Kátia.

Passaram-se alguns dias, e bem, devo admitir que eu estava gostando do lugar. Era calmo, tranquilo e não havia mosquistos! Nicole e eu passávamos o dia todo juntas: pescando, andando à cavalo ou simplesmente conversando.

Mas não contei à ela sobre o jardim, nem sobre o bilhete.

Era... precioso demais.

A parte mais linda era a noite. Eu nunca imaginei que houvessem tantas estrelas no céu. Geralmente eu e Nick ficávamos no alpendre vendo as estrelas e vez ou outra Renato se juntava a nós.

Uma noite, Nick resolveu ir dormir mais cedo e eu fiquei só, no alpendre. Aproximava-se das onze horas quando ouvi uma voz:

_Boa noite, princesa.

Era um rapaz.

L-I-N-D-O.

Era alto e forte, tinha os cabelos louros caindo em ondas sobre a testa. Seus olhos eram bem pretos - tão pretos que nem se via a pupila . Estava vestido com uma camisa branca, meio rasgada e uma calça de brim bem puída.

_Noite - respondi.

Ele sorriu, se aproximou e me beijou.

Não um beijo qualquer, uma coisa meio que de cinema...

_Desculpe pela ousadia... Eu não quis ser muito precipitado, mas não aguentava mais!

_Relaxa...

_Sabe, princesa? Senti muito a sua falta.

Corei.

_Não dá pra ver tantas estrelas assim na cidade.

_Se eu pudesse, eu trazia cada uma pra você.

Daí as peças se encaixaram... Fora ele! Ele havia escrito o bilhete, ele havia deixado as flores. Mas por quê? Eu não me lembrava dele!

_Foi você, não foi? Que deixou um bilhete...

_Sim. Não me contive quando te vi chegando. Sabia que não havia esperado em vão, princesa.

_Cara, é sério, eu estou achando isso aqui tudo super fofo, mas eu não me lembro de você.

Seu rosto ficou sem expressão.

_Já devia imaginar - ele soltou um sorriso amarelo - Mas eu não ligo.Eu te amo, princesa, mesmo assim. Te amo desde que te vi pela primeira vez. Eu esperei muito tempo e não vou deixar tudo ir por água abaixo!

Ele me beijou de novo, sorriu e se afastou.

Eu tive vontade de correr atrás dele e perguntar de onde ele me conhecia. Mas ele já havia sumido no meio da noite.

Pelo menos eu sabia o seu nome. Bento. O garoto do bilhete. O cara da "princesa". E pelas suas roupas ele devia ser um funcionário da fazenda. Seu porte físico também entregava que ele não tinha mais que dezoito anos.

Na manhã seguinte, eu e Nick (que gemia por causa de cólicas) fomos até a casa dos caseiros e chamamos o Renato e o perguntamos sobre o tal Bento.

_Não, Ká. Não tem nenhum cara com esse nome trabalhando aqui na Santa Edwiges.