A Garota da Caixa escrita por tommy_hilton


Capítulo 1
Do you remember me?




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Uma caixa de ração para cachorros. É assim que começa nossa história. Não é uma caixa comum, com um simples slogan da marca e pronto. É uma caixa feita por um designer muito criativo, que encontrou uma linda garotinha loira e feliz, e a fotografou com dois labradores de cor creme, brincando e rindo - a garota, claro. O que isso tem a ver com a história? Simples, um dos cachorros morreu atropelado, e o outro ainda está vivo, o que pode ser considerado um milagre da natureza pois com catarata nos olhos, manco e sem conseguir nem latir - a cada vez que tenta, só sai um tossido rouco - o velho cachorro já deveria estar a sete palmos. Mas é a garota? Sim, esta cresceu.

Catorze anos depois da foto da caixa de ração (ela tinha 6 anos na época), Tiffany ainda tem um exemplar guardado em seu quarto, e sempre relembra os bons e curtos momentos de fama que teve. Sempre que saía na rua com seus pais todos queriam pegá-la no colo, fazer gracinhas para ela e conversar com a garotinha da caixa de ração. A pobre coitada não tinha nem nome, era sempre loirinha da ração, ou a belezinha da Dogz, entre outros sinônimos... Claro, como criança ela adorava. Ganhava balas, doces, pirulitos, balões e muitos outros presentes de seus admiradores. Quem não gostava muito eram seus pais, dois velhos paranóicos que casaram muito tarde e que aparentavam ser avós da criança. Sequestro, abuso e roubo eram algumas das idéias que passavam pela cabeça deles sempre que algum fã chegava perto dela, isso talvez explique porque eles sempre tinham que colocar na boca e experimentar os doces que Tifanny ganhava, antes de dá-los à menina.

Como aquela foto foi a única da vida dela, devido à paranóia de seus pais, ela acabou sendo esquecida pela mídia, e passou a ir em programas infantis e a ser chamada cada vez menos para animar festas de criança, uma pena, pois conforme crescia Tifanny queria voltar a fazer sucesso como antes. Já com vinte anos, e independente de seus pais, ela estava pronta para relembrar os momentos da 'garota da caixa de ração'. Sim, ela queria largar de vez aquele emprego como garçonete na lachonete do Sam, e virar uma estrela. Talvez daqui uns anos estaria ganhando um Oscar, fazendo um discurso do tipo "Eu usava as salsichas Hot Dog do Sam como microfone para treinar meu discurso, mas hoje não é uma salsicha!" e choraria de emoção, sendo ovacionada por toda a platéia...

- Tiff, atenda a mesa oito! Está sonhando acordada de novo? Desça para a Terra e vá trabalhar!

E mais uma vez, a voz de seu amigável e muito sincero patrão Sam ecoava em seu ouvido, fazendo-a acordar e lembrar que estava de avental, patins e tinha que equilibrar bandejas com milk shakes e hot dogs... Já falei que ela estava de patins? Sim, o que dificultava ainda mais o trabalho, e a fazia nutrir um ódio mortal pela cabeça inteligente que inventou de colocar rodas nos pés. Claro, depois de quatro meses trabalhando assim ela já estava acostumada, e quase não derubava mais as bandejas, mas quando começou a trabalhar era uma bagunça, mas isso não era bom nem lembrar, para o bem de seu emprego e principalmente porque não queria matar seu patrão do coração.

 Voltando ao trabalho, ela atendeu a mesa oito, um casal meloso e cheio de "Eu te amo" "Não, eu te amo mais", que a deixou com vontade de encher o suco de laranja da garota de sal, e levar até ela... É talvez ela fizesse isso, se quisesse que o Sam lhe desse um pé na bunda, mas por enquanto zelava pelo seu emprego. Além do mais, ajudava nas suas despesas com o aluguel, que dividia com uma garota que poderia-se dizer que é um pouco mais louca do que ela. Depois de tanto trabalho e de atender tantas mesas - e de saco cheio de usar patins - o dia estava terminando. Muito cansada, ela tirava seus patins, seu avental, deixava seu bloquinho de anotações e ia embora para o pequeno apartamento. Sempre olhava-se no espelho antes de sair da lanchonete, penteava os cabelos loiros ondulados e compridos com perfeição, passava uma maquiagem e se arrumava muito, como em todas as vezes que saia na rua, pois como ela mesma dizia, nunca se sabe quando algum produtor de TV pode estar passeando pelas ruas.

Mas o caminho de volta para casa foi normal como sempre. As vezes começava a patinar no meio da rua, calçando botas, acostumada com os patins, e ria de si mesma. Ela realmente odiava aquele par de rodas mais do que qualquer coisa. Sempre que chegava em casa, ia direto para o seu quarto e ficava olhando aquela velha e surrada caixa de ração, onde uma garotinha loira e dois cachorros pareciam muito felizes. Mas naquele dia ela tomou uma decisão. Até então, ela esperava que algum produtor famoso ia cair no seu colo e chamá-la para voltar a fazer sucesso, mas isso ia parar. Ela ia sair e procurar o que queria, pois é o que devia fazer. Assim que decidiu, ligou para o Sam e avisou que não poderia ir no dia seguinte. Depois de algumas reclamações, ele cedeu e deu a ela o dia de folga. Sua vida mudaria de agora em diante, pois ia atrás do que queria com unhas e dentes, e logo seus pais veriam sua foto em mais uma caixa de ração, publicidade de creme dental, capa de revistas... E não descansaria enquanto não conseguisse. Estava muito confiante, e sabia que o dia seguinte seria muito bom. Depois de sonhar acordada, e de andar saltitando pela casa e tropeçando pelos cantos, Tiff foi dormir, com um sorriso no rosto. Sua companheira de quarto ainda não havia chegado da noite, e como Tiffany sabia que ela era uma baladeira de plantão, nem esperou-a para contar a novidade, pois queria dormir logo e acordar logo. O excesso de confiança estava transbordando, mas seria realmente assim, fácil?


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Notas finais do capítulo

Fim do primeiro capítulo, só apresentando uma breve biografia da personagem e seu maior sonho, que será o objetivo dela em cada próximo capítulo.