O Mistério de ísis escrita por Arthemisys


Capítulo 1
O prólogo




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O Mistério de Ísis

 

 

 

O Prólogo

 

 

“Se o mal não existir, então qual será a finalidade do bem?”

Autor desconhecido

 

 

 

No início, o mundo era sem forma e vazia, na visão dos cristãos.  Para os gregos, apenas o Caos existia.  Mas nessa história, o princípio de tudo era apenas Nun, o Oceano Primordial, onde Aton, o deus original, dormia seu sono eterno protegido no interior de uma flor de lótus. 

 

Um dia, Aton despertou de seu sono e aparecendo diante da grande imensidão do nada que Nun formava, criou para si dois filhos, os primeiros deuses separados.  Seus nomes eram: Shu, o deus do ar e Tefnet a deusa da umidade.  Sendo dois seres diferentes e ao mesmo tempo, tão iguais, Shu e Tefnet se aproximaram cada vez mais e mais, nascendo assim o amor, que por sua vez, fez com que tal união gerasse mais dois deuses: Geb, o deus da Terra e Nut, a deusa do céu.

 

Mais uma vez o amor se fez presente e Geb e Nut, a Terra e o Céu, se amaram e desse amor pleno e majestoso, surgiram aqueles que seriam os primeiros deuses a governarem a herança de Geb, ou seja, o Planeta Terra.

 

O primogênito, o deus Osíris, foi incumbido de governar os vales verdejantes que se localizavam ao nordeste da África, região hoje conhecido como Egito.  Mas ele não quis governar sozinho e pediu a mão da bela Ísis em casamento, pois com ela ele queria reinar... Era com Ísis que Osíris entregou seu coração e todo o seu amor.  Também partia de Ísis o desejo de se unir a Osíris, pois o coração da jovem deusa já tinha se curvado ao deus, desde a primeira vez que ela tinha contemplado todo o esplendor de sua beleza e majestade.

 

E assim foi feito.  E com sabedoria, Osíris e Ísis governaram o vasto vale onde o rio Nilo serpenteia com autoridade.  Dias felizes se seguiam naquelas terras abençoadas pelos deuses e amada pelos homens.  Em seu magnífico Palácio, Osíris coordenava tudo o que estaria dentro do plano político dos homens enquanto Ísis, sempre atenciosa às súplicas humanas, ensinava aos homens todos os mistérios dos cultos religiosos e para as mulheres, lhes secretava a misteriosa arte da magia e as complexas atividades do lar.

 

Sim, sem dúvida uma união perfeita, o Yim e o Yang.  Mas assim como o amor, a inveja e o ciúme insurgiram no seio divino da criação e então, Seth, o deus dos desertos mortais, terceiro filho de Geb e Nut, desejou que seu irmão mais velho jamais tivesse nascido.  Em seu frio coração, a inveja pela força que o irmão a cada dia adquiria e o ciúme por Ísis que tão publicamente mostrava seu amor pelo marido, o fez maquinar um plano maligno para acabar com essa perfeita união.

 

E então, em uma clara noite onde as luzes das tochas do Palácio de Seth que se localizava nas regiões desertas de Saqqara, crepitaram com fulgor, Seth assassinou o irmão mais velho de uma forma tão covarde, que até mesmo seus pais amaldiçoaram o dia em que Seth veio ao mundo, rasgando violentamente o ventre de Nut. Sem qualquer chance de reagir, Osíris foi lacrado pelos comparsas de Seth, em uma urna de ouro e jogado no rio Nilo, o espírito da morte o levou com suas asas negras para “O Lugar Além do Horizonte Ocidental”.  O deus do mal assumiu então o poder do Egito, mas não conseguiu obter para si o que mais desejava em sua existência: o amor de Ísis.

 

Enquanto ele a procurava desesperadamente pela superfície da Terra, Ísis estava mais próxima do que ele mesmo imaginava, se escondendo nos sombrios Pântanos de Buto, onde esperava pacientemente o dia em que seu filho com Osíris nascesse e que a partir desse dia, o fruto daquele amor tão pleno e tão imaturamente acabado, fosse vingar o sangue de seu pai.  E assim, aconteceu...

 

...x...

...x...

...x...

 

 

Ato I

 

 

O vento batia no rosto daquela que fazia todo o Egito se ajoelhar aos seus pés.  Seus longos cabelos pretos e lisos flutuavam ao sabor daquela brisa advinda do Rio Nilo, onde sua pele morena e levemente bronzeada parecia ter saído da tela de um artista fenício, pois jamais se viu em toda aquela região, alguém que possuísse uma tez tão fina e macia.  Seus olhos eram amendoados e igualmente negros, onde a maquiagem típica daquela região os fazia ainda mais belos e misteriosos.  Seu corpo também era algo extremamente agradável ao olhar, onde curvas sinuosas eram bem vistas e ainda mais admiráveis naquele vestido longo confeccionado com uma leve seda vermelha plissada.  Ela usava em seu corpo várias jóias discretas, mas não menos magníficas, onde um adorno em especial chamava a atenção: um bracelete de ouro que tinha uma Fênix em alto-relevo.  Um presente que fora dado há muito tempo por seu amado. 

 

Tão magnífica visão feminina se encontrava no convés de uma embarcação que finalmente cruzava o extenso Nilo rumo a Mennefer, capital do Reino do Egito.

 

- Essa entediosa viagem acabará logo. – a voz grave e forte se dirigia a ela de uma forma totalmente doce e respeitosa, despertando ela de seus pensamentos longes.

 

- Não sinto tédio nessa viagem. – ela se vira em direção ao dono da voz e lhe dá um sorriso tão belo quanto ela própria. – Apenas me sinto aliviada por saber que finalmente teremos a paz de volta.

 

E num gesto maternal, a bela mulher ergue os braços em direção ao rapaz, abraçando-o com carinho.

 

- Será um bom rei. – ela dizia enquanto afagava o cabelo negro do rapaz. – Será justo e nobre como foi seu pai.

 

- Meu pai sentirá orgulho desse novo reino. – ele respondia, enquanto se livrava do abraço e começava a acariciar o rosto da mulher que parecia ter a mesma idade dele, pois não se via naqueles dois seres, nenhum sinal de velhice e fadiga. – E você poderá reinar junto comigo, como era antes.

 

- Nada será como era antes, Hórus. – o belo sorriso dela se desfaz, dando lugar a um olhar plenamente perdido em lembranças felizes que jamais poderia voltar a vivenciar novamente. – Você deverá procurar no seio divino ou terrestre, alguém que merece ter o seu amor.  Eu apenas serei a mestra de vocês, para que não venham a cometer atos precipitados.

 

- Não diga isso. – o rosto do rapaz demonstrava desgosto. – Tu és Ísis, a senhora do Egito.  É seu direito governar este país.

 

- Sim, é o meu direito. – ela se vira para ele, encostando-se no parapeito da embarcação. – Mas não sinto mais a vontade de me sentar naquele trono, pois foi por causa daquele trono que eu perdi seu pai para sempre...

 

- Você não o perdeu para sempre.  Ele está a nos contemplar nos altos céus. – o rapaz a olha com compaixão.  Sempre sofrera por nunca ter tido a capacidade de resgatar aquele que fazia sua mãe tão feliz.

 

- Ele me olha, mas não pode mais tocar em meu rosto – ela fala enquanto repete os gestos que pronuncia, tocando ela mesma em seu rosto. – e não posso mais sentir o suave perfume de seus lábios próximo aos meus. – ela toca delicadamente seus lábios com a ponta dos dedos e sem controle, lágrimas começam a cair. – Ele está me contemplando sim, meu filho.  Mas... – ela se volta para ele e Hórus pode com tristeza contemplar todo o sofrimento de sua amada mãe. – Nada será como era antes.

 

E cabisbaixa, ela retorna ao interior do belo barco, impedindo que seu filho a visse chorando mais.  Ísis ainda sentia uma louca saudade de seu marido Osíris, mas naquele momento, deveria se mostrar forte ao filho que está prestes a se tornar rei e deus daquele grande Vale Fértil chamado Egito.

 

Mais algum tempo se passou e finalmente, o Navio Madjet (que significa “tornando-se forte”), como era chamada a embarcação real que trazia os deuses vencedores, atracou em um porto de Mennefer.  De lá, um majestoso cortejo se seguiu até o Palácio do Disco Solar, onde finalmente, Hórus ergueria o cetro do Alto Egito, afirmando assim a sua divindade e o seu império sobre aquelas terras.  Uma multidão incontável se fazia presente nos portões principais, que por sua vez, davam uma vista privilegiada da grande varanda do Palácio, onde era costume o Rei aparecer, para fazer suas declamações ao povo egípcio.

 

- Como se sentes?

 

- Bem, minha mãe. – o jovem respondeu com sinceridade, enquanto sacerdotes que eram filhos dos antigos sacerdotes que haviam servido ao seu pai, o deus Osíris, agora o guarneciam de cuidados e naquele momento, o ajudavam com as complicadas vestimentas reais.

 

- Abstenha-se de toda e qualquer preocupação, Hórus. – Ísis o advertia com a sua impagável voz serena. – Será agora o momento em que mostrará a todos os seres imortais e mortais, que a verdadeira justiça prevaleceu e que novamente, a sensatez voltou a reinar nesta terra tão querida.

 

Um sorriso foi a resposta que Hórus deu a sua mãe, antes de partir ao pátio externo do Palácio, a fim de mostrar para os homens que o aguardavam, que mesmo sendo um deus, ele jamais se mostraria maior do que aqueles a quem governaria.

 

- Homens e mulheres do Egito! – o arauto finalmente ergue sua voz, do alto da sacada, para a multidão que se encontra aos pés do portão principal do Palácio. – Ajoelhem-se diante daquele que os céus abençoaram e fizeram de uma forma plenamente justa, o nosso rei e deus!

 

Todos se ajoelharam imediatamente, mas Hórus não apareceu na sacada do edifício, como imaginaram.  Para a surpresa de todos e até mesmo do arauto, Hórus apareceu no pátio externo do Palácio, ordenando aos guardas para abrirem o portão, a fim de ele poder caminhar entre os seus súditos.  Na sacada, apenas Ísis apareceu, escoltada por sua sacerdotisa Nefertari e por sua dama de companhia, uma sorridente garota por volta de seus treze anos.

 

- Homens e mulheres que povoam essa abençoada terra! – Hórus começa a falar, fazendo com que toda a atenção se volte a ele, tão poderosa é a sua voz. – Não é meu desejo que me vejam como um ser inacessível, que apenas possa ser visto do alto.  Meu desejo é estar entre aqueles que me servem, pois se hoje eu estou recebendo o mérito de governar a herança do grande Geb, é pelo fato de que homens e mulheres de valor me acompanharam na perigosa investida contra o odioso Seth.  Que hoje não seja lembrado como um dia que Hórus recebeu a investidura de governar o Egito, mas sim, que seja lembrado como o dia em que todo o povo do Egito se livrou das amarras da dor e do sofrimento!

 

Impetuosamente todos os expectadores das palavras de Hórus se levantaram, por um momento esquecendo-se que diante deles estava um filho dos céus e com entusiasmo, começaram a bater palmas e a cantar louvores a todos os deuses ali conhecidos.  Uma ovação sem medida que durou por muito tempo.

 

- Veja meu amado, o resultado do nosso amor... – Ísis dizia quase em um sussurro, essas palavras, enquanto seus lábios formavam um sorriso de alegria, um sorriso tão raro nos últimos tempos que até mesmo sua sacerdotisa notou.

 

- Creio que o vosso esposo está a contemplar orgulhoso em seu trono no “Lugar Além do Horizonte Ocidental”, o poderoso e benevolente rei que o príncipe Hórus se tornará. – Nefertari diz respeitosamente.

 

- Sim Nefertari, eu creio nisso. – e caminhando de volta aos seus aposentos, diz. – Por favor, me deixe a par de todos os acontecimentos.  Apenas quero descansar agora.

 

- Sim, vossa santidade. – a sacerdotisa responde, abaixando a cabeça com respeito à passagem da deusa.

 

A pequena menina toca curiosa a jovem sacerdotisa, que responde com tristeza:

 

- Ela ainda está muito triste.  Demorará muito para que ela pare de sentir saudades do marido. – e notando que a pequena criança já estava começando a se virar em direção aos aposentos da deusa, a sacerdotisa a pega pelo tecido do vestido e diz com ar de repreensão. – Pequena. Quantas vezes eu já lhe disse que quando nossa deusa estiver assim, você não poderia se aproximar? Sabe que isso pode deixá-la incomodada...

 

- Ah, Nefertari! Deixe a Pequena fazer o que quiser! O que uma criança poderia atrapalhar? – uma outra voz faz com que a jovem sacerdotisa olhe para a direção da voz.

 

- Mutef. – Nefertari diz ao ver o guerreiro sair das sombras. – O que está fazendo aqui?

 

- O mesmo que você. – ele diz com simplicidade. – Protegendo a Rainha Ísis.

 

- E onde está Senuef?

 

- Aqui sacerdotisa. – outro guerreiro sai do esconderijo que um pilar oferecia. – Sabe que Mutef não consegue fazer nada sozinho! Por isso, eu também tenho que fazer a guarda. – e balançando a cabeça negativamente, lamenta. – Eu trabalho por dois: por mim e por Mutef! Não mereço um castigo tão grande assim!

 

- Como é Senuef?! – Mutef indaga indignado. – Você sim é que não sabe fazer nada sem a minha ajuda! Tanto é que Eu nasci primeiro, só para poder facilitar a sua passagem no parto!

 

Apesar do ar sério que ostenta Nefertari não conseguiu segurar uma pequena risada ao ver o comportamento dos gêmeos Senuef e Mutef. O porte físico dos irmãos dava em uma primeira vista, um temor e respeito considerável. Mas depois de uns cinco minutos de conversa, percebia-se que os corações de ambos eram mais inocentes do que o de uma criança.

 

- Está certo. Chega de discursões. – Nefertari decide encerrar o assunto entre os irmãos. – Senuef e Mutef. O general Amset está à procura de vocês para uma reunião logo mais. E Pequena, - ela se dirige a menina que apenas sorria até aquele momento. – vá até a cozinha. Pedi para o copeiro separar as melhores bananas para você.

 

Ao ouvir aquelas palavras vindas da sacerdotisa, a menina dá um grande sorriso e correndo a uma velocidade impressionante, ela vai até a cozinha onde sua fruta predileta a esperava. Todos olham a velocidade da menina, espantados.

 

- A Pequena parece que é filha de babuínos! Nunca vi ninguém gostar tanto assim de bananas! – Senuef diz abismado.

 

- É verdade. Talvez ela tenha sido um macaco em sua última reencarnação. – Mutef complementa. – Bem, vamos logo Senuef. Amset deve está esperando a gente.

 

E ao saírem, a sacerdotisa de Ma’at se virou novamente, dando outra olhada para a multidão que ainda aclamava o novo rei. Nesse momento, ela se lembrou com saudades, do tempo em que aquele Palácio, ainda imaculado pelo sangue, tinha em seus dias felizes, Osíris como rei e Ísis, sempre amável, caminhando todos os dias nos jardins do Palácio. Nesse exato momento, no qual as recordações submergiam de sua mente, um homem idoso a chamou, a fim de que ela desse as últimas ordens para o culto de Ma’at que se realizaria em um templo próximo, no dia seguinte.

 

Neste exato momento, em uma taverna do subúrbio de Mennefer, todos os olhares estão voltados a um casal que está sentado em uma mesa feita de pedra polida. Ambos se encaram, como se analisassem cada centímetro um do outro e logo em seguida voltam a discutir novamente. O homem é o mais exaltado em suas afirmações e seu corpanzil parece estremecer por completo a cada resposta atrevida que a mulher lhe dava. Ela por sua vez tinha um ar divertido e parecia levar àquela discursão na mais pura brincadeira.

 

- E por que não?! Ou você ainda acha que as mulheres só servem para o calor de um fogareiro de cozinha e para o prazer de um homem no quarto? – a voz feminina declara desafiadora.

 

- O que disse?! – o outro pergunta com certa ira na voz.

 

- Eu acho que ela te desafiou. – um homem magro, usando um imundo turbante na cabeça, tenta iluminar o raciocínio do outro homem ao seu lado.

 

- Você me desafiou?! – o robusto homem esmurra a mesa, fazendo com que a sua taça de vinho derramasse.

 

- Nossa! Agora que percebeu isso?! – a mulher diz com desdém.

 

- Nenhuma mulher faz de bobo o grande Amin! – o homem bradava, soltando espumas de saliva da boca.

 

A jovem solta uma grande gargalhada e tentando terminar de ingerir o seu vinho, diz com um ar divertido. – Ora essa Amin! Você só se confia na sua banha, digo, na sua força! E saiba meu caro que ninguém vence pela pura força, mas sim, pela esperteza!

 

O rosto redondo do homem ficou tão rubro que os presentes ali pensaram que o sangue iria espirrar do rosto dele, como a água em uma fonte nova.

 

- Sua vadia! – ele brada e com rapidez, ergue a jovem pelo pescoço. – Vai morrer por ter ofendido o grande Amin.

 

A única reação da jovem que ainda era erguida no pescoço pelo forte braço do homem, foi a de revirar os olhos. Sentindo que a força daquele gigante começava a sufocá-la, ela tocou delicadamente o braço dele e com as unhas, começou a acariciar aquela massa de músculos e gordura que formava o corpo daquele homem.

 

- O que está fazendo?! – Amin perguntava com curiosidade, ao ver que o rosto da mulher não parecia demonstrar nenhum sinal de sofrimento. – Está implorando perdão, mulher?! Pois saiba que se não fosse a ofensa que fez ao grande Amin, eu a levaria agora mesmo até um dos quartos dessa pocilga e lhe mostraria que... AAAHHH!!!  

 

Ele cai de joelhos e todos olham com um admirado temor. O braço que antes esganava a jovem, agora rola ensangüentado pelo chão da taverna. Com frieza, a jovem se aproxima do homem ainda gemendo e com força, o puxa pelos cabelos, fazendo com que ele encarasse os olhos castanhos dela.

 

- Que isso sirva de lição homem. Espero nunca mais saber notícias referentes a violências que você praticou contra mulheres por essas terras ou do contrário, cortarei seu corpo em quatorze pedaços e jogarei os seus amados órgãos reprodutivos para os urubus comerem, ouviu bem?

 

- Sim... – o homem sussurra, enquanto choraminga de dor.

 

- Eu não escutei.

 

- SIM!

 

- Agora está melhor. – ela sorri satisfeita, indo até o balcão e jogando para o taverneiro, um saquinho cheio de pequenos bastões de bronze. – Isso paga o vinho? – e ouvindo a resposta positiva do taverneiro, ela começa a se dirigir para a saída da taverna, onde diz. – Amin, quando alguém lhe perguntar quem mutilou o seu braço, pode dizer que foi Nuíta de Bastet que o fez, certo?

 

Todos sem exceção, olharam a jovem com um temor inigualável. Ela apenas dá um sorriso travesso e sai da taverna, se dirigindo apressadamente até o Palácio Real.

 

Alguns minutos depois...

 

O amplo pátio do palácio parece obter para si um tom dourado com a luz clara do Sol do meio-dia, onde seus limites são gentilmente adornados pelas mais variadas espécies de flores e plantas ornamentais. Marcando o centro do pátio, havia uma bela fonte de água, onde flores aquáticas também adornavam e em seu centro, como que nascida das águas, havia uma estátua em mármore branco de uma magnífica íbis, ave sagrada do Egito. De seu bico, dois filetes de água jorravam, dando um ar mais belo e contemplativo à fonte. Próximo a ela, com um ar impaciente, um homem a altura de seus trinta anos parecia esperar impaciente por alguém. Seu porte alto e atlético lhe conferia uma graça incomum, uma beleza bem próxima as magníficas estátuas gregas. Sua pele morena clara, um tanto bronzeada parece ainda mais realçada pelo saiote branco plissado e pelo peitoral dourado com pedras preciosas. Preso a sua cintura, uma espada de cabo dourado também brilhava ao contato da luz solar. Seus cabelos lisos e um pouco longos, caiam desordenadamente nos olhos, dando a ele, um ar belo e exótico. Quando olhava pela quinta vez em direção ao sol, ele sentiu que sua espera terminara.

 

- Nos chamou Amset?

 

- Senuef e Mutef. – Amset, o homem que foi descrito há pouco, se vira em direção aos gêmeos. – Podem me dizer que demora é essa? E onde está Nuíta? E Hapi?

 

- Nós não sabemos do paradeiro deles. – Mutef dizia enquanto Senuef balançava a cabeça negativamente, na intenção de mudamente, responder a pergunta feita por Amset. – Mas você já pode imaginar onde eles devem está: o Hapi deve está lendo todos os manuscritos da “Casa da Vida” e a Nuíta metida em alguma confusão... Hei! Mas por que você não faz perguntas sobre a Nefertari? Ela também é uma de nós!

 

- Eu sei. - Amset diz um tanto constrangido. – Mas ao contrário de vocês, ela é a única que possui obrigações além dessa. Ela já havia me dito que demoraria, pelo fato de está cuidando dos últimos preparativos do culto de Ma’at.

 

- Ah... – os gêmeos respondem ao mesmo tempo.

 

- Como assim só ela tem obrigações?! – Nuíta, a jovem que há poucos instantes atrás estava dando a devida punição para as atrocidades de Amin, aparece diante deles, com os braços cruzados. Notava-se que sua idade não era posterior aos vinte anos e que várias pequenas cicatrizes espalhadas pelo corpo provavam que ela já havia tido experiência com batalhas. Seu corpo moreno e esguio parece contrastar com a incrível força que ela comprovadamente possuía. Seu rosto também não fugia a regra, tendo todos os seus traços tão finos e frágeis quanto os de uma nobre e ao contrário das outras garotas de sua idade, Nuíta não ostentava longas madeixas, mas sim, tem quase toda a cabeça raspada, sendo que apenas uma longa trança que nascia da parte lateral-alta de sua cabeça e morria próxima a sua cintura, lhe dava agilidade e graça em seus rápidos e felinos movimentos. – Não se esqueça que eu sou agora a cocheira real do Palácio e que tenho que adestrar os cavalos daqui todo o santo dia!

 

- Mas pelo que eu saiba Nuíta, você não estava adestrando cavalos agora não é? – Amset indaga estreitando os olhos. Nuíta por sua vez começou a assobiar, dando uma de desentendida.

 

- Por favor, senhores! A discórdia só trará dificuldades para todos! – uma voz serena e provadamente sábia faz com que todos olhem para o quinto personagem que se aproxima. Seus traços também são um tanto exóticos, mas não tão belos quanto os de Amset ou tão másculos quanto os dos gêmeos Senuef e Mutef. Ele não possuía mais de 1,70 de altura e seu corpo era um tanto fora de forma. Usando apenas um saiote plissado, ele trazia consigo alguns rolos de papiros. Sua cabeça raspada reluz no sol, o que sempre fazia a pequena dama de companhia de Ísis rir bastante. – Perdão general Amset. Eu me atrasei pelo fato de que estava realizando um levantamento na “Casa da Vida” que por sinal, não conhece um manuscrito recente há anos!

 

- Tudo bem Hapi. Pelos menos você veio. – Amset suspirou aliviado, mas sua respiração parece ter suspendido quando seus olhos avistaram uma sexta pessoa vindo até eles com passos graciosos, mas não menos apressados. Era Nefertari que agora livre de suas estolas sacerdotais e usando um vestido ajustado no corpo magro onde suas alças desciam até a cintura, formando um ousado decote, parecia mais bela do que a própria deusa da beleza, Hathor.

 

- Perdoem-me a demora. – ela diz, com uma voz séria, contudo, sem deixar de ser doce e serena.

 

- Está perdoada! – os gêmeos diziam em coro, com ares divertidos em seus rostos.

 

- Bem, comecemos a reunião. – Amset dizia, tentando esconder o rubor que subia em seu rosto. Ao ver Nuíta com um braço levantado, indaga. – O que foi Nuíta?

 

- Por que temos que nos reunir no pátio externo do Palácio e não na Sala das Decisões?

 

- Resolvi fazer a reunião aqui para que a Grande Ísis não venha a se preocupar com nada. Bem, chamei todos aqui para dizer que mesmo em tempos de paz, devemos está mais atentos do que nunca, pois nunca poderemos saber quando o inimigo poderá vir a agir. Também quero avisar que todos deverão está de olhos bem atentos nesta noite, pois é bem provável que mesmo derrotados, os servos de Seth que sobreviveram à guerra poderiam aparecer e...

 

- E quem seria burro de ainda servir a Seth? – Nuíta indaga com descrença.

 

- Qualquer um que tem a semente do mal plantada em seu pobre coração, é um servo em potencial do maligno Seth. – Hapi respondeu rapidamente.

 

- Hapi tem razão. É necessário que mesmo agora, tenhamos muito cuidado com tudo e com todos a nossa volta. – Nefertari diz com convicção.

 

- Espero que tudo tenha ficado claro. – Amset declara. – Bem guerreiros, até a noite.

 

Todos o cumprimentaram e desapareceram pelas diversas saídas do pátio. Nefertari e Amset continuaram na fonte.

 

- Queria ter escutado de você outras palavras. – a sacerdotisa diz com uma ponta de tristeza na voz.

 

- Eu também queria ter proferido outras palavras. – Amset responde com tristeza. – Mas sabe que mesmo em tempos de paz não podemos abaixar a guarda. O inimigo é muito astuto.

 

- Sim, é verdade. Mas espero que seus temores não passem de suspeitas. – ela responde com um sorriso belo. – Até mais tarde, Amset.

 

E ao se virar para também sair daquele lugar, a jovem sente seu braço sendo tocado pela mão do general dos exércitos de Hórus.

 

- Por que faz isso comigo? – ele pergunta com tristeza.

 

- O que eu estou fazendo general Amset? – Nefertari dá uma de desentendida, mas no fundo ela teme pelo que poderia ouvir posteriormente.

 

- Apesar de sua frieza em relação a mim, saiba que eu ainda não deixei de te amar por um instante sequer, Nefertari. – Amset diz aquelas palavras em tom baixo, perto do ouvido da sacerdotisa.

 

- Você sabe que eu não... – ela é interrompida pelo jovem que a vira, fazendo com que os seus olhos encarassem os dele.

 

- Eu posso falar com Ísis e ela em sua grande sabedoria fará com que você possa deixar o sacerdócio!

 

- Eu... – ela titubeia um pouco, virando o rosto para que ele não a encarasse mais. – Eu não posso! Deixe-me Amset. – e se livrando dos braços dele, sai a passos firmes até um dos inúmeros portões, desaparecendo em seguida.

 

Ao longe, escondida pela sombra que uma coluna oferecia, Nuíta presenciou toda a cena.

 

A noite chegou ao Egito e o Palácio do Disco Solar se vestiu de festa. Agora, seriam os nobres e os altos sacerdotes a comemorarem o regresso do legítimo herdeiro de Geb ao reino do Egito. Ísis permaneceu ao lado do filho por pouco tempo. Festins traziam a memória da deusa, as desgraçadas lembranças da morte de seu amado Osíris.

 

- Já vai se retirar, minha amada mãe? – Hórus perguntava lamentoso, enquanto via sua mãe se levantar do trono que ficava ao lado do trono no qual ele estava sentado.

 

- Sim. – ela o olha com carinho. – Aprecie a festa que fizeram para você. Eu tomarei um pouco de ar puro e depois voltarei aos meus aposentos.

 

E caminhando por entre os convidados que durante a passagem da deusa, se ajoelhavam em sinal de respeito, Ísis tomou o caminho para os jardins suspensos, que ficavam no lado leste do Palácio.

 

Chegando ao belo jardim suspenso, a deusa da magia olhou para a Lua que naquela noite, parecia está mais perto da Terra. Uma leve brisa passou, agitando os longos cabelos negros que exalavam um perfume encantador. Ísis interpretou que aquela brisa tão serena era o beijo de boa noite que Osíris lhe dava.

 

- Não consigo aceitar tão vil Destino. – ela responde, com os olhos repletos de lágrimas. – Não aceito que venha em forma de brisa me beijar. Quero que tu mesmo venhas até aqui e com tuas mãos, afague meu cabelo... Toque minha pele... Beije os meus lábios... Tome o meu corpo que é seu também...

 

Naquele momento de solidão e tristeza tão grande, até mesmo as milhares de flores que ornavam os jardins fecharam suas pétalas imediatamente. Não há como descrever um cenário tão belo e tão triste. E absorta nessa depressão que só o amor interrompido é capaz de oferecer, a deusa não notou que logo abaixo das enormes vigas que suspendiam toda a vida botânica do jardim, um movimento suspeito se fazia presente.

 

Uma sombra começou a se mover sorrateiramente por entres os milhares de pilares que erguiam o imponente Palácio logo que a festa começou. Por algum tempo, permaneceu parado entre as trevas, mas novamente, começou a caminhar novamente, indo até uma extremidade abaixo dos jardins suspensos e por lá, esperou que os festejos terminassem. Mas repentinamente, as narinas do estranho começaram a perceber um aroma suave de almíscar e deu graças aos deuses por tê-la encontrado tão rapidamente e com um movimento leve e rápido, começou a escalar um pilar, onde seu capuz negro balançava com o vento noturno. Com cuidado, ele pisou em uma haste, pulando logo em seguida para o jardim e escondido em um cipreste, vislumbrou a imagem da deusa que não sentiu sequer um vestígio de seu Ka. Deu o primeiro passo. O segundo. E quando daria o terceiro, suas pernas fraquejaram ao sentir que três setas o haviam atingido. Seu grito de dor encheu o lugar e Ísis se virou assustada. Nesse momento, do alto do Palácio, um outro vulto pulava até os jardins. Era Nuíta que vestida em sua Kanópus, vinha em auxílio à deusa.

 

- Quem é você e o que pretende aqui?

 

-... – o estranho não responde nada, e abaixa a cabeça.

 

- Vamos! Fiz uma pergunta! – Nuíta começava a demonstrar falta de paciência e agora, o jardim já tinha a presença dos gêmeos, Amset, Hapi, Nefertari e da pequena dama de companhia de Ísis que abraçando a menina, começou a se aproximar do estranho.

 

- Elimine logo ele Nuíta! – Senuef dizia com exaltação. – Está bem visto que ele deve ser algum comparsa de Seth! Ele iria atentar contra a nossa deusa!

 

A jovem guerreira já começava a mirar outra flecha para o homem encapuzado, mas logo sente o toque suave de Ísis em seu braço, forçando ela a abaixar o arco dourado.

 

- Sua coragem e perspicácia sempre me fizeram admirar você. – Ísis responde com um sorriso nos lábios.

 

- A Senhora sabe quem é ele? – Amset pergunta.

 

- Sim. E todos vocês o conhecem também.

 

O homem começa então a retirar o capuz, revelando seu rosto e fazendo com que todos os guerreiros ali presentes dessem um suspiro de surpresa.

 

- Rameri?! – Mutef pergunta admirado. – Você não tinha...

 

- Morrido na guerra? – o rapaz de olhos claros responde com cinismo. – Sim, Mutef. – e olhando Amset que mantinha um semblante sério, arremata. – Muito bom general de Hórus. Mesmo depois da grande batalha contra Seth, conseguiu manter a hegemonia entre os guerreiros-escorpiões! Mesmo vencedores, não saíram da companhia de Ísis por nenhum segundo sequer...

 

- Está errado Rameri. Eu não consegui manter nenhuma hegemonia. Os seis guerreiros-escorpiões que aqui estão são fiéis a Grande Ísis e ao povo do Egito. Agora você...

 

- Eu o quê, Amset?! – o rapaz se levanta com dificuldade, tirando com brutalidade as flechas que ainda estavam cravadas nele. – Lutei ao lado de vocês na guerra de Seth e quando desapareci em meio aquele deserto escaldante, nenhum de vocês vieram em meu auxílio! Quando vi que o meu espírito começou a se desprender do meu corpo, fiz um juramento ao deus da morte que eu venderia minha alma e seria seu criado para sempre!

 

- E qual deus aceitou a oferta, Rameri de Anúbis? – Ísis perguntou com calma.

 

- “O invisível”... – ele respondeu com um sorriso no canto dos lábios.

 

- Hades! – Hapi traduziu prontamente. – Você vendeu sua alma ao terrível deus que comanda o mundo dos mortos?! Como teve coragem?...

 

- Se você estivesse quase morto em um inferno como aquele, teria feito o mesmo, escriba!

 

- Então, o que veio fazer aqui então? – Nefertari interrompe.

 

- Fazer isso... – e caminhando até Ísis que tinha abraçada a sua cintura, a pequena dama que olhava o homem com uma carinha feia, ele estende até a deusa uma pequena estátua de ouro que representava o deus Anúbis na forma de um chacal. – A partir de hoje não sou mais o guerreiro-escorpião Rameri de Anúbis e sim, Esfinge de Pharaó, espectro de Hades.

 

Ela recebe a pequena estátua, que nada mais é do que a forma reduzida da Kanópus, a armadura dos lendários guerreiros-escorpiões, que são a guarda de elite da deusa egípcia.

 

- Seja feliz em sua escolha, guerreiro. – Ísis diz com ternura.

 

E recebendo um sorriso como resposta, a deusa e todos ali presentes vêem o jovem começar a caminhar lentamente, se afastando deles e viram que o corpo de Esfinge se dissolvia na névoa noturna, tornando-se apenas poeira e o capuz que nada mais escondia, voou para longe, ao sabor do vento.

 

- Ele?... – Nuíta balbuciou incrédula.

 

- Já estava morto. – Amset responde.

 

- Mas nós não o abandonamos! – Mutef diz com desespero. – Eu mesmo o procurei por quase todo o deserto!

 

- Vocês se lembram que nós o perdemos de vista quando ainda lutando contra os soldados de Seth, veio aquela tempestade de areia? – indagou Senuef pouco contrariado.

 

- Creio... – Hapi começa a falar. – Que o deus do país dos mortos já tinha planos com o nosso ex-companheiro. Talvez Hades o tenha feito desaparecer em meio aquela tempestade de areia, no intuito de fazê-lo seu espectro.

 

Em meio ao burburinho de indagações e suspeitas que os guerreiros levantavam, Ísis olhou com carinho para a mocinha a ela abraçada e acariciando os sedosos cabelos encaracolados dela, diz com ternura. – Acho melhor ir Pequena. Acho que teve um longo dia.

 

A menina ri e puxando a mão da deusa, pede, mesmo que mentalmente, já que ela era muda, para que Ísis a acompanhasse.

 

- Está bem. Eu lhe contarei uma história antes de dormir, certo?

 

A resposta da menina veio em um largo sorriso. E assim, as duas começam a sair, mas antes, Ísis se volta em direção aos guerreiros e diz.

 

- Eu sinto que mesmo em lados opostos agora, ainda teremos a ajuda de Esfinge algum dia. Não queiram agora tentar achar motivos para o passado, mas quero que vivam com intensidade o presente e o futuro que está porvir. Tenham uma boa noite meus amigos. – e assim, a deusa volta aos seus aposentos, mas antes tratou de cumprir a promessa que havia feito à pequena dama de companhia.

 

- Como a Grande Ísis consegue ser tão tranqüila?! – Nuíta pergunta com incredulidade.

 

- Talvez porque ela seja uma deusa... – Mutef diz com um jeito todo sem graça.

 

- Bem, já chega. Vamos retornar a festa. – Amset outorga.

 

- Por mim, chega de festas por hoje. – Nefertari fala depois de um bocejo. – Amanhã tenho que acordar cedo para averiguar o estado do Templo de Ma’at. Você vem comigo Nuíta?

 

- Claro! – e as duas saem, deixando os homens sozinhos.

 

- Eu também tenho que ir. – Hapi diz, passando a mão pela cabeça brilhante de suor. – A “Casa da Vida”...

 

- Você não pensa em outra coisa a não ser em manuscritos?! – Senuef diz com exaltação.

 

- Não meu caro Senuef. – Hapi retruca um pouco nervoso. – Ao contrário de você que fica o dia todo treinando seus músculos, eu penso em outras coisas além da sabedoria e dos mistérios.

 

- Ahahahahaha! – Mutef não segura a gargalhada. – Meu irmão, é melhor pensar duas vezes antes de querer discutir com o Hapi! Ele pode não ter músculos e força física como a nossa, mas em compensação, tem a língua mais ferina do que a de uma víbora do deserto!

 

- Sinceramente Mutef, ninguém aqui pediu a sua opinião...

 

- Eu vou indo. Se existe uma coisa que não quero presenciar no momento, é briga entre crianças. – Amset declara.

 

- Espere Amset! Vou com você! – Hapi dá uma pequena corrida para alcançar o general.

 

- Vai Amset! Vê se ainda consegue alcançar a Nefertari... – Senuef murmura. – Hei Mutef! Onde pensa que vai?

 

- Aproveitar o resto da festa ora essa! Ver o Rameri hoje foi demais para mim.

 

- Não me diga que está com medo do fantasma dele?!

 

- Eu com medo?! - Mutef pergunta. – Sim, estou com medo... – o guerreiro responde enquanto uma discreta gota rolava por sua cabeça. - Sabe que desde que éramos crianças, eu sempre tive medo de fantasmas! Mas é segredo viu?! Não ouse contar para ninguém!

 

- Ahahahahahaha! – agora foi a vez de Senuef devolver a gargalhada. – Se o Imperador Hórus ou a Grande Ísis soubessem desse seu “segredo”, garanto que você seria promovido a bobo da realeza! Ahahahahahaha!

 

- O que disse?!

 

- Eu? Nada!

 

E assim, a noite acaba com uma corrida um tanto inusitada entre Mutef e Senuef, onde o primeiro derrubara todo convidado na sua frente, para poder alcançar o irmão. Ao ver tal burburinho, Hórus imaginou que se tratava apenas de ânimos exaltados pelo vinho e pela cerveja e com certa inocência, mandou a festa prosseguir. apAHHHHfkfirirkdiemdm

 

 

Alguns dias depois...

 

Ísis contemplava a paisagem etérea que a margem do Nilo forma com simplicidade. A deusa nos últimos dias achava naquele local que ficava dentro dos limites do Palácio, um refúgio para seus pensamentos e tristezas. Seus delicados pés tocavam a água cristalina do rio, enquanto seus olhos avistavam ora o Sol que se escondia por detrás das distantes montanhas, ora as travessuras da sua pequena dama de companhia que sentada no alto de um coqueiro, dividia um cacho de bananas entre uma família de macacos babuínos.

 

- Cuidado para não cair, Pequena. – sua voz doce alertava a menina que apenas sorria, como se dissesse que tudo estava sob controle.

 

Enquanto avistava o sorriso da menina, a deusa sentiu que seus pés submersos eram agora tocados de uma forma diferente. Ao descer a vista, viu com alegria que um cardume de pequenos peixinhos estava tocando seus pés, como se quisessem naquele ato beijá-los. Um sorriso sublimar se formou pelos lábios rosados da deusa que via naquela pequena ação, um ato de devoção entre o criador e a criatura. Nesse exato momento, uma suave brisa, idêntica a que sentira na noite da festa, tocou o seu rosto, fazendo com que seus cabelos novamente bailassem ao sabor da brisa que os tocava. Ao levantar o olhar, Ísis percebeu que não estava mais na margem do Rio Nilo. Ela olhou novamente para a mesma direção na qual vira sua dama de companhia pela última vez, mas esta também não se encontrava mais. Agora, a Rainha percebera que não estava mais no Egito e sim, em uma outra região do planeta. Sentia que agora seus pés não tocavam mais a água, mas sim, uma densa grama de cor tão verde que parecia que pés nunca os tinham pisado. Ao caminhar um pouco, notou que os áridos desertos e as altas montanhas vistas no horizonte poente foram agora, substituídos por verdejantes colinas e frondosas árvores das mais variadas espécies e formas. Ela tentou fazer um esforço mental durante algum tempo e finalmente percebeu que nunca em sua existência, havia visto um lugar tão belo quanto aquele.

 

- Onde estou afinal?... – a deusa balbuciou.

 

- No “Lugar além do horizonte”. Mas saiba que nem mesmo toda essa beleza que é capaz de avistar, seria em momento algum capaz de suplantar a sua beleza, minha adorada Ísis.

 

A voz tão saudosa e familiar a fez virar imediatamente em direção de onde ela tinha saído. E com uma emoção incontida, a deusa corre até os braços daquele que pronunciou tais palavras.

 

- Osíris! – ela se aninha nos braços do marido, com lágrimas nos olhos. – Diga que não estou sonhando... Diga que é mesmo você que está aqui, e não um fantasma nascido de meu desesperado amor!

 

Um beijo foi a resposta que Ísis obteve. Abraçada a ele e sentindo o calor dos lábios dele nos seus, a deusa se sentiu um pouco suspensa no chão. Lembrou-se então que sempre que se beijavam, Osíris tinha o costume de suspendê-la do chão, sempre dizendo a ela que apesar de poderosa, Ísis não passava de uma pluma suave em seus braços.

 

- Sinto sua falta... – ela diz enquanto ele a descia ao chão novamente.

 

- Não fale nada... – e então, a toma novamente em outro beijo, não menos arrebatador. Dessa vez, uma de suas mãos apertava com um desejo quase incontido o braço desnudado da deusa, enquanto outra mão passeava por detrás da nuca dela, fazendo com que a deusa sentisse uma série de arrepios pelo corpo.  

 

Ela por sua vez explorava o tórax do marido com suas delicadas mãos que logo foram parar em suas costas. As pontas dos dedos dela pareciam dedilhar cada centímetro da pele dele, o fazendo suspirar extasiado. Só Ísis sabia como fazê-lo implorar por mais e mais carícias. Não havia dúvidas do grande amor que ele sentia por aquela divina criatura. Depois de algum tempo, Osíris gentilmente afastou seu rosto do rosto de Ísis. Esta, o contemplou como uma criança inconsolada.

 

- Preciso de você...

 

- Eu também...

 

- Então ficarei aqui...

 

- Não pode...

 

- Mas...

 

- Ísis. – Osíris a chama de uma forma muito gentil. – Todos os dias eu também amaldiçôo meu Destino. Tuas lágrimas de saudades não são maiores que as minhas. Mas ainda não é o momento de nos encontrarmos novamente.

 

A deusa o encarou num misto de alegria e curiosidade.

 

- “Ainda não é o momento”? Quer dizer que ainda nos encontraremos novamente?!

 

- Sim. – ele responde com um sorriso encantador.

 

- E em quanto tempo isso acontecerá?

 

- Eu não sei. – seu sorriso se desfaz. – Mas quando isso acontecer. É sinal de que “ele” voltou novamente.

 

- “Ele”?... – Ísis recuou. A razão da deusa já cogitava em quem Osíris pensava, mas seu coração temia pela resposta a ser ouvida.

 

- Sim, Ísis. – o deus afirma com tristeza. - Seth não foi completamente derrotado.

 

A cor rosada fugiu da face da deusa e ela sentiu que suas pernas cambaleavam. Tentou dar um passo, mas suas pernas não obedeciam ao seu comando. Sentiu então que era abraçada por Osíris antes de cair sem forças, pois seu medo e desespero eram bem maiores do que sua força.

 

- Não tenha medo. – ele responde com convicção, olhando diretamente nos olhos negros da deusa. – Eu estarei com você.

 

- Mas não gozaremos a paz! – ela responde desesperada. – Que maldição é essa que não permite que nós possamos viver apreciando nosso amor?! Será que nosso Destino é que sempre tenhamos que nos separar, da forma mais cruel imaginável?! Não! Não posso admitir que isso aconteça novamente!

 

- Minha adorada. – ele diz enquanto toca com a ponta do dedo indicador, uma lágrima que rolava no rosto dela. – O meu Destino é derrotar Seth e tal sina ainda não se cumpriu. Quando isso acontecer, finalmente terei a chance de devotar todo o amor que sinto por você. – e levantando o queixo dela, a fim de que a deusa o encarasse, ele diz em tom sério. – Por isso, foi que eu lhe trouxe até o Reino dos Mortos. Você precisa entender tudo o que acontecerá no futuro. Precisa está preparada para o que virá.

 

- Certo. – ela responde. – Não posso me subjugar à fraqueza de meu espírito agora... Agora que sei que ainda terei a chance de ter você novamente comigo.

 

Osíris sorri levemente e tomando a mão de sua esposa, a leva pelos vales verdejantes daquela bela dimensão, contando assim, tudo o que aconteceria a ele, a ela e a toda a terra do Egito. Não se sabe ao certo quanto tempo durou aquela conversa, mas no momento em que a despedida tornou-se inevitável, os amantes se beijaram com ardor e esse beijo deu lugar a intermináveis juras de amor, como se aquele encontro fosse o último de suas existências. Tal ato foi a melhor prova de que o amor que unia aquelas duas criaturas era algo tão grande que nem mesmo o ódio de Seth seria capaz de destruir.

 

- Adeus meu amor... – Osíris dizia enquanto seus dedos tocavam os lábios de Ísis que o olhava fascinada.

 

- Teu adeus é como uma adaga em meu ferido coração... – ela diz enquanto beija o queixo de Osíris. – Mas teu beijo... É como o suave néctar que escorre das maduras tâmaras que nascem selvagens nos virgens oásis.

 

- Tu és a poetisa de belo semblante. – ele responde inebriado com as palavras proferidas por Ísis. – A mais perfeita fonte de inspiração de todo o meu amor. Por ti eu agora esperarei com paciência o “Dia da Justiça” e lhe darei como honras de devoção não só a minha alma que como um guerreiro abatido pelo combate cai sem forças diante de teus magníficos pés, como também o meu corpo que como o deserto seco, necessita do oásis de seu carinho, minha adorada dama.

 

E com um último beijo, Ísis sentiu que os fortes braços de seu amado pareciam perder as forças, até se sentir completamente livre deles. A mesma sensação a deusa experimentou enquanto estava sendo beijada. Os lábios de Osíris gradativamente perderam a força até que finalmente, a deusa compreendeu que ele não estava mais com ela... Que ela não estava mais com ele...

 

Ao abrir os olhos, a deusa notou que voltara novamente ao mesmo local onde estava antes de ser levada por Osíris até o Mundo dos Mortos. Ao olhar o derredor, viu que sua dama de companhia, a olhava de queixo caído nas margens do Rio Nilo. Por um segundo, não entendeu o porquê ela a olhava assim, mas logo percebeu a razão: Ísis se encontrava em pé, bem no meio do Rio Nilo e sorrindo pelos motivos já conhecidos, a deusa caminha apressadamente por sobre as águas, indo até a pequena garota.

 

- Por que me olhas assim, Pequena?

 

Então, a jovenzinha começou a descrever para ela em sinais, como Ísis começou a andar sobre as águas, como se estivesse hipnotizada e que chegando ao meio do Rio, ficou parada por quase uma hora.

 

- Ah, foi por isso? – a deusa sorri. – Bem... Vamos para o Palácio. Agora tenho um grande motivo para sorrir... – e mentalmente, a deusa diz para si. – “E outro grande motivo para me entristecer...”.

 

Algum tempo depois, a sala do trono onde Hórus agora ocupava o lugar antes usurpado por Seth, conta com a presença dele próprio, de Ísis e dos guerreiros-escorpiões.

 

- O que estás a me dizer, minha mãe?! Seth voltará a atacar?! Meu pai disse isso?!

 

- Sim.

 

- E quando isso irá acontecer?! – e sem receber a resposta da mãe, o deus-falcão ordena com um ar desnorteado. – Amset! Prepare um esquema tático e avise a todo o exército que fiquem de prontidão imediatamente! Que os ferreiros comecem a partir desse exato momento a prepararem toda a sorte de armas e armaduras!

 

- Hórus. – Ísis diz séria. – Seth não atacará agora. Sua derrota foi algo tão grandioso que nem mesmo alguns milhares de anos farão com que ele ressurja das profundezas abissais onde ele foi arremessado. Não se sabe exatamente qual será a Era que ele retornará, mas quando isso acontecer, eu estarei com seu pai para que juntos, eliminemos esse grande mal.

 

-... – o jovem deus se cala diante da resposta dada por sua mãe.

 

- Grandes deuses. – Amset toma a palavra. – Independente da época e de como Seth ressurgirá, quero dizer que estarei ao vosso lado para lutar da mesma forma que lutei na última grande batalha. – e olhando discretamente em direção a sacerdotisa Nefertari, conclui. – Sou um homem, mas acima de tudo sou um guerreiro-escorpião e não posso deixar que um ser como Seth volte a interromper o equilíbrio... Não posso deixar que ele destrua tudo o que eu preservo para aqueles a quem eu venero e amo.

 

- Tomo as palavras de Amset como as minhas. – Hapi diz com convicção.

 

- Sabem o que isso poderia provocar meus caros amigos? – Ísis pergunta com cautela.

 

- Sim. – Nefertari responde. – Nossas almas seriam trancafiadas através de alguma magia e só ressurgiríamos na época em que Seth voltaria. – e com um sorriso confiante, diz. – Eu me sujeitaria a qualquer iniciação para não permitir que mais guerras assolem o Egito.

 

- Eu não desejo que suas vidas sejam talhadas dessa forma. – Ísis diz séria. – Não permitirei que se submetam a nenhum tipo de iniciação.

 

- Grande Ísis... Como Amset falou, somos homens, mas também somos guerreiros. Seria muito pior se vivermos nossa vida, mas sem a esperança de lutar novamente. Peço perdão em desobedecer às ordens da Senhora e do Senhor Hórus, mas eu irei lutar com os outros sim!  – Senuef fala e seu irmão afirma com um aceno de cabeça.

 

Os dois deuses se entreolharam por alguns instantes. Mesmo que mudamente, eles entraram em um consenso. Não poderiam tirar deles a oportunidade de lutar pelo bem novamente. E com um sorriso mútuo, mãe e filho se viram para os guerreiros que estão ajoelhados. Hórus é o primeiro a falar.

 

- E você Nuíta, algo que queira falar?

 

- Eu?! – ela devolve a pergunta sorrindo. – Acho que já deu para perceber que sem a minha presença, os escorpiões ficam sem seus ferrões, não é?

 

- Como você é convencida Nuíta! – Mutef desabafa.

 

- Não sou convencida, sou realista. – ela responde com um sorriso cínico. – Mas... Eu acho que alguém vai ficar muito triste com tudo isso...

 

- A Pequena... – Ísis diz em um suspiro.

 

- Exatamente. Não seria justo que ela também não nos acompanhasse. Afinal, nós somos a única família que ela tem. – Nuíta diz com um semblante triste no olhar.

 

- Nuíta tem razão. Não seria justo que ela vivesse sem a nossa companhia. – Nefertari diz.

 

- Está tudo decidido. – Hórus interrompe. – Se a Pequena concordar, também terá o mesmo Destino de vocês. – e virando-se para a sua mãe, completa. – Sabes que não me agrado em saber que não estarei presente quando Seth retornar. Mas quero que saibas que de onde estiver, estarei com vocês dois.

 

- Meu filho... – Ísis diz com ternura. – Você sempre estará conosco, pois você é a síntese do amor que nasceu entre mim e o seu pai. Tua essência nos acompanhará onde quer que nós dois estejamos. – e virando-se para os aliados, diz. – Meus caros amigos. Apesar das circunstâncias que nos uniram, quero dizer que prezo nossa amizade e acima de tudo, aprecio o amor que vocês têm pelo planeta. E creio que esse amor pleno jamais será suplantado, por ninguém.

 

Todos abaixaram a cabeça em sinal de concordância. E tal qual foi dito por Osíris, Ísis começou os preparativos para que na Época em que Seth voltasse, todos sem exceção estivessem preparados. Ela mesma escreveu em letras de ouro sob folhas de prata, um manuscrito no qual dava ordens claras para que quando a sua reencarnação lesse tais palavras, o seu ka até então adormecido, despertasse completamente, libertando assim os espíritos de seus fiéis guerreiros-escorpiões, para que junto com Osíris, libertassem o mundo mais uma vez das cruéis amarras que o ardiloso Seth pudesse armar novamente.

 

- Guardarei “O Livro da Libertação” com a minha vida. – Hórus dizia enquanto via o pesado portal de bronze ser fechado em sua frente. Por detrás do portal, o Livro onde Ísis havia escrito o encantamento, ainda reluzia o tom dourado do ouro, incitado pelos últimos raios solares que guarneciam a sala prestes a ser lacrada para quase todo o sempre.

 

- Eu sei meu filho. – Ísis dizia com um semblante aparentemente perdido em pensamentos. – E eles?

 

- Todos estão agora submetidos ao sono eterno, minha mãe. Só despertarão seus corpos mumificados quando tu mesma os chamares um por um. – e notando o ar triste de sua mãe, complementa. – Não te entristeça assim minha amada mãe. Eles são homens e mulheres de valor. Submeteram-se a tal iniciação pelo grande amor que tem por esta terra e por teu sagrado nome. Eles foram designados por meu pai para te servirem e isso para eles é uma honra sem medidas.

 

- Hórus. – ela diz com candura. – Eu te amo meu filho. Amo, pois vejo em você a coragem de seu pai.

 

- E eu lhe amo e lhe sirvo, pois és a senhora dos deuses, rainha de puro amor.

 

E de mãos dadas, mãe e filho saem do interior daquele pequeno templo onde ficaram cerrados, os manuscritos que Ísis escrevera. Mas antes de deixarem completamente aquela pequena construção localizada a oeste de Abydos, Ísis ainda lançou um último olhar para o Templo e mentalmente, orou a seus antepassados. Nessa oração, pediu para que os tempos passassem rapidamente, pois apesar de seu coração temer a vinda de Seth novamente, sua ansiedade de ver seus amigos valorosos e seu grande amor eram ainda maior do que o medo que se esconde nas profundezas de qualquer coração, seja ele mortal, ou imortal.

 

E assim, dezesseis mil e quatrocentos anos passaram-se, desde os últimos fatos narrados. Durante esse período, o mundo viu o Egito, como era chamado o Antigo Egito, crescer e evoluir até se tornar a maior potência do mundo antigo e também presenciou sua decadência, que chegou ao ápice quando o então proliferante Reino de Roma tomou para si, aquelas terras sagradas e misteriosas.

 

E é exatamente nesse período da história, mais especificamente no fim do reinado dos Ptolomeus, que a regente do Santuário Grego, a deusa Athena, recebeu em sonhos, um sinal de que deveria recuperar no Egito, o “Livro da Libertação”, pois este sagrado manuscrito estava prestes a cair em mãos erradas... Mãos inescrupulosas de humanos que venderam suas almas ao deus do mal Seth.

 

Dessa forma, Athena enviou para a árida terra do Nilo, dois de seus oitenta e oito guerreiros, a fim de que eles trouxessem o misterioso livro. Depois de algumas semanas, os cavaleiros de ouro das constelações de Leão e Escorpião retornaram ao Santuário, com a relíquia em mãos. Com passos apressados e firmes, os dois chegam finalmente ao Salão do Mestre, onde Athena já os aguardava.

 

- Senhora. - um homem de olhos amendoados e cabelos castanhos, dizia enquanto se ajoelhava perante a deusa que naqueles tempos, possuía uma tez rosada e longos cabelos castanhos, encaracolados. – Eis o “Livro da Libertação” que havia desejado reaver.

 

Outro homem, de pele um pouco mais escura e de cabelos lisos e negros, estende até a deusa a tabuleta revestida em ouro amarelo. A deusa se levanta do trono e apoiando seus leves passos em seu báculo, segue até os guerreiros ajoelhados.

 

- Meus caros cavaleiros Dário de Leão e Máximus de Escorpião. Houve algum empecilho para vocês no Egito?

 

- Nada de muito importante, Santa Athena. – Dário responde com um sorriso irônico. – Apenas alguns sacerdotes malucos que queriam a todo custo, abrir o selo do livro. Mas até que foram de grande utilidade, pois sem eles, não teríamos achado o “Templo da Contemplação” que a esta altura, estava completamente engolido pelas areias do deserto.

 

- Sacerdotes? – Athena indagava enquanto recebia de Máximus, o livro sagrado.

 

- Sim. – o cavaleiro de Escorpião responde. – Sacerdotes de Seth. Eles acharam o caminho para o Templo primeiro. Nós apenas nos atemos em seguir seus passos.

 

- Entendo. – ela pensa em voz alta. – Os sacerdotes queriam o Livro, pois entoando o manuscrito que este contém de uma forma contrária, poderiam acelerar o processo de libertação da alma de Seth e aprisionariam os cosmos de Ísis e Osíris eternamente.

 

- Bem. – Máximus interrompeu. – Se essa era a finalidade deles, creio que os sacerdotes terão que darem muitas explicações ao tal Seth no Tártaro.

 

Athena não deixou de dar um angelical sorriso. Caminhando até uma das inúmeras janelas do amplo Salão, os raios do Sol que penetravam pela abertura ofereceram à deusa, uma visão mais completa da relíquia que agora estava em um local seguro. Talhado na capa havia a imagem de Ísis e Osíris. Entre eles, na parte superior, havia uma imagem da personificação de Hórus-falcão. Na parte central da capa, um baixo relevo do Ankh, a cruz egípcia, parecia ser a “fechadura” daquele enigmático livro. Enquanto passeava com a ponta dos dedos o baixo-relevo, Athena falou para si, quase em um suspiro:

 

- Ísis e Osíris, meus amados amigos. Pelo Sol que ilumina a Terra desde as Eras Primordiais, eu juro que protegerei este livro das mãos caluniosas e que estarei ao lado de vocês quando o mal voltar a assolar este Mundo que também é tão amado por mim...

 

E assim, os tempos mais uma vez se passaram. A humanidade se viu a desenvolver de uma forma acelerada e vertiginosa. Os grandes reinados acabaram e outros vieram. Os deuses antigamente tão respeitados viraram apenas personagens de mitologias e outros com diversas formas de filosofia se estabeleceram nessa nova ordem. O mundo deu voltas e se viu finalmente, independente da vontade divina. Mas algo em suas entranhas começaria a reagir mais cedo, ou mais tarde... Um sentimento primordial... O mal original.

 

Continuará.

 

Revisão: Juliane Sandoval

 

 

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Notas explicativas:

 

Como notaram, esse primeiro capítulo se passa há cerca de dezoito mil anos atrás e por conta disso, os nomes de quase todos os personagens aqui apresentados estão mostrados originalmente na língua egípcia. Mas para que não haja nenhuma dúvida posterior, segue abaixo, um “glossário” com todos os nomes e expressões, e seus respectivos significados.

 

Ísis: Deusa egípcia da magia.

 

“Casa da Vida”: Expressão utilizada no Egito Antigo para denominar os locais onde era ensinado o ofício de Escriba. Era também utilizado como biblioteca.

 

Guerreiros-escorpiões: De acordo com a mitologia egípcia, Ísis era protegida por sete escorpiões mágicos. Por isso, a denominação “escorpiões” para os sete guerreiros que fazem na fanfic, a guarda de elite da deusa Ísis.

 

Hórus: Deus-falcão filho de Ísis e Osíris.

 

Nilo: Rio que corta o Egito e considerado um dos maiores do mundo.

 

Ka: É a denominação que os antigos egípcios usavam para descrever o poder sobrenatural dos seres humanos e dos deuses. Em outras palavras, Ka é a mesma coisa de “Cosmos” em Saint Seiya.

 

Kanópus: Era o nome dado aos quatro jarros sagrados que guardavam as vísceras dos mortos depois de mumificados. Na fanfic, é o nome dado às armaduras dos guerreiros-escorpiões.

 

Mennefer: Nome egípcio da cidade de Mênfis, no Egito.

 

“O Lugar Além do Horizonte Ocidental”: É a denominação usada pelos antigos egípcios para se referirem ao Mundo dos Mortos.

 

Osíris: Deus dos mortos e esposo de Ísis, Osíris.

 

 


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