Zombie Walk escrita por Callye Hiver


Capítulo 1
Capítulo 1 - O início da tragédia




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Eu ando feliz junto de minha melhor amiga, Luce Nathaly. Ela, na verdade, parece mais feliz do que eu - afinal, estamos em uma Zombie Walk no centro da cidade, que acontecia todos os anos. Todos os "adoradores" de zumbis iam para lá, fantasiados de zumbis ou de matadores de zumbis. E esse foi o primeiro ano em que Luce foi comigo.

Seus cabelos pretos balançam pelo ar - está uma leve ventania. Os olhos verdes da minha amiga parecem brilhar. Lembro que me senti assim na primeira vez que fui em uma Zombie Walk.

Esse ano, estou de matadora. É bem mais fácil do que fazer cosplay de zumbi, afinal, eu só tinha que escolher a roupa que eu usaria em um verdadeiro apocalipse - no meu caso, eram botas sem salto, com uma meia-calça preta e um shorts jeans. Coloquei uma camisa preta que era caída no ombro esquerdo, junto de uma jaqueta de couro marrom. Também tinha amarrado meu cabelo num rabo-de-cavalo, deixando minha franja solta, junto de uma mecha do lado oposto. O meu cabelo é liso e preto, mas com várias mechas vermelhas escura por ele. Já as pontas, que quando soltas vão até meus ombros, eram totalmente vermelhas.

Aperto o elástico em meu cabelo. Olho para Luce novamente e sorrio. Sinto meus olhos castanhos brilhando com a alegria dela.

– Ei, Izzy - chama-me a atenção. - É sério que você enfrentaria um apocalipse zumbi com uma espada?

– Não é uma espada - respondo. - É, mais especificamente, uma katana. A espada japonesa. E sim, eu enfrentaria. Por vários motivos: primeiro porque não tenho que me preocupar, pois é uma arma que não é movida por balas - sorrio. - Segundo que, quando eu matar um zumbi, não irei atrair outros mil pra cima de mim com nenhum tipo de som. Além de que é bem mais fácil manejar uma espada do que uma arma.

– Pensei que fosse uma katana.

– Cala a boca - começamos a rir.

Presa nas minhas costas, está minha katana. Eu gosto delas, sempre as admirei, então havia comprado para deixar de enfeite no meu quarto.


Andamos mais um pouco e tiramos fotos com alguns cosplayers - algumas em que eu tento salva-la de zumbis famintos -.


Já estámos indo embora, quando começamos a sentir um estranho cheiro podre, e vemos várias pessoas correndo na direção aposta a que estamos indo.

– Ei, o que está acontecendo? - Pergunto à mulher que acabou tropeçando ao meu lado e teve que se segurar no meu ombro para não cair.

– Zumbis! Em toda a parte! - Ela grita.

– Sim, mas eles não são reais...

– Não, não são deles que eu falo! São deles! - Ela olha para trás e eu fico boquiaberta, deixando-a ir embora.

Olho, a apenas três metros de distância de mim, um verdadeiro zumbi. Ele arranca brutalmente o braço de um garoto ruivo. Grito ao ver o sangue que escorreria do local onde deveria estar o seu braço. O osso exposto me faz ficar enjoada - é realmente horrível ver isso pessoalmente.

Quando viro-me para Luce, paraliso. Eu não pisco, nem me movo. Não sei nem se eu estou respirando.

Um outro zumbi, parecendo ser um adulto, havia arrancado seu braço direito, e agora, ele mordia fortemente o braço esquerdo de minha melhor amiga.

– Lu... ce... - minha voz sai fraca, quase inaudível.

Só me dou conta do que realmente acontecia em minha volta quando o zumbi que ataca minha amiga a soltou e veio em minha direção.

Dou um passo para trás. Eu não sei se consigo fazer isso pra valer, mas eu pego a katana que está presa em minhas costas e enfio-a no meio da testa do zumbi.

Paraliso novamente. Observo o sangue que escorria da ponta da espada. Quero vomitar com todo aquele cheiro... pessoas correndo para todos os lados...

Logo, faço o mesmo que elas - saio em disparada. Para onde, eu não sei. Mas sei que tinha que correr.

Sinto lágrimas pelos meus olhos.

– Me desculpe... me desculpe Luce... - sussurro para mim mesma. Eu havia deixado minha melhor amiga morrer ali, diante de mim, e eu não pude fazer nada.

Mas agora, chorar não ia trazê-la de volta. Ela havia sido infectada. Era questão de tempo - ou segundos - para ela virar um deles. Para virar minha inimiga.

Saio do centro da cidade, que era onde estava acontecendo o evento. Corro para qualquer lugar que minhas pernas pudessem me levar, vendo vários membros sendo arrancados de pessoas, respirando aquele horrível cheiro de sangue.

Sinto a estranha sensação de estar matando pessoas - apesar de que eu sei que eles estavam, na verdade, mortos.

Noto que, quanto mais longe eu vou, menos pessoas vivas eu encontro. Acho que isso deve ser um pecado, mas eu riu disso.

– Me chamaram de louca, infantil e retardada por gostar dos zumbis e acreditar em um futuro apocalipse zumbi. Esse bando de filhos de puta merecem ser mortos por eles mesmo - falo para mim mesma, quando me vejo sozinha em um canto da cidade em que eu nunca havia ido.

Ando, silenciosamente, pelos arredores. Parte de mim sente medo por poder morrer a qualquer momento. Mas, outra parte se sente em um jogo do Resident Evil, pois está tudo tão silencioso, tão quieto, que é possível ouvir o som dos meus passos nitidamente. Apenas o som da minha bota, e nada mais.

Paro um pouco. Coloco as mãos nas cinturas - a katana ainda em minha mão -. Respiro um pouco. Ali o cheiro de sangue parece nem existir, praticamente.

Sinto algo me pegando. Tento gritar, mas sinto mãos tampando minha boca.

Ok, acabou.

É meu fim.

Porém, não sinto arranhões nem mordidas, e muito menos partes do meu corpo sendo arrancadas. Na verdade, a coisa que está me segurando parece me levar para algum lugar, cautelosa e silenciosamente.

– Shhh, fique quieta - ouço uma voz masculina dizer, apesar de que eu não consigo o ver;

Sinto suas mãos se afastando da minha boca, e obedeço. Olho melhor ao redor, e vejo que ele me levou até um beco, onde no final dele, tem uma grade de arame.

E também, fora tudo isso, é um garoto.

Ele aparenta ter mais ou menos a minha idade, mas parece sério - ou irritado, pois suas sobrancelhas parecem estar mais juntas do que as de uma pessoa comum.

– Quem é você? - Pergunto.

– Fica quieta, porra - ele coloca a mão em minha boca novamente e olha para a rua, procurando por algo. Logo, percebo o que era.

Um zumbi - não, não um zumbi comum.

Ele é assustador.

Literalmente assustador. Eu dou mais ou menos uns 2,00 de altura.

Percebo que em sua mão, ele carrega um machado que deve ser apenas - apenas - do meu tamanho. Seus olhos são vermelhos, como sangue, e finas fendas no lugar de suas pupilas - como se fossem olhos de cobra.

A carne do rosto que deveria estar do nariz até o queixo não existia. Tudo que é possível ver ali, é apenas o osso da mandíbula e os dentes. Além de que, na cabeça, em um pedaço dela, é possível ver um pedaço de seu cérebro - o que, se a mão daquele garoto não estivesse tampando minha boca, me faria vomitar ali mesmo.

Percebo que ele se afastou, e saiu do meu campo de visão. Começo a ser levada até outro lugar novamente. Mas dessa vez, posso olhar melhor quem era meu sequestrador - ou salvador? -.

Ele tem cabelos que vão até sua nuca, vermelho escuros, que são presos em um pequeno e frouxo rabo-de-cavalo. Também tem olhos verdes e bonitos, como esmeraldas.

O desconhecido me leva até a grade no fim do beco onde, silenciosamente, abre uma porta que tinha lá, passa comigo até o outro lado e, logo, a fecha novamente.

Andamos até entrarmos em um tipo de galpão - na verdade, naquele local existem vários galpões, mas aquele era o único que parecia ainda ter uma tranca - ou o único com uma porta.

Entramos e ele solta-me. Olho ao redor e encontro mais duas pessoas: um outro garoto, que parece mais novo e assustado, de olhos azuis e cabelos loiros, um pouco mais curtos do que os do ruivo, e uma menina mais velha com cabelos lisos e compridos cor de mel, sem franja. Seus cintilantes olhos verdes - e estranhamente familiares - me encaravam.

– Onde você encontrou essa ai, Matt? - Pergunta ela, provavelmente se dirigindo ao ruivo.

– No meio da rua. Se eu não tivesse tirado ela de lá, Tiranus teria a matado.

– Tiranus estava andando por ai e você simplesmente pegou ela? - A loira parece irritada, mas não aumenta o tom de voz.

– Espera, espera, Tiranus? - Pergunto, confusa. - E por favor, me expliquem o que é isso – falo, referindo-me ao pequeno grupo.

– Vem cá, garota - diz a outra, me segurando pelo ombro e me levando para perto do garoto loiro. - Olha, você viu aquele zumbi? Com o machado?

– Sim - respondo.

– Nós todos aqui discutimos, e percebemos que ele é diferente dos outros zumbis, então o chamamos de Tiranus. Ele parece ser o único que escuta até mesmo o menor e insignificantes dos sons. Ou seja: qualquer ruído que você tiver dado, diga adeus à sua vida.

– Entendi.

– Certo, agora sobre nós - continua ela. - Somos um grupo de pessoas que enfrentam esse apocalipse. Esse idiota ai, que te salvou, se chama Matt River. Ele tem dezessete anos. Essa coisinha aqui - ela aponta para o loiro -, é o Luke, irmão do Matt, de quinze anos. Eu sou a Mikaella Nathaly, tenho dezenove anos. E você, quem é?

– Hm... eu me chamo Izzy Nails, e tenho dezesseis anos - respondo. Olho fixadamente nos olhos de Mikaella. O nome dela me é familiar, mas eu não consigo lembrar... ao menos não com tantas coisas em minha mente naquele momento.

– Então, eu notei que você tem uma espada, morena - diz Matt, de braços cruzados. - Mata zumbis com isso?

– Matei vários com ela - digo.

– Temos que arranjar algumas - opinia Luke, tímido. - Quer dizer, o Tiranus, se ouvir um tiro, vai ir atrás do som, certo? Ele não pode ouvir espadas.

– Seu irmão tem razão, Matt - comenta Mikaella. Eu acho que ela deve ser a "líder" do grupo.

– Foda-se - responde. - Eu vou continuar usando minha arma.

– Você sabe quantas vidas você destruiu com esse orgulho de ficar usando essa porra de arma, não sabe?

Ele fica quieto. Parece incomodado.

– Espera, posso perguntar uma coisa? - Me meto entre a loira e o ruivo e a olho. - Esse apocalipse não começou a algum tempo atrás? Quer dizer, foi tanta gente morta assim? Não faz tanto tempo...

– Izzy, você sabe quando essa realidade de zumbis começou?

– Pelo jeito que essa conversa anda, não.

– Faz duas semanas, já. - Ela está séria. - Começou na nossa cidade natal. Foi horrível. Tentamos fujir, ir para outras cidades e avisar, mas ninguém acreditou. Parece que para os zumbis chegarem da nossa cidade até aqui demorou duas semanas, não é? Esse foi o tempo que o garotão aqui conseguiu matar dez sobreviventes que estavam com a gente. Por causa que ele vivia usando essa maldita arma, que fica atraindo o Tiranus. Ele matou dez sobreviventes, só por simplesmente não querer me ouvir, caralho! - Ela chuta uma caixa vazia que estava por perto.

– Que culpa eu tenho se você não consegue ser uma líder pra esse grupo?! - Grita.

– Podem parar de gritar, caramba?! - Me intrometo na conversa novamente. - Não faz tanto tempo que o Tiranus passou por aqui e, se ele é um bom ouviente, vai saber que estamos aqui. Por mais que cada um de vocês fez esteja errado, acho que berrar feito um idiota um com o outro não irá resolver nada, muito menos trazer os outros de volta à vida.

– Ela tem razão - opinia Luke. - Não aguento mais ouvir vocês dois discutindo toda hora...

Matt está de braços cruzados e sério.

– Até mais, vou pegar comida pra gente enquanto ainda tem por aqui. Volto mais tarde - vejo o ruivo saindo do galpão.

– Desculpe - Mikaella suspa, após Matt sair. - Ele que é um idiota. Queria ser o líder desse grupo, mas o antigo pessoal me quis no lugar dele. Me pergunto se ele não acabou com a vida deles de propósito. - Suspira. - Vou dar uma volta também - e sai, me deixando sozinha com o loiro.




É de noite. Matt já havia voltado.




Estamos comendo peixe frito - o ruivo tinha feito uma fogueira dentro do galpão, já que o teto é alto.

– Aonde a Mikaella costuma ir quando sai? - Pergunto aos irmãos River.

– Sei lá, pouco me importa por onde aquela vadia anda. - Responde Matt, friamente.

– Ela tenta encontrar a irmã por aqui - responde, educadamente, Luke.

– Irmã?

– Sim. A Mika teve que se separar dela quando eram novas. Ela só sabe que a garota está nessa cidade. Desde que chegamos, ela sempre fica saindo pra procurar por ela. Aqui uma foto dela - ele meche nas coisas da outra, e me entrega um retrato.

Eu o pego. Arregalo os olhos. Acho que o vidro teria quebrado se Luke não o tivesse segurado quando o deixo cair.

Tudo fazia sentido desde que vi a Mikaella - os olhos incrivelmente verdes e familiares, e seu nome.

Mikaella Nathaly é a irmã mais velha da Luce, a minha melhor amiga morta.


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Notas finais do capítulo

É isso ai! Ficou bom gente? :3

Mandem reviews sobre o que acharam de tudo isso o/