Forever Night escrita por Evelin


Capítulo 2
Lembranças


Notas iniciais do capítulo

**Escrito ao som de Sarah McLachlan - Fear**



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Lembranças

 sensação de estar voando parou abruptamente, e o calor me envolveu. Uma luz forte e amarelada golpeava meus olhos desconfortavelmente, deixando tudo fora de foco, a ponto de me forçar a fechar os olhos. Percebi vagamente que o anjo me deitou em algo macio, como nuvens. Mas mesmo naquele lugar, que deveria ser quente e acolhedor, a dor não se aplacava. Apenas me consumia a cada segundo mais e mais, ganhando força sobre meu corpo inerte.

Entre meus baixos gemidos de dor eu ouvia algo se mover ao meu lado, às vezes se afastava, outras vezes me tocava a testa num toque gélido que provocava dor pelo choque da temperatura.

Às vezes murmurava numa voz tão suave que a meus ouvidos era música, embora não houvesse um ritmo. De vez em quando a melodia era dirigida a mim, em frases de consolo e esperança.

-         Não se preocupe, ira passar – eu podia ouvir a sua preocupação em sua voz.

Irá passar? Como uma dor tão imensurável como esta podia acabar? Não havia fim, pois ela se alimentava de meu corpo, de minha vida, que igualmente a dor, não parecia ter fim.

Eu so queria que acabasse. Um único golpe! Era tudo que eu pedia, mas ninguém parecia disposto a responder minhas suplicas.

Às vezes meu corpo tremia violentamente, fazendo-me pular do lugar onde o anjo havia me depositado. E houve uma hora em que eu não pude conter meus gritos de dor, pois era como se meus ossos estivessem sendo dobrados em posições horrendas, torcidos, e quebrados. E os tremores so intensificaram.

Então algo gélido tocou minha mão, a segurou tão fortemente, mas não de modo doloroso. Ousei abrir meus olhos apenas alguns centímetros que pálpebras permitiam, e so o que vislumbrei foi dois olhos dourados, me fitando profundamente, estavam preocupados e ao mesmo tempo encorajadores. Mas a luz em volta dele era tão forte que tive que fechar meus olhos.

-         O que esta havendo com ela, Carlisle? – soou uma outra voz, era preocupada também, não tanto quanto a do meu anjo.

-         Não faço idéia, eu nunca vi alguém reagir desta maneira ao veneno – respondeu o anjo.

Então eu não ouvi mais nada, pois a dor se intensificou de um modo inesperado. De repente eu não sentia mais meu corpo, meus braços pernas, nada, so havia a conhecida dor no lugar.

Mas o que, mas me assustou foi o som do meu coração. Era como ouvir as assas de um beija-flor batendo, o que era estranho, pois meu coração era sempre tão silencioso a ponto de não ouvi-lo às vezes. Senti cada batida do meu coração como se fosse um tambor em meu interior, enquanto a dor comprimia meus pulmões, fazendo-me inspirar profundamente varias vezes contra a sensação desagradável da ausência de ar.

Então um pensamento passou por minha mente caótica. “Sem ar sem vida”, talvez estivesse em fim acabando, passando como dissera meu anjo. Lutei contra o desejo de inspirar mais ar, deixando que a dor se livrasse do que restara de oxigênio em meu corpo. Mas passado um tempo imensurável, horrorizada, tomei ciência de que a falta de ar nada significava, apenas mais uma sensação desagradável para ser somada a tantas outras. Resignada puxei o ar, trazendo um alivio quase insignificante, que cessara a sensação desagradável.

 

Talvez não tivesse fim, talvez seres como eu merecessem isso.Esta era nossa condenação por quebrar as leis da natureza. Esta era nossa sina, sofrer para sempre. Queimar eternamente...

“Não! Não é isto que merecemos!” Disse meu subconsciente numa voz ríspida e indignada “o que fizemos para merecer tal fim? E aqueles que nos perseguiram? Não merecem o mesmo, so porque são... normais? Eles não são melhores que nos!”.

Melhores? Talvez devessem ser...E eu merecia este lugar, afinal eu não fora o exemplo de boa moça. Eu não fui exemplo de nada!

Eu havia pecado em demasia, e somada a minha condição de feiticeira, este era o único lugar que eu deveria estar.

Uma eternidade de dor...Temi por isso.

-         Como ela esta Edward? – perguntou o anjo.

Minha mente ficou em alerta. Como eu estava? Acho que não havia uma palavra adequada para expressar minha condição.

-         No mesmo estado – disse a outra voz, desta vez já não estava preocupada, somente séria.

O tempo passou...E a dor em momento algum amenizou. Meu coração continuava no mesmo ritmo febril, e eu voltei a suplica pelo golpe de misericórdia.

Mas então, imagens emergiram de minha mente, imagens desconexas, mas indescritíveis. Lembranças de um passado saudoso e adorado. De pessoas queridas, únicas, e inexplicavelmente importantes.

O som de risos ao longe e o barulho do vento tomou-me, de tal modo que eu esquecera por uma fração de segundo da maior parte da dor. Como se minhas lembranças fosse um tipo de anestésico, minha mente foi invadida por longas lembranças prazerosas

Não sei quanto tempo fiquei relembrando de minha vida, muito talvez. As lembranças passavam de uma para outra sem um minuto de interrupção, às vezes algumas se repetiam, e quando isto acontecia o efeito anestésico que a lembrança provocava a dor não era tão intenso como fora a anterior. Uma parte de minha mente sabia que este efeito que as lembranças tinham em algum momento, iria acabar, pois eu não tive uma vida tão longa a ponto de ter lembranças para uma eternidade. E quanto mais as lembranças fossem sendo repetidas, mais seu efeito seria reduzido.

Então a lembrança mais preciosa que eu guardava se revelou diante de meus olhos, tão clara e nítida como se estivesse acontecendo de fato.

 Eu estava em um rochedo familiar, sentada na grama rasteira, com dezenas de flores silvestres ao meu redor, ouvindo o barulho das ondas do mar lá embaixo. Ao meu lado havia um jovem, alto e forte de cabelos negros, ele encarava o por do sol com aqueles olhos azuis celeste. Então ele se virou para mim, no começo me olhou sério, mas depois seu rosto aristocrático se tornou amável num meio sorriso.

-         Nem sempre tudo termina da maneira mais razoável possível Ely – eu amava aquele apelido que ele me dera – ainda mais para aqueles como nós. Somos naturalmente alvo do inexplicável e absurdo – seu sorriso se intensificou – Mas nem o inexplicável nem o absurdo podem nos parar.

-         Louis...- eu estava pronta para interromper seu discurso, mas ele não me deixou.

Ele se curvou para mim, me fitando profundamente, eu não gostava quando ele fazia isso era como se ele estivesse invadindo minha mente, me decifrando. Mas eu não conseguia desviar meus olhos dos dele

-         Prometa, que mesmo se tudo der errado, que nada mais pareça certo, que suas esperanças se esvaiam, você vai seguir em frente.

-         Onde arranjarei forças para isso? – murmurei.

Ele sorriu brincalhão.

-         Você tem mais força que qualquer outro.

-         Como pode saber? – perguntei cética.

-         Eu não sei – disse displicente

Deixei escapar um riso que foi imitado por ele.

-         Às vezes não há pra onde seguir - comentei casualmente.

-         Sempre há pra onde ir, Ely. So não podemos ficar parados, sem reagir. Nem que seja para correr da dor, devemos seguir em frente.

Eu desviei os olhos dos dele, para encarar o por do sol.

-         Promete que vai continuar seguindo do jeito que só você faz – eu voltei a encara-lo.

-         Só se você prometer estar aqui, para sempre. Sempre a me guiar nos momentos em que as forças me faltarem

Ele me encarou pensativo, avaliando minhas palavras, minha proposta.

-         Para sempre, enquanto eu durar – disse por fim.

Eu abri um sorriso brincalhão, mas ele exigiu a minha promessa.

-         E você promete continuar sem nunca parar? – perguntou

-         Para frente e além!– disse com uma animação exagerada.

Ele estendeu a mão e eu a apertei com o maximo de força que pude, o que não era muito pois eu era fraca em comparação a ele.

Então ele me puxou num abraço sufocante e bagunçou meu cabelo com a mão livre, arrancando protesto meus.

A imagem se dissolveu me devolvendo a escuridão e a dor. Notei que a dor estava mais fraca, ainda alucinante, porem mais fraca.

Meu coração também estava diferente, ainda rápido como o de um beija-flor, mas era como se batesse de um modo inverso, como se não estivesse bombeando e sim sugando algo.

De repente eu sentia dor desaparecendo nas extremidades de meu corpo, e aos poucos eu pude sentir novamente as pontas dos meus dedos do pé.

Então a esperança de que em algum momento esta dor partiria pairou no meu horizonte, me deixando levemente eufórica.

Passei a contar o tempo, cada minuto, cada segundo, até mesmo os milésimos ansiosa pelo fim.

A dor recuava em direção a meu coração que a puxava para si. E a cada minuto tomava consciência de uma parte de meu corpo.Meus pés, mãos, pernas, braços...Tudo surgia vagarosamente.

Depois de três horas, a dor se localizava apenas em volta de meu coração que começara a pulsar tão rápido como se não tivesse pausa entre uma batida e outra. Meu corpo voltou a tremer, não tão violentamente como antes, enquanto a dor era sugada pelo meu coração...

E numa ultima batida, tão forte de me tirou o ar, a dor se foi...E so havia frio.

“Siga em frente!” Soou a voz de Louis ao longe..

Foi uma sensação estranha como se eu estivesse caindo no vazio, e então...Havia calor, sons, cheiros...

  

Eu abri os olhos abruptamente, respirando pesadamente. Eu mexi meus dedos, e eles obedeceram meus comandos sem hesitar. Meus olhos percorreram pelo que me pareceu o teto da sala, era branco e simples, mas eu via cada detalhe dele. Pequenas manchas, imperfeições, tudo com uma clareza assustadora. Eu tinha total certeza que eu não era capaz disto antes.

Eu me movi me sentando, e me assustei o quão rápido eu me movimentei, mas não pude avaliar isto do modo que eu queria, pois um som muito próximo chamou minha atenção.

Dois homens me observavam a uma pequena distancia. Aquele que me parecia mais velho, porem ainda jovem, me olhava de modo amigável, e paciente. Já o outro mais jovem, me encarava cauteloso. Ambos eram lindos e possuíam os traços perfeitos, como uma obra de um mestre de arte. O mais velho era alto, loiro, igual a um anjo...O mais jovem, igualmente lindo, tinha os cabelos numa cor de bronze. Notei também que a cor de seus olhos era um dourado, idêntico.

 - Olá – disse o mais velho, me dando as boas vindas – que bom que finalmente acordou.


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Notas finais do capítulo

Espero que estejam gostando...comentarios e sugestões são bem vindos

O 3° capitulo sairá ainda hoje



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