Hermione acordou na manhã seguinte se sentindo doente. Ainda estava com a mesma roupa da noite anterior, inclusive com os sapatos. Seus cabelos estavam grudados no rosto ainda úmido. Devia ter adormecido enquanto chorava. Sua cabeça doía muito.

Então era verdade, não foi um pesadelo. As lembranças da noite anterior começaram a passar por sua mente. Procurou seu telefone, ligou para Ronald. Mas ela já sabia que ele não atenderia. Resolveu levantar da cama, já eram quase 9 da manhã, tinha perdido a hora, esqueceu-se completamente que tinha aula.

Tomou um banho demorado, sua vontade era se afogar na banheira. Desceu as escadas em silêncio, se sua mãe acordasse e visse que ela estava em casa ficaria furiosa. Não sabia o que fazer, mas sabia o que queria fazer. Queria procurar Ronald, tentar explicar alguma coisa pra ele, mesmo sem saber o que poderia dizer para que ele a perdoasse.

Hermione não sabia por que se importava tanto. Ele era só um estranho que ela conheceu outro dia. Ela nunca foi de se importar com ninguém além dela mesma. Mas com Ronald era diferente, ela não queria que ele sofresse, ainda mais por culpa dela. Tomou uma decisão, tinha que fazer alguma coisa, essa angústia estava acabando com ela.

Ia até a casa de Ronald. Quem sabe a raiva já tivesse passado um pouco? Chamou um táxi e foi esperar na rua até que ele chegasse. Hermione se surpreendeu com ela mesma, soube explicar perfeitamente o caminho para a casa de Ronald, lembrava dos lugares em que passou com ele de moto.

Chegou na porta da casa dele. Por um momento teve vontade de desistir e voltar para casa. O que é que ela estava fazendo? Será que tinha ficado louca? Nunca na vida ela podia ter se imaginado numa situação dessas, sozinha em um bairro do subúrbio para se explicar para um cara que era exatamente o oposto de tudo que ela valorizava. No entanto, ela estava lá.

Bateu na porta e esperou. Ninguém atendeu. Bateu mais uma vez. Depois de ter esperado mais de 10 minutos, Hermione desistiu. Ou ele não queria atende-la, ou ele não estava. Foi então que ela lembrou que ele devia estar trabalhando. Onde era mesmo que ele tinha dito que trabalhava? Ela sabia que era em uma oficina perto daquela praça.

O táxi já tinha ido embora mesmo, então Hermione resolveu ir até a praça e tentar achar a tal oficina. Até porque, não podia ficar parada sozinha ali naquela rua deserta, era perigoso. Mas, quando saiu andando, avistou um cara muito esquisito que vinha em sua direção. Congelou. Resolveu ir para o outro lado.

Andava depressa, e quando olhou para trás, percebeu que o homem estava quase correndo para alcança-la. Hermione entrou em pânico, começou a correr de verdade, e percebeu pelo barulho que o homem corria também. “Meu Deus, me ajuda!” murmurou ela desesperada, quase chorando, enquanto corria.

Violentamente, ela foi puxada para trás pelos cabelos e caiu no chão.

- Que coisa linda. – disse o homem, olhando com uma cara de maníaco para Hermione.

-NÃO ENCOSTA EM MIM! – gritou a garota, tentando se levantar. Mas antes que ela pudesse fazer qualquer coisa, ele a pegou com força pelo braço e a levantou. Hermione olhava desesperada para todos os lados, mas não tinha ninguém ali.

Hermione se debatia, mas o homem a segurava com mais força. Foi então que ela ouviu o som de uma moto vindo de trás dela. Era Ronald.

Parou a moto derrapando, e correu na direção deles.

- Larga ela imbecil! – ele gritou, empurrando Hermione para o lado e dando um soco bem no estômago do homem. Os dois começaram a lutar, mas logo Ronald conseguiu derrubar o homem, que saiu correndo amedrontado.

Hermione estava encolhida junto à parede, tampando o rosto com as mãos, em estado de choque. Sentiu Ronald chegando perto dela. Ele tirou as mãos dela do rosto gentilmente.

- Vem, Hermione. Vamos pra minha casa. Você está machucada. – disse ele, a levando até a moto caída no chão.

Hermione não conseguia falar nada, as lágrimas escorrendo pelo rosto. Apenas acompanhou Ronald e os dois montaram na moto. Não demorou nem 2 minutos para chegarem a casa dele, já que estavam na mesma rua.

Os dois entraram na casa em silêncio. Hermione se sentou na cama, com as mãos no rosto, ainda chorando silenciosamente. Ronald pegou um copo de água para ela. Sentou-se ao lado dela na cama:

- Já passou, tenta se acalmar. Bebe isso.

Hermione pegou o copo, suas mãos tremendo muito. Sentiu uma ardência muito forte no joelho esquerdo. Só então percebeu que sua calça estava rasgada e seu joelho sangrava muito. Ronald olhou para o ferimento também, levantou-se e começou a procurar alguma coisa dentro da gaveta do armário do lado da cama.

Enquanto Hermione bebia a água, respirando fundo e tentando se acalmar, Ronald se abaixou na frente dela e começou a limpar o machucado.

- Ai! – exclamou Hermione.

- Vai doer um pouco, mas logo passa.

Depois que acabou de fazer o curativo, Ronald disse:

- Você é louca de ficar andando por aqui sozinha, é muito perigoso. Eu vou chamar um táxi pra você.

- Espera! Ronald, eu vim aqui falar com você, eu queria...

- Eu já falei que eu não quero mais falar com você.

- Por favor, me escuta! – Hermione começou a chorar novamente. – eu quero me explicar!

- Não precisa explicar nada! – disse Ronald, virando as costas para ela e se afastando. – eu estava lá. Entendi tudo muito bem. Agora vai embora. Eu preciso trabalhar, não tenho pai rico pra me sustentar!

- Para de falar assim comigo! Eu vim aqui pedir desculpa! Eu fiquei muito mal com o que aconteceu, eu não queria ter feito você passar por tudo aquilo!

- Então você vai negar que estava me usando pra provocar os seus pais? Que queria fazer ciúmes praquele cara? – ele disse, virando para encará-la.

- Você tem razão. Eu fiz tudo isso mesmo, e é por isso que eu estou aqui! Eu me senti muito mal! Você não merecia isso! Por favor, me perdoa! Eu quero continuar saindo com você, você me faz bem, eu... gosto... de você.

- Gosta de mim? E o seu namoradinho, como fica?

- O Cormac não é meu namorado. É uma história longa... você não ia entender e eu não vim aqui falar dele. Por favor, volta a ser meu amigo? Você foi a única coisa boa que me aconteceu em muito tempo, fazia séculos que eu não me sentia tão bem como eu me sinto quando a gente está junto.

Ronald não respondeu. Andava de um lado para o outro, enquanto Hermione olhava para baixo, esperando que ele dissesse alguma coisa. Ela mal conseguia acreditar que tinha dito tudo aquilo pra ele, mas estava feliz, porque tinha dito a verdade.

Vendo que Ronald não respondia nada, Hermione disse:

- Então tá. Eu vou embora agora, o que eu tinha pra dizer, eu já disse. – Hermione se levantou com alguma dificuldade e foi se encaminhado para a saída. Já estava com a mão na maçaneta da porta, quando Ronald correu até ela e segurou a sua mão.

- Espera. Antes de você ir embora, quer comer um cachorro quente?

Hermione sorriu para ele e o abraçou com força.