enfeitar Veronica.

Mais plantas foram surgindo em todos os cantos das casas, lojas, restaurantes e ruas, deixando tudo mais bonito e com um delicioso aroma.

– Essa beleza é o que vocês chamam de magia suja. De maldição. É o que vocês rejeitaram por tanto tempo.

Era impossível dizer se eles se convenceram ou não pelas suas expressões. Felicity não esperava que tivesse conseguido tão facilmente assim. Foram anos de rejeição; não importava o que ela fizesse, demoraria para as pessoas entenderem.

O silêncio só foi quebrado por alguns murmúrios. Parecia que as pessoas discutiam sobre o que fazer, mas ninguém parecia disposto a dar sua opinião própria.

– Pode ir, Fel – disse Clive. – A parte mais importante já foi feita. Eu cuido do resto.

– Clive...

– Eu estou bem. Não precisa se preocupar. Garanto que farei o meu melhor para mudar a cabeça de todo mundo aqui. Mas com uma condição! – O rapaz sorriu. – Você não pode demorar mais sete anos para voltar aqui!

E ele sustentou aquele sorriso charmoso e confiante no rosto. Exatamente como o de Luke. Agora que Fel reparava... A única coisa que diferenciava Clive de seu amigo ruivo eram seus cabelos: brancos e descolados, com as pontas espetadas para todos os lados.

Felicity não pôde conter um sorriso.

– Eu prometo. Posso contar com você?

– Sempre! Fique tranquila.

Lentamente, a garota soltou o amigo para que ele ficasse de pé sozinho.

– Sentirei saudades – ele falou.

– Eu também.

Fel fez um sinal para Yui e Mortis – agora soltas – e correu para a saída da cidade enquanto Clive gritava para todos os cidadãos sobre o lado bom da magia.

–--

– Droga... Estou arrependida por não ter me despedido dos meus pais – lamentou a usuária da Nature Magic.

– Estou certa de que eles entenderão – consolou Mortis.

– E pelo menos agora está tudo bem entre vocês, certo? Até que valeu a pena – falou Yui.

Na carroça de volta para casa, Fel observava o lugar em que nascera ficar para trás até se tornar apenas um borrão no horizonte. Um dia voltaria para lá. E, assim esperava, já seria mais aceita pelos cidadãos. Algum dia...

– Sim... Vocês têm razão – concordou Felicity. – Espero que Clive consiga convencer a todos.

– E se conseguir, você vai voltar a morar com seus pais?

– Não, Mortis. Não importa o quanto o pessoal de Veronica mude, meu lar nunca deixará de ser a Fairy Tail. Minha família está lá.

Suas amigas sorriram com isso.

– É assim que se fala! – Exclamou Yui. – Agora, mudando de assunto. Aquele Clive. Não acha ele nem um pouco parecido com o Luke?

– Ele até te chama de Fel. Luke o mataria se estivesse lá – continuou Mortis. – Sabe como ele é ciumento quando se trata de você. Se ele vir algum outro homem te chamando de Fel...

Fel corou.

– Não teria muito sentido, já que o Clive começou a me chamar assim primeiro.

– Mesmo assim! Luke ficaria muito bravo – disse a Takahashi. – É melhor você não falar sobre Clive com ele.

– Mas é bem estranho você ter dois grandes amigos parecidos e que te chamam pelo mesmo apelido.

– Luke não é um grande amigo dela, Mortis. É sua paixão.

– É verdade. Só que o Clive provavelmente sente algo a mais pela Fel também.

– É mesmo. Deve ter alguma coisa aí...

– Será que vocês podem parar de discutir minha vida pessoal assim? – Pediu Felicity, mais envergonhada ainda.

Elas a ignoraram completamente.


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Notas finais do capítulo

No próximo...
Enfim chegou o dia da minha luta com Yuri!
Mas tem algo estranho aqui... Devia mesmo estar nevando nessa época? Sem contar que essa neve não parece ser normal...
E quem é esse novo membro da Eletro Magic?
Não percam o próximo!
"A Neve Sombria de X849"



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