Marcas Da Morte escrita por Cavaleiro Branco


Capítulo 30
O Início do Fim


Notas iniciais do capítulo

Hey Hey People.

Hoje trago a vocês mais um capítulo, apesar de já ser meio óbvio. Felizmente, agora minha situação me permite escrever capítulos com uma velocidade maior do que vocês viam nos primeiros (Digo isso aos leitores mais velhos).

Também estão ficando mais longos. Mas saibam que és necessário! Apesar do tamanho, espero que aproveitem e curtam bastante. Ah... e comentem!

Boa Leitura



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26 de Agosto


Que dia quente!

O sol hoje estava mais escaldante do que nos dias anteriores. O que era bom e ruim... já que ficar naquela base subterrânea era praticamente insuportável. E, claro, ao invés de ficar assando lá embaixo, decidi tomar um ar puro!

O dia naquelas campinas estava muito agradável. O céu possuía pouquíssimas nuvens, e a grama estava verdinha! E uma suave brisa corria dentre as altas árvores.

Logo, comecei a treinar um pouco alguns golpes em chamas, que um cara do meu grupo havia inventado. Era muito show, e envolvia criar e lançar chamas socando o ar, em direção ao inimigo. Bem... está correto que isso aparece em vários filmes e tudo mais... mas ele, pelo menos, havia concretizado um meio de nós fazermos isso.

E, claro, eu adorei!

Estava lá eu, atingindo com chamas amareladas um pequeno toco de árvore (Ou o que sobrou dele. A coisa estava toda carbonizada!). O dia estava tão quente que tive que fazer umas providências. Tive que pegar um velho par de bermudas e uma camiseta sem mangas, verde. Faltava um chinelo... e eu iria parecer estar indo à praia! E eu até que estava indo bem com isso... e curtindo um bom sol. Até que ouço uma voz, as minhas costas.

–Felipe?

–Eu?

Assim que me virei, pude encarar um dos meus colegas. O cara vestia roupas leves também, como shorts e camisetas. A pele escura dele era belíssima ao sol, e seus cabelos eram imóveis com a brisa. Eu gostava de Louis, pois era bem dedicado, e costumava entregar mensagens por aí. Era um pouco mais velho que eu... e, apesar do sotaque Francês, dominava bem o inglês.

–Louis! – disse, depois de o reconhecer – o que se passa?

­-Marco mandou chamar-te – disse ele – descobriram algo sobre o “Caso Kevin”

Era assim que começaram a apelidar a coisa. Realmente... eu me sentia mal por ele. Mal sabíamos se tinha sido ele... e já o tratam com extrema dor e crueldade. Não que eu ache que ele não tenha feito isso... mas, como já tinha dito, não é do estilo do Kevin sair por aí e fazer essas coisas. Só espero que isso se resolva... e rápido.

O “Caso Kevin” mobilizou todo o pessoal. Os treinos praticamente zeraram, e todos se resumiam em procurar mais e mais pistas. Rolaram até pequenas missões pela cidade! Mas... como Aveline é muito chata... não nos deixou nem pisar fora da área!

Enfim, acenei com a cabeça, e comecei a segui-lo.

–Já sabe o que foi?

Non... mas pelo visto era muito sério.

Estremeci de leve. Será que isso poderia finalmente acabar com isso?


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–Felipe!

–Hã... olá?

Tá... me senti esquisito quanto entrei naquela sala de computadores. Estava todo mundo lá... trabalhando... e do nada eu apareço! E todos os olhares vem para onde...?

Mas logo afastei isso. Aveline parecia um tanto... séria? Pronunciou meu nome com uma certa animação, mas logo seu rosto mostra uma seriedade mortal. Atrás dela, vi que Heloísa também estava aqui! Mas... assim como Aveline, dentro de seus próprios pensamentos.

O que será que havia deixado-as assim?

–O que aconteceu? Descobriram algo? – me apressei a perguntar.

Aveline olha séria para uma das telas.

–Sim... e melhor ver por vocês mesmo.

Hesitei... mas me aproximei lentamente da tela. Assim que eu fiquei a uma boa distância, notei Aveline clicar um botão do teclado. Logo, a tela ganha brilho.

Não demorou nadinha, e apareceu... era aquela quadra de basquete! Mas parecia estar sendo vista de trás, como se viesse da janela de um edifício atrás. Apesar disso, podia-se ver claramente o que estava rolando.

Deu para ver dois elementos sob a quadra. Um rapidamente notei ser Jimmy, com um corpo grande e alto. O outro imediatamente pensei se tratar de Kevin... mas... estranho... Conforme o vídeo ia transcorrendo em alguma “conversa” entre os dois, notei que não parecia o Kevin. Do ponto de vista da câmera preto e branco, dava para notar que o elemento tinha cabelos longos, repicados e... claros? A imagem mostrava apenas a cor branca, nada mais. Vestia um manto longo e... totalmente... negro.

Fiquei mudo.

–Esse... esse não...

–Não – Aveline disse, simplesmente – não é. E não é tudo.

Com um clique, a imagem muda de cena. Na mesma quadra... pude ver já no chão o assustador corpo de Jimmy, da mesma maneira quando eu e Heloísa chegamos lá. Porém... a uma certa distância... notei outros dois elementos! O mesmo cara com o manto negro... parecia estar lutando com um outro. E, depois de uns segundos o analisando... pude notar quem era.

Era Kevin!

Os dois lutavam intensamente... e o negro usava uma adaga. Depois de uns golpes, Kevin roubara a adaga do negro, e tenta golpea-lo. Mas... rapidamente o negro dá um forte golpe em Kevin, fazendo-o cair no chão, ajoelhado. E... como se por mágica, o negro simplesmente some em uma espécie de fumaça negra. Passam-se vários segundos no vídeo... com Kevin encarando o corpo de Jimmy, provavelmente pensando no que acabara de rolar. Depois de um minuto e meio... vi mais dois elementos se aproximando de Kevin. Eram eu e a Heloísa.

Assim que Aveline desliga a tela... foi minha vez de se unir aos “Caras Sérias”. Aquilo tinha sido muito... chocante! Como eu nunca pensei nessa... possibilidade?

–Tinha mais... e decidi não mostrar a vocês – diz Aveline – nela mostra esse elemento negro dilacerando esse tal de Jimmy.

–Então... – minha voz estava anormalmente parada, surpresa – não foi o Kevin que fez aquilo?

–Aparentemente – conclui Aveline – e, para piorar, acho que Kevin estava tentando evitar isso, já que o Kevin apareceu nas imagens no fim de tudo isso...

A sala toda permanece em mortal silêncio. Foi muito chocante saber que eles (ou nós) tínhamos acusado Kevin de algo que ele até tinha evitado que acontecesse... ou tentado. E pior: o havíamos tratado como tal. E... tão surpreso quanto isso... estava a origem e a identidade daquele cara de negro. Quem era? O que queria? Porque? Argh! Dúvidas e mais dúvidas nos assolaram naquela hora.

–E... o cara de negro? – finalmente quebrei aquele silêncio – acham que ele pode ser... “Um Negro” mesmo?

–É muito provável que seja – diz Aveline – porém... como as imagens são em preto e branco... não identificamos muito mais. Só que o elemento tinha pele branca e cabelos em um tom claro... loiro, possivelmente.

–E...?

Aveline dá de ombros.

–Nada de mais... mas já é muito mais do que poderíamos receber antes.

Todos ali, inclusive eu, acenam com a cabeça em resposta.

–Pessoal – continua ela, agora com voz bem alta – cometemos um grave erro aqui, e temos a chance de correr atrás. Vamos caçar esse Negro até os confins de mundo... e, junto com ele, todos os outros!

Todos gritam em aprovação. Enfim o clima tenso se desfaz!

–Mas... antes... – Aveline retorna a um clima mais calmo – temos que fazer uma coisa.

Heloísa, pela primeira vez no dia, fala algo que eu escuto.

–E o que seria...? – mas todos, até ela mesma, já sabiam da resposta muito bem.

–Vão até aquela cela, e libertem o Kevin. Temos muito a resolver com ele.


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–Abram a porta.

–Mas... Aveline disse que...

–Você sabe o que Aveline disse. Agora abra!

O guarda iria protestar na mesma hora, mas só bastou olhar para os vários pares de olhos sérios que já se podia desistir de qualquer resistência. Rapidamente, ele destranca a porta de ferro, e a empurra para o lado. Lentamente, a porta de correr desliza para a direita, revelando a sala.

Nada mais nada menos que uma sala minúscula, sem iluminação e nem condições boas. Constava apenas de um colchão e um penico no canto. Uma onda de luz percorre o aposento... iluminando de primeira a única criatura viva dentro dela.

Heloísa mal esperou a criatura notar a sua presença, e corre adentro da cela, abraçando a criatura abaixada sobre o chão com toda a força que tinha.

–KEVIN! Desculpa! Desculpa! Desculpa!

Apesar do... “ataque”, Kevin continuava com um olhar vago, sem nexo. O fato de estar amarrado em uma camisa de força o obrigara a se ajoelhar pelo chão da cela. Sua face, única parte do corpo visível, estava alterada pelo tempo. Cortes e hematomas corriam por todo o rosto, e várias manchas de sangue coagulado e seco jaziam perto dos olhos. Mesmo com Heloísa, ele ainda continuava a olhar sem nexo para a parede.

Heloísa força a face de Kevin para ela, e eles finalmente se encararam. Enquanto isso... mais duas pessoas entraram na cela.

–Kevin! Está tudo bem?

Ele a encara e, pela primeira vez em semanas, faz uma expressão diferente.

–Parece que eu to bem?

Heloísa dá um sorriso dentre lágrimas, e o abraça de novo.

–Que bom que está vivo! Sentimos muito por tudo o que passou!

Kevin pareceu voltar a si mesmo, quando se afastou um pouco da colega de infância, e a encara.

–O que foi dessa vez?

–Kevin... – Marco, que também estava ali, vai direto ao ponto da coisa – ele era loiro?

E, como se por milagre, Kevin muda totalmente sua expressão. Passa de pequena dúvida e passa para olhos arregalados e grande impaciência.

–Até que enfim, hein! Achei que já estavam demorando para perceberem!

Todos ali abrem um sorriso, aliviados por terem aquela velha voz aos ouvidos, que não fosse por gritos ou reclamações... coisa que atormentou a base por vários dias.

Depois de vários segundos de silencio, Kevin novamente o quebra.

–Vão me tirar daqui ou está difícil?

Rapidamente, Marco se agiliza, soltando a pressão, que prendia Kevin àquela camisa de força. Assim que tiram ela de Kevin, ele esfrega os pulsos moles.

–Sabem como isso incomodou...?

–Heloísa – diz Marco – levem-no para a enfermaria imediatamente. Ele precisa de alguns medicamentos e curativos.

–OK!

Heloísa logo se aproxima de Kevin.

–Consegue andar?

–Eu não nasci com pernas pra ficar sentado... vamos logo... Estou doido para usar um banheiro descente...


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–Sério... eu tenho certeza que tem algo lá! Não aqui!

–Mas minha intuição diz que é aqui!

Apesar de Ashley estar muito empolgada com toda a situação, realmente não achava que iam achar alguma pista logo ali, tão longe de toda a cena central, segundo os policiais.

Pelo outro lado, Maurício parecia um cão farejador. Já havia vasculhado minuciosamente até os mais estranhos cantos dos fundos do Colégio onde, supostamente, havia acontecido “algo”. A polícia tinha começado a investigar essa área, e feito até um cordão de isolamento. Mas, como a noite não era nada vigiado, eles puderam passar e investigar tranquilamente.

Bem... e isso remontava já fazia dias. Ashley conheceu o garoto desde que entrou na escola, e sempre o achou legal e tudo mais. Porém... ela que se surpreendeu quando ele veio a ela do nada, falando sobre investigar uma “Cena do Crime Inédita”. Ashley, como é e sempre foi, topou na hora, e não tardou a estarem ali, no meio da noite.

–Mas eu não estou vendo nada, Mau! Onde? Onde?

–Peraí... Ilumina mais aqui para mim...

Ashley aponta a lanterna curiosa para o ponto indicado. Maurício se agachava atrás de uma pequena lata de lixo, no canto dos fundos da escola. Não é a toa que Ashley achava que não era esse o lugar mais provável para se procurar pistas... mas o garoto tinha uma mente perspicaz, apesar de não parecer.

–Olha! Olha!

Imediatamente dois pares de olhos se concentram com emoção no objeto, em mãos de Maurício.

Tratava-se de um pequeno pingente. Uma corrente quebrada de aço ostentava uma estrela do mesmo material. Dentro dela, estava desenhada siglas de... parecia ser de um time de Futebol Americano. Porém... o que mais os assustava é que havia pequenas quantias de sangue seco, nas pontas da estrela.

Apesar disso... os dois pareciam mais fascinados e animados que nunca com o achado.

–Sabe o que é isso?!

–Bem... além de ser uma pista boa? – responde Ashley.

–Jimmy costumava usar esse pingente, meio escondido pela camisa!

Ashley arregala os olhos.

–Jimmy esteve aqui! E parece que não foi bonito...

–Sim... deve ter acontecido algo sério... Tantas perguntas! Como não acharam isso antes?

–Não sei! Não procuraram tão bem quanto você!

Maurício logo dá um sorriso vermelho e sem graça, enquanto se levanta.

–Acho melhor irmos indo!

–M-Mas... porque?! Podem ter mais pistas!

–E tem! Mas vamos deixar o resto para os policiais! Não podemos limpar tudo.

–É... tem razão!

–Venha! Vamos analisar isso lá na minha casa! Agora mesmo!

–Sim! Vamos! Vamos!

Logo, os dois se dirigem rapidamente até o pequeno portão que, junto com um muro, separava os fundos da escola da rua ao lado. Em apenas um minuto, a porta se fecha, sem que ninguém soubesse que dois adolescentes haviam entrado em uma cena de crime.


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–Hahahá! Não, foi você!

–Claro que foi você! Para!

Os dois seres, vestidos de mantos negros, logo adentraram na sala. O escritório dele estava impecável como sempre, e agora iluminado por dois pares de lâmpadas, instaladas como se fossem tochas, nas paredes da sala. Não eram lá as melhores, na opinião dele. Mas ajudavam a substituir as absurdas quantias de se manter uma corrente de gás por ali.

Os dois seres riam-se ao entrarem na sala... tanto que nem notaram de primeira o outro elemento lá.

Assim que notou-a, sentada em uma cadeira, bem enfrente a sua mesa, as risadas cessam.

–Não a esperava aqui agora.

Ela vira a face para ele.

–Tive que fazer algumas coisas antes de vir para cá, Mestre.

Ele encara a amada, ao seu lado.

–Tudo bem com ela aqui?

–Claro, meu amor. Pode sentar-se.

Com um sorriso caloroso, ele logo se posiciona em sua confortável cadeira. Sua parceira fica em pé ao seu lado, com os braços atrás das costas, encarando a companheira, sentada a frente.

–O que temos para hoje, querida?

–Chegaram essas atualizações hoje a tarde, olhe.

Logo ela entrega e ele duas folhas de papel. Ele logo as pega, e começa a Le-las calmamente. E um sorriso se forma em seus lábios.

–Enfim conseguimos... não sabe como foi difícil ter que ir para lá e para cá nisso tudo! Tem noção de como é difícil ter que ir e voltar de lá tantas e tantas vezes?

–Custou muito do nosso tempo! – comenta sua amada.

–Realmente... pelo menos agora a mídia vai pensar que não se trata de mais um daqueles Ataques...

E, sem motivo aparente, ele encara a garota a frente, com um sorriso malicioso.

–Já sabe do que se trata?

–Não... senhor... – ela tinha medo de olhar para aqueles olhos.

–Então olhe a aprecia, lacaia.

Ele simplesmente arremessa o papel para as mãos da garota com aquele mesmo sorriso no rosto. Assim que os papéis pousam perfeitamente em suas mãos, ela lentamente se trave a olhar.

–A... Ataque Terrorista em... Seattle?

Ele dá uma risadinha.

–Sim... sim! Se esses trouxas entendem assim, quer dizer que fizemos como deveria.

–Faz... parte do plano?

–Sim, lacaia... está pegando o jeito! Sim, faz parte da estratégia... continue...

–“Governo teme que os ataques cheguem ao sul...” Essa é a maneira que o senhor encontrou para solucionar o...

–Sim, minha querida aprendiz...

–Então a hora está chegando...

Ele logo sente que há uma pequena tensão e medo em sua voz. Logo, ele volta a encara-la com seriedade.

–Seu momento chegas sim, irmã. Mas não ficarás abatida! Finalmente poderás sentir na pele o que é o mal da Terra!

Ela ergue os olhos.

–Eu lutarei com os Brancos?

–Sim! Mas não temais, porque não estarás tão difícil quanto geralmente estaria. O ataque os deixará tão atordoados que os fará parecer formigas indefesas contra o grande veneno da verdade e da purificação.

Apesar disso, ele ainda conseguiu notar uma certa apreensão no tom que ela usava. Mas... sabia que era só algo passageiro. Tudo ia mudar quando gotas de sangue daqueles Brancos pingarem sob os dedos dela.

–Quando será esse ataque, Mestre?

Logo, ele fica pensativo por alguns segundos. Não podia dizer com exatidão, mas sabia disso já havia algum tempo.

–Em breve, minha cara... muito em breve...


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Mais cedo, naquele mesmo dia...


–Kevin?

Ele lentamente ergue os olhos para sua visitante. Logo, a ironia surge em sua face.

–Você por aqui, Aveline? Que surpresa.

Na entrada daquele quarto, Aveline estava encostada na parede, de braços cruzados. A pouca luminosidade da entrada não permitia definir exatamente suas expressões faciais, mas era certeza que olhava para Kevin.

Lentamente, ela adentra no aposento. A “enfermaria” que haviam montado era bem equipada e, claro, bem mais confortável do que a cela em que Kevin havia ficado por vários dias. Dotada de um amplo espaço, era completado por várias macas e bancadas, onde repousavam inúmeros medicamentos, dentre outras coisas, como bandagens e agulhas. Vários abajures iluminavam a enfermaria que, no momento, só contavam com Kevin e Aveline.

–Acho que te devo umas desculpas.

–Do que? Da bofetada feia ou dos mals tratos?

Aveline ficou indiferente ao pequeno sorriso de Kevin. Apesar de tudo... ele parecia não estar dando muita bola para o que tinha lhe acabado de ocorrer.

–Foi bem tratado?

–Como sempre. No final, só precisei de um bom banho e umas bandagens, nada sério.

Realmente o tratamento de Kevin havia durado menos de 3 horas. Apesar de não aparentar bem, só necessitaram limpar o ferimento, colocar algumas ataduras e bandagens, e dois pequenos medicamentos para Kevin. Foi logo que ele pode ficar descansando tranquilamente na maca, cheio de faixas brancas pelo corpo, e vestindo um tipo de “pijama”.

–Realmente bom... tens sorte que não foi realmente o culpado disso.

Ele ri um pouco.

–Eu não gostava de Jimmy, vou ser sincero. Mas... achei suspeito e, logo depois, brutal o que o Negro fez a ele... então eu simplesmente fui.

–Sabe algo sobre esse Negro?

Kevin pareceu pensar.

–Não... e ele também não falou quase nada comigo quando nos encontramos. Parecia que... ele agia como se eu e ele fossemos velhos inimigos.

–Hum... lembra-se de ter lutado com ele antes? Talvez o mesmo da Ponte?

–Da ponte? Duvido... o da ponte aparentava ser mais velho. Esse é... jovem... igual ao que nos atacou naquele treinamento.

–De certa forma... Kevin, estamos fazendo o máximo que podemos agora para tentar descobrir o paradeiro desse Negro. Mas, por enquanto... estamos calmos...

–Finalmente... um pouquinho de paz...

–...Porém, advirto você que é bom aproveita-la bem.

Não demorou quase nada para que Kevin levantasse a cabeça.

–Do que está falando?

–Houve um ataque “terrorista” em Seattle, hoje de manhã. Explodiram um carro-bomba na prefeitura.

–Meus pêsames.

–Não é esse o ponto. Desconfiamos que possam ser os Negros.

–Os Negros? Não sabia que eles não gostavam de Seattle.

–Pois bem, nem nós. Achamos que pode ser o começo de algo maior.

A expressão de Kevin muda de indiferente para algo mais aflito.

–Acha que pode ser um aviso? Do tipo... “Saiam daqui agora, ou é isso que vai ocorrer com vocês?”

–Talvez... Mas foi muito bem elaborado e sem nenhuma pista. Foram eles, e talvez tenham mais de um motivo.

–Já pensou que poderia ser uma distração? Eles nos fazem pensar que é ali a coisa, e nos fazem mandar tropas. Ou caímos em uma armadilha... ou nos distraímos do verdadeiro show.

–Talvez... Kevin. São todas boas possibilidades... mas não há fatos concretos que comprovem alguma.

–Bem... de uma coisa eu sei... se é isso mesmo...

Ele se inclina levemente para Aveline.

–Se esse é um aviso, uma prévia... o “Prato Principal” deve ser uma bela de uma entrada, não acha?

–O que isso for... não será nada... nada bom.

–E, pela primeira vez em muito tempo... – Kevin diz com frieza – concordo com a senhora.


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O que poderia ser mais entediante do que um turno de vigia noturno? Jogar baralho com Puskin.

Anastasia não deveria ter se oferecido espontaneamente para pegar aquele turno noturno, ao norte da Baía de São Francisco. Não bastava já ter que vir a essa missão à America, e abandonar sua adorável vida na base de Moscou.

O que era pior é que a tinham enfiado naquela torre camuflada justamente com um de seus colegas de trabalho, Puskin.

–Se eu tivesse uma rainha... – comentava ele – você me jogaria o que?

–Cala-te e jogue logo essa rainha então.

–Acalme-se! É só um joguinho básico.

Os dois se encontravam jogando no piso daquela torre. Camuflada dentre as várias árvores, ninguém podia vê-los, mas eles viam todos. Bem... todos os que estavam na linha de visão dos poderosos binóculos de Anastasia. Ela fazia tudo por ali naquela madrugada... e Puskin praticamente ficava fumando um cigarro atrás do outro na brisa suave. Mas o que tinham a fazer? Nada ocorria ultimamente, e nem irá.

Ele joga a rainha de copas.

–O que acha dessa? Hein, hein?

Ela retribui, com uma risadinha.

–Vejamos se você pode contra o...

Houve-se uma explosão ao longe.

Imediatamente, os dois ficam estáticos. Demorou poucos segundos para que ambos se encostassem em pé no parapeito da pequena plataforma, no topo da torre.

–O que foi isso?!

–Acalme-se, Anastasia – tranquilizou Puskin, enquanto pegava seus binóculos – provavelmente deve ser algo bobo, desses Americanos desajeitados.

–Eu espero...

Puskin vasculhara todo seu campo de visão. Até avistar uma pequena torre de fumaça negra, subindo aos ares.

–Do que se trata?

–Talvez... acho que foi uma fabrica pequena... ou algo assim... – responde Puskin – nem é motivo de preocupação...

–Certeza? Deixe-me ver.

Puskin passa então os binóculos para Anastasia. Enquanto ela se concentrava na origem da torre de fumaça, Puskin se aproxima da outra base da torre, e começa a encarar o horizonte Oeste.

–Não falei que não era nada, Anastasia? Deixe esses binóculos.

–Espera! Quero ver mais um pouco...

Puskin balança a cabeça de reprovação. Que persistência! Enquanto encarava o horizonte, suas mãos foram puxando mais um cigarro dos bolsos, juntamente com seu isqueiro azulado.

E foi aí que viu.

Um minúsculo flash de luz vem do horizonte. Puskin tenta forçar a visão para ver melhor a origem... porém imediatamente nota algum objeto longo, metálico e fino... e que estava se dirigindo pra eles muito, muito rapidamente.

Ele arregala os olhos.

–PULA!

–Hã?

–NÃO PERGUNTA! PULA!

Sem hesitar, Anastasia e Puskin largam seus objetos e, sem analisar nada mais, saltam para o abismo florestal abaixo.

Ainda na queda, um míssil atinge o topo da torre, explodindo-a em uma enorme bola de fogo e fragmentos, que voavam a todos os lados.

Anastasia nem teve tempo de ver o desastre, e pousava bruscamente em um pequeno monte de folhas. Suas habilidades lhe impediram de ter ferimentos mais pesados, apesar de se levantar e sentir fortes dores na perna esquerda. Assim que se levanta, encara sua volta, nervosa, assustada e com medo.

–PUSKIN? PUSKIN!

–Estou aqui!

Ela logo vê o parceiro surgir do meio dos arbustos. Ele estava suando, e tinha um pequeno corte na testa.

–Mas... o que...?

–Te respondo no caminho! Corra!

Ainda cheia de dúvidas e perguntas, Anastasia segue Puskin. Ambos corriam fervosamente por dentre as altas árvores e pequenos arbustos daquela floresta. Enquanto viam atrás os restos da plataforma em chamas.

Não tardou muito para ela perguntar.

–O que nos atingiu?!

–Acho que foi um lança mísseis... ou um míssil de um desses! Veio do lado do oceano!

Após correrem por vários e vários metros, eles param um pouco, às bordas de uma estrada. Após respirarem fundo, observam juntos a fumaça e o fogo que saia do que, a apenas 5 minutos atrás, já foi uma torre de vigilância.

Anastasia lentamente olha para Puskin, agonizada.

–O... O que será que foi aquilo?

Nem Puskin sabia exatamente. Mas uma coisa passava pela sua mente, e era forte demais para não ser verdade.

–A guerra começou.


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Notas finais do capítulo

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