Aurora Azul escrita por Dauntless


Capítulo 33
Capítulo 32 - Alelos iguais


Notas iniciais do capítulo

Oi! :)
Como vão?
Eu sempre me desculpo pela demora, e vou continuar a me desculpar porque eu sei que eu demoro. Me desculpe. Tenho tantas coisas para fazer, que quase não me sobra tempo para escrever :( E nunca, em hipótese alguma, abandonaria essa fic.

Vocês vão descobrir um segredo.

O livro que vou recomendar é MÉTRICA.
VOCÊS PRECISAM LER ESSE LIVRO. Mesmo sendo um pouco bobinho, é bom de sentir a história.



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Eu tinha certeza que estava sonhando de novo.

Em todas as vezes que estive no estado de vida ou morte, minha mãe conversava comigo nas alucinações, e em todas elas, nós vestíamos branco.

–Me desculpe. - disse ela, aflita.

–Pelo quê?

–Eu devia ter te avisado, eu devia, - ela saiu do lugar e moveu os seus pés no chão, sem caminhar. - como eu não previ que isso aconteceria?

–Mãe, o que está acontecendo? Do que você está falando?

–Sobre a verdade. Eu devia ter lhe dito toda a verdade, mas eu não consegui. - ela se aproximou de mim e agarrou as minhas mãos. Tinha me esquecido de como era macio e reconfortante o seu toque, e meu corpo todo relaxou. - Eu não podia largar todo esse peso em cima de você Danna, você me entende? Logo você saberá de toda a verdade sobre o que aconteceu e antes de mais nada, eu quero que você me perdoe.

–Pelo quê? Mãe, me diz, o que está havendo?

–Coisas ruins estão por vir. Me desculpe. - Ela se afastou e eu tentei desesperadamente voltar a sentir o toque de suas mãos, mas ela estava se afastando, como se alguma corda a estivesse arrastando para trás. Então ela se dispersou na névoa ao redor.

Olhei para as minhas mãos e tentei interpretar o significado de tudo aquilo. Eu sabia que aquilo não era real, que a minha mãe estava morta, mas todos os sonhos me trouxeram recados, os quais se tornaram reais depois de um tempo.

A névoa foi se escurecendo e logo, voltei a consciência. Meu corpo todo parecia estar em plena hibernação, pois eu não sabia como me mexer, a única coisa que parecia real, era o som do bip de um aparelho, e então eu soube que era o meu coração.

Eu estava viva.

Contorci um pouco os ombros mas doeu, muito. Então me lembrei das facadas que levara naquela região e em todas as regiões do corpo. Por quanto tempo estive desacordada? Pareciam anos. Eu senti o meu estômago vazio, repleto de ar. Minhas pálpebras pesadas, finalmente abriram uma pequena brecha para eu observar melhor o ambiente. Ao contrário de um hospital, a única iluminação vinha de um abajur ao meu lado, o que tornou o ambiente mais reconfortante, assim como a cama em que estava que era bem macia. Eu definitivamente não estava em um hospital.

Senti de repente um movimento familiar na minha mão, dedos a afagando e ao virar o pescoço, que estalou, me deparei com um sorriso apreensivo.

–Oi. - disse

–Oi. - repeti momentos depois com dificuldades, pois havia me esquecido de como falar.

–Você está melhor?

–Eu acho que sim. - engoli um seco, mas não havia saliva - Por quanto tempo estou dormindo?

–Uma semana.

–Uau.

–Foi um belo sono.

–Eu sei.

–Você está melhor?

–Eu acho que sim.

–Você me assustou.

–Desculpe.

–Não precisa se desculpar.

Tossi sem fôlego.

–Desculpe, eu não devia conversar com você.

–Não precisa se desculpar.

E a minha conversa com Peter chegou ao fim com Tereza atravessando a porta, esquizofrênica.

–Ah Meu Deus, você acordou. - ela se sentou no meu lado esquerdo e beijou a minha bochecha.

–Você está bem? - tossi outra vez.

–Por favor não fale, eu estou muito bem, graças á você. - ela suspirou. Seus cabelos ruivos estavam presos em um coque. - Você é tão estúpida. Olha para você, eu estava com tanto medo de te perder de novo... você não faz ideia. Não faça besteiras como essa de novo... - seus olhos ficaram úmidos e eu quis abraçá-la, mas não consegui me mover.

–Não chore.

–Nós estávamos com tanto medo de te perder... você não sabe pelo inferno que passamos essa semana. - ela limpou o rosto com a sua manga - Seu coração parou por dois segundos e quando...

–Shhh...

Acariciei seus dedos e olhei para Peter, que tinha o mesmo olhar de tensão

–Eu não sou tão fácil de matar. - dei meio sorriso afim de minimizar o clima.

–Os médicos disseram que você ainda precisa de sangue. Seu corpo rejeitou todos os tipos sanguíneos e eles coletaram uma amostra para analisar.- disse Peter.

–Will vai voltar a qualquer momento. - avisou Tereza - Você sabe como acabar com um homem.

–Ele está bem?

–Will não saiu do seu lado por dias, até hoje, que o obrigamos a pelo menos tomar um banho... - ela me encarou com um brilho nos olhos, causado pelas lágrimas.

–Eu me mataria se alguma coisa acontecesse com você.

–E é por isso que você se pôs a isso? É muito sofrimento para uma pessoa, mesmo para você Danna. Aquele homem é um monstro, eu juro que se tivesse o poder de matá-lo, eu o faria.

Tossi novamente.

–Vou pegar um copo de água. - Peter afastou a cadeira para trás e atravessou a porta com passos largos. O que ele estava fazendo ali? Só notara a sua presença inesperada quando tentei me lembrar dos últimos momentos que estivera acordada.

–O que... ele está fazendo aqui?

–É uma longa história. - de repente, ela me lançou um sorriso presunçoso. - Mas o que eu quero saber é, quem é ele? Porque ele ficou super preocupado durante a semana, e tentava chegar perto de você, só que Will não deixava. - Tereza pareceu pensativa, e lançou outro sorriso para mim. - Eu acho que já sei, Danna Walker você é muito danadinha.

–O que foi?

–Está na cara que tem um triangulo amoroso entre vocês, o que aconteceu nesse ano que você não me contou?

Peter interrompeu-a aparecendo no quarto com um copo d'água.

–Obrigada.

Bebi lentamente dois goles, enquanto Tereza alternava os seus olhos de mim para Peter.

–Ei, qual é o seu nome mesmo? – Essa não...

–Ah, Peter, Peter Mayer.

–Hum... E o que você faz? Estuda, trabalha...

–Último ano. - ele pareceu confuso e olhou para mim procurando por alguma explicação.

–Hum...

–Tereza, deixe ele em paz, você não vai fazer isso, por favor.

Era como nos velhos tempos, Tereza virava o meu ''ex namorado'' e questionava todos os homens com quem eu saia.

–Está tudo bem, conversamos depois - Eu amava como ela tornava situações como essas em situações constrangedoras. Era realmente estranho estar com ela e Peter ao mesmo tempo, duas pessoas das minhas duas vidas, juntas.

–São sete horas, eu preciso ir pra aula. - ele começou a caminhar para trás, mas eu o impedi.

–Espere. - disse, e ele foi pego de surpresa. Eu podia muito bem descrevê-lo naquele momento, uma blusa branca por baixa de um xadrez, jeans rasgado na altura do joelho, tênis Converse, olhos exaustos, cabelo mal penteado e sua beleza continuava lá. - Posso conversa com você por um momento?

–Claro.

Me virei para Tereza e ela entendeu imediatamente a mensagem.

–Eu vou ligar pro Eric e avisar que você está acordada. - Presumi que Eric estava trabalhando naquela hora da manhã, eu sabia que seus turnos eram matinais. Tereza voou para o corredor e a porta se fechou.

Peter enfiou as mãos no bolso e me encarou, ato que me deixou um pouco envergonhada. Eu devia estar péssima naquela cama, com todas aquelas ataduras e pontos.

–Eu tenho cem por cento de certeza que você não apareceu no galpão como um vulto. Como foi parar lá?

Ele me contou tudo. Me disse como tinha conseguido rastrear Will e de como o tinha seguido até lá. Peter não entrou em muitos detalhes de como foi abordado, mas admirei a sua coragem e determinação.

–É por isso que eu não quero colocar a sua vida em risco, é perigoso demais.

–Agora eu sei do que você estava falando, e é por isso que eu não posso deixar que você faça isso, que coloque a sua vida em risco dessa maneira. Eu entrei em pânico quando te vi naquele estado e estou até agora. Eu acho que você está com fome, vou pegar alguma coisa para você comer.

–Eu não estou com fome.

–Você não come faz sete dias, está desacostumada.

–Eu preciso conversar com você primeiro.

–Eu não quero ouvir você me dizendo que eu devo ficar longe e tudo mais. - ele parou, e me encarou diretamente, e deve ter pensado que eu estava sem forças para dizer que ele devia ficar longe.

–Desculpe por não ter aparecido no encontro.

–Danna, olha, eu não quero que você me peça desculpas por essas coisas, eu só quero que você tenha um pouco de consideração por mim.

Nos calamos por um minuto, o que foi bastante tempo.

–Eu tenho tanto a lhe contar... conseguimos uma gravadora e estamos trabalhando no nosso primeiro álbum. - arregalei os olhos e abri um sorriso para ele.

–Isso é maravilhoso.

–Os produtores gostaram realmente da nossa música. - ele voltou a se sentar na cadeira. - É uma loucura porque ganhamos vários profissionais para a produção e a divulgação e tudo o mais. As coisas estão dando certo. Meu pai pediu divórcio e agora está tentando se redimir com a minha mãe, e comigo também, ele comprou ingressos para o jogo dos Diamondbacks contra os Cubs. E o jogo é só no ano que vem.

–A vida está te dando uma chance valiosa Peter, aceite-a e não deixe que eu a estrague.

–Você é a única coisa que não está dando certo na minha vida.

–Nunca vai dar certo. Eu não sou certa para você. Minha vida não é normal, e eu queria que ela fosse, mas infelizmente, eu tenho algumas responsabilidades a mais.

–Eu preciso ir, por favor, não... não suma de novo. Você é muito importante para mim.

Eu queria dizer para ele que ele também era importante para mim, mas Peter se fora antes mesmo de eu conseguir dizer alguma coisa. Então eu fechei os olhos e me lembro de algo terrível.

Rogers.

E então o meu mundo se desmorona de novo.

Tudo o que eu consegui captar dos momentos seguintes, foram imagens quebradas registradas pelos meus olhos. Eu vi Tereza, eu vi Will, e eu vi Eric. Também haviam médicos, eles estavam tensos e os três pareciam preocupados. Eu não ouvia as suas vozes, nem mesmo sabia o que estava acontecendo.

A única frase que eu consegui captar, veio da voz de um homem estranho.

''Ela está morrendo.''

–//-

Em um momento, Danna parecia bem, recuperada e lívida novamente. Mas algo estava errado, algo ruim havia acontecido dentro dela. Há uma semana o seu corpo está rejeitando todos os tipos de sangue e como estava desidratada, seu metabolismo fracassou. A produção de sangue estava extremamente baixa e após meia hora lúcida, seu cérebro voltou a atacar o seu próprio corpo.

Ela não estava resistindo e sem uma reposição sanguínea, seu corpo não iria resistir, nem mesmo o chip poderia salvá-la. Will chegou dois minutos depois que ela apagou em sua cama. Durante sete dias ficara ao lado de sua amada, mas voltara pior do que já estava e se sentia arrependido por ter ido embora.

Todos tentaram ajudar. Porém nenhum sangue se encaixava em seu corpo. Até que Eric saltou da cadeira e correu até o médico que estava tratando do soro.

–Meu sangue pode servir - disse. - Há poucos dias, eu fui baleado e ela foi a minha doadora, talvez o seu corpo aceite o meu sangue.

Era estranho para todos.

Eric tirou dois litros de sangue, o qual foi logo encaminhado para a sala de cirurgia.

–Essa é a nossa única esperança.

Há sete dias atrás, Robert Walker participara da cirurgia de sua neta e terminara todo o seu plano.

–Obrigado. - disse Will.

–Ela é da família, não precisa agradecer. Danna vai ficar bem.

–Ela é dura na queda. - murmurou Tereza, que deu um longo suspiro.

Enquanto os três esperavam no lado de fora da porta, outros agentes passavam pelo local em direção ás suas missões. Uma mulher de cabelo preto aparecia de momento em momento para conversar com Will sobre a administração da agência, já que tinha o poder em dobro. Mas ele não estava sendo nada profissional, na verdade, estava bastante exausto para bancar o chefe. Ele prometera que quando Danna se recuperasse, iria atrás de Zachary.

O corpo de Rogers foi mandado para Nova Iorque e fora sepultado num cemitério nas proximidades de Brooklyn, aonde vivera por tanto tempo. Não houve cerimônias.

Depois de quase uma hora, os médicos saíram e o doutor se aproximou para dar as notícias.

Os três estavam receosos e temiam pelo pior.

–O corpo dela aceitou o sangue. - Um peso rapidamente desapareceu do corpo de Will e ele desabou para trás, lançando a cabeça na parede, com as mãos cobrindo o rosto. - Ela acordará em algumas horas e deverá comer alguma coisa leve, imediatamente.

–Colete um pouco de sangue para a análise, quero saber o por quê da recusa de sangue.

–Sim, senhor.

A maca foi levada até o quarto e Will novamente, não saiu de seu lado.

Ele a observou e observou de novo, como nos últimos dias. A mudança de Danna era radical. Estava mais magra, o osso de sua clavícula estava mais moldada, os lábios secos como uma lixa, sua cor era de uma palidez que ele nunca vira antes e estar naquele quarto era uma tortura para ele.

Mas ele não iria sair, não iria a lugar algum, apenas ficaria ao seu lado até acordar.

–//-

Abri os olhos meio zonza.

Já estava me acostumando a ter apagões durante momentos de choque. Levantei da cama num salto, me lembrando da última coisa em que pensara antes de apagar. Eu não conseguia enxergar nada, apenas uma escuridão oca que aos poucos, foi desaparecendo, cedendo lugar á luz. Uma mão macia e gelada segurou o meu braço e me virei para ver quem era.

–Rogers... ele... - a minha voz falhou - ele não pode... não...

Will estava tenso e sua expressão era dura, com as sombrancelhas quase unidas. Ele se levantou da cadeira e se sentou ao meu lado, me puxando para perto de si, envolvendo o meu corpo com os seus braços.

–Eu sinto muito, não conseguimos chegar a tempo. - Uma dor desconfortável tomou conta do meu corpo, algumas pontadas nos braços, nos ombros e na clavícula. Então me lembrei das agressões que recebera. Não me importei que ele me abraçasse, muito pelo ao contrário, aquilo estava me fazendo bem, tirei os meus braços, que estavam entre nossos corpos e envolvi a sua cintura. Will cheirava a banho quente. - Eu sinto muito, sinto muito por não ter chegado antes, sinto muito por ter sido incapaz e incompetente, tudo isso me acorrentará no inferno pelo resto da minha vida. Eu não me perdoarei por isso.

–Will, não diga isso, por favor. Não ouse dizer uma coisa dessas, você me salvou. Você me achou e é isso o que importa agora.

–Mas falhei com Rogers.

Agarrei-o ainda mais e encostei o meu ouvido em seu peito para ouvir o seu coração batendo. Percebi então que tudo isso não afetou só a mim, e sim, a todos aqueles quem eu amava. Inclusive Will, que sempre se mostrava forte. A questão é que ninguém consegue ser forte o tempo todo, mesmo os mais durões, em algum momento, teremos que ceder e agora, Will estava cedendo.

–Não se culpe Will, não foi você quem matou Ro...- senti dificuldades em pronunciar o seu nome. - gers. Foi Zachary. - De repente, o flash back aterrorizou a minha mente e ainda podia ouvir o barulho da lâmina perfurando o seu estômago. Fechei fortemente as pálpebras afim de acabar com aquilo, afim de fazer tudo aquilo desaparecer, porém, apenas se resultou num derrame de lágrimas. - E eu estou aqui, com você. Tudo vai ficar bem.

Will beijou a minha nuca e demorou para se afastar.

–Eu não devia ter confiado neles. - ele soltou um suspiro, como se estivesse tirando todo o peso de seu corpo através daquele ato. - Eu praticamente entreguei você á eles. Como eu pude ser tão estúpido? - ele se afastou - Me desculpe, esqueci que você está toda... machucada. - ele não olhava para mim. - Não consigo olhar para você, Danna, sem me culpar. Eu sou um imbecil.

–Will. - chamei-o, mas mesmo assim, ele não me olhou. Levantei os braços com dificuldade e toquei o seu rosto, virando-o para mim. Mirei os seus olhos assim que nos encontramos. Will estendeu os dedos para limpar as minhas lágrimas.

–Eu te machuquei?

–De modo algum. - Seus olhos procuravam outras coisas para observar, mas forcei-o a me encarar. - Sou responsável pelas minhas atitudes, e arco com as consequências. Não fique se culpando por isso, está bem? - engoli um seco. - Se culpar não vai levá-lo de volta ao tempo. Não vai mudar nada.

–Como você pode ser tão linda? - ele sorriu de leve. - A verdade é que eu não mereço a sua compaixão.

–Como você pode ser tão teimoso de vez em quando?

–Será que eu não aprendi com alguém?

–Eu te amo. Muito, tanto que dói, dói olhar para você desse jeito, dói amar você porque nunca conseguimos paz. Mas foi assim que o nosso amor foi construído, foi assim que tudo começou e por isso estamos aqui. Não deixe que isso nos enfraqueça.

–Se essa dor que eu sinto é o amor, então eu não quero parar de senti-la. Eu te amo e, obrigado.

Ficamos nos encarando por um momento, sentindo o calor que nossos olhos transmitiam através do olhar. Eu queria beijá-lo, mas estava fraca demais para fazer um esforço e me erguer, então ele se abaixou e senti todo o cansaço ir embora. Nossos lábios se conectaram e ficaram assim, um colado no outro sem se mexer, apenas sentindo o forte atrito. Me separei de seus lábios assim que me lembrei que estava há tantos dias sem higiene bocal. Então eu o abracei, e ele me abraçou, até que a porta se abriu.

Tereza me deu um largo sorriso e piscou para mim fazendo um sinal de positivo com as mãos. Eric veio logo atrás e eles se aproximaram.

–Se você desmaiar de novo, eu juro que pinto o seu cabelo de rosa - falou Tereza. - Rosa Pink.

–Ficamos muito preocupados, foi uma semana terrível. - murmurou Eric. - Você está bem?

–Estou, e você? - olhei na direção de seu abdômen.

–Estou bem melhor agora, graças á você Danna. Obrigado.

Sorri para ele.

–Isso é muito estranho. Não entendo o por quê do sistema de vocês recusarem sangue de todos os tipos e aceitar um do outro. - Tereza franziu o cenho.

–Mandei algumas amostras para a análise, logo saberemos o por quê. - disse Will, com os braços ainda me envolvendo.

–Isso não é nenhuma anomalia, é apenas um caso raro da medicina. Já vi isso na televisão.

–Você não acha coincidência demais?

–Talvez sim, talvez não.

De todos os assuntos do mundo e estávamos conversando sobre isso. Esse era o clima entre nós. Depois de tudo o que aconteceu, ainda trazíamos a inocência para abafar a maldade.

–O dia de ação de graças é essa semana, onde vamos celebrar? - perguntou Eric.

Todos os olhares vieram parar em mim.

–Eu acho que devemos voltar para Nova Iorque, só até acabar todos os feriados, então podemos voltar para...

–Tudo isso, - disse Will. - concordo com você.

–É claro que você concorda com ela, você sempre concorda com ela. Mas eu também acho uma boa ideia. Nova Iorque é a nossa cidade.

Me lembrei do que Rogers me dissera antes de morrer. ''Há uma carta em casa'', a frase encaixada no meio de suas últimas palavras e interpretei o ''casa'' como sendo Nova Iorque, em sua propriedade no Brooklyn. O que quer que estivesse nessa carta, era importante e podia ser a minha resposta para todas perguntas. Eu não pararia com a minha vingança, só me ausentaria por um tempo para poder me recuperar de todas as lesões e fraturas. Isso levaria meses, talvez um mês para estar totalmente recuperada e cheia de forças novamente para lutar, se o chip contribuísse.

Logo depois, Will, Tereza e Eric me explicaram tudo o que aconteceu enquanto eu estava desaparecida. Fiquei surpresa com o papel de Robert, principalmente por ter ajudado, depois do que eu dissera à ele. E novamente, ele não estava aqui. Era surpreendente o quanto ele não se misturava com as pessoas, nesse um ano em que fiquei com ele, não tive a oportunidade de lhe perguntar mais sobre sua vida.

Eu estava em uma base da agência, por isso a luminosidade fraca do quarto e a cama confortável. Era o dia seguinte do segundo apagão. Depois de comer uma tigela de cereais e um pote cheio de frutas, me levantei com as pernas trêmulas até o chuveiro. Depois de dias deitada em cima da cama, minhas pernas não aguentavam o peso do meu corpo e tive que me apoiar na parede para poder tomar um banho. Seria vergonhoso demais se deixasse Tereza me ajudar.

A água morna levou toda a sujeira do meu corpo fora, lugares onde o sangue ainda grudava, foram lavadas com um sabonete antibacteriano, devido aos cortes e os hematomas. Estava dolorido demais para que eu fizesse algum movimento brusco. Assim que enxaguei o cabelo e a pele, me enrolei numa toalha, ainda dependendo da parede e me olhei no espelho. Não tivera coragem para fazer aquilo antes do banho, porque de alguma forma, a limpeza ocultava o machucado, deixava as coisas menos feias. Meu corpo inteiro estava roxo, a linha do meu braço ainda estava queimado por causa do ácido e as facadas que levara, estavam cheias de pontos. Uma estranha marca, parecida com uma mancha, pairava em baixo do meu umbigo e percebi que tinha outras pelos braços.

Vesti uma blusa de flanela e uma calça leg preta de tecido fino, para não me desconfortar. As roupas foram deixadas por Tereza, como sempre. Escovei os dentes assim que terminei de me vestir e senti uma notória mudança no meu bem estar, como se eu estivesse renovada. Quando sai para o quarto, penteei os cabelos molhados. Eric e Tereza ainda estavam sentados no sofá e estavam abraçados. Sorri vendo aquela cena e me sentei na cama.

–Devo me retirar? - brinquei.

–Você sabe que eu adoraria fazer um show. - sorriu Tereza. Ela sempre fora assim, sem vergonha, principalmente com homens, mas eu tinha certeza de que a sua relação com Eric era séria. E eu perdera todos os detalhes. - O doutor chamou o Will, ele já deve estar voltando.

–Não tem problema.

–Então, vai nos contar sobre aquele menino agora?

–Que menino?

–Não se finja de boba, Danna Walker! Aquele menino bonitinho, que estava todo preocupado com você...

–Não sei de quem você está falando Tereza, você deve estar enlouquecendo.

–Ha-ha, Peter Mayer, te lembra alguém?

–Ah sim, Peter Mayer... - Era bom brincar com ela. - Não, não conheço.

–Também quero saber quem é. - disse Eric, provavelmente ajudando a namorada.

–Você se acha engraçada? Pois não, você não é. E tem mais, não precisa me contar, pelo visto, já percebi que vocês tiveram um casinho quando estivemos fora. Aliás, Will não gosta muito dele não é? Eu procurei em um desses computadores que tem aqui, um de seus agentes me ajudou também, e não vou dizer o nome dele para você não bancar a chefe mandona.

–Ah, foi eu.

–Eric! Como pode me trair desse jeito?

Eu queria gargalhar, mas contrair a minha barriga me machucava.

Will entrou na sala e a sua expressão era de espanto.

–Legal, mais notícias ruins, era só o que faltava.

Will segurava um papel branco, com alguma coisa escrita nele.

–Will? - Eric ficou em alerta.

–O que aconteceu? - Me aproximei dele lentamente e de repente pareceu voltar a vida.

–Você devia estar sentada. - disse ele, e me pôs na cama de novo. Ficamos em silêncio. - Saiu o resultado da análise.

–E? - Tereza ergueu uma de suas sobrancelhas.

–Isto está muito confuso. - ele esticou o papel novamente para ler, como se não acreditasse no que estava ali. - Danna, o seu sangue tem alelos iguais com a de Eric.

–O quê?

–Vocês são irmãos.


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Notas finais do capítulo

#CHOCADA

Eles são irmãos :O Mas vocês sabem que eu sempre complico as coisas, então tem muitas tretas envolvendo esse negócio de irmão, pq nenhum dos pais foram fiéis de verdade.



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