Kátia.

Eu sentia o olhar de Bento.

Profundo, cheio de dúvidas, em busca de respostas. Eu também queria respostas. Como aquele cara havia conseguido permanecer jovem por tanto tempo? Ou melhor, como ele ainda estava aqui?

_Perdão, sinhazinha - ele disse - Eu não tive a intenção de te machucar ou de te iludir durante esse tempo. Eu fui sincero ao quando disse que te amava. Mas, pelo visto eu... Eu não existo.

_Não...

_Perdão.... Perdão...

Ele ia pedindo perdão e sumindo diante dos meus olhos.

_BENTO! BENTO, SEU MALDITO! POR QUE VOCÊ ESTÁ INDO EMBORA LOGO AGORA?! EU TE AMO! EU NÃO LIGO! EU Q-QUERO FICAR COM VOCÊ... DE QUALQUER JEITO! - berrei.

Mas ele não estava mais lá.

Só havia eu, as rosas brancas e vermelhas, um caderno de couro e um buquê murcho de amores-perfeitos.

Saí daquele jardim.

"Você é forte, não se esqueça! Chorar por um... Fantasma? Ele não existe. Não existe..." - fiquei pensando, deitada na minha cama.

E então, eu, Kátia Andrade chorei por um garoto. Sim, eu que tinha fama de marrenta na escola. Que era conhecida por dar os foras mais sem-coração de todos os tempos. Aquela que nunca se apegava. A roqueira que detestava qualquer tipo de música sentimental.

Aquilo estava me bagunçando.

Ele tinha 150 anos... e eu não ligava.

Bento havia morrido, mas eu não o considerava um fantasma, assombração, alma penada, que seja! Eu estava apaixonada por ele.

Fantasminha maldito de um figa!

Se eu sentia medo? Sinceramente, sim.

Mas não por ele ser uma alma penada. Medo de... Ele não voltar, sabe? Descansar em paz e me deixar aqui, na minha cama, ensopando o travesseiro e totalmente bagunçada.

Ouvi alguém batendo em minha porta.

Droga! Por que agora no meu momento fossa?

_Ká... Eu sei que você está aí... - era Renato - Eu preciso falar algo s-sério pra você.

_Um minuto, Rena! - fiz a voz menos esganiçada que eu consegui.

Limpei as lágrimas e fiz um coque nos cabelos e finalmente criei coragem de abrir a porta.

_Por que você estava chorando? - ele perguntou.

_Não! Acho que é uma alergia... - menti.

_Então tudo bem... Ahn... Bem...

_Que foi, Renato?

_Olha, vou tentar ser direto... - ele estava engasgando - Tô a fim de você, Kátia.

Então era assim? Quando eu, depois de 16 anos, finalmente encontrei o cara certo e além dele estar morto, o meu melhor amigo resolvia se declarar.

Da hora, a vida!

_E aí? - Renato perguntou - Sei lá... A gente podia ir na cidade. Conversar direito... Ou, sei lá... Você quem sabe.

Ouvi alguém fungar.

_Espera, Rena...

Fui até a porta.

Nicole estava lá. As lágrimas escorriam pelo rosto de minha prima. Ela estava com as mãos na boca.

Droga. Droga. Droga.

_Achei que você fosse uma pessoa melhor, Kátia - Nick disse, tirando as mãos da boca.

Renato chegou por trás de mim. E, bem, Nicole saiu correndo, morrendo de vergonha.

_É, né - ele disse - Acho que não escolhi uma boa hora.

_Bem, Renato, isso foi bem fofo, mas... Você viu que a Nick gosta de você e eu também não estou num momento muito bom. Espero que você entenda.

Mas ele não entendeu.

Óbvio que não.

Logo senti suas mãos em minha cintura me levando para perto de seu corpo. E logo a minha boca estava colada à dele.

_Precisava disso - ele disse, saindo.

"Bento... Por favor, não tenha visto isso!" - pensei, com toda minha força, limpando a boca com as costas da mão.

Tranquei a porta e senti encostada na parede... Minha cabeça zunia. Muita coisa tinha acontecido em... o que? Uma hora?

Nick estava com raiva de mim e Renato "in love". Tudo estava muito confuso e bagunçado. E eu não sabia que eu tinha tantas lágrimas.

Eu só tinha certeza de uma coisa: não tinha mais volta. Eu estava apaixonada pelo Bento.

Loucamente.