Undertaker [Hiato] escrita por biazacha


Capítulo 3
Enferma


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos reviews gente! Ah, e Kiss, você profetizou bonito, pois cá estou eu com mais um cap... ele já estava parcialmente escrito e esses torcedores idiotas tiraram meu sono! (u.u)'



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/235829/chapter/3

Luz. Foi essa a primeira impressão de Raven ao abrir os olhos: uma luz forte e insuportável. Tornou a fechá-los com a sensação de que haviam jogado água quente neles. Aliás, sensações desagradáveis eram o que não faltavam à garota.

Suas costas doíam, seus braços estavam pesados e também doíam, seu joelho direito estava insuportável e ela tinha certeza de que o rosto estava machucado e os lábios partidos. Tornou a abrir os olhos de modo cauteloso e aos poucos, conforme se acostumava com a claridade, foi esquadrinhando o lugar onde estava.

Era um típico quarto de hospital, com as cores e mobília estéreis, muitas flores recentes ao seu redor, uma parede de vidro que dava para o corredor, onde enfermeiras iam e voltavam e uma figura desacordada numa poltrona ao canto: alto, fios loiros e muito lisos, roupas de marca, cílios grandes e feições de anjo. Jonathan.

Ela não fazia ideia do motivo de ele estar ali e de certa forma não era uma notícia muito agradável; aluno de Harvard, ele era o cara modelo e orgulho da família. De TODA a família, por parte de pai, mão, amigos, vizinhos, ex-professores, conhecidos – e Raven, naturalmente sempre foi e sempre será a irmãzinha de John Castle. Era sufocante.

Suspirou, em parte pelo cansaço e em parte pela frustação. Não era justo ela guardar mágoas do irmão mais velho por algo que ele não podia evitar – era bom em tudo desde que se lembrava e nunca se gabava disso. Pelo contrário, adorava ajudar os outros e no geral estava sempre sendo um ouvinte e eterno protetor da irmã, coisa da qual ela sentia falta. Ele provavelmente largou suas aulas e correu de volta para casa quando soube do atropelamento.

Atropelamento. Alguma coisa não se encaixava naquela história; era como se ela tivesse esquecido algo crucial, pois uma vozinha insistente em sua cabeça dizia que ela havia sido atraída para o meio do rua, mas por mais que forçasse a mente ao máximo, nada de esclarecedor lhe vinha - ela se lembrava nitidamente de estar tirando onda com Vlad, esperando o sinal abrir e logo em seguida do grito de desespero dele. Onde será que o amigo estava?

Mas foi arrancada de suas divagações quando uma série de gemidos curtos a alertaram de que o irmão estava acordando; sem pensar duas vezes ela tornou a fechar os olhos e fingiu que estava dormindo. Com sorte, escaparia de uma cena se ele resolvesse tomar um café e a deixasse ali em paz por algum tempo.

Primeiro ouviu um bocejo longo, depois o som que ela julgava ser ele coçando a barba por fazer; ele levantou, se espreguiçou e seus passos indicavam que seguia em direção ao seu leito. Sem aviso, o colchão afundou bem ao lado de sua cabeça e ele começou a brincar com seus cabelos.

O principal problema ali era que a menina tinha uma tendência em momentos de tensão e nervosismo: crises de riso. E neste exato instante, ela está se segurando da ponta do dedão do pé até os fios no topo da cabeça para não começar a rir na frente dele.

-Sei que está acordada, seu lábio está tremendo. – disse ele.

Ela não respondeu.

-Isso não é um espasmo involuntário Audrey. – insistiu ele, com a voz cansada; ela abriu os olhos e fuzilou o irmão de modo acusatório.  Ele sabia bem que ela detestava ser chamada pelo segundo nome.

-Porque que você está aqui? – perguntou ela.

-Talvez porque uma certa garotinha sem muito juízo tenha resolvido atravessar a rua entre os carros em movimento. – cutucou ele, embora a encarasse com ternura.

-Não me lembro direito do que aconteceu. – admitiu.

-Hum...

-O que foi?

-Nada, estou apenas me lembrando de que Charles estranhou seu comportamento.

-Como assim?

-Ele disse que você parecia assustada enquanto avançava e não escutava os chamados dele. – ela se encolheu com a informação; precisava se lembrar, o quê afinal de contas a teria deixado assustada?

-Como está o Vlad? – perguntou ela: queria ter certeza se ele estava preocupado ou furioso com ela.

-Ele está bem, algumas escoriações assim como você, mas quebrou duas costelas. – mal acabou a frase e ela já empurrou as cobertas para o lado e se sentou num pulo.

-NÃO! – gritou em desespero.

-Shh, calma, calma, se alterar não vai ajudar em nada na sua recuperação.

-Ele se machucou por minha culpa. – fungou ela.

-Nós dois sabemos que você não queria vê-lo ferido. – disse ele docemente.

-Mas ainda sim, é por minha culpa. – insistiu ela, agora com as lágrimas correndo pela face.

-Pense assim: ele não fez nada que você não teria feito por ele. – disse o irmão, enxugando seu rosto gentilmente com a manga.

-Mas ele se machucou mais que eu! – ela elevou o tom de voz, atraindo a atenção das pessoas do lado de fora do quarto.

-Não necessariamente – replicou ele, agora sério – segundo as testemunhas e o próprio Charles, você agia de modo estranho e claramente desmaiou antes de o carro os atingir; mas não conseguiram achar a causa do comportamento peculiar. – ela estremeceu com o que ele disse, fato que não passou despercebido por John, que se apressou a completar: - mas se fosse algo realmente ruim, já teriam achado algum sintoma.

Mas Raven duvidava completamente que o irmão não achasse que ela tinha algo ruim e ele sabia disso; repousou a cabeça em seu colo, assustada demais para se importar com a atitude infantil. Ele a acalentou em silêncio.

-Você acha que posso estar alucinando. – perguntou ela; era a única explicação para ter se assustado com algo que Vlad não viu.

-Foi a primeira hipótese da equipe médica, mas acho pouco provável. – garantiu ele.

-Hn.

-Mamãe e papai estarão aqui em breve ok? - essa era a forma dele dizer ‘se tem algo que gostaria de contar, faça agora’.

Desde pequenos, por mais que a menina aprontasse, ele nunca brigava ou se zangava com ela, sempre a pegava pela mão e sentava em algum lugar, onde com alguns minutos de conversa arrancava dela todas as suas aflições e problemas, achando assim a causa do problema.

Jonathan daria um bom psicólogo. Se não fosse um excelente estudante de Medicina.

Ficaram em silêncio até a chegada de seus pais; pareciam ter vindo de uma zona de guerra: as roupas sujas e amaçadas, os cabelos desgrenhados, o rosto cansado, empalidecido e com olheiras marcadas, o olhar aterrorizado e, reparando bem, as unhas completamente roídas. Ela sentiu um aperto no coração ao ver a preocupação estampada deles.

-RAVEN! – gritou a mãe, e a visão da menina foi obscurecida por uma juba loira, que no geral são cachos bonitos e bem cuidados. Um par de olhos muito azuis como os do irmão a fitou marejados – Ficamos tão preocupados!

-Ainda bem que acordou querida. – disse seu pai, que além do desalinho, trazia os fios lisos como os dos filhos porém castanhos caindo na testa, os óculos na ponta do nariz fazendo que os olhos cor de amêndoa como os dela a fitassem diretamente. Apoiava uma mão no ombro do filho e a outra na cabeça da filha.

-Me desculpem . –disse ela e caiu no choro.

Foi uma verdadeira maratona fazer com que ela se acalmasse; a enfermeira insistia que seria melhor ela voltar a dormir, mas seus pais, ambos médicos, ralhavam dizendo que era saudável ela lidar com o choque e que seus ferimentos não justificavam entupi-la de sedativos. A mulher saiu claramente irritada e ofendida, enquanto John segurava o riso com a cena.

Segundo seu médico, o Dr. Langdon, ela não corria risco algum de sequelas. Depois de passar vinte e seis horas dormindo, tudo que ela precisava era de um banho e a substituição do soro por alimentos de verdade. Como era um colega de faculdade de sua mãe, eles tinham acesso a cada detalhe do caso dela, que no fim se mostrou relativamente simples.

Era estranho e ao mesmo tempo divertido ver ele chamando seus pais pelo primeiro nome, Julia e Seamus, mas o que a irritava no homem era a conduta dele com ela, a tratando como uma criança – fazendo-a imaginar como os outros amigos de seus pais a viam pela descrição deles. Pelo menos podia contar com o irmão para esclarecer suas dúvidas.

Mas ninguém a informava sobre o estado real de Vlad, e isto era preocupante.

Tomar banho foi uma experiência ímpar; ela tinha certeza de que seria um momento relaxante para por as ideias em ordem, mas esquecia de alguns detalhes, como seu físico machucado pelo impacto com o asfalto. Precisou de ajuda para ir até o banheiro, se despir e tomar banho - cada segundo era uma tortura, com seus ferimentos ardendo sob a água morna.

Comer não representou um avanço: ela sempre achou uma frescura sem tamanho as pessoas que reclamam da comida de hospital, mas até então nunca havia estado internada – só a consistência da comida já a fazia ter vontade de taca-la na enfermeira que a detestava pelo episódio com os analgésicos, que por sinal era a encarregada de suas refeições. Ela estava convicta de que a definição de alimento no lugar pertencia a um universo à parte e o trocaria de bom grado por uma ida ao restaurante vegetariano.

Estava mal humorada com sua condição, mas se alegrou quando soube que Susan e Rebecca estavam ali para vê-la. A primeira entrou com suas roupas rosas de sempre, mas os inconfundíveis sinais de que andou chorando e a segunda estava com suas roupas básicas de nerd, porém estava pálida e tinha os olhos fixos na enferma.

Raven admitia que de fato não estava uma visão agradável: um corte feio no nariz e três nos lábios, rosto com hematomas, braços enfaixados, pulso esquerdo imobilizado e joelho direito tão inchado que formava um volume desagradável de se ver sob as cobertas. Pelo menos ninguém via as suas costas cheia de ralados.

-Você tentou se matar? – perguntou Susan, com a voz embargada.

-Sério mesmo que essa é a primeira coisa que me pergunta? – respondeu ela, descrente. A amiga começou a chorar de novo e se atirou no pescoço dela.

-Achávamos que tínhamos perdido você! – berrou ela, fungando em seu ombro e recendo umas palmadinhas nas costas para se acalmar.

-Só para esclarecer – disse Becky, também se aproximando da cama e sentando na borda – ela achou que você estava morta; pra mim você tinha bebido e feito uma idiotice.

-Agradeço a sua sinceridade. – disse ela desanimada.

-Estou aqui pra isso. – respondeu a amiga sorrindo; as três compartilharam de uma rápida risada.

-Está tomando aqueles remédios que te deixam grogue? – quis saber Susan.

-Não Su, meu caso nem é tão grave a este ponto.

-Mas você me parece estar mal.

-Ela foi atropelada lembra? –ironizou a outra.

-Só estou preocupada com Vlad. – desabafou; as outras duas se entreolharam.

-A gente tinha certeza disso, então tomamos a liberdade de ver como ele está antes de virmos aqui. – comentou Becky, embora parecesse hesitante.

-Valeu meninas! – agradeceu ela, emocionada com o gesto; mas pela expressão delas, as notícias não seriam boas – COMO ELE ESTÁ??!

-Veja bem... – começou Becky.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ok, admito que não sou uma autora muito brother. (u.u)'
Mas curtiram o cap? Beijos! (*-*)/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Undertaker [Hiato]" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.