Forever Night escrita por Evelin


Capítulo 9
Cartas, Noticias e um breve ataque de pânico


Notas iniciais do capítulo

escrita ao som de Natasha Bedingfield - The Scientist



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 Cartas, noticias e um breve ataque de pânico

 Mais um dia nublado...Novamente as egoístas nuvens mantiveram o sol só para si. Fiquei a maior parte da manhã sentada na janela do quarto em que me instalei. Não era um quarto muito grande, mas extremamente confortável comparado a meu apartamento medíocre. Como se conforto importasse agora...

 Meus dedos distraídos acariciavam o colar que recuperará. O pingente era uma representação do brasão de minha família (um punhal de prata e uma rosa de rubi se cruzando e ao fundo havia a lua crescente, tudo feito em pedras preciosas), fiquei horas o encarando sem dar-lhe atenção. Toda minha mente estava voltada para duas cartas em cima de uma mesinha não muito longe de mim

 Estava com medo. Medo do que elas podiam conter, e o que me fariam. Se fossem noticias ruins? Informando a perda de alguém? Tive medo até das boas noticias, receosa do efeito que me fariam. Eu ficaria feliz? Pouco provável, sentir inveja era a reação mais racional no momento.

  Por conta destes medos fiquei a manhã toda naquela janela estúpida me corroendo em dilemas...

  Edward estava em casa, disse-me que não teria aula naquele dia, ele havia me deixado sozinha a fim de me dar privacidade. Às vezes ou o ouvia na escada, mas logo em seguida ele as descia. Devia estar curioso para saber se eu já lera as cartas, ou o porquê de estar enclausurada no quarto. Ou simplesmente estava caminhando pela casa, sem nem ao menos se preocupar comigo...A terceira opção era a mais provável.

 O fato era que eu não poderia ficar naquela janela toda a minha eternidade, fugindo daquelas cartas, daquele passado que vinha até mim.

  A escolha que tinha que fazer era qual delas ler primeiro. Louis ou Marjorie? A carta de um amigo, que há anos não via por conta de um desentendimento e que abandonara por não compartilhar de meus pensamentos, ou a carta de uma garota ambiciosa e peculiar que havia conhecido em um bar e desde então me embrenhado junto com ela em vários episódios desastrosos e saudosos?

 Por pior que fosse as noticias que Marjorie (ou Joly como costumava chamar), me trouxesse, com certeza não seriam tão ruins quanto às de Louis, as quais eu sabia que não poderiam ser boas.

  Com um pesado suspiro eu me levantei da janela e fui me sentar à frente da mesinha onde as cartas repousavam desafiadoramente calmas. Eu as encarei por alguns instantes preparando-me mentalmente para o que me diriam.

  Abri a carta de Louis (comece pela pior para que a boa amenize a dor ou o pânico), e li naquela letra elegante e sedutora o que meu amigo dizia:

 

Olá mabelle

Fico a imaginar as reações que deve estar tendo a esta minha carta inesperada. Aposto minha herança que demorou algum tempo para reunir forças e controle para ler, e que agora deve estar torcendo o nariz para esta estupidez que escrevi – ele me conhecia como ninguém mesmo – Mas começo desde já a agradecer por estar lendo esta carta, sei que não há razão alguma para que leia, depois do que nos aconteceu – ele se culpava demais, quando a culpa era minha – não me perturbaria se você a queimasse agora...

Mas deixemos de lado minhas desculpas.

Preciso confessar que fiquei surpreso ao saber que tinha ido para América, você amava tanto Paris...Mas espero que tenha sido o melhor para você, ouço tantas historias sobre este novo continente, que é impossível negar minha curiosidade...

Mas não estou aqui para discutir suas mudanças...Estou aqui para lhe deixar a par de tudo, pois é de seu direito.

Depois de tantos anos finalmente consegui encontrar um de seus endereços fixos, rezo para que esteja certo, e rezo ainda mais para que esteja ai para receber esta carta, afinal tenho muito que lhe falar.

Muita coisa mudou desde que se fora, e sinto dizer que em grande maioria não foi muito bom.A mansão continua a mesma: enorme, luxuosa, e confortável. (ainda é possível ouvir os uivos dos lobos na floresta, embora o som tenha ficado muito mais alto), mas como previ com sua ausência Brunot se afastou mais de nós. Ele quase não sai mais do escritório, e não viaja mais com Armand...Estou preocupado com ele, e sei que também ficara, afinal ele é como um irmão para você.  Armand, com o distanciamento de Brunot, tem ficado mais desinibido e ambicioso.Tem passado muito tempo nos porões da mansão, disse-me que estava fazendo experimentos. Tem preferido muita a minha companhia.

Acredite ou não estou ganhando respeito por aqui. Tenho certo comando na guarda, sem falar que com sua saída eu tenho sido o principal responsável pela localização dos caçadores. Armand me confidenciou que é de seu desejo que eu o substituía, mas não me animei muito com a noticia, afinal como sabemos, Armand não vai morrer tão cedo.

Não sei se esta noticia a irritará, mas creio que não. Armand e Brunot encontraram outra Mabelle para si. Chama-se Melissa e é um monstrinho {pior que você} é tão ambiciosa quanto Armand, e sua devoção pelos Leroy chega a ser assustadora. Com apenas doze anos é muito habilidosa; não como nós com sua idade obviamente; mas tem habilidades mentais dignas de atenção, sem falar que é muito ágil e competente em campo.  Nem preciso dizer que Armand a adora. Lembra dos presentes e da atenção exagerada? É a mesma coisa. Brunot também se afeiçoou com a pequena, mas nem de longe é possível comparar ao que sentia por você. Nada se compara ao afeto que tinha por ti. Não confio muito naquela criaturinha, afinal embaixo daquele sorriso angelical é possível vê-la dissimulando algo. Mas tenho que admitir que não é uma companhia tão ruim, é até agradável e divertida, e sabe ser amorosa.

Não sei se já soube, mas os caçadores enfim estão por ser extintos. Não resta mais do que dois aqui na Europa, e fomos informados que há mais dois na América. Estamos revirando as cidades atrás dos dois últimos, tamanha é nossa euforia. Imagine Evelin, um mundo em que podemos ser livres finalmente a nosso alcance! Chega de fugas, de sombras e especialmente chega de caçadas, chega de sangue!

É um sonho que vira realidade. É o seu sonho!

Sinto tanto a sua falta minha Evelin, você não faz idéia. Não ouso pedir para que venha me ver, e nem pedir para que me deixe encontra-la. Talvez eu mereça mais um pouco de sua ausência por conta de meu orgulho. Mas ouso pedir para que me responda. A mera visão de sua letra inclinada e apressada porem bela, já me será de uma alegria imensa.

Por favor, me responda, converse comigo.Diga-me que seus olhos de esmeralda ainda brilham maliciosamente como antes, que ainda é a mesma garota teimosa de que me lembro. Diga-me que minha amiga ainda esta viva.

De um teimoso arrependido, para uma dissimulada distante.

 Os:Se minhas contas  estão certas você logo amadurecerá....

 

Fiquei a fitar aquela carta por alguns instantes antes de rele-la. Dei uma atenção especial para vários fatores...Primeiro fiquei levemente receosa com essa sua curiosidade na América, pelo que me lembrava ele detestava o novo continente. Estaria ele tentando a atravessar o oceano para satisfazer sua curiosidade, se é que era isso o que sentia em relação à América? Mas por fim achei que fosse apenas paranóia minha e parti para informações mais importantes.

Brunot. Meu guardião, meu querido irmão estava infeliz, por minha causa? Louis havia deixado bem claro que minha ausência não lhe fizera bem. Senti ao imagina-lo enclausurado naquele escritório, e me espantei por saber que não mais viajava, e pelo visto não mais caçava. Pelo menos não com o antigo empenho.

Odiei-me por provocar isto a ele.Mas nunca ousei achar que ele fosse sentir tamanha falta de mim. Fiquei surpresa e pesarosa...Mas o que eu poderia fazer agora? Nada.

Armand. Fiquei preocupada com ele, mas não pelos mesmos motivos dos de Brunot. Fiquei preocupada com o que poderia fazer com tanta liberdade, afinal Brunot reprimia Armand sempre que necessário, mas pelo visto já não o fazia com a mesma frequencia. Esses experimentos...Não poderiam ser coisas de bom tom, mas creio que se fossem alguma ameaça preocupante Brunot interferiria.

E a proximidade que tinha com Louis não me agradou em nada, temi pelo que ele podia fazer com meu amigo. Armand era muito persuasivo, tinha medo de como podia influencia-lo. Sabia do que era capaz, eu era uma prova viva do como ele podia afetar alguém. Mas novamente eu estava de mãos atadas, não poderia voar até Paris para ajudar meu amigo. Teria que torcer que Armand não o tornasse igual a si.

E a nova Mabelle, não me irritou, mas me deixou intensamente curiosa e levemente surpresa. Nunca parei para pensar se eles encontrariam outra protegida, mas pensando bem agora, era o mais provável que acontecesse.  Fiquei a imaginar como seria...Pelo que Louis descrevera, deveria ser uma linda menina com face de anjo, mas com uma mente calculistas e ambiciosa como Armand. Ele deveria estar amando a nova discípula que, ao contrario de mim, deveria ser muito mais obediente e receptiva a seus mimos.

O mais difícil de ler nesta carta foi o ultimo parágrafo. Sua confissão, de que sentia saudades...E que de fato eu nem imaginava o quanto. “Por favor, me responda, converse comigo” como eu queria poder fazer isso...

Diga-me que seus olhos de esmeralda ainda brilham...”.

“... que ainda é a mesma garota teimosa de que me lembro”.

“Diga-me que minha amiga ainda esta viva”.

Era como se soubesse o que estava acontecendo a mim. Como se soubesse que eu estava mudando. Estaria ele ciente de que sua amiga não esta mais “viva”? Não! É obvio que não! Essa carta deveria ter chegado a uns quatro dias antes daquela noite trágica, antes de ser atacada. Como ele poderia saber?

 Aquilo, aquelas palavras naquela carta, não passavam de receios não mais do que esperados depois de tantos anos sem contato. Afinal, após tanto tempo me ver, era normal que estivesse receoso que sua amiga tivesse mudado, que tudo o que mais gostava em mim tivesse desaparecido...E obviamente temia por minha segurança e saúde. Louis, depois de todos esses anos, ainda alimentava a mesma preocupação por mim de que me lembrava.

 Abri um sorriso inconsciente ao lembrar-me dele. Daqueles olhos azuis...

 Bem, para minha sorte, a carta de Louis não fora assim tão ruim. Havia sim noticias desagradáveis como o estado de ânimo de Brunot, e o novo e mais satisfeito impossível, Armand.Mas no todo fiquei aliviada de ter noticias, daqueles que mais se aproximavam de uma “família”, depois de tantos anos.

Foi com um ânimo melhor que peguei a carta de Marjorie. Afinal se a carta de Louis não fora assim tão ruim, a dela deveria ser ainda melhor. Esta carta, segundo os selos e tudo o mais, chegou dois dias seguinte a meu ataque:

 Acabou!!

 Soube hoje à tarde e precisava lhe informar o mais cedo possível!

A guerra enfim teve seu fim!

Um grupo da guarda dos Leroy tinha vindo para a América em busca dos últimos caçadores que residiam aqui, eles haviam descoberto o local onde estavam, uma cidade aos arredores de Toronto (não imagina o quão assustada fiquei ao saber disto, afinal eles moravam praticamente ao seu lado!)

Porem quando eles chegaram ao local o que encontraram fora totalmente o contrario. A casa estava deserta e parcialmente deserta, e não muito longe dela eles encontraram os corpos dos caçadores, ao lado de uma fogueira já em cinzas. Disseram que havia sangue para todo o lado...

Ainda não sabem quem estava na fogueira, se sobreviveu ou não... Mas é certo que quem os atacou fora um vampiro, já que os corpos denunciam um ataque de um deles.

Imagina Evelin, um vampiro pondo um fim a essa guerra!

Não sei se rio ou fico espantada, mas a verdade é que serei eternamente grata a quem quer que seja, seja lá se seu motivo por trás do ataque fora nobre ou não. Afinal ele devolveu a luz a nossa vida envolta de sombras.

Chega de fugas, mudanças, medo, precauções! VAMOS VIVER ! Viver Evelin!

 Por favor, responda esta carta logo, e se possível venha me ver, estou preocupada afinal você morava tão próximos desses caçadores. Apareça, de sinal de vida! Apenas para me confirmar que não era você naquela fogueira...Responda logo!

 E saia dessas sombras Evelin de uma vez, por que agora vamos enfim viver!

 Marjorie

 

 Fiquei em estado de choque ao ler aquilo, ao ver minha tragédia ser relatada sem muitos detalhes naquela carta. A armés estivera ali...Tão próxima de mim! Pelo visto não sabiam que era eu que estivera naquela fogueira. O alivio que me invadiu foi gratificante, mas a preocupação em seguida o dissolveu por completo.

Marjorie queria me ver para confirmar sua teoria de que eu não estava envolvida naquele incidente, o problema era que no momento eu não podia ter contato com ela, e não fazia idéia de quando poderia ter. Talvez nunca.

O certo agora era me afastar de todos aqueles que conhecia, que possuíam um coração que bombeava um liquido suculento por todo seu corpo, mas se o fizesse, especialmente no caso de Marjorie, logo suspeitariam de algo e viriam investigar. E o que me garantia de que nunca descobririam no que eu havia me tornado? Nada, a qualquer momento alguém poderia descobrir.

E o que fariam quando soubessem? Nada agradável imaginei. Principalmente Armand, ele era quem mais me preocupava, sua ambição não tinha tamanho nem limites, ele era imprevisível e agora com sua nova discípula nada bom podia vir dele.

Seria mais conveniente para mim, desaparecer, dada como morta ou coisa parecida, mas pelo visto eu não poderia fazer isto.

Frustrada e exausta deitei minha cabeça a mesa, as mãos agarradas aos cantos fazendo o possível para não estragar o móvel.

Foi então que alguém, correção, Edward, bateu em minha porta. Eu não me movi, somente minha mão esquerda que agarrou a carta de Louis e a puxou para mais perto.

-         Entre – foi mais um resmungo dado a minha situação mental que não era a das melhores

-         Ainda esta viva? – perguntou-me descontraído

-         Viva? Tenho minhas duvidas – murmurei sem erguer o rosto para olha-lo, apenas o ouvi se sentar a cadeira a frente.

-         Dramática – murmurou

-         Apenas realista – disse-lhe enfim erguendo o rosto pra vislumbrar sua bela face, seus olhos dourados me fitavam despreocupados, mas de algum modo misteriosos.

-         Então...Você esta bem? – seus olhos dispararam para as cartas em meu poder e se voltaram rapidamente para mim

-         Como posso estar bem se os problemas vem até mim como uma enchente?

Ele inclinou a cabeça para um lado, confuso. Eu apenas suspirei e lhe joguei a carta de Marjorie, afinal no momento não tinha coragens de mostrar a de Louis.

Edward a leu com atenção, e quando a terminou sua reação não foi esperada por mim.

-         Qual o problema? – perguntou-me

-         Qual o problema? – repeti incrédula – ela que me ver Edward! Não posso aparecer na frente dela desta maneira, neste corpo, alem do fato de que posso, e vou, ataca-la! E se não aparecer ela então imaginara que foi eu que fui atacada pelos caçadores e pelo vampiro...De qualquer modo ela saberá no fim o que me ocorreu.

Terminei meu desabafo sufocado e voltei a deitar minha cabeça a mesa, com uma certa violência.

-         Então lhe responda a carta, diga-lhe que não pode vê-la, mas que se encontra bem – sugeriu.

-         É o que farei, mas não compreende. Marjorie é esperta por demais, cedo ou tarde suspeitara do modo como estou lhe evitando. Afinal não sei quando poderei ficar a frente de alguém cujo sangue escorre por seu corpo sem enlouquecer...Se é que um dia poderei... Ela ira investigar...

-         Evelin! – ele segurou minha mão, o que me fez erguer o rosto de imediato, seu rosto estava ansioso seus olhos vivos – não deve se preocupar com os problemas futuros. Se foque no presente, esta bem. Por hora responda a carta, depois veremos que fazer.

Por um minuto eu me perdi naquela imensidão dourada, na firmeza e na segurança que me passavam.

-         Esta bem – disse desviando olhar.

Ele se endireitou e olhou pela janela, para o dia sem sol...Depois me perguntou.

-         E a outra carta? De Louis certo?

-         Ah...É...Louis – eu me atrapalhei nas palavras pela pergunta inesperada, por um gesto de reflexo apertaram minhas mãos o papel.

-         O que dizia? Deve ter boas noticias de seu velho amigo – ele voltou sua atenção a mim que ainda tinha a boca ligeiramente aberta pela falta de resposta.

Minha consciência já impacienta resolveu se manifestar em meus ouvidos “Ora que ridículo, mulher, reaja!” E eu reagi.

-         Noticias, algumas bem interessantes outras...Hãm...Inesperadas – nem preciso dizer que Edward ouviu em minha voz, minhas palavras e em meu rosto toda a confusão que se passava em minha mente.

Ele não disse nada apenas ergueu uma sobrancelha que muito diziam...

-         Digamos que eu não esperava por nada que li neste papel – bufei – É so eu me afastar e tudo desanda.

Ele sorriu para mim

-         Não sorria, não a motivos de sorrisos para o que meu amigo me disse – impliquei com ele.

-         Perdão – disse se recompondo – O que seu amigo disse afinal para que não sorria?

Eu me endireitei, recuando de Edward, com a carta bem segura em minhas mãos. Não estava tão inclinada a lhe falar sobre esta carta...Havia informações nela que ele não entenderia, e que seria melhor que continuasse a não saber. E obviamente eu não tinha motivação alguma para dizer...

-         Li alguns dos livros que me dera – disse casualmente

-         E o que achou? – perguntei

-         Como qualquer pessoa que lê aquilo pela primeira vez...Confesso que fiquei um tanto impressionado e perturbado.

-         Nada mais que o esperado – disse com sorriso malicioso.

-         Sua família é constantemente citada. Os Liadan – disse e então eu percebi aonde queria chegar.

-         Como já lhe disse antes, descendo de uma antiga família, uma das mais antigas, é normal que sejamos citados. – disse num tom levemente frio

-         Deve conhecer historias fascinantes de sua família – disse

Quanto ao fascinante eu não sabia, mas sim conhecia dezenas de historias que pintavam meus pesadelos...

-         Aceite minha sugestão, não queira saber sobre minha família, esta bem? – não queria ser rude, mas não consegui evitar, talvez fosse o melhor para afasta-lo dos Liadan.

-         Porque você não possui o nome Liadan? – ele não desiste nunca

-         Eu possuía, mas tive que mudar, ou melhor, minha mãe mudou a fim de me proteger. Grings é como se fosse um sinônimo de Liadan em nossa escrita. – acho que falei demais.

-         Sua escrita?

-         Pois é, temos uma escrita e idioma próprio. – disse encolhendo os ombros

-         Agora estou curioso, fale algo em...?

-         Esperanto – completei sua frase – e não, não falarei.

-         Porque é proibido? – perguntou-me

O velho truque de provocar para que eu dê o que quer...Eu não cairia nessa.

-         Desista, não direi – eu cruzei os braços, talvez para dar ênfase a minhas palavras.

-         Sabe que não desisto – disse-me com um sorriso presunçoso

Pior que não desistiria...

-         Vi es unu obstina agaci! – murmurei carrancuda.

-         O que disse?

-         Você é um teimoso irritante! – traduzi com clareza.

-         Digo o mesmo – retorquiu descontraído.

Ali notei o que ele queria fazer. Qual era sua intenção primaria com toda aquela conversa. Era apenas para me distrair de meus problemas, uma tentativa de me desestressar...Confesso que teve seu sucesso.

-         Obrigado – disse supondo que ele já tinha notado através de meus pensamentos que eu percebia o que tentara fazer.

-         Pelo que? Por essa tentativa patética de lhe distrair? – disse com um sorriso torto

-         É

Ele me encarou por um momento, e notei novamente que estava procurando através de meus olhos algo...

-         Que foi?

-         Não vai mesmo me dizer o que a carta de Louis dizia não é? – perguntou-me serio, sem desviar os olhos.

Eu não soube o que responder, uma parte de mim sentia-se culpada por não dizer, mas a outra não tinha forças para falar, para explicar sobre o meu passado, que aquela carta reavivava. Tanta era minha indecisão que mantinha a carta de Louis bem presa a minha mão esquerda que não a largara um so minuto.Mas talvez fosse melhor dizer...Não tudo, so o suficiente para que ele me ajudasse.

-         Louis me contou como vão os Leroy...- comecei hesitante, e continuei meu relato no mesmo tom – disse que Brunot...Tem estado deprimido, supõe que é falta minha...Armand esta mais desinibido e ambicioso, tem requerido muito a presença de Louis. Não estou muito segura se a presença freqüente de Armand seja saudável para Louis...E também tem Melissa, aparentemente é outra garotinha que eles “adotaram”. Louis disse que é uma copia de Armand.

Calei-me ao pressentir a onda de pânico ameaçar a voltar...Em vez de falar fiquei a olhar pela janela, a encarar as nuvens e me concentrar em tudo menos em problemas.

A voz de Edward me chamou ao presente

-         Pelo visto este Armand é um problema para você – disse mais para si do que para mim.

-         Não é um problema...É que...Digamos que não se pode confiar nele. – suspirei

Edward percebeu o quão difícil era para eu falar deles.

-         Não precisa me dizer se não quiser. – disse apressado – vejo que isto ainda é de algum modo difícil para você.

Eu baixei os olhos incapaz de falar. Ele se levantou e se dirigiu a porta, mas antes de sair disse-me.

-         Responda as cartas – não era um pedido e sim uma ordem.

 

Senti-me tão mal por não lhe dizer tudo. Mas ainda era difícil falar sobre eles...Quem sabe um dia eu não me sentaria com Edward e lhe revelaria sobre toda a minha vida, sem cortes e sem censuras. Eu queria um dia ser forte para fazer isto, e talvez um dia fosse.

Deixando o pânico de lado, com um certo esforço, tratei de obedecer Edward. Ele devia ter razão com relação às cartas, o melhor seria responde-las de uma vez e no futuro resolver o que fazer.

Foi com certa lentidão e cautela que peguei a pena (eu ainda escrevia com pena e tinta, uma mania que havia adquirido de minha mãe e nunca mais perdido) e a posicionei pronta para matar as saudades de meus amores, mesmo que fosse me frases vagas e dissimuladas...

 

Era hora de me comunicar!

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Como sempre comentarios, duvidas, sugestões, criticas...TUDO é bem vindo ^^

Espero que tenham gostado deste capitulo



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