Marcas Da Morte escrita por Cavaleiro Branco


Capítulo 34
Em busca da Toca do Lobo


Notas iniciais do capítulo

Hello again people.
Bem... esse também é dos grandes. Mas, se chegaram até aqui, sabem que é necessário para o desenrolamento de toda a História. Peço que não me matem na leitura longa... e posso apenas desejar "Boa Leitura"!

Nos vemos nos reviews



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6 de Setembro

 Argh... que sono...

 Quem raios inventou a idéia de ter que estar na sala seis da manhã? Tudo bem... estar lá eu concordo... mas estar lá a essa hora... Eu realmente espero que o gênio tenha vindo com uma coleira anti-enforcamento.

 Até lá... espero conseguir energia e ânimo para isso.

-Pronto, Kevin?

-Claro... nasci pronto...

 Eu invejava o Felipe. Sério... o cara conseguia acordar com o maior pique, não importa aonde. Enquanto eu... parecia que um caminhão tinha me atropelado. Pior que isso era saber que um longo dia, cheio de trabalho, aguardava-me.

 Eu o segui lentamente pelo corredor. Era cedo... mas tudo estava a todo vapor. Em meio à uma guerra... nem mesmo as moscas pareciam querer dormir. Pessoas corriam ali e aqui, carregando papéis e armas... ou simplesmente sua força de vontade. E precisávamos dela muito agora... cada passo que dávamos, aqui e lá fora, poderia ser o último da nossa vida.

 Isso dava tensão até em mim. Dormir sabendo que o próximo dia poderá ser seu último... não é uma coisa agradável. Fazíamos tudo com tanta tensão que as mãos suavam... os braços tremiam, e os olhos não paravam. Um frio gelado na alma percorria-nos todo dia... e todo o dia, antes de dormir, rezávamos, agradecendo estarmos vivos.

 Mas não eram todos que poderiam ter esse prazer. Só nesses dias perdemos mais de 100 homens... isso era o que?  1/5 de tudo o que mandaram até aqui... e não foi pouco. Estávamos perdendo... e logo no começo. Precisamos de toda a força que pudermos levantar! Senão... não precisariam de muitas batalhas a mais para nos varrer do Oeste da América e, talvez, do mundo todo.

 Deu para pensar sobre tudo isso... enquanto Felipe me conduzia pela base. Eu não lembrava onde era a sala... apesar de estar vivendo ali, praticamente. Nos afastamos para um ponto com... menos tensão popular. Aveline escolheu certo... trabalhar com gente botando tensão em nós ali do lado não ia adiantar em nada. Se bem que, pelo que Marco disse, poderíamos sair... e era o que eu mais queria no momento. Saltar e investigar ao ar livre tirava o sono... e não ficar fazendo cálculos e análises em salas fechadas. Perdoem-me os que gostam disso... mas eu acho muito chato, e perda de tempo.

 Chegamos enfim à porta. Igual as outras... uma simples porta de madeira separava o corredor, meio vazio, da sala.

-Vamos terminar isso?

 Sério... se ele tentasse animar-me de novo... hoje eu não estava animado pra isso.

-Primeiro as damas.

 Ele mal ligou para a minha fala, e adentrou na sala. Logo, eu o segui... e dei de cara com o nosso “Quartel de Operações”.

 Para um Quartel... não parecia aqueles que víamos em filmes. Uma pequena sala, contendo três escrivaninhas de madeira, das quais duas delas tinham um notebook encima. No centro de tudo, havia outra mesa, dessa vez redonda, e sem nenhum assento envolta. Acima dela, uma lâmpada parecia fraca... com pouco tempo de vida. Mas não era esse o mais interessante.

 Eu não esperava encontrar a sala com mais de 2 pessoas... mas tinha. Vendo algo na escrivaninha, estava Heloísa, que eu já esperava estar na equação da Equipe. Atrás dela, estava o sumido Luca. Não tinha visto ele ultimamente... mas parecia que íamos ter mais contato. Em torno da mesa redonda... se encontrava um casal de Assassinos, mais velhos. Não conhecia eles muito bem... mas sabia que se chamavam Pablo e Maria. Deveriam ser dois inteligentes do ramo superior... não me lembro bem. Estavam conversando alguma coisa, quando entramos. E, nos recebendo... não acreditei que ele estava envolvido nisso também!

-Louis?! Você por aqui?

-Bonjour, Kevin! Felipe! Estávamos esperando vocês!

 Assim que nossa presença foi declarada, todos se levantaram e foram até nós. Cumprimentamos Heloísa, Luca, Louis e o casal... que se mostrou bem carismático, ao mesmo tempo que eu via um ar inteligente no olhar deles. Não demorou muito, a logo as apresentações deram lugar ao trabalho.

-Pessoal – começou Luca – Marco e Aveline estiveram aqui mais cedo... e é isso. Temos todo o acesso livre à internet e aos computadores... e estamos livres para circularmos e investigarmos a cidade. Qualquer notícia, devemos comunicar o comando.

-Bom... muito bom... – comecei a dizer... apesar de achar doidera esse povo todo ter estado aqui antes de nós... mais cedo ainda! – e... já temos planos?

-Pensamos bem nisso... enquanto vocês ainda estavam para chegar.

 Me surpreendi com a fala de Maria, agora abraçada a Pablo. Parecia que estava tomando a liderança da coisa... bom! Não sei porque, com todo mundo que converso, eles geralmente me colocam como líder. Não é legal... eu não sou lá o líder que todo mundo queria ter. E não gosto lá tanto disso... sou o soldado, não o mestre, apenas mais um peão no jogo.

-Não temos nenhuma informação... então teremos que partir do cero. – continua Pablo – recebemos a permissão de procurar em archivos do banco de dados, de tudo que conseguimos até agora. Iremos analisar as informações... coletar mais... e conseguir tudo o que pudermos. Assim... podemos destruir aquellos Negros!

 Uau... me surpreendi. Claro que era o básico... e até eu pensava em algo assim. Mas sabia que aquilo era só uma pequena fração da capacidade mental do casal.

-Vemos as qualificações de cada um... – continua Maria e vamos designa-los para tarefas, que irão aumentar o rendimiento da operação!

 Mais surpresas! Até nisso pensaram?

-E... qual seria a função de cada um? – pergunta Felipe. Mas logo foi respondido por Maria.

-Usted y tu amigo irão fazer o trabalho lá fora... a busca, em outras palavras. Heloísa e Luca ficarão aqui... vocês dois são bons em tarefas com pouco esforço físico. Louis... você se mostra bem talentoso e ágil... acompanhará Kevin e Felipe.

 Sim... Graças ao Divino não vou ter que ficar naquela salinha. Eu, Felipe e Louis iremos sair e fazer as coisas por nós mesmos... tudo o que eu queria: um pouco de liberdade! Vento no rosto enquanto se estava prestes a saltar de um edifício de 20 andares... prazer de todo Assassino que se preze.

-Mas saibam que isso terá que ser rápido – adverte Pablo – quanto mais tiempo esperarmos, mais mortos virão... batalhas estão rolando agora mesmo pela cidade! Temos que fazer isso!

 Ele coloca a mão no centro da rodinha, que acabou se formando em torno da mesa redonda.

-Juntos? – pergunta ele, em tom Espanhol.

-Sí! – a mão de Maria se une com a dele.

-Oui! Mettons fin à cette! * – não entendi bem o que Louis gritou... mas não demorei para colocar minha mão encima da dele.

-Må kraften være med os! **

-Ja Ja Ja!*** – gritaram Heloísa e Felipe, animados com minha frase.

-This war ends now... ****

 E Luca completa com sua mão. Incrível... uma roda de centenas de línguas e culturas diferentes! E... o melhor: Todos, apesar de diferenças e gostos, unidos por um único objetivo, uma única missão.

-Então... – prossegue Pablo – Blancos!

-Whites!

-Hvidt!

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 Um dia depois... 7 de Setembro

 Okay... eu estava bem animada com a coisa toda!

 Eu e o Luca estávamos encarregados de fazer o trabalho pelos computadores... procurando arquivos e relatos que possam nos ser úteis. E quanta coisa! A Irmandade tinha mais arquivos dando sopa do que se podia imaginar!

 Eu e ele estávamos sentados nas escrivaninhas, as mesmas com os Notebooks. Já havia se passado poucas horas desde que começamos... e conseguimos resultados interessantes pelo caminho! Relatos, cópias de cartas antigas... mensagens, vídeos de câmeras... como eu vivi todo esse tempo sem nunca ter tido contato com tudo isso?

-Maria... tem algum arquivo aqui que pode ter sido coletado nesse mês?

 Maria estava logo do meu lado, e fez uma careta pensativa. Eu aprendi a gostar dela! Era simpática e muito inteligente. Seus cabelos eram negros, longos e lisos. Uma pele morena com um par de belos olhos de pérola negra faziam dela uma mulher elegante. Era uma boa companhia para coisas como essa.

-Procure naquele arquivo ali... isso... agora veja os dois primeiros...

 Luca trabalhava no notebook dele a todo vapor também. Via vídeos de câmeras de segurança, de todos os pontos possíveis de São Francisco... se bem que não tinham tantas câmeras, a não ser a de lojas. Não era igual Londres... que tinha câmeras por todos os lados!

 Mesmo assim... estamos dando o máximo de nós! A coisa não está tão boa por aí... e velocidade é o que precisamos! Se conseguirmos algo bom o suficiente, e conseguir passar para os meninos... vamos conseguir algo! Eles são bons em procurar essas coisas... tanto quanto eu!

-Vai demorar muito pra gente poder sair?

 Falando neles...

-Um pouco, Felipe... aguenta mais um pouco aí...

-Argh! Que chatice!

 Dizem eles... que não estão fazendo nada, enquanto eu aqui estou suando! Felipe, Kevin, Louis e até Pablo estavam, nada mais nada menos, que jogando poker na mesa redonda! E adivinhem só o que estavam apostando?

-Hum... eu aumento para uma adaga...

-E eu coloco um veneno para flechas... Felipe?

-Argh... esperem um pouco! Tá difícil...

 Armas... só eles mesmos... até a uma hora atrás estavam brigando para usarem moedas de seus países. Mas... como tínhamos escassez de Euros... decidiram usar umas armas de sobra. Felipe não estava satisfeito com a pilha meio grande de Louis... Kevin e Pablo até que estava com uma pequena, mas Felipe estava perdendo tudo! Ele nunca foi lá muito bom nesses tipos de jogos.

-Pessoal... olha só...

 Maria e eu olhamos para a tela de Luca... enquanto os meninos esticavam o pescoço, para fazerem o mesmo, sem sair da mesa. Folgados... mas logo o pensamento me escapou.

 Estava rolando uma batalha... ao vivo! O computador de Luca estava mostrando uma imagem de cima de uma fazenda de gado... repleta de pontos brancos e negros, envoltos em uma tensa batalha.

-É por perto? – perguntei.

-Até que não... à uns 10 Km daqui...

 Uau... bem próximo, em relação à última que rolou. Mas... diferentemente da outra... parecia que estávamos ganhando essa! As linhas brancas eram um pouco maiores que as negras... “um pouco”. Pareciam estar fazendo um esforço enorme para avançarem... do mesmo modo que os Negros pareciam fazer o mesmo para retardar as linhas adversárias... Estávamos ganhando, por enquanto.

 Era sério quando Maria disse que batalhas rolavam naquele exato momento... nem notamos uma movimentação anormal por aqui! Mesmo porque essa parecia ser de proporções menores do que aquela em que participamos por último...

-Será que vamos aguentar essa? – perguntei.

-Provavelmente... nessa temos vantagem... – responde Maria, pensativa.

 Luca abre uma janela adjacente... e lê um aviso.

-“Independência do Brasil hoje”... sabiam dessa?

-É? Legal... apesar de não ajudar tanto em nossa situação... – responde Kevin secamente, enquanto jogava as cartas na mesa – “Full House”.

 Pareceu que Felipe tinha engasgado.

-De novo?! Pare de roubar meu equipamento, Kevin!

-Não me culpe... culpe o destino... e eu estava mesmo precisando de um veneninho novo... e de uma faca de lançamento.

-Argh! Melhor apostar menos da próxima!

 Felipe Felipe... sua alegria ainda me espanta...

 Voltei à minha tela, dando de cara com o arquivo carregado. Um e-mail de segurança dos Assassinos Brancos... datado ainda de 2002. Não parecia muito longo... mas podia ser muito importante!

 Enquanto eu lia... o jogo continuava.

-Felipe... que utilidades você me daria para sua ex-faca de arremesso?

-Eu a deixava guardada para casos especiais... não estrague ela! É feita de um material especial.

-Se é tão boa assim... porque apostou?

-Sei lá... ouvi dizer que dá sorte.

 Ouvi uma risadinha de Kevin.

-Cada coisa que esse povo fala...

 Ah Kevin... ainda fingindo que não sabemos porque ele deu uma escapada anteontem da base... eu achava tudo isso muito fofo! O Kevin e a Giovanna formam um par perfeito! Daria para eu confirmar 100%... se eles não namorassem escondidinhos, como sempre!

 O problema é a Guerra... tudo isso... e o fato de Kevin estar na Irmandade. Por mais que fosse fofo... não ia durar tanto. Kevin é um Assassino Branco dinamarquês que usa um tipo de magia e que pertence a uma Irmandade de Assassinos...  e está amando uma garota legal americana. É muito... diferente, coisas e mundos distantes que se atritam. Se Giovanna soubesse de toda a história nossa... não, não ia ser nada legal. Eu ainda não sei como o Kevin conseguiu manter isso até agora... e conseguiu bem. Mas até o paraíso acaba em uma catarata mortal, direto para baixo.

 Ah... espero que o Destino tenha piedade do Kevin e da Giovanna. Pode ser fofo agora... mas está caminhando direto para um buraco. E dos grandes...

 Ok Heloísa... voltando...

 Foi aí que eu, sem querer, deixei meu mouse sem fio cair no chão. Ah... nem para segurar um mouse eu sou boa direito...

-ATAQUE! POSIÇÃO DE DEFESA! AGORA!

 Peraí... o que?!

 Os meninos, incluindo Pablo, simplesmente saltaram das cadeiras com um grito, jogando tudo para os lados, e ficando em posição de defesa. Encaravam todos os lados como doidos... mas não é o pior. Louis pega algo do cinto... uma... ah não!

 Uma esfera de metal rola pelo ar, acionada e jogada por Louis. Faz um arco pelo ar... e toca o chão. Imediatamente, a bomba explode, liberando uma enorme nuvem de fumaça.

 Okay... o que raios foi isso?!

-HEY! HEY! – gritava Maria, em meio à fumaça.

-Estamos sendo atacados e... – ouvi a voz de Felipe gritar... mas foi lentamente vacilando.

-Pelo amor do Divino! A Heloísa deixou o MOUSE CAIR!

 Enfim... a fumaça foi se dissipando. Só para eu conseguir ver a cara de desespero, vergonha e susto dos garotos.

-Então... não foi... nada...? – Kevin estava ficando mais vermelho que pimentão!

-Não... foi um engano.

 E, acompanhando Kevin, todos ficaram vermelhos e com olhos baixos. Cruzes... eu quase pulei da cadeira quando isso rolou! Eu olhava para eles com uma cara de “Vocês estão loucos ou tomaram café demais?”... mais ou menos a mesma cara que Maria e Luca faziam.

 Lentamente... começaram a arrumar a sala. Cartas e cadeiras pelo chão... pedaços de granada de fumaça, e ela praticamente sumida já. Maria foi ajudar Pablo, que recusou o pedido de ajuda educadamente. Eu e Luca só ficamos olhando tudo... pasmos.

 Mas logo descobri o porque... todos ali estavam com olheiras nos olhos, e veias vermelhas aparecendo na esclera... pareciam exaustos. Não havíamos feito nada... mas o motivo era claro:

 A guerra. Uma tensão enorme estava corroendo-nos da cabeça aos pés. Saber que a qualquer segundo o inimigo pode aparecer e nos matar... não é legal. Você não dorme, não presta atenção no que faz... só fica atento ao ambiente, ambiente e mais ambiente... e isso nos dá um estresse enorme. Confesso que eu ficaria assustada com o baque surdo que o mouse fez... eu não faria todo esse estardalhaço... mas ficaria alerta e assustada.

 Sinceramente... isso estava nos matando...

 Depois de arrumarem tudo, eles se desculparam. É até engraçado vê-los vermelhos como pimentas... tentando dizer que era um mal entendido. Maria aceitou tranquilamente, e avisou-os para não assustarem ela assim novamente. Depois disso... eles simplesmente se sentaram, e voltaram a jogar. Os olhos atentos a tudo ao redor.

 Relembrar: Melhor tomar cuidado com coisas nas bordas da mesa...

-HÁ! Deu! Deu!

-Será que eu vi direito? É isso mesmo...? Felipe GANHOU alguma coisa? – parecia de Kevin estava fingindo usar um binóculo no baralho de Felipe.

-Uhu! Enfim recuperei a adaga!

-Estava tão perto...  estrechamente!

-Pessoal... Achei algo...

 O silêncio se estabilizou na sala no exato instante, e todos os olharem foram em mim. Bom... não era hora de se importar com isso. O que eu achei era extremamente importante e útil!

-Do que se trata? – Maria foi a primeira a perguntar.

-É um e-mail de um vigia, de 2002. Aparentemente ele narrou brevemente o curso do que ele chamou de “Elemento de Preto”...

 Ok... fisicamente, nada mudou, mas eu senti que a tensão e o silêncio ali ficaram ainda maiores. Era algo realmente útil... e todos sabiam e queriam saber mais sobre isso!

-Fale-nos... por favor – disse Pablo.

-Escutem só... “Eram 2 da manhã quando eu o vi. Estava escuro... mas ele parecia usar uma capa preta. De chuva? Talvez... estava meio escuro para definir com clareza. Não sabia como, de onde ou porque... mas apenas o vi seguindo para o norte. Estava perto da Golden Gate, quando o perdi de vista. Deve ser um drogado... ou mesmo um bandido. Nem sei exatamente porque tomei nota do que vi lá... talvez seja útil em um futuro próximo. Só isso...”

-“Elemento de Preto”, hein? – observa Luca – parece que temos uma pista por aqui.

-Então... fica na Golden Gate?

-Acho que não, Felipe... – Kevin pensa em voz alta – já fomos lá e... sinceramente... se eu fosse colocar uma base central, aquele não ia ser o melhor lugar.

-Pois é... onde poderia ser, então?

-Ele disse que o perdeu de vista perto da ponte...

 Kevin me olhou com um sorriso pequeno, até meio malicioso. E, claro, eu já sabia o que ele queria.

-Melhor vocês irem checar. Sei que se passaram mais de 10 anos depois do relato... mas usem a mente! Busquem qualquer evidência... talvez ela esteja clara, com a Guerra rolando. Vamos nos comunicar pelo rádio...

 Parecia que os três tinham saído da toca da tortura. Kevin, Felipe e Louis ficaram com um sorriso tão grande que eu duvidava que tinham ficado sérios desde ontem... esquecendo totalmente do “incidente”, meia hora atrás. Sério... isso me assusta! Ok, sou Assassina, e odeio ficar parada... mas nunca vi esses meninos necessitarem disso! Se bem que é a única coisa útil que fariam para nossa causa agora.

 E, claro, eles não podia deixar de ficar tristes diante uma oportunidade de ouro de sair daqui.

-Podemos ir agora?

 Maria pensou um pouco, antes de responder. Mas essa até eu sabia: Porque não?

-Porque não? – não falei? – precisamos ser rápidos, se puderem dar o máximo de vocês hoje... vai ser muito bom!

 Os meninos se olharam. Nem precisavam de palavras para se entenderem!

-Felipe, pegue as armas e prepare o binóculo. Louis, pegue esse veneno e um mapa. E vocês dois, coloquem os capuzes sobre a cabeça. Afinal... não queremos ser vistos... vamos lá!

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-E agora...?

 Eu estava encarando o horizonte, quando a voz de Louis me tirou das nuvens. E não era a toa... a tarde estava incrível. Um belo sol dourado fazia uma ilustre descida, para enfim mergulhar no Oceano Pacífico. No caminho, havia um rastro de nuvens alaranjadas que, misturadas a um céu azul desbotado, deixava aquilo uma perfeita tarde Californiana.

 Giovanna iria adorar aquilo... mas, bem...

 Voltei-me para os dois. Havíamos saído da base já fazia umas duas horas... que foram gastas para ir da região rural até o centro de São Francisco. Preferíamos ir a pé e aos saltos mesmo... para poder sentir a energia e o vento no rosto. Fazia muito tempo que eu não sentia isso... e era sempre uma sensação agradável, quase divina!

 Escalamos um prédio alto da cidade... e nos encontramos em seu topo, onde estávamos agora. A vista era fenomenal dali de cima... e muito estratégica. Dava para ver até as cidades que rondavam a baía. Utilidade disso para nós? Máxima.

 Encarei meus companheiros. Estávamos vestidos com o velho uniforme. Sei lá... não importa o quão moderno seja aquele outro... sempre me sentirei confortável com esse. Felipe, Louis e eu estávamos com nossos capuzes sobre a cabeça, olhando a beleza da paisagem e da cidade. Mas... acho que está mais que na hora de fazermos nosso trabalho.

-Ok... vamos começar isso. Louis... vá até aquele prédio ali – apontei um edifício, não tão distante dali – acho que lá você ainda terá uma visão diferente da que teremos aqui...

-Pour le moment!

-Felipe... você fica aqui comigo. Daqui podemos ter dois pontos de vista diferentes... para a baía e para o Mar. Você olha para a baía, e eu para o mar.

-Okay... mas o que estamos procurando exatamente? – pergunta Felipe.

-Qualquer sinal de uma base negra... ou entrada... ou rota... qualquer coisa que os envolva já nos será bastante útil.

-Beleza! Allez-y!

 Se eu não me engano, acho que Louis falou que já estava indo... antes de correr para a borda do prédio, e saltar para o abismo abaixo. Nem me preocupei... o cara saltava por aí melhor do que nós... então não deve ser problema se ele se jogasse de um dos prédios mais altos de São Francisco.

 No final... eu e o Felipe ficamos por ali. Por um minuto ficamos nos encarando... como naquelas vezes que o assunto morre, e ficamos olhando para a pessoa igual uns trouxas.

-Felipe, a baía...

-Ah é! Olhando...

 Lentamente, me virei para o oceano. De alguma forma... eu sabia que isso ia demorar...

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 Já haviam se passado três horas... e nada.

 Incrível que, quando estamos procurando algo, essa coisa se esconde e decide não mostrar as caras pelo tempo todo... E no que isso nos ajudava? Nada.

 E lá estava eu, sentado na borda do prédio, com um tédio enorme. Já havia pensado  em inúmeras possibilidades... a geografia, a história que eu sabia do lugar... nada funcionava. Nada parecia fazer sentido... e justo na hora que o sentido mais precisava estar presente.

 No final... não me restou muita coisa, e encarei o céu. O sol já estava encostando no nível do mar... em poucas horas ia anoitecer. E os resultados nada eram favoráveis... nem aqui, e nem algo da base. Estávamos com nossos rádios nos ouvidos... para que qualquer coisa possa ser comunicada. Mas nem uma rápida conversa rolou...

 Argh... as vezes, o tédio parecia ser pior do que aquela facada que levei na barriga...

 Meu olhar foi para o prédio em que Louis estava... mesmo camuflado, ainda dava para ver um pequeno vulto, encarando a paisagem, como uma águia procurando a presa. Mas parece que, até para ele, a presa resolveu cavar uma toca e se esconder lá. Parecia que, tanto eu quanto ele e Felipe estávamos secos... nada passava por nossas mentes além do que já era visível.

 Eu não parava de pensar... e a guerra, como estava? Estávamos perdendo? E se estávamos ganhando... como estávamos? O inimigo... ele estava ali? Estava se escondendo de nós? Quando e como poderíamos acha-lo?

 Ah... preciso de um chá urgentemente...

 Sem nada melhor para fazer, me virei para Felipe. A cobertura do prédio não era tão grande... então Felipe estava próximo, observando a baía, do outro lado da cobertura. Depois de visualizar meu lado da cidade pela última vez (se é que eu não achei mais nada mesmo), me levantei, e caminhei até Felipe.

-Como anda por aí?

-Chato... não gostei desse sistema que bolou...

-Uhum... nem eu.

-Quer chamar o Louis?

-Depois... antes eu queria dar uma palavrinha contigo.

 Ele virou a cara para mim, confuso.

-O que é?

 Me sentei do lado dele, com as pernas voltadas para o abismo lá embaixo. Essa era uma das únicas coisas que eu gostava de fazer o que faço... poder ficar à beira de uma morte, e sentir prazer, ao invés do medo. E a total liberdade de saltar e viver a vida... doce vida... Dá um prazer tão grande estar tão perto de cair... e saber que não vai. Isso deixa a autoconfiança aos extremos... e olha que disso precisamos.

-Você desconfiava do Maurício?

-Como assim?

-Sabe... antes da Batalha... você desconfiava algo?

 Felipe fez uma cara de pensativo... que deu pra ver, mesmo usando capuz. Provavelmente não... existiam mais motivos para ele não ser o Líder Negro do que para ele ser... Mas talvez Felipe tinha notado coisas que eu não tinha. Heloísa fez isso uma vez...

-Não... tudo bem, o cara era muito estranho e agia de um modo... estranho para nós. Mas... fora isso... não. Ele era o último candidato da minha lista de suspeitos... alias, nem estava nela!

-Uhum... nem na minha... mas eu sei lá... eu sentia algum arrepio perto dele... como se ele fosse algo ruim...

-Oh... sim, tinha isso. Mas eu não achava que era porque ele era um Negro!

-Sei... não tinha nada que comprovasse isso. O cara até gostava de você e...

 Felipe, que até agora estava encarando a paisagem, se vira para mim, os olhos estavam arregalados. OK... acho que eu não deveria ter mencionado esse relato que a Heloísa me deu...

-Como assim?!

-Sabe... a Heloísa me disse uma vez... que os dois estavam conversando... e o Maurício disse que gostava de você... no sentido... você sabe...

 Sim, eu não deveria ter falado isso. Felipe ficou pálido na hora, e lentamente voltou a cara para a baía.

-Que bom que ele é Negro e do mal... que bom... que bom...

 Bem... nada contra os Homossexuais... mas não é legal para um cara hetero saber que tem um outro cara gostando dele...

 OK, agora eu tinha certeza absoluta que não devia ter falado disso pra ele. Rapidamente, tentei mudar de assunto.

-Mas... bem... será que pode ter mais Negros por aí?

 O rosto de Felipe foi tomando cor, enquanto ele pensava no assunto.

-Pelo número que eu vi naquela batalha... seria difícil não ter mais Negros...

-Mas será que tem mais... tipo... em nosso cotidiano, disfarçados de alunos ou amigos nossos?

 Felipe franziu o cenho.

-Dá medo só de pensar nisso, Kevin... e é ruim desconfiar de nosso próprio pessoal, logo agora.

-Se é que, se essa guerra está rolando, acho que já estaria na hora de eles passarem para o lado deles... não?

-Talvez... não sei como eles pensam ou armam suas estratégias...

 E, de repente, algo se passa pela minha cabeça. Era meio inédito... mas era uma boa possibilidade.

-Lembra da Ashley?

-Qual? Aquela que a Heloísa não parava de reclamar e que me chamava de Foguinho nas aulas de ciência?

 Foguinho...? Essa era nova! Vou me lembrar da próxima vez... mas, voltando...

-Aham... você não acha ela meio... suspeita?

 Felipe dá de ombros.

-Talvez... do jeito que as coisas estão, qualquer um pode ser o vilão na história...

-Sim... mas... o que você acha do...

 Minha tentativa de conversa foi frustrada pelo olhar de Felipe. Primeiramente notei que estava vago... olhando para um ponto qualquer na baía. Mas não demorou muito para eu ver um brilho doido nos olhos dele, que agora estavam fixos em um único ponto.

-Já sei... já sei onde é!

-O que?

-A base Negra!

 ...Como ele tinha conseguido isso praticamente do nada? Mas isso chegou e saiu rápido da minha mente... não era essa a questão agora.

 Tentei acompanhar o olhar dele... sem sucesso.

-Onde?

-Olha lá!

 Segui o dedo dele e... não... será que era? Não poderia ser...

-Será...? Tem gente comum aí!

-Eu sei! Mas... pensa comigo! Tem que ser dentro da cidade... que lugar não seria mais perfeito que esse?

 E só agora a luz veio até minha mente. Mas é claro! Era o lugar perfeito para isso!

-...Mas é claro! Como não pensamos nisso antes?! Faz todo sentido!

 A alegria foi tanta que nós dois nos levantamos com um salto, quase caindo do prédio. Mas não tinha porque não fazer isso! Havíamos finalmente achado!

 Na hora, liguei o rádio.

-Louis?!

-Si?

-Vamos voltar...

-Mas... porque? Algo aconteceu?

-Sim... achamos o que procurávamos!

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 Ah... tédio infinito...

 Resultados da pesquisa que fiquei fazendo a tarde toda...? Raros resultados! Esses Negros sabiam se esconder tanto quanto nós!

 E, para melhorar a situação... nenhuma notícia dos meninos. Eles haviam saído no começo da tarde... estava anoitecendo, e nada deles ainda! Estou até meio preocupada... e se os pegaram? E se os sequestraram? E se...

 Não... não, definitivamente não. Ah... o estresse da guerra deve estar me deixando pipocando de coisas na cabeça. Tensão... era tudo o que eu não precisava hoje...

 Me virei lentamente para Luca. Parecia que ele também estava ficando cansado... esgotado. Tinha orelhas nos olhos, mas ainda tentava se focar no trabalho, tentando achar alguma pista. Pistas e mais pistas... isso estava nos atormentando! E eu achando que não ia ser tão difícil... achando que ia ser divertido... E olhem, como eu estava errada. Estava muito, muito longe disso.

-Mi amor... onde estão os relatórios?

-Estão aqui...

 Esses dois também eram fofos... um casal de uns 20, 30 anos de idade... trabalhando e vivendo juntos. Pablo pegava os relatórios, acompanhado por um beijo de Maria... ah... o amor é lindo! Tão lindo que os originais e verdadeiros são raros por esse mundo. Crueldade não se falta também...

 Os dois lembravam outros dois... ah... mas já pensei nessas coisas demais por hoje.

 E, como mágica, algo veio a me inquietar. Eu tinha me esquecido completamente... como será que tudo estava indo?

-Maria?

-Sim...?

-Alguma coisa sobre as batalhas?

 Ela novamente faz uma cara de pensativa... e pega um papel, entregue à ela pelo seu amado de pele morena. Ela deu uma rápida lida. As olheiras e a preocupação só aumentaram no rosto dela.

-Estamos vencendo... os Negros estão recuando na fazenda... e em Santa Rosa também. Porém foi muito difícil... não tivemos quase nenhuma baixa... mas muitos, muitos feridos.

 Não parecia uma notícia tão ruim... alias, não era... mas percebi uma exaustão enorme em Maria. E eu via isso em mim mesma... precisávamos dormir...

 Até que percebi uma agitação no ar... Luca havia arregalado os olhos. Ao mesmo tempo que clicava e digitava. Eu e Maria nos entreolhamos... e sabíamos bem do que se tratava: Ele havia achado algo!

 Lentamente nos aproximamos dele... mas não deu para ver muita coisa! Havia um turbilhão de arquivos indo e vindo... uau! Com certeza ele achou algo! O que será que era? Era uma pista... ou era finalmente o que procurávamos?

 Foi aí que se estabelece um arquivo na tela... letrinhas minúsculas... nem deu pra ler de onde eu estava! Argh, que chato! Mesmo assim... parece que Luca conseguiu ler o que queria ler em pouco segundos, e quase explodiu na minha cara.

-ACHEI!

 Okay... a animação dele vazou para mim na hora! Até Pablo, que estava do outro lado da sala, ergueu a cabeça.

-O que?

-O lugar! Sei onde é! Mas é claro... só podia ser lá! TINHA que ser lá!

-“Lá”... lá onde?

 Ele mal poderia conter o sorriso e a animação naquela face... e se levantou da cadeira, quase espalhando ela e outras coisas direto para o chão. Ele parecia que ia falar algo... ele vai!

 Foi aí... foi aí que a porta se abriu, com um estrondo. Okay... eu já estava pulando de sustos demais naquele dia! Mas, para minha surpresa... não eram mensageiros... ou até alguém que tropeçou na porta... eram os meninos!

 Felipe entrou na sala como um rinoceronte... seguido por dois outros atrás. Estavam ofegantes... suando... e com o capuz na cabeça ainda, e quase caindo, para variar... mas uma coisa, além da “entrada fenomenal”  nos animou... eles sorriam, e muito!

-ACHAMOS!

 Dessa vez foi Louis... e confesso que nunca o vi tão energético assim! Os três agora estavam se apoiando em qualquer coisa... mais cansados do que nunca! Se, aparentemente, vieram correndo aqui... então o que Louis disse é verdade!

 Bem... estava eu ansiosa para saber, claro! Finalmente botaríamos um fim nessa busca mortal... mas logo Luca encarou Louis, com um olhar duvidoso.

-Ei... eu também achei!

 Louis fez exatamente o mesmo olhar de volta.

-Trouvé?* Onde?

-Erm... aqui!

 Luca rapidamente aponta para a tela do seu computador... e o olhar de todos na sala foi até lá imediatamente. Luca, vendo a dúvida nesses olhares... deu um pequeno zoom em uma única frase... e... e...

 MEU DEUS! Não acredito que era ali... mas... fazia todo sentido!

 Todos ali se olham, compartilhando um sorriso caloroso e enorme. Nem acredito que tínhamos achado... estava ali, o tempo todo! Como nunca vimos uma coisa assim e de tal proporção? Estava muito bem camuflado... e era o local perfeito!

 Maria estava com um sorriso triunfante... e muito contagiante! Logo, toma a palavra na sala.

-Brancos... preparem-se! Descançem bastante... amanhã cedo vamos invadir a base!

 Uau... mas... tipo... já?!

-Amanhã?! Só nós?!

-Sim... eu sinto que só deve ser nós... nós devemos ir lá e desmantelar isso!

-Mas... não vamos chamar uma equipe maior? – protesta Kevin.

-Não iria dar para levar todos até lá... e não faria sentido. Venham... vamos armar um plano de tática! Depois... podem descansar, e durmam bastante!

 Maria, ainda mantendo o sorriso, se volta para Pablo.

-Querido... vá até Aveline...

-Avisar o que?

 Ele sorria com malícia... sabia bem o que era. Mesmo assim, ela o respondeu.

-Que amanhã, atacaremos a base inimiga – disse ela – atacaremos a ilha de Alcatraz ao amanhecer.


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Notas finais do capítulo

Traduções para Melhorar o Dia:

* - "Sim! Vamos acabar com isso!"

** - "Que a força esteja conosco"

*** - "Sim Sim Sim!"

**** - "Essa guerra acaba agora..."

Uma das últimas falas de Louis:

* - "Achou?"

Espero que tenham gostado!

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