Natural Born Killer escrita por AbyssinWonderdead


Capítulo 1
CAPITULO 1: MEU AMIGO É UM BODE




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CAPITULO 1: MEU AMIGO É UM BODE

Meu nome é Nicole De La Torre, tenho treze anos, sou órfã de pai e mãe, tenho dislexia e TDAH, moro sozinha com minha tia, e tenho uma vida super normal com ela em Nova York por causa dessas coisas insignificantes e outras poucas mais.

Meu pai morreu antes de eu nascer, e minha mãe morreu de câncer, quando eu tinha dez anos. E vivo com minha tia desde que minha mãe foi internada para tratamento, três anos antes de ela morrer.

Eu não gosto muito de pensar na minha mãe e me lembrar de como eu tive a pouca presença dela na minha vida, desde pequena só trazia problemas para ela, fui expulsa muitas vezes de várias escolas por brigas. (não que eu tivesse provocado todas) Ela trabalhava muito tempo, chegava em casa tarde para aguentar todas costumeiras mudanças de colégio, e minha tia - a única pessoa que parecia que gostava de mim, sempre falava para a minha mãe cuidar melhor de mim…

Coisa estranhas acontecem comigo sempre, não diariamente, mas algumas vezes, com suas pausas. Coisas estranhas, criaturas estranhas, bichos assustadoramente assustadores, mas sempre que contava para alguém da escola ou para a minha tia, era um fracasso total. Coisa de criança, uma imaginação fértil,era sempre isso.

Realmente, não sou lá muito normal, para as garotas da minha idade, largada, desorganizada, gostos estranhos, lerda, estranha, briguenta. Comparado com as garotas, mimadas e peruas da minha nova escola… Que choram por quebrar uma pequena lasca da unha! eca! Pelo menos já está no final do ano letivo, dois dias e estaria livre daquele lugar o verão inteiro, e torcer para não acontecer nada e dar tudo errado bem no final.

Brigas e confusões, naquela e em todas as escolas em que estive, essas duas palavras só significavam uma única coisa, eu. Não houve um colégio em que eu durasse mais de um ano.

Um imã para confusões escolares.

As vezes eu imagino que as pessoas devem pensar que eu não tenho amigos por causa desses meus probleminhas de comportamento, dislexia, o déficit de atenção e hiperatividade, mas até que eu tenho...

Um amigo e uma amiga, que estavam sempre comigo, sempre. Leena Bean, cabelo castanho claro, cacheado e olhos verdes, da cor de esmeraldas e brilhantes, traços angulosos do rosto, e ela tem uma certa atração por objetos caros, eletrônicos e bijuterias brilhantes (ela é problemática como eu)Ryan Cleavert, cabelos castanhos meio avermelhados, relativamente compridos, grandes caracóis vermelhos e olhos negros como uma noite sem estrelas. Problemas nas pernas, ele me disse que foi algum problema nos músculos das pernas que fazia com que ele necessitasse de muletas para andar.

Bons amigos…

Era uma manhã de Quarta-Feira, e isso significava somente uma coisa para mim, alem de escola e perturbação diária, significava dois dias para acabar com todo aquele inferno. Por mim toda aquela escola seria pó cinzento de escola fumegante! E os professores, apenas corpos carbonizados. 

– Nicole! Desça agora, vai se atrasar para a escola! – ouvi minha tia berrar da sala de estar, na ponta da escada.

– Estou indo… – pensei que tivesse gritado, mas apenas um murmúrio sonolento saiu da minha boca. Não me forcei a abrir os olhos, apenas continuei deitada, coberta dos pés a cabeça por uma colcha, grossa e quente. – Estou indo... Estou indo... Estou... – Voltei a dormir.

– Agora! Não me faça ir ai em cima!

Resumindo, mais um de meus queridos defeitos, e desse eu gosto muito falow? A preguiça... Nossa, preguiça é muito bom.

– TÁ BOM! JÁ ESTOU DESCENDO! – gritei de volta.

Olhei para o relógio, saltei da cama a procura das roupas e coisas. Chegar atrasada tinha virado rotina. Vesti uma calça jeans preta, rasgada nos joelhos, calcei um All Star preto as pressas. Penteei meu cabelo rapidamente. (Castanho escuro quase preto, liso, repicado com algumas mechas azuis. Horrível para pentear!) Voltei ao armário atrás de uma camiseta e vesti uma preta da Nirvana.

– Nicole. De. La. Torre! – ela disse, com pausas ameaçadoras. Ouvi passos na escada mas logo percebi, eram falsos passos, mas não demoraria muito para as ameaças se tornarem atos. Chamou pelo nome completo, é descer ou morrer. Ela ia subir e me arrastar escada abaixo.

– O.K!

Peguei meu celular e os fones de ouvido de dentro da mochila e os coloquei no ouvido. Coloquei a mochila carteiro no ombro e desci as escadas as pressas.

– Você parece a minha mãe! – passei por ela rapidamente sem esperar resposta e saí correndo da rua, vi as nuvens escuras se formando e cobrindo a cidade, adorava a chuva, voltei a olhar para o caminho, mas como eu sou desastrada, bati em um cara alto, acho que dois metros de altura, com um smoking cinza e com uma cara estranha. Pedi desculpas e me afastei depressa dele, virando a esquina para a rua do colégio, sem esquecer o jeito como o cara me olhara e o jeito que ele respirara fundo olhando para mim como se eu fosse comida. ARGH!

A aula ainda não tinha começado, mas parecia que todos já haviam chegado na sala. Olhares se dirigiram a mim, como todos os dias, me encarando como se eu fosse um tipo de aberração.

Como todas as lindas manhãs de New York naquele ninho de víboras que era a minha escola, fui gentilmente recebida por Claire Ashford e Jany Poole (ou Jany Cabeça de Caroço, chamo ela assim, porque a cabeça dela é pequena, e redonda, que parecia um caroço)

Aquelas duas só tinham uma razão para viver, e eu com certeza já sabia qual era: Ferrar com a minha vida…

– De La Torre! – vi alguns olhos me encarando. Retirei os fones de ouvido e encarei a cobra de duas cabeças e a cabeça de caroço, com a cara fechada e mal humorada. – Quase atrasada de novo… Vou ter que comprar um despertador pra você, queridinha das esquisitices…

Senti a raiva crescendo. Vi a Cabeça de Caroço rindo.

– Não preciso de nada que venha de você ou de seu caroço de colo ai… – ri querendo parecer engraçada, mas nem eu mesma tinha entendido direito o que eu tinha dito. Tentei passar pelo lado dela. Fui barrada. 

– Você se acha muito engraçada não é, esquisitinha? – uma voz masculina falou atrás de mim. A voz não era familiar. Um professor novo? Faltando dois dias para que terminassem as aulas? Não. A voz era mais “nova” que a de um adulto.

Virei e vi um cara alto, que não parecia ter a mesma idade que todos na sala, não me lembrava muito dele, nunca o vi muito pela escola, deveria ficar escondido ou algo assim. Deixei para lá. Ele avançou para o fundo da sala e voltei a olhar para as duas. Coloquei um dos fones de ouvido e disse:

– Se me dão licença, tenho amigos e a conversa com eles é mais produtiva do que a conversa com duas piranhas… – ri de novo. Tapa na cara da sociedade das piranhas! pensei.

Não devia ter soltado aquela risada, ou muito menos aquelas palavras.

Claire desferiu um tapa na minha cara, e só me vi com o rosto virado para o lado e ardido. Arfei.

A Cabeça de Caroço riu.

Voltei a olhar para elas e notei um relampejo de prazer naquilo, nos olhos de Claire.

Ouvi passos atrás de mim.

– Vai chorar esquisita? – Claire tinha um tom de desdém na voz.

As duas riram.

Fuzilei as duas e segui caminho até Ryan e Leena, mas a cobra de duas cabeças segurou meu ombro para que eu não andasse.

– Que diabos você quer, garota?

– Deveria ter mais educação não acha, De La Torre?

Não respondi, apenas lancei um olhar estranho… Mas quis bater nela.

– Pensa duas vezes antes de falar sobre educação comigo, viu Claire? Você não sabe nada sobre isso…

– Srta. De La Torre… – uma voz me chamou, e olhei por cima do ombro da cobra. Congelei – Me acompanhe por favor…

– Sim senhora.

Ouvi um riso abafado de Claire e Jany. Quis batê-las até implorarem perdão de tudo, mas não queria prejudicar a tia que me odiava. (fato, ela me odeia, pode até parecer que ela não me odeia, as vezes, mas odeia e me olha como se eu fosse o filho do demônio que tinha sido deixado na porta dela)

Peguei minha mochila no chão e segui a professora de inglês, pelos corredores. A sra. Bolton não era a melhor companhia enquanto se está sozinha. (ela é o demônio em forma de professora!) Ser pega por ela seria o terror, e esse terror podia ter acontecido em qualquer época do ano, menos naquela, dois dias até terminar as aulas…

Seguimos em silencio pelos corredores até chegar ao corredor dos professores. Aquele corredor era sempre silencioso como um cemitério. Era horrível aquela parte da escola, detestava. A sensação de estar lá era desagradável e horrível! Passamos por algumas portas e por fim chegamos a uma porta que no vidro tinha escrito:


DEPARTAMENTO DA LINGUA INGLESA

SRA. LISENA BOLTON

Ela pegou uma chave de dentro de um bolso do blaiser cinza e abriu a porta para mim. Ela entrou e se sentou, estava com um pouco de medo e sentia isso, minhas mãos pareciam tremer, afinal… Era a Sra. Bolton! Não um professor qualquer, que poderia seria gentil. (em toda a minha vida, só tinha tido uma professora relativamente legal comigo. A professora Katy Levant, de todas as escolas ela tinha sido a melhor…)

– Sente-se criança. – odiava o tom de voz que ela usava comigo. – Entre. Srta. De La Torre, é o segundo incidente que ocorre entre você e a srta. Ashford…

– Senhora, desculpe-me… Eu… – tentei dizer. Queria dizer o que havia acontecido, mas, sabia que não era o suficiente para compensar minhas ações, e eu nem tinha batido nela!

– Você nos tem causado muitos problemas menina. - a voz ficara mais rígida.

– Sim senhora. - Para que ela me chamou? – Sra. Bolton… Eu… Eu posso, posso melhorar… Eu não… – me interrompi.

Vi seus olhos brilharem num tom dourado forte e vivo, depois voltarem ao marrom escuro. Só minha imaginação. Disse a mim mesma.

– Não serão necessárias, mudanças da sua parte. – ela me disse, com um dos pés inquietos, e por um momento quis estar na cabeça dela, e saber o que estava pensando. – Deve ser difícil…

– Desculpe, não entendi.

– Digo… Deve ser difícil nunca ter conhecido o pai, perder a mãe de um jeito como aquele, e viver com uma tia que te vê como uma aberração. – Seus olhos voltaram a ficar amarelos, me fitando ansiosamente.

Balancei levemente a cabeça. Aquilo me pegou de surpresa, e me deixou meio confusa. Não me lembrava de ter contado alguma coisa a ela sobre os meus pais.

– Como… – ela me interrompeu. Aonde ela queria chegar com essa conversa?

Seu olhar estava me assustando, seu pé balançava rapidamente. Não estava gostando nada daquilo.

– Senhora, a aula de álgebra já deve ter começado, tenho que voltar… – me levantei e caminhei até a porta de costas, fitando cautelosamente a professora.

Eu não sabia o que ela estava pensando, mas deveria ser algo estranho, por fim ela disse:

– Nós não somos bobos, menina. – ela se levantou, com as unhas se alongando se tornando garras enormes. – Era só uma questão de tempo. Mais cedo ou mais tarde, nós a encontraríamos Nicole.

Não respondi. Nós? Quem é nós? Não sabia do que ela estava falando. Apenas continuei a olhá-la.

Ela subiu na mesa com facilidade, e vi algo realmente estranho. Os olhos dela, flamejavam num amarelo vivo, asas de morcego nasceram em suas costas, rasgando o blaiser cinza, sua pele ficava acinzentada, enrugada e ressecada. Não parecia nada humano. Dei mais alguns passos até a porta. E vi um sorriso cheio de dentes enormes e amarelados, prontos para me fazer em pedacinhos.

– Sra. Bolton… – eu disse, controlando a voz, para não gaguejar.

– Seu tempo acabou… – ela sussurrou com o sorriso amarelo. – A morte é o que lhe resta menina! – ela voou para mim, e consegui desviar rapidamente. Suas garras prenderam na parede, e consegui ir para outro lado.

A porta se abriu com um estrondo.

– Nicky! – Ryan estava na porta junto com Leena.

Ouvi Leena sussurrar algo como:

– Eu falei que não demoraria tanto senhor menino-bode!

Menino-bode? Quis rir quando ouvi, mas não era motivo para rir. Uma coisa que outrora tinha sido a minha professora de inglês, estava tentando me matar.

– Ryan! – exclamei indo até a porta correndo, enquanto vi a Sra. Bolton se soltar da parede, e olhar para nós. – Ryan, suas pernas… Suas muletas! O que é aquilo?! – eram muitas perguntas e respostas para um cérebro como o meu.

– Outra hora eu explico! – ele disse pegando uma faca de dentro do bolso do casaco e a arremessou na direção da Sra. Bolton, mas ela desviou por pouco. Por pouco e ela teria uma faca enfiada no ombro.

– Vamos sair daqui! – Leena sugeriu. Uma ótima sugestão para o momento! Queria sair dali o mais rápido possível. Saímos correndo pelos corredores com a Sra. Bolton nos seguindo pelo ar. – Corram!

– Estamos correndo se não percebeu! – gritei para ela.

– Ryan! – Leena chamou por ele. Olhei para trás, ele segurava outro punhal e o jogou com toda a força que tinha na direção da Sra. Bolton.

Olhei para trás, a faca tinha acertado em cheio a testa da Sra. Bolton, ela caiu um pouco longe da gente com um grito, depois, ela explodiu e se tornou um amontoado de areia no chão. Parei de correr e fiquei olhando paralisada para o monte de areia no chão… Mais uma coisa esquisita… nossa.

Leena puxou meu braço, me acordado de meus devaneios e voltamos a correr até a entrada principal do colégio, sentamos juntos nos degraus da escada, ofegantes.

– Ótimo! – soltei, irritada. – O que foi aquilo?!

– Uma fú… – vi Ryan olhar para ela. Leena encolheu os ombros e corrigiu. – Uma benevolente…

– O que é uma benevolente? – perguntei. – Por que aquela coisa queria me matar?!

Nenhum dos dois respondeu.

Encostei a cabeça em um dos degraus acima de mim e olhei para os três, suspirei. Vi Leena olhar para Ryan pelo canto do olho. Ergui uma mão para o céu sentindo as pequenas gotas frias da chuva caírem em minha mão. Olhei para Ryan e para as pernas dele.

– O que aconteceu com as suas pernas?

Ele não respondeu, apenas ergueu uma das barras da calça. Fascinante, mas estranho. As pernas de Ryan eram cobertas por pelos, e no lugar dos pés ele tinha… Cascos! Usava um molde dentro dos tênis para encaixar as patas, patas de alguma coisa. Não soube o que dizer.

–Você… Você é uma espécie de burro? – perguntei assim que a voz voltou a minha garganta. – O…

Leena me olhou.

– Burro?! – Ryan pareceu ofendido. – Eu sou um sátiro… Meio homem, meio bode, Nicole!

– Ah sim… Desculpe. – fiquei meio envergonhada, pelo modo como ele me olhou, o modo como falou. Parecia que tinha ficado terrivelmente ofendido.

– Vamos embora rápido… - disse Leena olhando para os lados como se procurassem algo. - Existem mais…

Pegamos um taxi até o edifício da minha tia, subimos até o apartamento pelas escadas, e ela nos recebeu de um jeito que era intimidador a não entrar na casa. Ryan tinha medo da minha tia, e Leena ficava meio desconfortável quando pisava lá dentro.

– O que aconteceu desta vez? –ela me perguntou assim que sentamos os três no sofá e ela numa cadeira quadrada de tecido bege. –Bateu em alguém, empurrou, fez alguma coisa com alguém?! –a voz ficou seca e seus olhos encaravam toda hora Ryan e Leena.

– Não fui expulsa tia! Credo! –rebati a acusação gratuita. – Eu não fiz nada com a cobra de…

– Claire Ashford! –ela me corrigiu irritada. – Se não fez nada… Por que voltou pra casa?

Vi meus amigos encolherem os ombros.

– S-S-Senhora… –Ryan começou a falar gaguejando. – A mãe da Nicole chegou a comentar alguma coisa com a senhora… S-sobre o pai dela? Encontramos benevolentes na escola e imagino que a senhora saiba do que estou falando… –olhei para ele, depois para a minha tia.

– Minha irmã me disse.

– Minha mãe lhe disse o que? –perguntei ainda irritada.

Minha tia suspirou.

– Você tem os olhos dele… Mas os cabelos da sua mãe

– Tia… – chamei do modo mais gentil que havia conseguido chamá-la. – O que minha mãe te disse?

– Por favor… É importante! – Leena pediu gentilmente.

Olhei para ela, depois voltei a olhar para minha tia.

– Seu pai… – ela começou. – Minha irmã havia me dito algumas coisas antes de morrer, coisas que poderiam acontecer, coisas que poderiam vir atrás de você… – gelei. –Tentei manter você a salvo, tentei manter você longe dessas coisas… Mas… - Ela não terminou. Seus olhos estavam brilhando, sabia que se ela dissesse mais alguma coisa, acabaria chorando. – Ela me disse que quando chegasse o momento certo, era para te levar para um lugar em Long Island… – Ryan se mexeu no sofá.

– A Colina Meio-Sangue… – ele disse.

Olhei para ele com o canto do olho. Minha tia confirmou.

– Meu pai não está morto não é? Meu pai

– Não. –assumiu com um olhar tristonho. – Seu pai… Ele…

Ryan fez um barulho estranho. Eu e Leena olhamos para ele.

– Seu pai esta no Olimpo… – ele disse, como se fosse a coisa mais normal do mundo.

– Está de gozação com a minha cara Ryan?! – quase gritei, olhando para ele com raiva. – Os deuses não existem, o Olimpo não existe!

Trovões fizeram o edifício trepidar.

– Isso não é a coisa mais sensata a se dizer…

Estava confusa, por causa das palavras flutuando, da sra. Bolton, ou benevolente… As pernas de Ryan e o fato de ele ser um sátiro. Meu pai não estava morto, ele só estava no Monte Olimpo… Super normal isso.

– Você é uma semideusa Nicole, você queira ou não. – ela sorriu. – Nunca contei para você por que minha irmã queria que você tivesse uma vida normal e segura.

Uma vida normal, aquilo soou ironicamente nos meus ouvidos, já que nunca havia tido uma vida cem por cento normal. E seria impossível ter uma vida normal.

Respirei fundo.

Minha tia ficou olhando para mim de um jeito terno, ela se levantou e pegou a chave de seu carro e foi até a porta.

– Seu pai é um deus. – Leena disse se levantando.

Olhei para a pulseira, depois para o anel, ele havia parado de arder em meu dedo. Me levantei e fiquei olhando para Ryan. Ele me olhou e tirou os tênis com moldes para encaixar suas patas, depois abaixou as calças, instintivamente virei o rosto com os olhos fechados, depois voltei a olhar para ele. Suas pernas e pés eram iguais ao de um bode. Ele se levantou e foi comigo até a porta.

– Temos que ir… Agora que sabe de tudo, mais coisas virão atrás de você… Aqui não é mais seguro para você.

– Quanto mais cedo partirmos, mais cedo chegaremos… – Leena foi até a porta com minha tia.

– Você sabia de tudo isso?

– Você não é a única Nicole… Nunca conheci meu pai também, você não se lembra? Mas há dois anos descobri que meu pai era o deus dos ladrões, dos viajantes e mensageiro dos deuses… Hermes.

Leena riu.

– Somos iguais… – ela veio até mim e tocou meu ombro, com um sorriso que me deixava tranquila. Era bom saber que não era a única, existia mais alguém igual a mim.

– Hermes… – repeti o nome do deus com leve sorriso. – Aonde vamos?

– Algum lugar…

Estou enlouquecendo, só pode.

Subi ao meu quarto rapidamente e despejei tudo que estava dentro da minha mochila no chão, peguei umas roupas, parei no espelho do armário, e vi uma foto minha com a minha mãe presa no espelho, meus olhos de encheram de lágrimas.

Imbecil! Não chore! Lágrimas inconvenientes… Deduzi. Já que não havia motivos para chorar agora. Sempre quis conhecer meu pai, sempre quis saber se ele estava realmente morto, e agora que sabia que ele estava vivo, não me sentia totalmente feliz. Eu sempre quis vê-lo, poder tocá-lo, mas nada disso tinha mudado, ainda não poderia vê-lo ou muito menos tocá-lo.



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Notas finais do capítulo

Vale reviews?