Diary Of A Journalist escrita por Shorty Kate


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Penúltimo capítulo gente...!



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(…) No entanto a discussão ainda era assunto recente e não ia ser esquecido. Talvez aquilo tivesse ajudado Brian a ver que estava a ser um bocadinho duro nos rapazes. Chegados ao estúdio, eles tornaram-se profissionais e começaram a trabalhar em tudo o que tinham. A pressão ajudava, só que não podia ser em demasia, e Brian via-os trabalhar do lado de fora, pensando nisso.

Na manhã seguinte, Paul trazia uma revista na mão e sentando-se sobre o amplificador abriu-a numa página já marcada e mostrou aos rapazes. Mostrou-lhes as duas páginas onde uma fotografia se destacavam no meio do texto e um título bem grande aparecia a meio das páginas.

Então ele depois virou a revista para ele para ler e os outros sentaram-se perto dele. O John pousou a guitarra e sentou-se na beira do degrau, assim como Ringo que trazia consigo as baquetas, girando uma delas entre os dedos. O George não largou a sua Gretsch, acendeu um cigarro e tomou um lugar ao lado do baixista, ambos partilhando e fazendo do amplificador um assento.  


A ORIGEM DA BEATLEMANIA

                                                                                Por Kate Martin


“John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr. Quem ainda não ouviu falar deles, os quatro garotos de Liverpool que procuram arrastar multidões de fãs por toda a Grã-Bretanha. Porque será que levam à loucura e histerismo tantas raparigas? Será pela música, pela forma de vestir, pelo cabelo já apelidado de ‘corte à Beatle’ ou pelas caras inocentes e jovens que prometem trazer algo novo à indústria musical do rock? O que quer que seja resulta! Paul brinca, fazendo a sua descrição da banda como “miúdos giros que tocam, têm uns cortes de cabelo à maneira e dão uns concertos de partir a loiça toda!”

“Eles parecem uma banda tão usual como tantas outras: um baterista, um baixista, dois guitarristas. Mas, o que faz dos Beatles tão invulgar? Para quem achar que os rapazes são coisa vulgaríssima, engane-se! Analisemos então cada facto ao pormenor. Comecemos pelas letras das músicas, adereçadas a cada rapariga, fazendo o coração delas pular em emoção. Expressões simples com ‘yeah’, ‘ooh’, ‘ah’ postas nas vozes e grunhidos dos rapazes tornam-lhes ainda mais fácil a tarefa de arrebatar corações. Lennon e McCartney provam estar a crescer em popularidade entre os compositores, e mostram ânsia em se tornarem a mais conhecida e sucedida dupla de compositores da história. 

“Mas, serão as batidas rítmicas e certas da bateria do Ringo e as malhas extraordinárias e elaboradas de baixo do Paul que fazem tantas raparigas suspirar por eles? Talvez. Batidas em contratempo fazem o público bater palmas, bater os pés no chão, saltar, berrar. Houve toda uma lufada de ar fresco trazida no ritmo e no volume das suas composições; houve uma revolução naquilo que era dominante na cultura musical Britânica.

“Melodicamente, eles pisam terrenos nunca antes tentados, os acordes usados são considerados ultraje pois a harmonia faz-lhe justiça como nunca artista antes conseguiu. Os Beatles, especialmente Harrison, brincam com o convencional do rock ‘n’ roll e dos blues e fazem de coisas simples verdadeiras obras-primas. O guitarrista solista é o mais acanhado de todos, mas com a sua guitarra é desinibido e faz magia; juntando umas poucas notas agita a plateia. E o mesmo se pode dizer de Lennon que usando mais do que três acordes, coisa nunca antes experimentada, oferece uma boa sustentação durante toda a música e principalmente durante os solos de Harrison.

“O grupo explora ainda sonoridades novas e compõem as suas músicas de forma matemática. A incorporação da dissonância (característica apenas conseguida no jazz) no rock foi um grande passo que a banda tomou. A introdução de novos instrumentos e novas formas de gravação como a colocação de microfones de forma menos convencional, a técnica de double tracking, o uso de loops nas cassetes e a mudança de velocidade no momento de gravação só consolidou ainda mais nos Beatles o rótulo de ‘grupo de contracultura’.

“E este movimento de ir contra a maioria reflete-se na juventude que vê neles uma voz ativa. Os integrantes desta Beat Generation retiram exemplos da banda. Cortes de cabelo até agora não usados e a roupa mais formal usada em qualquer ocasião são o modelo a seguir; são a moda atual. O nome da banda, baseado na palavra ‘beat’, surgiu de John Lennon, quando a banda ainda era composta por ele, McCartney (assumia na altura a guitarra), Harrison e os ex-integrantes Pete Best (baterista) e Stuart SutCliffe (baixista) em 1961/62. Foi quando o seu atual empresário, Brian Epstein, os conheceu. Atuavam no The Cavern Club quando ele os viu pela primeira vez e conta que: “imediatamente gostei do que ouvi. Eles eram frescos e foram honestos, e eles tinham o que eu pensava que era uma espécie de presença e... qualidade de estrela.”

“Epstein considera-se mais do que meramente o gerenciador desta banda, mas também como ‘pai’ deles, já que “Estes rapazes foram puxados de uma juventude que não podem gozar por causa de ser músicos em ascensão, e sendo um dos principais ‘culpados’ disso agora tenho a minha paga. Não só sou manager mas sou também como pai deles, mais como babá!”. Mas ele não se fica por aqui e elogia os seus protegidos, dizendo: “Eles são génios ao ponto de serem estúpidos. Eles usam aquilo que acharíamos tão elementar e inútil e fazem magia. É por isso que eles são bons.”. O empresário considera-se “um sortudo por os ter encontrado.”, contando que “eles lá em cima [do palco] são sem dúvida os reis. Eles são os senhores. E são autênticos àquilo que são todos os dias: empenhados em dar um bom concerto, interessados em tocar bem e sem nunca se esquecerem de lançar umas piadas!”

 “Ainda assim salienta as personalidades fortes que caracterizam cada um destes rapazes. “No dia em que eu morra, eles separam-se. Aqueles quatro não se vão entender. Cada um vai puxar para o seu lado e eles vão acabar longe.” Epstein afirma, mas acredita que esse futuro é distante, quando brincando disse: “Se um se atirar de um poço, os outros vão atrás. Nem que seja para o salvar… Eles são que nem irmãos, mas irmãos mesmo de verdade. Daqueles que brigam e batem e pregam partidas mas que se defendem uns aos outros com unhas e dentes. Nunca ninguém conseguirá atacar um Beatle e esperar que os outros não reajam.” Também Starr partilha a mesma opinião afirmando que, para além das saudades de casa está um pouco de cansaço, porém “fazer aquilo que mais gostamos e estarmos em boa companhia faz-nos esquecer a parte difícil. Talvez a banda acabe em um, cinco, dez anos, mas pelo menos posso dizer que aproveitei cada etapa.”

“Pois bem, mas se Epstein tanto elogia os seus pupilos, o que será que eles dizem uns dos outros? Ringo Starr é considerado um esforçado em tudo o que faz mostra o seu empenho. Sempre sorridente e abanando a cabeça quando toca é ainda assim um dos Beatles que não obtém tanta atenção, talvez por estar mais escondido no fundo. Diz ter optado pela bateria para esconder o complexo de inferioridade, já que é o mais baixo dos quatro. Os outros exageradamente e principalmente Lennon espicaçam dizendo que “ele simplesmente tem demasiados complexos!”, mas acaba por dizer que “ele é um bom rapaz” e que a primeira coisa que nele o atraiu foi a sua educação.

“E falando nele, Lennon tem a fama de ser o encrenqueiro mas é na verdade bem (desas) sossegado. Harrison defende-o, dizendo que “ele por vezes não controla o sarcasmo e não sabe medir as palavras, mas [que] não o faz por mal.” É visto por Paul como um bom amigo, que confessa com ele já ter partilhado momentos mais profundos como a morte das mães de ambos que os abalou. Não é crente em religião alguma e contudo é crente no homem e na sua capacidade de mudar o mundo. Ele é um sonhador que espera por alguma paz por entre tanta pressão e agitação.

“Contrariamente a ele, Harrison é muito espiritual. Diz, todavia, “ainda não ter encontrado a religião ‘certa’ (…) mas busca por algo maior e superior.”. Ele influencia os outros a manter uma “[boa] saúde espiritual, independentemente de karma, política ou crenças religiosas.”. Talvez por ser assim tão pacifista e reservado consegue fazer criações fantásticas, já que Paul diz que “ele não passa sem comer, tocar e fumar. Por vezes achamos que o perdermos, mas não, ele está lá num canto com o cigarro na boca e a dedilhar a guitarra.”

“E por fim só mesmo Paul, descrito por Lennon como “o diplomata e o menininho bonito dos quatro.”. Verdade é que ele é o que mais dá e recebe piscadelas e juntamente com o seu parceiro revela-se um brincalhão que ri com grande facilidade, muitas das suas gargalhadas puxadas pelo companheiro Lennon. Contudo Starr não esquece de dizer que “[ele] é musicalmente dotado, sabendo fazer um bocadinho de tudo.”. Harrison, que era seu vizinho, diz ainda que ele foi bem ensinado na área musical, sendo o “mais talentoso no que toca a composições.”.

“Este grupo que se esforça para ser da contracultura está a tornar-se a cada dia que passa a coqueluche de milhares de raparigas. E assim sendo, eles irão procurar novas formas de se destacarem da maioria e de crescerem ainda mais musicalmente. Mas, com um grau já tão elevado de mentalidade, é de esperar que se eles criarem novidades, elas não sejam tão acolhidas pela massa de fãs. Sobre isso Starr comenta: “Um verdadeiro fã é aquele que fica até ao fim, que continua a apoiar-nos quando as coisas dão mais para o torto. Não critico quem daqui a um tempo se encha de nós, mas a mudança não devia causar más reações. A mudança é uma coisa positiva, na maioria dos casos. Não sei se mudaremos, mas se isso acontecer, que seja para melhor!”

“Epstein crê que, aconteça o que acontecer, os rapazes vão ficar unidos, mesmo que não estejam juntos, por muito que discutam e até mesmo depois de uma separação. Ele acredita que muito do que possa acontecer daqui em diante possa mudar, pois “a imprensa coloca grande pressão neles. É bom trabalhar sobre pressão, mas não demasiada, e eles ainda estão a descobrir como isto é.”. Ainda assim, ele confia neles e sabe que “eles são quatro partes de um todo. No fundo, eles são um em quatro e quatro num só.” Mais do que quatro simples e humildes garotos, os Beatles vieram para ficar. Eles estão a revolucionar um país, uma sociedade e uma geração. É de esperar que a Beatlemania se espalhe pelo mundo e que fique presente no seu arquivo histórico sendo lembrado no futuro.”


A sala ficou em silêncio após Paul acabar de ler. Os quatros olhavam-se e não conseguiam trocar uma única palavra até que a voz de John rompeu do nada, um pouco a medo. -Uau.

-Ela é boa… - Ringo disse depois, olhando os amigos.

Brian, que tinha estado a ouvir atrás da porta aquilo que Paul lia, entrava agora na sala.

-Paul, encontra-me essa miúda. Diz-lhe que tenho uma proposta que ela não vai negar.

-Porque haveria eu de fazer isso? – Ele falou, ainda ressentindo.

-Porque eu admito que estava errado. E dou-vos razão. Eu estou a pressionar-vos um pouco demais, mas têm de perceber que estamos cheios de trabalhos. Mas, vocês estão certos: não pode haver um líder, todos temos que mandar. E especialmente vocês, que são o foco das atenções. Especialmente vocês que são quem tudo faz.

-Mas nós não conseguiríamos muito disto sem uma equipa a ajudar. – George animou o empresário que parecia esgotado e derrotado, deitando os olhos em Paul.

Ele levantou-se e caminhou para a porta enquanto dizia. – O avô dela sabe de certeza em que parte de Londres ela está. Vou ligar-lhe. – E depois de sair pela porta do estúdio, ele sentiu-se em paz com Brian que esboçou um sorriso. Um pequeno desentendimento que agora estava resolvido.

Paul nem chegou a entrar na sala, ele ficou à porta, agarrado à maçaneta e todos o olhavam, já envolvidos numa divertida conversa. – Que foi, Paulie? – John perguntou.

Ele engoliu em seco, tremendo, quase de lágrimas nos olhos. – Ela…ela está no hospital. – As vozes dos outros quatro homens misturam-se, fazendo perguntas que o baixista pouco ouviu. – Ela foi agredida pelo pai, e…o avô dela não me explicou muito bem como ela está. Brian… - Ele sussurrou. Mais uma vez, Brian estava a servir como amparo dos miúdos. Sim, eles ainda eram miúdos nos seus vinte anos.

-Claro, Paul. – Ele disse, percebendo, dando-lhe um aperto no ombro. – Eu levo-te lá no final do dia.

-Nós queremos ir também. – Ringo falou, olhando para o John e o George que acenaram com a cabeça, concordando.

Brian suspirou fundo, ainda abalado pelas notícias, e sabendo que aquele era um passo a dar, para remediar um pouco a pressão que tinha andado a pôr sobre eles. – Muito bem. No fim do dia vamos todos vê-la. Agora, acham que conseguem continuar? - Os quatro acenaram. – Como vai a composição até agora?

-Temos já uma música acabada. – John falou, pegando a harmónica e a guitarra.

-Podem mostrar-me? – Brian pediu gentilmente, colocando as mãos nos bolsos.

Ringo sentou-se à bateria, George voltou a amplificar a guitarra e Paul agarrou o baixo. John fez soar a primeiro umas notas na harmónica. Paul dava uns últimos toques, lembrando a malha de baixo e Ringo testava todos os tambores e pratos.

-Dá sol, John. – George pediu e bateu com ele o acorde.

Paul e John afinaram as vozes em conjunto ao som da nota que ainda vibrava. Eles acenaram um para o outro, satisfeitos com a harmonia. E então começaram a cantar e tocar a música que Paul e John tinham chamado de “I should have known better”.



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Notas finais do capítulo

Sei que este capítulo ficou meio para o chato, mas tinha que mostrar o resultado do artigo da Kate. Ah, mas tinha umas fotos bem bonitas dos rapazes, mas não deu para colocá-as aqui. Enfim, deixei um pouco de suspense.
Não se esqueça de comentar, este é o penúltimo capítulo...



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