Forever Night escrita por Evelin


Capítulo 1
Anjos


Notas iniciais do capítulo

Capitulo onde Evelin é transformada



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 Anjos

 

Corri por um longo beco sem olhar pra trás, olhar pra trás não me ajudaria em nada.  Corri o mais rápido que minhas pernas agüentavam. Já estava fraca...Sabia que logo cederia a exaustão, fato que não escapava de meu caçador.

Me esgueirei pelos becos, e pelas ruas menos movimentadas pela noite, pois apesar de estar em fuga eu ainda tinha que zelar pelo sigilo, se é que era possível.

Mas eis que minha corrida contra a morte viu seu fim, para minha infelicidade havia entrado em uma rua sem saída, e não havia tempo para voltar, pois quando me virei ele já estava lá, a minha espera, pronto para atacar.

De tantas maneiras para se terminar uma vida, aquela era a que menos imaginei. Para alguém como eu, morrer como uma guerreira, uma heroína me parecia o mais apropriado, ou pelo menos mais agradável. Mas soltar meu ultimo suspiro, sendo uma caça, era humilhante.

Eu não terminaria assim...Não, uma feiticeira como eu, morreria com bravura, e jamais se renderia. Mas como ser brava quando as forças já não lhe restavam?

Meu caçador deu um passo em minha direção, o ar impregnado com sua malicia, sua presunção.

-         Pelo visto, hoje serei o herói da casa – murmurou naquela voz insuportável.

-         Para vocês caçadores, ser Herói é ser assassino? – perguntei num tom frio.

Ele deu mais um passo em minha direção, e eu dei outro aumentando nossa distancia. 

-         Matar aberrações como você não é assassinato, e sim um favor a raça humana – respondeu com repugnância.

Não pude deixar de soltar um rosnado ao som daquela palavra. “Aberração”! Eu odiava que se referissem assim de mim.

 Porem ele achou graça.

-         Mas para sua sorte, você não vai morrer, não agora. – murmurou suavemente.

-         Não – murmurei apavorada. Se eu não ia morrer, so podia ser porque...

-         Vou leva-la como informante – disse com um prazer repulsivo.

“Informante”, em outras palavras me levaria, para me torturar, para que eu falasse o nome de outros. Para que eu traísse a outros. Assim como fez com aquele que me delatou.

Eu não agüentaria isso...Morrer seria melhor do que aquilo.

Eu dei vários passos pra trás, até estar encostada contra a parede. Meus olhos apavorados e raivosos...

-         Bem, não vamos enrolar ainda mais não? – seus olhos negros brilhavam de prazer.

Eu rosnei ameaçadoramente. Curvei-me, em defesa, e meus olhos varreram o local atrás de algo, e pousaram sobre varias latas de lixo. Elas se ergueram a meu desejo e voaram em sua direção. Elas se chocaram violentamente contra ele, produzindo um barulho horrendo. Ele caiu no chão, desorientado.

Eu me adiantei, erguendo seu corpo e o prensando contra a parede, o máximo que minhas forças permitiam, querendo quebrar seus ossos. Ele abriu os olhos atordoados para mim. Havia medo neles...Eu me adiantei, minha mão indo em direção a seu pescoço. Seria rápido e silencioso.

Porem um barulho de estouro me tirou a atenção. Ao me virar, vi que um homem estava no fim da rua, uma mão erguida para cima segurando uma arma, havia vestígios de fumaça na boca do revolver. Ele apontou a arma para mim.

O que ouve em seguida, foi rápido demais.

Eu torci o pescoço do homem que eu havia encurralado na parede e me virei o mais rápido que pude, porem ouve outro disparo, e uma dor latejante no meu ombro.

Eu me agarrei a parede, mas minhas forças, já tão escassas se esvaíram, e eu escorreguei em direção ao chão. Mas não senti impacto com o frio chão de pedra, pois cai na inconsciência antes disso.

 

 

Eu acordei, não, eu foi despertada por algo gélido em meu rosto. Não havia ar...So caos.

Mas em menos de segundos eu me dei conta de tudo. Não o bastante para reagir ou coisa do tipo, apenas segundos para eu tomar consciência do que acorria.

Alguém agarrava meus cabelos pela nuca, senti vários fios de cabelo darem adeus a meu coro cabeludo. Este alguém enfiou minha cabeça em uma bacia que agua gélida, como os mares do ártico. Era como se varias facas perfurassem meu rosto, me sufocando. Depois de cinco segundos, este alguém me puxou pra fora da bacia, e me jogou contra algo sólido, que ao meu ver devia ser uma parede.

Resignei-me a ofegar, puxando o maximo de ar que pude, enquanto meus olhos entravam em foco.

Eu estava em um local, pequeno, uma sala, suja. As paredes amareladas eram mofadas, havia correntes em intervalos por toda a parede, o teto era baixo e havia pouca iluminação dando um ar meio caustrofobico ao ambiente.

Mas minha avaliação foi interrompida quando o homem se aproximou. Seu rosto era ríspido, cheio de marcas de expressão, e cicatrizes, seus cabelos escassos eram grisalhos na grande maioria.

Ele se agachou até ficar no meu nível, e me avaliou com um olhar de repugnância.

-         Esperava por uma musa? – murmurei friamente.

-         Esta no fundo do poço e ainda sim faz piada – murmurou para si mesmo – deveria gastar seu fôlego com suplicas.

-         Eu suplicar? Se seu amigo não suplicou, por que faria isso? – respondi maliciosamente, e levei um tapa na cara por isso.

Ele se levantou, sem tirar os olhos de mim.

-         O que estou fazendo aqui?! – perguntei em voz alta

-         O que acha? – perguntou presunçoso.

-         Eu já deveria estar morta – murmurei para mim mesma.

Tentei me erguer, e senti uma dor horrenda no ombro, eu olhei para o local com espanto, meu ombro estava todo sujo de sangue, havia um ferimento significativo no local.

-         Acha que vou matar a assassina de meu irmão assim tão rapidamente? – ele perguntou prazerosamente dando as costas a mim.

-         Era seu irmão? Interessante – murmurei - Devia tê-lo avisado o que acontece com aqueles que provocam com feiticeiras.

Ele se virou para mim, com olhos coléricos.

-         Ele sacrificou sua vida para limpar o mundo de seres desprezíveis e perigosos como você! – ele berrou a mim.

Eu o encarei friamente, desejando ter forças para fazer a ele o mesmo que fiz a seu irmão. Mas so havia dor em meu corpo debilitado.Eu precisava de um tempo para me recuperar.Tempo que eu temia não ter.

-         É por isso que esta aqui, pois você morrera da maneira mais lenta e dolorosa que merece. Fogueira – ele pronunciou aquela palavra com tanto prazer e adoração, como se fosse dita para uma amante.

Nada pude falar, meu medo pelas imagens que vinham em minha mente me tirava à voz.

Ele pegou o relógio do bolso, e o olhou ansioso. Pelo visto eu não tinha tempo algum.

Então me venho à mente, uma antiga informação, e de repente eu precisava saber se estava correta.

-         Você...É o ultimo caçador, não?

Ele me encarou, avaliando por um momento se deveria ou não me contar, me revelar esta informação tão importante. Tão preciosa.

Por fim, decidiu que não havia problema, já que eu estava prometida para as chamas da fogueira.

-         Sou – disse defensivamente– mas sou o bastante para acabar com sua raça.

Não, ele não era o bastante. Era bastante para mim, uma garota, fraca e ferida. Mas logo ele seria encontrado por um de minha raça, sedento por vingança, e encontraria o mesmo fim de seu irmão. Tal perspectiva tirou um peso de minhas costas. Pelo menos, minha raça, minha “família”, teria um futuro melhor.

Ele olhou para o relógio novamente, e com satisfação o colocou no bolso e se dirigiu a mim.

Ele agarrou meus cabelos novamente, com muito mais força desta vez, tentei me soltar, mas meu braço esquerdo não me obedecia por culpa do ferimento, e o outro não tinha forças o bastante.

Eu me recusava a andar, fincando meus pés no chão, mas ele me chutava e me puxava pelo cabelo de modo que eu cedia alguns centímetros pelo trajeto. Depois de muita luta, ele conseguiu me tirar da sala, que percebi ser um porão, e me arrastar pela noite, por um jardim mal cuidado, cheio de ervas daninhas.

Atrás do jardim havia uma floresta, ele me arrastou para as profundezas das arvores, até chegarmos a uma clareira onde havia três pessoas.

Uma mulher e dois jovens fortes. Eles estavam ocupados armando o que supus ser a fogueira. Era basicamente um palco, cercado por toras, e havia uma mais alta e grossa bem no centro, onde eu devia ser acorrentada.

Quando ouviram o som de nossa aproximação, eles se viraram ansiosos e receosos, e quando seus olhos pousaram em mim, seus rostos se torceram em repulsa e prazer.

 O caçador me amarrou na fogueira, de modo que eu ficasse com a cara contra a madeira e minhas mãos pressas em minhas costas. Ele apertara as marras com tanta força que sentia o sangue parar de circular por meus punhos, e meus dedos logo ficaram dormentes.

O jovem mais alto entregou ao caçador uma tocha acessa, as chamas dançavam vivamente. Tentei me soltar sem sucesso, havia dor demais para me concentrar...

- Agora lhe entrego para o lugar de onde veio, bruxa! – disse em voz alta, borbulhando de satisfação.

Com um ultimo olhar, vitorioso, o caçador jogou a tocha na fogueira. O fogo subiu rapidamente, junto com meu pavor.

As chamas lamberam a barra de meu vestido, a fumaça me sufocou, e o calor me atordoou. E em meio de todo esse caos eu ouvi um grito. No inicio pensei que fora eu, porem era agudo demais para ser meu.

Eu estiquei minha cabeça, entre as chamas dançantes, e vi o olhar apavorado da mulher e no inicio não entendi até que o vi.

Um homem, não...Um anjo, belo e glorioso, vagou rapidamente até a mulher, e a abraçou, e entre as chamas o vi cravar seus dentes em seu pescoço. Olhei ao redor exasperada, e vi dois jovens largados ao chão. Havia sangue em suas vestes e eles não se mexiam...

Outro grito me chamou a atenção, desta vez era mais grave, e estava carregado de ódio. O caçador corria pela clareira, mas não fora rápido o bastante para o anjo que o alcançou sem dificuldade alguma.

Não vi o que aconteceu em seguida, as chamas ganharam ainda mais força e altitude, e as línguas de fogo lamberam minha pele.Minhas pernas, meus braços, pulsos. Foi impossível reprimir um grito de dor.

Então algo frio, como a neve, tocou meus braços. Não soube o que senti com aquele toque, talvez alivio, mas o choque de temperatura foi tão drástico. Senti uma pressão nas amarras e logo elas não estavam mais ali.

E sem que me desse conta estava voando, numa velocidade desconcertante. O calor se esvaia com o frio vento que me golpeava. Notei que estava sendo carregada. Ergui os olhos e vislumbrei aquele lindo rosto. Embora estivesse sério, embora seus olhos estivessem famintos e sombrios, embora sus lábios brilhassem num tom vermelho, aquele rosto era o mais perfeito que eu já vira.

 Ele disparou para o interior da floresta, poderia jurar que estávamos voando, pois não havia som do encontro de seus pés no chão. Mas a altitude deveria ser maior caso estivéssemos voando...

 Ele me carregou pelo que me pareceu horas, sem nunca me olhar. E o silencio so se prolongou, ininterrupto.

 Onde ele estava me levando? Por que me salvou? Quem era este anjo glorioso? Essas e milhares de outras perguntas dançaram por minha mente caótica. Eu queria fazer pelo menos uma dessas dezenas de perguntas, mas algo nele fazia minha voz congelar.

A dor também não ajudava. Alem do dor latejante no ombro que nunca cessava, havia outras agora, pelo meu corpo, onde as chamas haviam queimado.

Ele deu um enorme impulso para saltar algo, o que sacudiu meu corpo, não consegui reprimir um gemido de dor. Ele parou abruptamente, e seus olhos ferozes me encararam, fazendo-me encolher.

Seus olhos eram de um vermelho vivo, tão sombrio e penetrante. Porem toda aquela ferocidade se esvaiu encanto me encarava, até que sua expressão se tornou fria, e até mesmo pesarosa.

Ele avaliou meu estado, displicente. Então seus olhos pousaram em meu ombro ensangüentado, e faiscaram em desejo, e os vi se tornarem famintos.

Meu estomago se revirou embrulhado com a sensação de pavor, e uma onda gélida e elétrica passou por meu corpo. Uma reação de meu corpo reagindo ao perigo iminente.

Então lentamente ele curvou seu rosto em direção a meu ombro, sem jamais desviar os olhos ou piscar, como se ele estivesse sendo puxado por um algum tipo de campo gravitacional. Meu estomago afundou, meu coração acelerou, minha respiração se tornou ofegante, reação de meu corpo que implorava para que eu fugisse. Mas eu estava cansada de fugir, cansada da promessa de morte que nunca vinha. Eu não queria fugir para a vida solitária que eu tinha, preferia ser morta por este belo herói, que seria meu assassino. Havia alivio na perspectiva do fim das corridas contra a morte, de se esconder nas sombras, e mentir. Pelo menos era isso que uma parte de minha mente dizia.

A outra, aquela que eu na maioria das vezes a ouvia, gritava para que eu corresse, eu queria obedece-la, mas não havia forças o bastante em mim para lutar contra alguém como ele. 

Por fim ele cravou seus dentes em meu ombro, e o que senti em seguida não fora o alivio da morte que uma parte de mim ansiava. Antes fosse.

Algo ardente escorreu pelo meu interior, pelas minhas veias, rasgando-as, eu sufoquei um grito. Uma onda elétrica passou por meu corpo fazendo-o tremer violentamente. E outra onda ainda mais forte se seguiu, desta vez foi como se tivesse sido expulsa de meu corpo. Senti meu corpo voar e bater em alguma arvore que estava a meu redor. Eu cai no chão assustadoramente alerta, a ardência ainda percorria meu corpo, eu ainda tremia, mas havia uma força em mim cuja origem eu não fazia idéia de onde vinha.

Eu o vi não muito longe de mim, jogado ao chão, estava apoiado em um braço, os olhos coléricos direcionados a mim, pelo visto ele queria mais de mim.

Eu olhei ao redor, estávamos no meio da floresta, estava escuro demais, não havia lua...

Então me veio a mente um modo de ir embora dali. Eu não era rápida o bastante para correr dele, mas havia força em mim o suficiente para usar minha magia e atravessar alguma sombra para algum lugar seguro. “Qualquer lugar é mais seguro que aqui!” Soou a voz da minha consciência, estava apavorada assim como eu.

Ele se ergueu, e pulou em minha direção. Eu estiquei o braço para a sombra de um pinheiro e senti aquela familiar sensação de frio e falta de ar, enquanto estava sendo puxada pelas sombras. Em segundos eu fui arremessada para fora das sombras e cai no duro chão de pedra.

Havia muito barulho, de passos ruidosos, risadas, e altas conversas. Percebi vagamente que estava em um beco, escuro e particularmente sujo.

Tentei me levantar mais meus braços e pernas tremeram e cederam a dor que se tornara alucinante.

No fim me conformei por ficar deitada neste beco imundo, e esperar a morte que chegaria em alguma hora. Não me pareceu o melhor cenário para meu fim, mas eu estava em volta de risos e calorosas conversas...Não me parecia tão ruim.

Meu corpo tremeu novamente, não de modo tão violento, a dor se intensificara, e para meu horror ela preenchia cada pedaço de meu corpo. Nada estava livre de sua influencia.

Meus olhos semicerrados encararam o céu, apreciando as estrelas...Eu cerrei meus dentes, impedindo meus gritos de agonia, e supliquei para os céus que acabassem com isso de uma vez por todas.Um único golpe, rápido e fatal, era so o que pedia. Sabia que não sobreviveria desta vez, não havia como. Minha mente já conformada com isto desistira da luta, porem meu corpo sempre teimoso continuava naquela luta vã.

Eu so desejei que acabasse logo...

A dor ganhava mais força a cada minuto, se é que era possível uma dor desta, tão imensurável aumentar.

Senti as lagrima escorrerem por meu rosto...Não eram lagrimas de tristeza, apenas de dor. Lagrimas que não pude reprimir como fazia com os gritos.

Então eu o vi, entrando no meu campo de visão. Mais um anjo? Sinceramente não me importava, contanto que ele acabasse com isso de uma fez. Um golpe era so o que pedia...Será que os céus haviam atendido minhas suplicas?

Achei pouco provável depois de avaliar aquele rosto, embora minha visão estivesse embaçada pelas lagrimas. Seus cabelos loiros, os olhos dourados e preocupados e principalmente os traços jovens o fazia parecido com um anjo, ou algo parecido...

Ele se curvou para mim e sussurrou em meu ouvido suavemente:

-         Não se preocupe, esta segura agora.

Segura? Eu não sabia o que era isto. Eu nunca estive segura...Não sabia como era esta sensação...

Mas nada pude fazer enquanto ele me carregava, e aquela sensação de estar voando novamente...Eu so queria que ele levasse a dor embora...Mas algo me dizia que esta dor estava longe de partir.

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do primeiro capitulo. O segundo sera ainda melhor

Comentarios são mais do que bem vindos



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