Diary Of A Journalist escrita por Shorty Kate


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Para quem gosta do adorável George, aqui têm um capítulo mais focado nele.



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(…) Tentei-me por de pé, mas cai outra vez sobre os joelhos. Atrás de mim ouvi o John murmurar umas coisas e ele, ao contrário de mim, conseguiu levantar-se. Baixou-se para me agarrar pela cintura e colocar o meu braço em redor do pescoço dele. Chegámos, cambaleando pelo caminho todo, ao piso dos nossos quartos. Ele deixou-me sobre a minha cama e meio aos tropeços saiu do meu quarto.

Caí no sono e não sei quanto tempo passou, mas já devia passar da hora do almoço. Como sei? Os rapazes tinham entrevistas pela manhã e uma após o almoço e quando dei conta estavam dentro do meu quarto o Paul, o Ringo e o George. O quarto estava escuro, tal como o tinha deixado de cortinas corridas, e então mal os conseguia distinguir do negrume. Também, eu mal conseguia mesmo abrir os olhos!

-Vamos, vamos! – A voz do Paul fez um eco horrível na minha cabeça e o facto de ele estar a bater palmas não ajudou. – Tens que sair daqui! Tu e o John estão com uma ressaca enorme e não podem estar assim para logo à noite.

-Correção, - Eu murmurei. – ele não pode estar assim para logo à noite. Eu não faço diferença.

-O Brian ainda não desconfiou, não sei como, que o John anda ressacado. E não esperes que ele acredite que tu te embebedaste sozinha. Ele vai logo arrastá-lo para o assunto e quando o vir, vai mesmo se acreditar!

-Então vai curar a ressaca dele e deixa-me a mim!

-Eu e o Paul já nos vamos entreter pelo resto da tarde com isso. – O Ringo brincou. – Uns abanões aqui e acolá e acho que o tirámos da cama.

-Se é assim então quem é que me ajudaria com a minha cura?

E eu achei que ia soar tão inteligente e que me poderia livrar deles, mas o George falou. – E eu não sou gente, não?

-Desculpa, Georgie. Parece que me esqueci de ti, mas eu nem sei que horas são por isso não leves a peito.

-Ah, parece que todos se esquecem mesmo de ti, George! – Paul gozou enquanto caminhava pelo quarto. – Tenta falar mais e as pessoas reparam em ti.

-Aí vem o sol, doo doo doo doo. Aí vem o sol. (Here comes the sun, doo doo doo doo.
Here comes the sun.
) – O George cantarolou, pensei eu como forma de ignorar o comentário do outro.

-Ah! – Eu gemi quando o Paul abriu a cortina e o sol entrou. – Fecha a cortina!

-Eu avisei que vinha aí o sol! – O George disse inocente.  

-Pois, para a próxima avisa mesmo, não cantes! – Conformada com a situação sentei-me na cama. O Paul olhava-me, de braços cruzados, ainda ao lado da janela, o George estava sentado na cadeira em frente da cama e quando olhei subtilmente para o lado esquerdo tinha o Ringo sentado ao meu lado na cama. Eu estremeci, não contando com ele ali tão perto a olhar-me com os olhos azuis arregalados e um largo sorriso. – Os Beatles não aceitam ‘não’ com resposta, pois não?

-Não! – Os três disseram em coro.

-Vá, - O Paul continuou puxando-me pelos braços, forçando-me a levantar. Agora já tinha mais força e já consegui ficar de pé. – enquanto eu e o Ringo tratamos do John, o George vai levar-te para uma voltinha na rua.

-Eu mal me aguento em pé, Paul!

-Pois, mas ele está que nem os cachorrinhos que querem dar uma volta no parque, - O rapaz reclamou mas ele ignorou com um risinho malicioso. - e o ar fresco só te fará bem.

Eu suspirei. Se o George dissesse ao Brian que queria ir dar um passeio, ele dir-lhe-ia para ir bem disfarçado e ia-me fazer ir com ele. Ele fez-me prometer que iria tê-los sempre debaixo de olho. – Ok, vamos lá.

-Oh, - O Ringo aproximou-se de mim e pôs-me os óculos de sol dele. – ficam um bocado grandes, mas dá para tapar as olheiras.

-Eu já vou toda cambaleante. - Eu disse agarrando-me firmemente no braço do guitarrista. – Acho que os óculos grandes não me vão fazer grande diferença! Como é que vocês entraram no quarto, já agora?

-Pedimos uma chave extra na receção. – O Paul explicou, fechando a porta. – Ou achas que entramos pela fechadura?

-Eu sei lá, com vocês posso esperar de tudo! – Enquanto Paul e Ringo entravam no quarto para pegar o chapéu que o John costuma usar, nós ficamos do lado de fora à espera. Pusemos-lhe o chapéu na cabeça e apertamos-lhe os botões do casaco de fazenda até perto do pescoço. Conhecê-lo assim daquele jeito ia ser difícil, mas ainda assim não podíamos correr riscos.

George caminhou para a porta que Ringo acabara de fechar e bateu nela com a noz dos dedos. – Que foi? – O baterista perguntou arqueando a sobrancelha. George levantou o dedo e apontou para qualquer coisa dentro do quarto. Ringo olhou para onde ele apontava e perguntou. – A guitarra?

Ringo não teve tempo de se virar para a ir buscar porque Paul já lha estava a entregar e enquanto isso explicava-me. - Ele não passa sem comer, tocar e fumar. Por vezes achamos que o perdermos, mas não, ele está lá num canto com o cigarro na boca e a dedilhar a guitarra. Agora vai!

Paul e Ringo voltaram a entrar no quarto e nós fomos saindo. Íamos caminhando pela rua, eu de braço dado nele e ele carregando a maleta da guitarra e até agora não havia problema. As pessoas passavam por nós e ninguém o reconhecia. Vimos ao longe um banco de jardim vazio e sentamo-nos lá. Sabia que quisesse ouvir a voz dele tinha de ser eu a puxar assunto de conversa porque ele era muito tímido para falar.

-Posso? – Eu pedi, apontando a guitarra. Esta à espera que ele se mostrasse relutante em emprestar-me o instrumento, mas ele não se importou. Ele ia dar-me a palheta dele mas eu mostrei-lhe a minha que tinha acabado de tirar do bolso. E então, pelo que tinha visto e ouvido, tentei tocar aquilo que ele ontem tocava.

-Ha, - Ele gargalhou. – isso é plágio!

-Não estou a tentar roubar, apenas imitar!

-Ainda não temos a letra completa, mas já temos o esquema de acordes. A introdução é simples: apenas sol e ré. – Eu fui palhetando, mas nem sabia bem que ritmo fazer. Então ele trocou de sítio e sentou-se à minha direita, ajudando a minha mão a mexer-se no ritmo que tinha estabelecido para a música. – Ok, agora muda para mi menor e dó. E repete tudo de novo. – Quando estava quase a acabar a frase ele falou outra vez. – Agora acaba em si de sétima.

Eu travei a minha mão e comecei a rir-me. Ambos sabíamos tocar, mas estávamos a fazer mais ruído do que música. – Por alguma razão a guitarra não é tocada a dois!

Ele deu uma risada tímida e admitiu. – É, estávamos a fazer uma barulhada!

-Hei, - Posei-lhe a guitarra sobre a perna e disse. – porque não me mostras como ficou?

Ele agarrou a guitarra e tocou tudo aquilo que tinha ficado criado na noite anterior. Quando acabou, e um pouco a medo meteu a mão no bolso do meu casaco e puxou um pedaço de papel e um pequeno lápis que ele mal conseguia segurar.

-Pega, - Ele disse após escrever todos os acordes, deixando a assinatura dele no fundo, de modo a que ninguém pudesse reclamar aquilo que era dele. – assim já não te esquecerás.

Eu sorri. Já tinha uma recordação do Ringo, quando ele escreveu no meu caderno. Admito que depois de ver que tinha decalcada a assinatura dele na página seguinte, peguei na caneta e dei cor às marcas da caligrafia dele, ficando com uma assinatura um bocadinho forjada, mas ainda era o nome dele, escrito pela mão dele. Mas sorri por outro motivo enquanto guardava o papel. – Como sabias que ia ter um papel no bolso?

Ele sorriu e olhou o chão, ainda envergonhado pelo que tinha feito. – Praticamente namoras com o caderno! Não ia ser de estranhar teres um papel no bolso.

-Isto vindo do rapaz que não larga a guitarra! – Eu gargalhei, levando a mão à cabeça. Realmente o Paul tinha razão; o ar fresco estava a fazer-me bem. – Será que alguma mocinha conseguirá conquistar o teu coração algum dia?

George deu uma risada engasgada e começou a corar. – Quem sabe…Eu pelo menos espero por ela! – Ele falava meio atrapalhado, gaguejando, fincando os dedos no cabelo. E para não me olhar deitou os olhos na maleta da guitarra pousada no chão em frente aos pés dele.

-Mas conta lá, como é que todos se conheceram. – Eu perguntei, mudando de assunto para não o deixar desconfortável.

-O John tocava numa festa na igreja paroquial de St. Peter com a banda que tinha, os Quarrymen. O Paul andava lá de bicicleta, a ver se engatava umas raparigas quando o Ivan, um amigo dos dois, apresentou-os. O Paul pegou na guitarra, começou a tocar e impressionou o John e ele acabou por entrar para a banda. Depois eles precisavam de um guitarrista solista, e o Paul falou-lhe de mim. Eu morava umas casas abaixo dele e acabei por tocar para o John no segundo andar num autocarro descapotável, de noite. – Ele riu depois de contar isso e eu não pude deixar de sorrir. - O John gostou do que ouviu e eu fazia parte da banda, com apenas dezassete anos. E foi quando tivemos a oportunidade de ir para Hamburgo, já como Beatles, ainda com o Pete e o Stuart. Quando descobriram que eu era menor de idade para tocar naquele tipo de clubes noturnos, fomos mandados embora, mas o Stuart não veio. Conheceu uma rapariga e ficou. Ele ia continuar a estudar arte e ficou noivo dela. No ano passado, soubemos pela Astrid que ele teve uma hemorragia cerebral e não se salvou.

Estava na hora de mudar outra vez o rumo da conversa. O George estava a ficar deprimido a pensar nessas coisas. -Mas, até agora ainda não tinha conhecido o Ringo?

-O Ringo conhecemos num desses clubes. Ele era o baterista dos Rory Storm and the Hurricanes, também um monte de malta de Liverpool que como nós tentava lá a sorte e quando o Pete ficava a perder tempo com, - Ele olhou-me de forma esquisita, para ver se eu entendia sem que tivesse que dizer as palavras todas. – vá, como é que eu haverei de dizer…?

-Prostitutas?

Ele acenou e disse sem relutância. – Sim. Quando o Pete chegava atrasado ou por vezes nem aparecia, era o Ringo que o substituía. Quando voltamos a Liverpool, o Brian encontrou-nos, como ele já contou, a tocar no The Cavern Club e acabou por dizer que o Pete era um elo fraco na banda e que ele teria que sair. Ele próprio o despediu. E, - Ele foi ao bolso e puxou um cigarro. - foi assim que todos nos conhecemos.

Eu sorri largamente, fascinada por ouvir aquilo que ainda poucos sabiam. – Parece daquelas histórias sobre estar no momento certo à hora certa. – Depois, num rápido gesto, tirei-lhe o cigarro da mão e apaguei-o no chão.

-E de conhecer as pessoas certas. E de ter as oportunidades.

-Foram uns sortudos então. – Enquanto falava, um esquilo entrou para a maleta da guitarra. – E sei que vão continuar a ser.

-Eu também acho.- Ele falava, vergando-se. - Como o John diz, nós somos bons e temos que acreditar nisso.

-Não, George. Nem penses nisso! – Eu disse a prever a ação dele, mas foi demasiado tarde.

O esquilo estava muito sossegado, metido dentro da maleta e ele tinha que lhe pôr a mão. Das duas, uma: ou o bicho fugia ou…Pois, o animal ferrou o indicador direito do George num ápice, que grunhiu e abanou a mão. E isso ainda foi pior. O esquilo cravou os dentes na parte entre o polegar e o dedo indicador e o George já sangrava, tentado puxar o animal.

Eu agarrei-o por ambos os lados da boca e devo dizer que não estava muito fã da minha ação de quase partir o maximal do esquilo, mas tinha de ser. Consegui com que ele largasse a mão do George e o bicho parecia louco, esperneando-se, tentando-me ferrar também. Eu atirei-o para longe e agarrei na mão do George.

-Oh, Deus! Temos que ir ao hospital. – Eu estava com o coração aos pulos e o George estava…normal! A mão dele estava a escorrer sangue e eu andava a correr feita doida para chamar um táxi, a guardar a guitarra e a tapar-lhe a mão com o meu cachecol. O John estava de ressaca no hotel e o George tinha acabado de ser ferrado. O Brian ia-me matar!

Chegamos ao hospital e intercetei logo uma enfermeira. - Precisamos de ajudar agora!

-Acredito, mas tem de aguardar pela sua vez. – A moça apontou-me as cadeiras. – Espere ali por favor.

Eu não hesitei e tirei o chapéu da cabeça do George. A morena arregalou os olhos e ficou quase sem respirar mas lá disse. – Oh meu Deus, é o George Harrison!

-Mocinha, - Eu chamei a atenção dela, estalando os dedos em frente dos olhos dela para deixar de olhar o George e não desmaiar. – ainda precisamos de ajuda!

-Claro! – Ela falou prontamente. – A enfermaria é por aqui. Sigam-me!

E para meu grande azar foi ela quem foi fazer o curativo do George. Passou o tempo todo a dar risadinhas e a tentar meter conversa com o rapaz que é tímido e que parecia perdido entre tantos acontecimentos. E eu andava de lado para lado e sem saber bem o que sentia. Já estava mais calma agora, mas tudo o que sentia mesmo era medo ao enfrentar a cara do Brian.

-Pronto, já está. – A enfermeira disse sorridente. – Só foi preciso uns pontos e ficou tudo bem. Ele vai poder tocar logo à noite.

O George não se tinha aleijado com gravidade e ia puder tocar no concerto dessa noite, mas eu já tinha feito asneiras suficientes e já tinha faltado à minha promessa. O mínimo que o Brian podia fazer era mandar-me embora e eu não só desiludia o meu avô, como a mim própria e ainda perdia uma oportunidade que ninguém vê cair-lhe assim nas mãos.

O George voltou a pôr o chapéu e ainda se fez de cavalheiro, tirando-me a guitarra das mãos. Voltamos a chamar um táxi e voltamos ao hotel. E assim que chegamos ao quarto, demos logo de caras com o Brian. O John estava sentado na beira da cama, visivelmente melhor, o Paul e o Ringo estavam com ele e o empresário olhava-me, capaz de me matar. O George tentou-me encobrir, metendo a mão no bolso, mas foi evidente que o Brian viu as ligaduras.

-O John de ressaca e o George com pontos nos dedos. – Eu engoli em seco. Estava à espera do que quer que ele fosse dizer. – Eu nem tenho tempo de comentar isto agora. Vá, George, agora compõem-te. Rapazes, quero-vos lá em baixo para o jantar. Saímos em uma hora. – E depois do aviso, saiu do quarto e eu suspirei de alívio. 


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Notas finais do capítulo

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