Snow escrita por Julia A R da Cunha


Capítulo 5
Rebelde


Notas iniciais do capítulo

Gente, me desculpa mesmo a demora. Eu estava completamente sem ideias e com muitos trabalhos e provas na escola. Tentei pensar em algo nessas férias, mas só hoje consegui colocar a mente para funcionar e terminei o capítulo. Vou tentar mesmo mesmo mesmo não demorar mais assim. Desculpa mais uma vez. Espero que gostem.



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O homem se aproximou, estendendo a mão para um cumprimento.

— Lucius, irmão de Klarissa. Em alguns momentos, ajudante da loja. — Apresentou-se. Cumprimentei-o e logo depois foi para Rose. — Vejo que gostam de dançar...

— Não. — Respondi secamente.

Lucius arqueou as sobrancelhas, olhando-me, assim como sua irmã. Rose olhou-me diferente. Um olhar repreendedor, crítico, e senti um beliscão muito forte na minha cintura. Trinquei os dentes para não fazer uma careta.

— Mas de todo modo estávamos dançando aqui um pouco. — Disse Klarissa. — Rose é mais animada, incorporou bem o espírito da loja, mas Snow...

— Snow? — Repetiu ele de um modo um tanto curioso e intrigado. O cenho levemente franzido. — Seu nome é Snow?

— Sobrenome. — Respondi.

Ele franziu o cenho e apertou os olhos levemente, como se conhecesse alguém com o sobrenome Snow. Por fim, deu de ombros. Virou-se para Klarissa e disse:

— Eu já estava indo, então, até logo. — Voltou-se para mim e Rose, acenando com a cabeça e seguiu para uma porta escrita “saída” no lado oposto do qual viemos.

Fui acompanhando-o com os olhos até sumir, calado, pensativo. Eu já havia ouvido esse nome. Lucius Temple. Em algum lugar, creio que dos meus pais. Mas quem é ele? Apesar de me esforçar para puxar isso de minha mente, simplesmente nada vinha. Voltei à realidade quando senti o braço de Rose em mim.

— Vamos pra casa. — Sussurrou. — Jocelyn deve estar me esperando.

— Sim... — Olhei para Klarissa. — Onde... Deixo isso tudo?

A garota me olhou de cima a baixo, ainda parecendo não simpatizar muito comigo e estendeu a mão. Retirei tudo o que Rose colocara em mim e levei até Klarissa, Rose vindo em seguida e me dirigi até a saída, ouvindo atrás de mim um “Tchau” entre as duas.

Acabamos saindo do outro lado do quarteirão, e precisamos ficar um tempo olhando para os lados para nos localizarmos. Seguimos então à direita, andando em completo silêncio por vários minutos, até chegarmos no prédio residencial onde Rose morava.

— Não quer subir? — Perguntou ela.

— Ah, não sei.

Rose então fez aquela cara. A cara que fazia quando queria alguma coisa e eu dizia não, uma cara de quem implorava, de quem estava prestes a chorar, magoada, como uma criança de quatro anos que recebeu um não a perguntar se podia ir brincar. O lábio inferior caiu e a cabeça tombou para o lado, com os olhos focados nos meus. Ela conseguiu fazer o som que os cães fazem quando choram com uma mistura de o som de um bebê.

Olhei para outro lado, também fazendo graça, segurando um riso. Rose se aproximou, segurando minha mão e balançando de um lado para o outro, olhando para baixo, ficando com os movimentos lentos. Olhei rapidamente por ela, e peguei-a olhando-me de canto de olho, e ri.

— Rose... — Falei como se chamasse atenção, e ela fez novamente o som choroso. Respirei fundo e disse: — Está bem! Eu subo! Me rendo!

Ela começou a sorrir e deu um pulinho de alegria. Entramos, seguimos até o elevador e subimos. A porta se abriu, e fomos até a porta do apartamento, esperando um momento para sentarmos no sofá e relaxarmos, mas ao invés disso, lá estava Jocelyn, andando de um lado para o outro. Quando nos viu ela arregalou os olhos e se jogou sobre nós dois.

— Onde é que vocês estavam?! — Gritou. — Eu pensei que pudessem estar lá, e...

— Ei, ei, o que houve?

— Pensei que pudessem ter sido presos ou mortos!

Ela se afastou e nos olhou, as lágrimas quase saindo. O que é que estava acontecendo? Logo Rose estava entrando em colapso nervoso como no dia em que trouxemos Rose para cá. Andando de um lado para o outro, falando várias coisas ao mesmo tempo. Resolvi fechar a porta, afinal os vizinhos não tinham que ouvir nada. Peguei Jocelyn em meus braços e levei-a até o sofá. Logo depois Rose parou ao nosso lado, ainda falando consigo mesma, com um copo de água com açúcar que demos para a menina. Aos poucos ela tomou, tentando respirar fundo e se acalmar. Na metade do copo ela o deu para Rose, e eu também achava que ela precisava mais daquilo do que Jocelyn.

— Nos fale agora por que estava assim? — Perguntei.

Ela ainda parecia tomar coragem para falar. Respirou fundo e então começou a falar:

— Houve uma tentativa de levante contra o governo. Os Pacificadores controlaram tudo, mas houve troca de tiros e prisões. Eram... Eram umas quinze pessoas. Seis morreram com tiros. Os outros foram presos, mas não escaparam de pancadas com cassetetes. Bateram neles para mostrar para os que estavam perto que não deveriam tentar, que era isso que iria acontecer com eles ou pior. Deixaram isso também bem claro no noticiário.

— Isso passou pro país todo? — Perguntou Rose. Jocelyn balançou a cabeça, negando, mas também creio que seria meio óbvio que não passariam isso a diante para Panem toda. Pelo menos eu, se controlasse tudo, não faria uma coisa dessas.

— Eu... Eu pensei que... Que pudessem estar passando por lá. Uma outra pessoa foi baleada, uma que não tinha nada a ver, mas estava perto. Erraram o tiro e acertaram numa mulher.

Rose colocou a mão sobre o ombro dela, logo trazendo-a para perto, ficando entre nós dois. Jocelyn apoiou a cabeça em seu peito e Rose passou o braço por cima de seus ombros.

— Ei, se tivéssemos sido baleados, teríamos passado na TV, não é? — A garota pareceu pensar um pouco, mas logo assentiu. — Então é só se acalmar. Viu só, não aconteceu nada com a gente. Estamos bem.

Foi então que percebi uma coisa. O ataque de nervos de Rose puxou em minha memória a imagem de outra pessoa conhecida que vivia andando de um lado para o outro, falando várias coisas ao mesmo tempo consigo mesma, e essa pessoa deveria estar tendo um colapso nervoso no momento. Levantei-me, e anunciei:

— Vou para casa. Meus pais...

Rose assentiu e mexeu os lábios dizendo: “Até outro dia”. Segui então para fora do apartamento, passando pelo hall, o elevador, que pareceu de repente ser mais devagar do antes. E enfim eu estava do lado de fora, e surpreendi-me ao estar correndo quando o caminho de abriu. Não podia demorar, não agora.

Faltavam dez quadras, nove, oito, sete, uma avenida, seis, cinco. Minha respiração já estava ofegante, o peito e as pernas doíam, implorando por um momento de repouso depois da agitação repentina. Mas precisava continuar. Quatro, três, dois, um. E enfim havia chegado. Entrei, subi até meu andar, o elevador lento demais. Quando o elevador se abriu, me surpreendi com uma imagem.

Klaus, o mais novo de meus irmãos estava sentado na frente do elevador. Quando apareci, preparei-me para os gritos.

— Snow! — Gritou ele.

O grito chamou atenção de Birgit, a garota de doze anos, a penúltima, que deu um grito ainda mais alto, mas somente um grito, sem palavras certas. Logo vieram os gêmeos, Keiran e Gamaliel. Minha mãe irrompeu do meio dos dois, vindo correndo até mim, jogando-se e laçando seus braços como garras em meu pescoço.

— Meu filho! Ah! Coriolanus, onde você estava? Ah, meu filho!

— Eu não estava lá, calma.

— Onde estava? — Perguntou Birgit.

— Você ainda pergunta? — Comentou Gamaliel no seu tom irônico de sempre, cruzando os braços. Olhei-o rapidamente, como alerta, e ele levantou as mãos como se estivesse se rendendo.

— Eu estava com Rose. Almoçamos, depois andamos um pouco, mas passamos longe de tudo. Só soubemos quando chegamos na casa dela. A mãe dela estava doida, preocupada, pensou até no pior. — Eu jamais mencionei Jocelyn, e não mencionaria. Isso só incentivaria mais comentários de uma certa pessoa que nem saíra para me ver. Eu não me importava com meu pai, e sabia que ele não se importava comigo, mas cada vez que demonstrava isso, eu sentia ainda mais raiva dele.

Minha mãe apenas assentiu e mandou todos para dentro. Me abraçou mais uma vez, dando um beijo estalado em meu rosto, que me segurei para não fazer uma careta. Eu não recebia nem dava muitos carinhos, mas nem era por isso, mas porque ela segurara meu rosto com muita força do outro lado e afundou o rosto em meu osso, o que não era lá confortável.

Entramos e a residência parecia vazia. Ouvi um som distante de água caindo, e só então me lembrei que meu pai começava seu turno no serviço em breve, e deveria estar tomando banho e se arrumando. Me senti levemente acanhado pela raiva, mas tentei desviar o pensamento.

Logo as coisas pareceram voltar ao normal de sempre. Birgit lendo revistas de adolescentes. Keiran fingia ler livros de história, mas eu sabia que por trás das páginas ele escondia um folheto que dizia sobre comprimidos para darem músculos. Gamaliel continuou com sua conversa por telefone com sua namorada, Blume, que tinha os cabelos de um laranja vivo com várias mechas roxas, e usava lentes lilás. Meu pai saiu do banho e foi passando por nós, despedindo-se para mais um dia de trabalho. Minha mãe voltou aos telefonemas e papeladas de seu serviço.

Não estava mais aguentando ficar muito tempo simplesmente parado, sem fazer nada. Mas foi só assim que percebi Klaus parado ao meu lado, me olhando de canto de olho, hesitante. Parecia tentar se aproximar aos poucos, com um brinquedo em suas mãos. Olhei-o, fazendo-o enfim se virar para mim.

— Snow... — Klaus era o único da família que não me chamava pelo nome. O único que entendia que eu não gostava.

— O que?

— Você... Quer jogar um dos meus jogos comigo?

Respirei fundo.

— Ontem mesmo você disse que já não era mais criança pra ter brinquedos.

— Mas não é brinquedo. É jogo.

Suspirei, olhando para a TV, no mesmo programa chato de sempre. Mudei de canal algumas vezes, e pela visão periférica pude ver Klaus baixando os olhos, triste.

— Por que não vê com os outros?

— Ninguém vai querer jogar comigo... Nem você. — Ele então se levantou, e olhei-o indo cabisbaixo até o seu quarto e fechando a porta.

Por um momento pensei em ir atrás dele, mas depois deixei a ideia de lado. Levantei-me e fui até o meu quarto, fechando a porta. Comecei logo a me despir e ir direto para o banheiro, metendo-me embaixo do chuveiro com a água quente caindo sobre mim. Eu sentia a cabeça pesando, com pensamentos demais sobre hoje.

Acho que fiquei cerca de uma hora debaixo do chuveiro, sem nem tomar banho na verdade, apenas deixando a água cair. Depois de um tempo pareci me esforçar para desligar o chuveiro. Peguei a toalha e comecei a me secar, mais lentamente do que o normal. Parecia que ainda estava pesado, tudo pesado.

Voltando ao quarto, coloquei qualquer coisa que peguei na frente, mas eram todas roupas soltas, como pijamas. E então, me joguei, literalmente, sobre a cama, adormecendo em cinco minutos.


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